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Fertilizantes organominerais é uma alternativa sustentável na adubação?

Autores

Mara Lúcia Martins Magela
Doutoranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Luciana Nunes Gontijo
Doutoranda em Produção Vegetal – UFU
Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – UFU
Créditos: Júlio Ribeiro e Anderson Ferrari

A necessidade e busca por sistemas de produção mais equilibrados, menos dependentes de produtos exclusivamente químicos, que promovam o condicionamento do solo e maior desenvolvimento das culturas, impulsionou o surgimento de fontes de fertilizantes com mais tecnologia, sustentabilidade e eficiência.

Neste sentido, os fertilizantes organominerais constituem uma fonte viável de adubação para as hortaliças em função da eficiência destes produtos. A maior eficácia dos organominerais se deve ao NPK + micro no mesmo grânulo (não apresentando efeito de segregação); redução da fixação do P proveniente do fertilizante e perdas por lixiviação das formas catiônicas (NH4+, K+, Ca++, Mg++, etc.), além de proteger as raízes contra o excesso de salinidade causada pela adubação mineral (Ex: KCl).

Também contribui para a quelatização de micronutrientes, podendo, assim, aumentar a disponibilização destes no solo, bem como favorecer a proliferação e biodiversidade microbiana.

Pesquisas

 Trabalhos realizados por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e de outras instituições apontam resultados positivos da aplicação do fertilizante organomineral em diversas hortaliças.

Resultados destes trabalhos mostraram a viabilidade do uso do fertilizante organomineral na cultura do alho, indicando aumento no tamanho e qualidade dos bulbos. Provavelmente isso se deve à composição química do organomineral (macro e micronutrientes, ácido húmico e fúlvico e aminoácidos), que proporciona economia de energia pela planta, facilitando a produção de proteínas, enzimas e hormônios. Dessa forma, a planta direciona mais energia para a produção dos bulbos.

Luz et al. (2018) estudando doses de organomineral na cultura do alho, concluíram que a aplicação de 60% da dose com organomineral foi semelhante à dose de 100% do fertilizante mineral (superfosfato simples). Isso demonstra que é possível a redução da dose de plantio em até 40% sem prejuízos na produtividade e qualidade dos bulbos (Tabelas 1 e 2).

Em relação à classificação de bulbos de alho, as tabelas 1 e 2 mostram que 100% da adubação mineral aplicada no sulco de plantio foi equivalente a 60% do fertilizante organomineral sobre a produtividade e porcentagem de bulbos comercializáveis (classes 4 a 8).  A maior quantidade de bulbos de classes entre 4 e 8 é de grande importância para o produtor, pois garante maior retorno econômico (Tabela 1).

Ação

A redução da dose é possível devido ao melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas que ocorre em função da liberação gradual dos elementos. Essa característica do organomineral, conhecida como slow release ou liberação lenta, garante que, mesmo em menores dosagens, os nutrientes sejam aproveitados de forma mais eficiente.

A liberação lenta do P, a proteção dada pela matéria orgânica, o melhor tamponamento do solo e a maior quantidade de água disponível diminuem o processo de fixação do fósforo (Souza, 2014).

Tabela 1. Produtividade e percentual de alhos comercializáveis e destinados à indústria com  superfosfato simples em pré-plantio. Cristalina (GO), 2018
Tratamento Produtividade (t ha-1) Comercializáveis 4-8 (%) Indústria (%)
100 % (M) 15.05 a 74.75 a 10.47 ab
100 % (OM) 15.21 a 64.87 a 14.57 bc
80 % (OM) 14.98 a 77.76 a 9.60 a
60 % (OM) 13.30 ab 78.72 a 11.34 ab
40 % (OM) 12.48 b 75.97 a 16.69 c
CV (%) 7.80 3.99 15.84
Média 14.21 74.42 12.53
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de significância (Luz et al., 2018).  
Tabela 2. Produtividade e percentual de alhos comercializáveis e destinados a indústria com organomineral farelado. Cristalina (GO), 2018.
Tratamento Produtividade (t ha-1) Comercializáveis 4-8 (%) Indústria (%)
100 % (M) 14.81 a 71.90 a 3.50 a
100 % (OM) 15.15 a 70.10 a 5.48 b
80 % (OM) 14.90 a 72.07 a 3.57 a
60 % (OM) 13.88 ab 75.70 a 3.63 b
40 % (OM) 11.88 c 71.11 a 7.43 c
CV (%) 7.80 3.99 15.84
Média 14.21 74.42 12.53
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de significância. (Luz et al., 2018).    

