Raphael Passaglia Azevedo
Mestre em Ciência do Solo e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia ” UFU
Regina Maria Quintão Lana
Doutora em Ciência do Solo e professora titular da Universidade Federal de Uberlândia – UFU
De forma geral, as hortaliças apresentam ciclo curto e altas produtividades, e em virtude disso são altamente exigentes em nutrientes disponíveis no solo. Em busca de máxima produtividade e altos rendimentos, grandes horticultores fazem uso de elevadas doses de fertilizantes minerais, aumentando a disponibilidade de nutrientes no solo e os riscos de perdas de nutrientes via lixiviação, com consequente contaminação do lençol freático.
Em áreas onde se tem o cultivo de hortaliças, é normal que isso aconteça durante todo o ano, ciclo seguido de ciclo. Assim, tem-se frequente aplicação de fertilizante no solo, sendo raro encontrar uma “terra fraca“ onde se produzem hortaliças. Muitos trabalhos conduzidos em campo mostram a alta fertilidade destas áreas, antes mesmo da implantação dos experimentos.
Os fertilizantes minerais têm sido apontados como um dos principais fatores de contaminação da água e do solo. A possibilidade de reduzir o uso de fontes não renováveis na agricultura, associada à necessidade da disposição sustentável de resíduos orgânicos no ambiente, tornam os fertilizantes que contêm em sua composição alguma fonte orgânica mais atrativos numa perspectiva ambiental e agrícola.
A adição de matéria orgânica (resíduos orgânicos) tem seu efeito principal conhecido como “condicionador de solo“, agindo sobre suas propriedades químicas, físicas e biológicas, melhorando a fertilidade, estrutura, armazenamento, infiltração de água e presença de microrganismos benéficos.
A demanda pela sustentabilidade atualmente está voltada para o reaproveitamento dos resíduos. Neste sentido, a utilização de fertilizantes organominerais é uma ótima proposta, pois leva ao solo os benefícios da matéria orgânica e supre as necessidades nutricionais das culturas.
Os organominerais
Segundo a Instrução Normativa Nº 23/2005, organomineral é um “produto resultante da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos“. Este, segundo a Instrução Normativa nº 25/2009, deve apresentar, no mÃnimo: 8% de carbono orgânico; 80 mmolc kg-1 de CTC; 10% de macronutrientes primários isolados (N, P, K) ou em misturas (NP, NK, PK ou NPK); 5% de macronutrientes secundários (Ca, Mg, S) e umidade máxima de 30%. Essas asseguram o mÃnimo de garantia para sua comercialização.
O setor agroindustrial brasileiro gera grandes quantidades de resíduos orgânicos, sendo que boa parte tem potencial como matéria-prima para fabricação deste fertilizante, como no caso das camas de confinamento (frango, gado e suÃnos), estercos, tortas de citros e filtro, palhas, lodo de esgoto e etc.
Atualidade
Segundo o pesquisador de Fertilizantes do Solo e Tecnologias de Fertilizantes da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro, o mercado nacional de fertilizantes organominerais vem crescendo nos últimos anos.
Neste contexto, vários benefícios da utilização dos fertilizantes organominerais são relatados, refletindo em aumento de produtividade de várias culturas. Os fertilizantes organominerais ainda apresentam outras vantagens, como a melhoria da uniformidade da adubação, pois na composição dos pellets já estão a matéria orgânica, NPK e muitas vezes os micronutrientes e até aminoácidos.
Esse fato evita a segregação de nutrientes em comparação aos fertilizantes minerais. No entanto, poucos trabalhos têm mostrado sua eficiência em hortaliças.
Trabalho conduzido por Cardoso em 2014 com a cultura da batata, cultivar Atlantic, no município de Uberlândia (MG), mostrou que utilizando fertilizante organomineral (02-22-04) com dose reduzida em 40% (1.629 kg ha-1) atingiu produtividade semelhante ou superior à dose de 2.800 kg ha-1 do fertilizante mineral (03-32-06), melhorando ainda quesitos como classificação de tubérculos e teor de sólidos solúveis.
Esses resultados elucidam a capacidade de aumento da fertilidade do solo pelo fertilizante organomineral, manutenção da capacidade produtiva e tendência à redução de custos de produção.
Também Aguilar, em 2016, conduziu trabalho utilizando a cultura da batata, cultivar cupido, no município de Perdizes (MG), concluindo que a dose de 25% do fertilizante mineral aplicada via fertilizante organomineral teve efeito igual às doses superiores para o desenvolvimento de tubérculos e produtividade. Além disso, o autor ressalta que a adubação pode ser feita totalmente no plantio, reduzindo custos de produção e aumentando a eficiência operacional.
Experimentos
Na tentativa de reduzir a dose de adubo mineral aplicada na cultura da cenoura utilizando fertilizante organomineral, em parceria com a empresa VigorFert, situada em Uberlândia (MG), o doutorando em Agronomia da UFU, Raphael Passaglia Azevedo, orientado pela professora Regina Maria Quintão Lana, conduziram trabalho, em 2016, no município de Indianópolis (MG), constatando que, devidoà alta fertilidade do solo, a dose de 40% (1.400 kg ha-1 de 04-20-05) teve efeito semelhante à dose máxima de fertilizante mineral (2.500 kg ha-1de 02-28-06).