Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@unipar.br
Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores do Departamento de Agronomia – UNIPAR/Umuarama-PR
O feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma das leguminosas mais importantes para consumo humano direto em todo o mundo. Contudo, diversas doenças limitam a sua produção e reduzem a qualidade do feijão.

Crédito: Giovani Belutti
Além disso, devido ao cenário de alterações climáticas dos últimos anos, variações na disponibilidade de água, extremos de temperaturas e luz podem levar a influências desfavoráveis ao crescimento e produção dessa cultura.
O aumento da resiliência da produção agrícola do feijão frente aos estresses bióticos e abióticos requer alternativas promissoras. Portanto, a aplicação de compostos e substâncias que aliviam esses estresses surge como uma alternativa afim de manter o alto desempenho fisiológico e a qualidade produtiva.
Fosfitos
Os fosfitos são oxi-ânions derivados do ácido fosforoso (H3PO3–), que se combinam regularmente com cátions não metálicos, como potássio, sódio, cálcio ou amônio.
A diferença química entre fosfato (H2PO4–) e fosfito (H2PO3–) é um átomo de oxigênio que é substituído por um átomo de hidrogênio. A substituição de oxigênio resulta em diferenças profundas na forma como os fosfatos e fosfitos se comportam nos organismos.
A aplicação de fosfito, como o fosfito de potássio, melhora a defesa das plantas frente aos diferentes microrganismos e estresses ambientais, além de melhorar o crescimento e desenvolvimento do feijoeiro proporcionando maior brotação, floração e pegamento das flores e formação das vagens.
Ação direta e indireta
Os mecanismos de ação envolvidos nos efeitos profiláticos em resposta aos diferentes microrganismos dos fosfitos de potássio incluem a ação direta e indireta. Na ação direta, quando o íon fosfito entra em contato com os fitopatógenos, interfere no crescimento e na reprodução, influenciando a expressão gênica responsável pela síntese de compostos essenciais na estrutura e fisiologia celular.
Esse efeito direto resulta na diminuição do crescimento do micélio, do número de estruturas geradoras de esporos, da produção de esporos e da germinação em diversos microrganismos fitopatogênicos para o feijoeiro, como Alternaria alternata, Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, Fusarium solani, Eryshipe polygon, Pratylenchus brachyurus spp, entre outros.
O modo de ação indireto do íon fosfito de potássio envolve o estímulo de mecanismos de defesa bioquímicos e estruturais nas plantas. Dentre os mecanismos bioquímicos, destaca-se o aumento na produção de polissacarídeos, proteínas relacionadas à patogenicidade (PR), o acúmulo de compostos fenólicos e fitoalexinas.
Além disso, induz respostas celulares, como aumento da atividade citoplasmática, formação de agregados citoplasmáticos e liberação de peróxido de hidrogênio. Os mecanismos de defesa estruturais, que restringem a penetração e a sobrevivência dos patógenos na planta, incluem a deposição de calose, lignina e suberina ao redor do tecido danificado.
Estas descobertas sugerem que o fosfito de potássio ativa uma série de respostas de defesa nas plantas, aumentando a sua capacidade de resistir à infecção por diferentes patógenos.
Defesa vegetal
O fosfito de potássio contribui para a ativação de alguns mecanismos de defesa e, portanto, seu uso via aplicação foliar, por exemplo, pode ser uma medida alternativa para manter ou mesmo aumentar a produtividade do feijão em condições de estresses abióticos.
O fosfito de potássio pode aumentar a estabilidade da maquinaria fotossintética em plantas de feijoeiro. A potencialização do sistema antioxidante, mediada pela ativação de enzimas-chave como superóxido dismutase e ascorbato peroxidase, foi evidenciada em plantas pulverizadas com esse composto, aumentando a atividade das enzimas antioxidantes e o ajuste osmótico por meio de açúcares solúveis, aminoácidos livres e acúmulo de prolina em plantas sob déficit hídrico.
Além disso, o fosfito de potássio atua indiretamente na produção de compostos fenólicos, que são importantes na constituição e qualidade dos grãos de feijão.
