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Fosfito x doenças do cafeeiro

Ana Clara de Aurélio Loures Azevedo

Marina Santos Okuzono Marques de Araújo

Graduandas em Agronomia pela Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral (FAEF, Garça SP).

Marcelo de Souza Silva Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor – FAEF – Garça – SPmrcsouza18@gmail.com

Café – Crédito Divulgação Agrishow

Nos últimos anos, foi possível observar uma grande evolução no aumento da produtividade do cafeeiro, associado à melhoria de vários aspectos ligados ao sistema de cultivo.

Embora sejam notadas essas melhorias, alguns aspectos ainda causam prejuízos consideráveis à produção do café nas diferentes regiões produtoras, dentre os quais pode-se destacar os de origem fitossanitária.

Deste modo, para assegurar estes altos rendimentos da cultura, o cafeicultor, além de cuidar de fatores da produção, como manejo correto do solo e da nutrição, precisa dar atenção especial ao manejo das principais doenças da cultura, que podem provocar perdas significativas à produção, se não forem devidamente controladas.

O cafeicultor precisa entender que as doenças do café podem afetar tanto o desenvolvimento das plantas quanto a produção, podendo reduzir em até 20% a produção e serem limitantes para o cultivo da cultura. Se mal manejadas, podem comprometer totalmente a exploração da cultura, necessitando principalmente de uma correta diagnose, para que o controle seja realizado de maneira eficiente.

Em destaque

Entre as doenças que atacam o cafeeiro, algumas adquirem importância maior e exigem atenção em seu controle, considerando a frequência com que ocorrem, as áreas de ocorrência e os danos causados às plantas, como a ferrugem, a cercosporiose, a mancha aureolada, a mancha de phoma, a rizoctoniose, a mancha anular e a roseliniose.  Essas doenças estão relacionadas, em maior predominância, a algumas épocas do ano ou estádio fenológico do cafeeiro, que coincidem com as condições ambientais que as favorecem.

A ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. & Br), por exemplo, é favorecida por ambientes com alta umidade relativa, temperaturas entre 20ºC e 24ºC, baixa luminosidade e/ou desbalanços nutricionais. Sua ocorrência está associada à desfolha da planta e até à seca de ramos, comprometendo a produção na safra atual e no ano seguinte.

Os sintomas caracterizam-se pela presença de uma massa pulverulenta de esporos com cores amareladas ou alaranjadas, na face abaxial da folha, a qual corresponde a uma mancha clorótica na face adaxial.

Monitoramento

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O monitoramento da ferrugem é feito com a coleta de 100 folhas do terço médio para cada talhão e seu controle é realizado com o uso de agentes químicos, devendo ser aplicados de maneira preventiva (fungicidas protetores) no período chuvoso ou com fungicidas curativos, quando constatado 5% das folhas infectadas.

O uso de cultivares resistentes, como a Acauã Novo, Arara, IAPAR 59, IPR 98 e Obatã, além de espaçamentos menos adensado, podem contribuir com o controle desta doença.

Já em relação à cercospirose (Cercospora coffeicola), sua manifestação se dá pela presença de manchas circulares de coloração castanha clara e escura, com o centro branco nas folhas de plantas jovens e/ou adultas. No fruto, observam-se lesões deprimidas que podem levar à maturação precoce de grãos verdes.

Sua presença é favorecida por condições quentes, úmidas e situações de déficit hídrico e/ou nutricional.

Como recomendação de controle, pode-se adotar o uso de mudas sadias, bem aclimatadas previamente ao plantio no campo, equilíbrio nutricional, sobretudo ao fornecimento de nitrogênio, além do uso de fungicidas, à medida que surgem os sintomas nas plantas.

Phoma

As manchas de phoma ou de ascochyta (Phoma spp), que é uma doença causada por algumas espécies de fungo do gênero Phoma, tem sua ocorrência diretamente associada a locais de produção sujeitos à ação de ventos fortes e altitude elevada (acima de 1.000 m), alta umidade e temperaturas próximas a 20ºC. 

Seus sintomas caracterizam-se pelo aparecimento de manchas escuras, que causam deformação na borda do limbo foliar, enquanto nos ramos observam-se lesões deprimidas e escuras, que podem levar à seca dos ramos produtivos e ao abortamento dos frutos novos, comprometendo diretamente a produção do cafezal.

Vale destacar que a fase de florescimento é o período mais suscetível à ocorrência das doenças. As principais medidas de controle se dão mediante associação de práticas culturais (mudas certificadas, maior espaçamento de plantio, adubação balanceada, instalação de quebra-ventos) e o controle químico.

Controle integrado

De maneira geral, para a ocorrência das principais doenças, o produtor deve, sempre que possível, combinar diferentes medidas de controle, como o controle cultural, resistência genética, mudas sadias, rotação de culturas, maiores espaçamentos entre as plantas, realização de podas e desbrotas, limpeza constante de máquinas e equipamentos, irrigação adequada, monitoramento semanal.

