Pollyane da Silva Hermenegildo – Engenheira agrônoma e pós-doutoranda em Fitopatologia – Universidade Federal de Viçosa (UFV) – hermenegildo.pollyane@ufv.br
Rosiane Fátima de Almeida – Engenheira florestal e mestranda em Fitopatologia – UFV – rosiane.almeida@ufv.br
A cultura do eucalipto está amplamente estabelecida em diversos países do mundo. No Brasil, dos 9,0 milhões de hectares de área florestal plantada, 6,97 milhões de hectares correspondem a cultivos de eucalipto, o que equivale a 77% do total.
Estes plantios estão concentrados principalmente nos Estados de Minas Gerais (28%), São Paulo (17%) e Mato Grosso do Sul (16%). A evolução e expansão dos plantios nos últimos anos tem suprido a demanda de matéria-prima do mercado interno e externo, visando a produção de celulose e papel, carvão vegetal, madeira sólida para serraria, postes, mourões e material para construção civil, além de óleos essenciais e outros produtos florestais não-madeireiros.
Contudo, problemas recorrentes, como as doenças que acometem a cultura, ainda persistem em diferentes cenários no Brasil e no mundo. Dentre as principais doenças bióticas que incidem sobre o eucalipto está a ferrugem.
A temida ferrugem
A ferrugem do eucalipto, ou ferrugem das mirtáceas, é causada pelo fungo Austropuccinia psidii (G.Winter) Beenken, e é facilmente reconhecida pela típica pulverulência urediniospórica de cor amarela-gema, produzida pelo fungo sobre os tecidos jovens de mudas em viveiros, em plantas de até dois anos idade no campo e na rebrota no sistema de talhadia.
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Além da preferência por tecidos mais novos, a ferrugem do eucalipto é favorecida por temperaturas mais amenas, na faixa de 18 – 25ºC (ótimo em 23 ºC) e períodos prolongados de alta umidade e molhamento foliar (orvalho noturno ou garoas por períodos superiores a seis horas por 5 – 7 dias consecutivos), que são condições que influenciam positivamente os processos de germinação, penetração e infecção pelo fungo.
Danos
A combinação de condições ambientais favoráveis, a disponibilidade de material genético suscetível e a presença do patógeno nos estágios fenológicos iniciais da planta podem contribuir para a ocorrência da doença de forma mais severa, com sintomas que incluem deformações foliares, necroses, superbrotamento, minicancros e morte das porções apicais.
Desta maneira, a doença pode causar redução do crescimento da planta, perda de dominância apical, morte de brotações após o corte raso, bem como morte e refugo de mudas para o plantio.
O primeiro surto grave da ferrugem no eucalipto ocorreu em 1973 no Estado do Espírito Santo, onde ocorreram perdas em larga escala em viveiros e plantações jovens de Eucalyptus grandis estabelecidas a partir de fontes de sementes da África do Sul. Desde então, vários outros surtos esporádicos, porém graves, vêm sendo registrados no Brasil, sendo que a região sudeste até os dias de hoje é a mais afetada pela doença.
Em termos de perdas econômicas, há relatos de que a ferrugem pode causar uma redução de 23 a 35% no volume de madeira. No entanto, estas perdas podem ser minimizadas com a adoção de medidas de controle, como o plantio de material genético resistente à A. psidii, o escape à doença pela precocidade e a utilização de fungicidas registrados para a cultura.
Controle
A resistência genética é considerada a principal medida de controle da ferrugem do eucalipto. E é por meio dos programas de melhoramento que são selecionados os clones, progênies ou espécies resistentes à doença.
A resistência genética para a ferrugem do eucalipto (A. psidii, raça 1) possui grande durabilidade no Brasil, em torno de 15 – 19 anos, quando a partir de então, já foi constatado mais de um caso de suplantação da resistência pelo surgimento de novas raças do patógeno.
Raças
A raça de A. psidii que prevalece no Brasil e que é a amplamente empregada nos programas de melhoramento genético para o desenvolvimento de materiais de eucalipto resistentes à ferrugem, é a raça 1.
Contudo, além desta raça, outras quatro já foram descritas. As raças 2 e 3 são aparentemente raras e capazes de superar a resistência dos clones 1205 (E. grandis) e 847 (E. urophylla), respectivamente. As raças 4 e 5 de A. psidii não foram detectadas em plantações de eucalipto desde que foram descritas pela primeira vez, em 2011 (São Paulo) e em 2021 (Minas Gerais), respectivamente.
Mas são as raças da ferrugem que são mais agressivas e capazes de infectar uma grande variedade de genótipos de eucalipto, incluindo os clones BA6021 (E. grandis x E. urophylla) e GG100 (E. grandis x E. urophylla), respectivamente.
Desta forma, visando o maior sucesso na obtenção e plantio de genótipos de eucaliptos resistentes à ferrugem por A. psidii, é muito importante que se tenha conhecimento da variabilidade genética e fisiológica das populações do patógenos que ocorrem nas áreas de plantio.
Ademais, evidências sobre a reprodução sexuada de A. psidii e investigações acerca do papel dos teliósporos e basidiósporos no ciclo de vida do patógeno veem alarmando e abrindo caminhos para o melhor entendimento das possíveis fontes de variabilidade e mecanismos de adaptação deste fungo.
Alternativas
Além da seleção de genótipos de eucalipto resistentes à ferrugem, outra alternativa para controle preventivo da doença é a seleção de materiais de rápido crescimento, que alcancem alturas de 3,0 a 5,0 metros (em torno de dois anos de idade) o mais rápido possível (escape pela precocidade), uma vez que quando a planta atinge maiores alturas, o patógeno geralmente não encontra microambiente favorável à infecção.
Quando se dispõe de material genético suscetível, mas de alto valor comercial, pode-se buscar a minimização das potenciais perdas por ferrugem pela aplicação de fungicidas sistêmicos e/ou de contato, como forma de controle preventivo e/ou curativo no campo ou viveiro, a depender das recomendações técnicas atreladas às características de cada produto.
Atualmente, encontram-se registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sete fungicidas para controle de A. psidii em eucalipto, cujos ingrediente ativos (grupos químicos) incluem: azoxistrobina (estrobilurina) + difenoconazol (triazol), difenoconazol (triazol), tebuconazol (triazol) + trifloxistrobina (estrobilurina), metconazol (triazol) + piraclostrobina (estrobilurina), azoxistrobina (estrobilurina) + ciproconazol (triazol) e azoxistrobina (estrobilurina) + mancozebe (alquilenobis (ditiocarbamato)).
No entanto, antes de utilizar o controle químico, recomenda-se realizar o estudo de viabilidade econômica dentro do contexto do manejo integrado da ferrugem, visando juntar a eficiência dos produtos e o custo de operação, pois em alguns casos o uso de fungicidas se apresenta com uma medida inviável economicamente.
Além dessas medidas de manejo, é importante, também, que a presença de outras plantas da família Mirtaceae próximo ao plantio de eucalipto sejam evitadas.