Efeito bioestimulante
Entretanto, evidências experimentais sugerem que o papel do fosfito de potássio é atuar como biocida e bioestimulante e, não como um fertilizante. Ávila e colaboradores (2012) avaliaram o efeito de fosfito aplicado via foliar sobre a produtividade de grãos do feijoeiro cv. Radiante, em casa de vegetação.
Esses autores observaram que pulverizações foliares de fosfito diminuíram a produtividade de grãos em plantas cultivadas com baixa disponibilidade de fósforo no solo, mas esse efeito não foi observado em plantas cultivadas em solo com adequada disponibilidade de fósforo.
Isso pode ter ocorrido porque a quantidade fornecida pela adubação foliar não atende as necessidades do feijoeiro.
Reação na planta
O íon de fosfito de potássio é absorvido rapidamente pela planta, acontecendo via raízes e folhas. Uma vez absorvido, ele é facilmente transportado nas plantas via xilema e floema, por isso tem sido utilizado em aplicação foliar, radicular e colo da planta, através de irrigação por gotejamento misturado na solução nutritiva em sistemas hidropônicos, tratamento de sementes e aplicação aérea de baixo volume.
Eficácia no tratamento
A aplicação eficaz de fosfito de potássio no feijoeiro requer cuidados específicos quanto à dosagem, momento e forma de aplicação. A dosagem deve ser determinada considerando fatores como o estágio de crescimento da planta, a presença de patógenos e as condições do solo, sendo crucial realizar análises para avaliar a real necessidade.
Quanto ao momento de aplicação, este pode variar conforme as condições climáticas e o ciclo de crescimento da planta, sendo recomendada a aplicação preventiva em situações de estresse.
A escolha entre aplicação foliar e no solo depende das condições da lavoura, sendo a primeira mais rápida na absorção e útil para respostas rápidas, enquanto a segunda pode oferecer um fornecimento mais gradual ao longo do tempo.
A adaptação às condições locais, considerando clima, solo e práticas agronômicas específicas, é fundamental. A consulta a especialistas locais para orientações personalizadas, levando em conta as particularidades da lavoura em questão devem ser sempre levadas em consideração.
Conhecimento é tudo
Os produtores de feijão enfrentam vários desafios ao considerar a adoção do fosfito de potássio. Um deles é a falta de compreensão completa sobre a utilização e os benefícios desse composto, resultando em hesitação por parte dos agricultores.
Superar esse desafio requer esforços na educação e treinamento, com a disseminação de informações claras sobre os modos de ação do fosfito, as dosagens apropriadas e os métodos de aplicação.
Além disso, a disponibilidade e acessibilidade ao produto podem ser desafios logísticos, exigindo estratégias para facilitar a aquisição pelos produtores, como parcerias com fornecedores confiáveis e programas de subsídios.
Potencial de uso
A utilização de fosfito de potássio na cultura do feijão apresenta um potencial significativo para a redução do uso de agrotóxicos. Ao fortalecer os mecanismos de defesa da planta, esse composto contribui para aumentar a resistência do feijoeiro a patógenos, reduzindo a necessidade de pesticidas.
Essa diminuição no uso de agroquímicos impacta positivamente a sustentabilidade ambiental, minimizando os impactos adversos associados aos pesticidas tradicionais, como a contaminação do solo e da água.
Além disso, promove a segurança alimentar, ao garantir a produção de grãos mais saudáveis e com menor resíduo de pesticidas.
Avanços
As perspectivas para o uso de fosfito de potássio na agricultura são promissoras, com um foco crescente no desenvolvimento de novas formulações e tecnologias que maximizem seus efeitos benéficos nas plantas.
Pesquisas continuadas visam aprimorar a eficácia e a estabilidade das formulações de fosfito, buscando melhorar a absorção pelas plantas e a liberação controlada dos nutrientes.
Além disso, a integração de técnicas modernas, como a nanotecnologia, pode abrir novas possibilidades para otimizar a entrega do fosfito às plantas.
Esses avanços tecnológicos têm o potencial de impulsionar a agricultura de maneira mais sustentável e eficiente, promovendo a saúde das plantas e reduzindo a dependência de insumos químicos.