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Ferrugem asiática da soja

Boas práticas para o controle eficaz

Cláudia Vieira Godoy // Claudine Dinali Santos Seixas // Rafael Moreira Soares // Maurício Conrado Meyer // Fernando Storniolo AdegasEngenheiros agrônomos e pesquisadores da Embrapa Soja

Leila Maria CostamilanEngenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa Trigo

Ferrugem Asiática – Crédito: Maurício Meyer

A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença mais severa que incide na cultura. Essa doença foi identificada pela primeira vez no Paraguai e no Brasil em 2001 e se espalhou rapidamente pelas regiões produtoras desses países.

O principal dano ocasionado pela ferrugem asiática é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com consequente redução da produtividade (Godoy et al., 2016).

Os sintomas da ferrugem asiática se iniciam pelo terço inferior da planta e aparecem como minúsculas pontuações (no máximo 1,0 mm de diâmetro) mais escuras que o tecido sadio da folha, com coloração esverdeada a cinza-esverdeada.

A confirmação da ferrugem asiática é feita pela constatação, no verso da folha (face abaxial) de saliências semelhantes a pequenas feridas ou bolhas, que correspondem às estruturas de reprodução do fungo (urédias). Essa observação é facilitada com a utilização de uma lupa de 20 a 30 aumentos, ou sob microscópio estereoscópico (lupa com maiores aumentos).

Com o passar do tempo, as folhas infectadas pelo fungo tornam-se amarelas, ficam secas e caem. Para confirmar a doença, verificar no verso das folhas a presença de saliências semelhantes a pequenas feridas ou bolhas, que são as estruturas reprodutivas do fungo causador da ferrugem asiática.

Cultivar com gene de resistência

O uso de cultivares com gene(s) de resistência à ferrugem asiática da soja é uma ferramenta importante para o manejo da doença, pois, além de serem menos sujeitas a perdas de produtividade, ajudam a reduzir a pressão de seleção para resistência do fungo aos fungicidas. A diferença entre as cultivares suscetíveis e as resistentes está no tipo de lesão que o fungo P. pachyrhizi causa nas plantas.

A cultivar suscetível apresenta a lesão TAN, que tem coloração cinza a marrom-claro e produz grande quantidade de uredosporos, o que leva a um rápido aumento do número de lesões nas folhas, causando amarelecimento e queda prematura dessas.

A cultivar resistente apresenta a lesão RB (reddish brown), que tem coloração marrom-avermelhada, é maior que a lesão TAN, produz pouco ou nenhum uredosporo, dependendo do gene e, por ter seu desenvolvimento limitado pela reação de resistência da planta, não causa amarelecimento e queda de folhas de forma tão intensa quanto a lesão TAN em cultivares suscetíveis.

Manejo

Para o manejo racional da ferrugem asiática, diferentes estratégias devem ser adotadas conjuntamente, a fim de evitar reduções de produtividade, a começar pela adoção do vazio sanitário, com período mínimo de 60 dias sem soja no campo durante a entressafra.

O fungo P. pachyrhizi só sobrevive e se multiplica em plantas vivas e essa estratégia tem como objetivo reduzir a quantidade de esporos do fungo durante a entressafra em razão da ausência do hospedeiro principal. O resultado esperado é o atraso nas primeiras ocorrências de ferrugem asiática na safra, diminuindo a possibilidade de ocorrência da doença nos estádios iniciais do desenvolvimento da soja e, consequentemente, podendo reduzir o número de aplicações de fungicidas necessárias para o controle.

Outra estratégia é o escape, utilizando cultivares de soja precoces, semeadas no início da época recomendada. As primeiras semeaduras realizadas após o vazio tendem a apresentar sintomas da doença a partir da fase de formação de vagens/enchimento de grãos.

À medida que as semeaduras avançam, esporos do fungo das primeiras áreas semeadas migram para as áreas tardias, antecipando a ocorrência da doença e necessitando de maior número de aplicações para conter a doença. As cultivares resistentes não são imunes à ferrugem asiática, pois o fungo ainda consegue causar lesões nas plantas.

Por isso, o uso dessas cultivares não dispensa a adoção de outras medidas de manejo para a doença, incluindo a pulverização com fungicidas. O uso de cultivares resistentes como estratégia de manejo única tem as mesmas limitações do uso de fungicidas, porque pode haver seleção para populações capazes de “quebrar” a resistência dessas cultivares.

Controle químico

Controlar a doença com aplicações de fungicidas no início do aparecimento dos sintomas ou preventivamente deve levar em conta os fatores necessários ao aparecimento da ferrugem asiática (presença do fungo na região, idade da planta e condição climática favorável), a logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), a presença de outras doenças e o custo do controle.

Baseado no espectro de ação, os fungicidas podem ser classificados em sítio-específicos ou multissítios. Fungicidas sítio-específicos são ativos contra um único ponto da via metabólica de um patógeno ou contra uma única enzima ou proteína necessária para o fungo. Uma vez que esses fungicidas são específicos em sua toxicidade, eles podem ser absorvidos pelas plantas e tendem a ter propriedades sistêmicas.

Dentre os principais modos de ação sítio-específicos utilizados no controle da ferrugem asiática destacam-se os inibidores da desmetilação (IDM, “triazóis”), os inibidores de quinona externa (IQe, “estrobilurinas”) e os inibidores da succinato desidrogenase (ISDH, “carboxamidas”).

Como resultado dessa ação específica, os fungos são mais propensos a se tornarem resistentes a tais fungicidas porque uma única mutação no patógeno pode reduzir a sensibilidade ao fungicida. A resistência a fungicidas é uma resposta evolutiva natural dos fungos a uma ameaça externa para sua sobrevivência, nesse caso o fungicida.

Quando fungicidas com modo de ação específico começam a ser aplicados, tendem a eliminar populações mais sensíveis do patógeno, aumentando a frequência das populações menos sensíveis. A resistência a fungicidas pode ser cruzada, ou seja, isolados de fungos que são resistentes a um fungicida podem ser resistentes a outros fungicidas com o mesmo modo de ação, mesmo que não tenham sido expostos a esses outros fungicidas.

Populações de P. pachyrhizi menos sensíveis aos IDM, IQe e ISDH já foram relatadas no Brasil. Devem-se seguir as estratégias antirresistência para preservar as novas moléculas associadas as demais estratégias de manejo da doença.

Fungicidas multissítios afetam diferentes pontos metabólicos do fungo e apresentam baixo risco de resistência. Não são absorvidos pela planta e formam uma camada protetora na superfície da folha, sendo mais facilmente lavados com chuvas.

Os principais fungicidas registrados e em fase de registro são avaliados anualmente pela rede de ensaios cooperativos e os resultados de eficiência são publicados pela Embrapa Soja e disponibilizados no site do Consórcio Antiferrugem.

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