Talis Melo Claudino – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – Energia na Agricultura – UNESP/FCA de Botucatu – t.claudino@unesp.br
Rodrigo Ferrari Contin – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia – UENP de Bandeirantes
A soja (Glycine max (L.) Merrill) é afetada por uma diversidade de doenças, contudo, uma destas, por sua forma agressiva, apresenta sérios problemas à cultura, que é a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Sua infestação leva a perdas de 10 a 75% da produção de uma lavoura de soja, e por isso é considerada há 20 anos uma das principais doenças da soja.
Esta doença foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 2001, sendo disseminada através do vento, tendo chegado a todas as regiões produtoras brasileiras.
Seus danos se apresentam em pequenas pontuações de coloração mais escura no tecido foliar superior, e assim, no mesmo local da face inferior é possível observar as urédias, local onde o fungo produz seus uredósporos, que nada mais são do que os esporos de disseminação da doença.
Posteriormente, a coloração destas urédias passa de castanho-claro para castanho escuro e o tecido foliar nesta região muda para castanho-claro.
Controle
O controle convencional desta doença é feito com a utilização de cultivares de soja resistentes, para que assim seja a primeira forma de controle das doenças nos campos agrícolas. A forma mais comum utilizada e de grande eficiência é o controle químico com triazóis, estrubilurinas e fungicidas protetores, como o mancozeb, o clorotalonil e o oxicloreto de cobre.
Novas alternativas vêm sendo utilizadas para o manejo desta doença, apresentando por vezes comprovações cientificas de sua eficiência, com por exemplo, a utilização de fosfitos para auxiliar o fungicida no controle da ferrugem.
Ação e reação
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Para que possamos entender sua forma de ação, inicialmente precisamos ter em mente o que é um fosfito. Este elemento nada mais é do que a forma reduzida do fosfato, no qual um átomo de oxigênio é substituído por um átomo de hidrogênio. Esta substituição afeta o comportamento deste composto em organismos vivos.
É formado pela reação de um ácido fosfórico ou fosforoso altamente solúvel com uma base forte, como podemos encontrar no hidróxido de potássio, formando assim o fosfito de potássio.
Além do fosfito de potássio, existem fosfitos das mais diversas fontes, como por exemplo o que possui em sua composição o cobre. Contudo, existem fosfitos de cálcio, boro, zinco, manganês e mais uma diversidade de outros.
Vale salientar que estes elementos não apresentam nenhum valor nutricional às plantas, mas somente efeitos de indução de resistências e controle de doenças, como por exemplo a ferrugem asiática na cultura da soja.
Os fosfitos, além de causarem efeitos diretos sobre os patógenos, também atuam na ativação do sistema de defesa natural das plantas, ou seja, atua na produção de fitoalexinas, estimulando a formação destas estruturas de defesa e assim controlando o ataque de patógenos.
Mais resistência para as plantas
Quando utilizados como indutores de resistências nas plantas, o fosfito é associado diretamente ao metabolismo do açúcar, à estimulação da rota do ácido chíquimico e em alterações hormonais e químicas vegetais.
Além disso, o efeito do fosfito ocorre diretamente no metabolismo dos fungos, o que é visto principalmente no fosfito de potássio, capaz de inibir o crescimento micelial de alguns fungos.
Em oomicetos, é capaz de inibir a esporulação, nos demais, induzir a produção da enzima fenilalanina-amônia-liase, fitoalexina e compostos, como a lignina e o etileno no hospedeiro. Esse mecanismo de controle é a combinação entre os efeitos diretos dos fosfitos e dos patógenos, e da mesma forma atuam indiretamente no sistema natural de defesa das plantas.
Não deixe passar em branco
Diante dos drásticos efeitos acometidos pela ferrugem na soja, devemos tomar todas as medidas cabíveis para que ocorra o controle desta doença, utilizando as alternativas agroquímicas à disposição do agricultor.
Vale salientar que esta aplicação deve ocorrer no momento ideal, antes do alto índice de infestação da doença que ocorre de forma rápida. Para isto, o monitoramento no campo é de extrema necessidade para a definição dos conteúdos das aplicações, para que desta forma a doença se manifeste com a menor intensidade possível.
A utilização dos fosfitos é tema de diversos debates entre pesquisadores que relutam em atestar seus resultados, todavia, resultados científicos mostram o funcionamento desta substância.
Neves e colaboradores (2014) conduziram um ensaio em Cristalina (GO), em que em dois campos-testes fizeram as aplicações de fosfito de potássio + óleo vegetal, duas aplicações de fungicidas tradicionais, aplicação de tiofanato-metílico + flutriafol e tebuconazole, uma aplicação de fungicidas tradicionais + fosfito de potássio. As avaliações ocorreram a cada sete dias após a aplicação.
Após a primeira aplicação, todos os tratamentos realizados, inclusive o fosfito de potássio, diminuíram significativamente a incidência da ferrugem, mas somente os tratamentos com os fungicidas tradicionais reduziram a doença e aumentaram o PMS.
O fosfito de potássio reduziu a doença, mas não incrementou o PMS final, repercutindo assim em produtividade.
Pode-se, então, observar a funcionalidade do fosfito, contudo, é interessante que se faça a associação com demais fungicidas, para que então baixar o custo do controle da doença e manter a produtividade.
Além da associação com fungicidas, pode-se também associar o fosfito a silicatos para aplicação nas folhas. Oliveira e colaboradores (2015) observaram que a associação de fosfito e silicato de potássio reduziu severamente a intensidade da doença no desenvolvimento final da cultura da soja em relação à testemunha, não diminuindo assim a produtividade da mesma, onde é encontrado o ataque da doença.
Conclusão
Por fim, podemos concluir que a utilização do fosfito, quando feita no momento certo, apresenta resultados significativos no controle de doenças da soja, como a ferrugem asiática. Assim, vale salientar que o monitoramento e o posicionamento devem ser realizados no momento ideal para obter resultados e a melhor rentabilidade ao agricultor.