Paixão (2018), avaliando na cultura do alho a aplicação do fertilizante organomineral em pré-plantio, a lanço e em área total em comparação ao superfosfato simples, verificou que o uso do fertilizante organomineral resultou em aumento de 11,73% de produtividade total por hectare em relação à produtividade obtida com superfosfato simples, correspondendo a um retorno econômico a mais de R$ 20.900,00 por hectare, considerando um preço médio/estimado de R$ 6,50/kg.

Estudos realizados com cenoura, por Lana e Azevedo (2016), avaliaram a produtividade em cenoura de inverno (Nancy) e a marcha de absorção de P, utilizando-se duas doses do fertilizante organomineral 04-20-05, sendo 3.500 kg ha-1 da formulação e 1.400 kg ha-1, que correspondeu a 40% da recomendação mineral. Utilizou-se como controle o fertilizante mineral na dosagem de 2.500 kg ha-1 da formulação 02-28-06.

Os autores concluíram que a aplicação de 60% da dose de P com organomineral foi semelhante à dose total com adubação exclusivamente mineral sobre a produção total e comercial de cenoura .

Nutrição equilibrada

 Ainda neste trabalho, Lana e Azevedo (2016) observaram que após 80 dias da semeadura (DAS), o fertilizante organomineral resultou em um maior teor de nitrogênio e fósforo nas folhas e nas raízes em comparação ao mineral.

Assim, o fertilizante organomineral proporcionou produtividade e absorção dos nutrientes adequados para a cultura da cenoura, sinalizando a possibilidade de uso de doses mais baixas do fertilizante organomineral sem afetar a produtividade e qualidade do produto final. 

Isso se deve aos efeitos benéficos da matriz orgânica nas propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo, bem como aos processos bioquímicos e fisiológicos da planta. Em outros trabalhos com cenoura conduzidos por Luz et al., (2018) na Agrícola Wehrmann localizada no município de Cristalina (GO), observou-se que com a aplicação das doses de 80 e 100% do fertilizante organomineral 02-20-05, obteve-se produtividade comercial similar à adubação mineral. No entanto a classificação da cenoura em 2A, 1A e G, foi superior com a utilização do organomineral (Tabela 3).

Resultados como estes enfatizam que é possível obter altas produtividades de cenoura com aplicação de organomineral em dosagens reduzidas (em até 20%) sem prejuízos à qualidade final da cenoura.

Tabela 3. Produtividade de cenoura (classes 3A a G) e Total. Cristalina – GO, 2018.
t.ha-1
  2A 1A G Total comercial
100 % (M) 12.94 bc 8.35 c 11.02 b 70.42 a
100 % (OM) 15.90 a 14.17 a 9.99 b 70.33 a
80 % (OM) 12.44 c 11.72 b 14.96 a 69.22 a
60 % (OM) 11.49 c 9.12 c 6.31 c 58.53 b
40 % (OM) 15.42 ab 8.62 c 4.92 c 53.71 c
CV (%) 8.29 10.15 11.01 2.32
Média 4.33 3.00 3.00 20.59
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de significância (LUZ et al., 2018).

Para a cebola

Em cebola, resultados promissores também foram observados por Luz et al. (2018), em que a produtividade total com a aplicação de 100% da adubação mineral foi igual a 60% da adubação organomineral, indicando a possibilidade de redução de até 40% quando se utiliza fertilizantes protegidos com matéria orgânica. Em termos percentuais, 80% do fertilizante organomineral resultou numa produção 5% superior à adubação mineral.

Higashikawa e Menezes Júnior (2017) testaram o uso de fertilizante mineral, orgânico e organomineral contendo 75 e 125 kg ha-1 de nitrogênio, e verificaram que a produtividade de cebola foi similar entre os produtos utilizados, porém, as perdas pós-colheita dos bulbos foram maiores quando os produtos apresentavam maior quantidade de nitrogênio.