Sempre que as infestações atingirem níveis de controle, preconiza-se por controle curativo, utilizando substâncias químicas curativas, como fungicidas e bactericidas.

Além das medidas de controle já descritas, outra forma de suprimir a ocorrência de doenças nos cafezais se dá pelo uso de fosfitos, que são substâncias derivadas do ácido fosfórico, também utilizados como fertilizantes, proporcionando ação de controle das doenças mediante indução de resistência do hospedeiro, no caso, as plantas.

 Outra característica é a sua translocação via xilema e floema, que acaba facilitando e otimizando a sua aplicação. Geralmente, o controle proporcionado por este produto é intermediário. Para o campo, o ideal é substituir uma das aplicações de fungicida por uma aplicação de fosfito.

Já nos viveiros, devem ser realizadas mais aplicações intercaladas com os fungicidas de acordo com o nível que a doença atingiu na data da aplicação. Sua fonte, se for o fosfito de potássio, pode prolongar o efeito protetor sobre as plantas.

De fosfito a fosfato

Quando os fosfitos são aplicados via solo ou nas folhas, eles podem ser lentamente convertidos em fosfatos. Em algumas plantas, os fosfitos podem oferecer alguns benefícios exclusivos não observados nas aplicações de fosfato, além do efeito sobre o controle de doenças, como melhor floração, pegamento de frutos e aumento do tamanho destes. Isso, na cultura do cafeeiro, poderá estar associado a ganhos produtivos.

O fosfito pode aumentar a capacidade produtiva do cafeeiro em até 5%, devido ao maior enchimento dos grãos e seu crescimento vegetativo. Também pode ajudar na autodefesa do cafeeiro e aumentar a eficiência de alguns fungicidas, tendo nenhuma compatibilidade com os fungicidas à base de tebuconazole.

E, por aumentar a defesa das plantas, ajuda, por exemplo, no combate da ferrugem do cafeeiro. A utilização do fosfito tem o papel promover um estresse estimulante à planta com base na formação de oxigênio, fenol e ativação enzimática, que irão atuar na inibição do desenvolvimento de doenças nas células vegetais.

Em campo

Os resultados em campo indicam que o uso dos fosfitos, somado ao fato destas substâncias apresentarem rápida absorção pelas plantas, apresenta assimilação total, exigência de menos energia da planta, favorecimento da absorção de Ca, B, Zn, Mn, Mo, K e outros elementos, controle e prevenção de doenças fúngicas, além da possibilidade de atuarem como ativadores de resistência das plantas por meio do estímulo da produção de algumas fitoalexinas.

Estudos realizados por pesquisadores da Embrapa, em 2019, indicaram que o uso do fosfito no cafeeiro aumentou em 5% (produção de 30 sacas por hectare) com o uso de fosfito de manganês, fosfito de cobre, isolados ou associados, aplicados em mudas de cafeeiro Mundo Novo 379/19.

Associado ao fungicida sistêmico (ciproconazol + azoxistrobina), reduziu 100% a incidência e severidade em relação à testemunha. Já a mistura com extrato de folha de café + fosfito de cobre + fosfito de manganês apresentou 78% de eficiência para incidência e 84% para a severidade.

Para o fosfito de cobre utilizado de forma isolada, teve redução de 38% da incidência e 56% da severidade de Hemileia vastatrix.

Alerta

Considerando que os fosfitos possuem um oxigênio a menos que o fosfato, sua ação é mais solúvel, podendo se tornar tóxicos, se aplicados em altas dosagens. Deste modo, os erros mais comuns estão associados à aplicação em doses elevadas, ultrapassando a recomendação descrita na bula, ou aplicando doses baixas que atuam somente como fertilizante foliar e não como fungicida.

Portanto, recomenda-se a consulta de um técnico, escolha do produto e dosagem correta. Ainda, a aquisição de produtos de forma legal e de empresas confiáveis ao produtor faz toda a diferença, pois ao adquirir um produto de qualidade os resultados serão ainda mais gratificantes.

Custo

O custo médio do produto é variável, sendo observado o investimento de R$ 250,00 por hectare, com aplicações na pré-florada, uma após a florada e mais duas a quatro aplicações distribuídas nas demais fases da cultura, alertando ao produtor que qualquer aplicação deve ser acompanhada por um técnico ou engenheiro agrônomo.

Com esse manejo, pode-se associar ganhos de 3% em produtividade, tendo um resultado considerável na colheita de frutos mais suculentos e plantas mais saudáveis, o que representa uma maior rentabilidade da área de cultivo no ciclo em questão e nos demais ciclos da cultura.

Tabela 01 – Época de maior ocorrência das principais doenças do cafeeiro em função das fases fenológicas das plantas.

tabela com época de ocorrência de determinas doenças do café durante o ano, relacionando com florescimento, formação dos frutos e colheita

Fonte: Amorin et al. (2016)

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