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Gestão de riscos em tempos de crise mundial

Crédito Shutterstock

Ronaldo Coletto da Silva
Partner DoAGRO Auditores Independentes e especialista em análise de viabilidade econômica de projetos
ronaldo.coletto@doagroauditores.com.br

No agronegócio, grande parte do custeio da safra acontece em um sistema próprio denominado financeiro-agrícola, não convencional. Neste sistema vários personagens se destacam: empresas fornecedoras de insumos e sementes, agroindústrias, fornecedoras de máquinas agrícolas, trading company, instituições financeiras, companhias securitizadoras e investidores.
Uma modalidade de destaque para financiamento de insumos são as operações de barter. Esta é uma das muitas razões pelo qual o agronegócio brasileiro participa no Produto Interno Bruto do Brasil de forma significativa, resultado de uma estratégia de integração internacional (exportações), que nos coloca como terceiro maior produtor de alimentos e fibras do mundo, perdendo somente para China e os EUA.
O desenvolvimento da matriz produtiva combinado com inovações tecnológicas, planejamento estratégico e gestão, trouxe melhorias em nossa produção ao longo do tempo, contudo, as questões climática/ambiental ainda requerem uma especial atenção em vista da agenda internacional.
Apenas para simples referência, em 2019 o agronegócio brasileiro participou com 20,5% no Produto Interno Bruto do Brasil, 26,5% em 2020, 28,0% em 2021, e para 2022 o resultado do agronegócio brasileiro deverá ser até 5% maior que o ano anterior. Os números são da CNA e do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Atualidade

Eventos relevantes da pandemia da Covid-19 em 2020, estiagem, seca e tempestades em 2021, especialmente no Brasil, elevação dos custos dos insumos (fertilizantes e glifosato), e por fim, neste ano de 2022, o risco de desabastecimento de comodities (trigo/soja), o potássio, até a elevação do preço do barril de petróleo, podemos perceber o tamanho do impacto em nossa economia e o que nos espera pra frente.
As sanções econômicas e comerciais impostas pelos Países do Ocidente, em resposta à invasão da Rússia na Ucrânia, iniciada no último dia 24 de fevereiro, dão uma ideia dos eventos que estão por vir, e os seus efeitos no agronegócio brasileiro, desde o risco de suspensão do fornecimento de comodities (trigo/soja), fertilizantes, até a alta do preço do barril de petróleo, no qual o agronegócio brasileiro é interdependente, nos fazem pensar em que ambiente estamos e para onde devemos caminhar, e com quais estratégias.
A conta vai chegar de um jeito ou de outro, e com um efeito “cascata”, inclusive na outra ponta, por exemplo, na bomba de combustível e no valor da cesta básica de alimentos, que segundo estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), subiu em 16 de 17 capitais pesquisadas.
Nossa dependência por fertilizantes é devido ao fato de que o solo brasileiro é pobre em nutrientes, segundo especialistas, e daí a necessidade de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), que são utilizados na produção agrícola, ou seja, dependemos da importação de amônia do Catar, Arábia Saudita, Ucrânia e EUA, fosfato dos EUA, Marrocos e China e, no caso do potássio, Canadá, Rússia, Bielorrússia, Israel e Alemanha são os fornecedores. Essa demanda nos coloca como o quarto maior consumidor, ficando apenas atrás da China, Índia e EUA, e o maior importador do mundo.

O caso do café

Se adentramos então no café, a região mais afetada foi Minas Gerais, conforme levantamento realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Café Point. Neste estudo, o que nos chamou mais a atenção foi a baixa adesão dos produtores aos sistemas de irrigação, à modalidade de venda futura, ou seja: “a comercialização ocorre no momento da colheita, ou fazem a armazenagem na propriedade e/ou cooperativas para posterior comercialização no mercado físico” e a baixa contratação de seguro rural, inclusive para a safra 2022/23.
Com relação ao seguro rural, o estudo ainda destaca: “a baixa adesão do setor à contratação de seguro rural é preocupante no que se refere à gestão de risco da atividade, considerando a ocorrência cada vez mais frequente de eventos climáticos extemos”.

Gerenciamento de riscos

Como toda e qualquer atividade de mercado, as operações de barter não estão isentas de riscos, por isso, é muito importante entender a sistemática dos conceitos envolvidos, e ao mesmo tempo medir, monitorar e gerenciar os riscos de forma efetiva.
Portanto, falar sobre gestão de riscos e tomada de decisão é entender que risco é uma incerteza envolvida na obtenção de um resultado ou um objetivo. Esta incerteza surge da possiblidade de se obter um resultado inesperado ou indesejado que, por conseguinte, está relacionado à imprevisibilidade dos resultados desejáveis e que, por sua vez, podem causar danos ou perdas, resultando em consequências negativas. Entretanto, também pode haver consequências positivas que criam oportunidades que não existiam antes.
De acordo com a literatura, existem algumas características importantes que envolvem o risco, nas operações de barter, para que o produtor rural possa tomar os cuidados necessários que envolvem principalmente a ausência de estrutura administrativa e contábil bem organizada, o endosso da CPR em quantidade efetivamente maior do que a realmente devida, o pagamento de juros abusivos e a quebra ou rompimento do contrato, quando ocorre alta de preço da comodities, e agora, igualmente, as questões dos efeitos climáticos e o desabastecimento de comodities e fertilizantes em decorrência da Guerra.
Neste sentido, Damondaran afirma que a essência da gestão do risco não está em evitá-lo ou eliminá-lo, mas em decidir quais os riscos a explorar, quais a repassar aos investidores, e quais devem ser evitados ou afastados como estratégia de hedge.
Na linha de definição de estratégias para mitigação dos riscos, Sanches propõe uma matriz de mapeamento dos riscos contemplando os riscos de mercado, riscos financeiros e riscos operacionais, como modelo de gestão estratégica e de planejamento, na visão do produtor e na visão da revenda/trader.

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