De acordo com o guia para a sustentabilidade das lavouras de Santa Catarina, maior Estado produtor de cebola, recomenda-se que, sempre que possível, o produtor faça uso de fontes com composição orgânica para elevar o teor dos nutrientes e melhorar o condicionamento e fertilidade do solo (Menezes Júnior; Marcuzzo, 2016).

No tomate

Em tomate industrial, Almeida (2017) verificou que o desempenho da cultura fertilizada com organomineral à base de cama de frango foi superior à fonte exclusivamente mineral, com incrementos de 3,3% para altura de planta, 2,4% para diâmetro de caule, 1,6% para diâmetro longitudinal do fruto e 15,2% para número de frutos por planta. Também, Caixeta (2015), avaliando diferentes doses de organomineral, concluiu incremento na produção do tomateiro.

Segundo Luz et al. (2010), o uso de fertilizantes organominerais em lavoura de tomate híbrido Débora Pto, no município de Uberlândia (MG), com uma de população de 12.500 plantas por hectare, resultou na produtividade de 93,9 t ha-1 de tomate tipo extra 2A e produtividade total de 105,4 t ha-1, enquanto que com adubação mineral os valores foram de 75,0 e 85,9 t ha-1, respectivamente (Tabela 4).

Estes autores também avaliaram o custo e o lucro obtido nas lavouras e verificaram que o investimento na aplicação do fertilizante organomineral em um hectare foi de R$ 517,88 e a receita líquida obtida foi de R$ 14.007,13, enquanto que na ausência do fertilizante organomineral a receita líquida foi de apenas R$ 4.446,88, ou seja, com a aplicação do organomineral obteve-se uma receita líquida positiva (Tabela 4).

Tabela 4. Produtividade e análise econômica de tomateiro híbrido Débora Pto conduzido no município de Uberlândia-MG, em função da ausência e presença de organomineral.
  Sem organomineral Com organomineral
Produtividade t ha-1
Extra 2A 75,0b 93,9a
Total comercial 85,9b 105,4a
Análise econômica Valores por hectare (12.500 plantas)
Receita bruta R$ 41.946,88 R$ 52.025,00
Custo da lavoura R$ 37.500,00 R$ 37.500,00
Custo do organomineral R$ 517,88
Receita líquida R$ 4.446,88 R$ 14.007,13
Fonte: Adaptado de Luz et al (2010).

Rabelo (2015), buscando caracterizar o desempenho e a produção do tomate industrial em função da adubação organomineral e mineral, verificou que o fertilizante organomineral proporcionou aumento de massa fresca de frutos, número de frutos por planta, frutos sadios e produtividade média, quando comparado ao fertilizante mineral. Com esses resultados, o mesmo autor concluiu que o fertilizante organomineral é mais indicado economicamente para aplicação na cultura do tomate industrial. 

Cardoso et al. (2017), estudando o uso do fertilizante organomineral peletizado comparado à aplicação de fertilizante mineral convencional sobre a produção de batata Ágata, na safra de verão e inverno, concluíram que o fertilizante organomineral foi mais eficiente em ambas as épocas, proporcionando maior produtividade e melhor qualidade de tubérculos quando comparado aos resultados observados no fertilizante mineral.

Luz et al. (2010), avaliando a produção de mudas de alface cultivar Vera e sua condução no campo, em função da aplicação de várias formulações comerciais, concluíram que na produção de mudas com organomineral houve maior eficiência nas variáveis: altura de plantas, número de folhas, massa fresca da parte aérea e massa das raízes, quando comparado à adubação mineral.

Quando Luz et al. (2010) avaliaram a produção comercial, as plantas de alface tratadas com fertilizante organomineral apresentaram maior diâmetro, maior massa fresca da parte aérea e da raiz, comparadas à adubação mineral.

Viabilidade

Diante desses resultados, pode-se afirmar que o uso de fertilizantes organominerais é uma alternativa promissora para aumento de produtividade e qualidade das hortaliças.

Assim, conclui-se que o uso de fertilizantes organominerais é uma prática que atende ao tripé da sustentabilidade (Elkington, 1994), indo de encontro aos aspectos econômicos (ecoeficiência), ambiental (sócio/ambiental) e social (sócio/econômico).

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