Girassol “orgânico”: expandindo negócios sustentáveis

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Créditos: Shutterstock

Claudia Adriana Görgen

Doutora em Geociências Aplicadas e proprietária da Terra Nova – Agricultura Planetária Sustentável

claudia@claudiagorgen.com.br

Você já comeu girassol? Com toda certeza sim! O uso de girassol (tanto sementes como outras partes da planta) como alimento foi documentado há 3.500 anos atrás, pelo menos 1.500 anos antes da era Cristã na região do Rio Nilo, no Continente Africano.

Hoje, a semente de girassol pode ser consumida in natura, torrada, moída, farelada e ainda ser esmagada e extraído óleo, que serve tanto de alimento a ser ingerido quanto para passar na pele humana, como tratamento curativo.

Certa vez escutei uma ordem de serviço partindo de um produtor de feijão carioca para com seu funcionário, este responsável pela aplicação de defensivos agrícolas. A ordem foi a seguinte: “Deixa aquele canto da área (mostrando com as mãos) de feijão sem aplicar veneno porque vamos guardar para nosso consumo.”

Hoje, com muita segurança, praticidade e autoestima treinamos agricultores no Brasil e no exterior a produzir alimentos e fibras de um jeito tão seguro que a sua família pode comer sem medo. No caso do girassol não é diferente. Quer saber mais?

Manejo da fertilidade do solo

A prática de semear e colher, iniciada por mulheres há mais de 10.000 anos, cerca de 8.000 anos antes de Cristo, acontecia nos intervalos de enchentes do Rio Nilo nas áreas de deserto.

Veja bem, o solo era fertilizado e irrigado todos os anos. O fertilizante natural utilizado era, nada mais nada menos, que minerais das rochas localizadas na nascente do rio Nilo. A água do rio “carregava” partículas de minerais primários constituídos de tantos elementos quanto pode conter a nossa conhecida tabela periódica de elementos.

A cada cheia, a natureza adicionava toneladas de minerais, garantindo a fertilidade do solo por mais algum tempo. Enquanto você lê este artigo, milhares de hectares no Brasil e no exterior estão sendo remineralizados com rochas moídas in natura. No Brasil, a técnica de remineralização dos solos foi oficialmente reconhecida em 2016.

Para saber qual ou quais as rochas adequadas ao manejo da fertilidade da sua área, é necessário a contratação de equipe especializada na caracterização do solo que você cultiva. Tudo isso pelo simples fato de que o “produto – rocha moída in natura” age diferentemente dos adubos prontamente solúveis, assim, o raciocínio precisa ser diferente e o processo de adequação da rocha no manejo da fertilidade do solo também!

Convivência com insetos, fungos, bactérias, vírus e nematoides

O cultivo de girassol em áreas cujo manejo da fertilidade é realizado com remineralizadores aumenta ainda mais a saúde da planta. Nas primeiras safras se observa maior “tolerância” da planta àquilo que comumente chamamos de pragas e doenças.

Tolerância no dicionário quer dizer, também, aceitação daquilo que não se pode impedir. O que não se pode impedir é aquilo que existe associado a algo. Se está associado, e não tem como separar, como seria o raciocínio de conviver sem acreditar que seja um problema?

Quando entramos no processo de produção sem aplicação de inseticidas e fungicidas sintéticos, também nosso raciocínio muda. Agora, vejam bem, a causa das plantas bem nutridas começa pelas inúmeras interações da rizosfera.

Começamos a observar que a imunidade ocorre de dentro para fora. Para aumentar a ‘autoimunidade’, podemos contar com o aumento de microrganismos associados à rizosfera. Considerando que esta rizosfera já está em contato direto com um solo devidamente fértil, seja por sua origem geológica ‘natural’ ou por adição de remineralizadores, a atividade biológica do solo vai ‘interagir’ com os elementos químicos (tanto quanto podem estar apresentados na tabela periódica), e aí começa o milagre.

As raízes das plantas são inundadas de metabólitos com ação de quelatação de elementos essenciais à nutrição das plantas, além dos próprios microrganismos que passam a entrar nas raízes e se tornarem parte das plantas, como endofíticos.

Este processo de adição de microrganismos às lavouras de girassol pode ser conseguido com a multiplicação de comunidades de microrganismos na própria fazenda. Há inúmeras pessoas no Brasil realizando esta prática e muitos treinamentos para aprendizado destas técnicas.

Onde e quando plantar?

A cultura do girassol pode ser implantada em todo o Brasil, desde que haja sol, temperaturas acima de 4°C e abaixo de 35°C (melhor quando a mínima for 14°C e a máxima 30°C) e umidade do solo suficiente para todo o ciclo da cultura.

O girassol não precisa de chuva, quer dizer, não precisa de água na inflorescência para polinização. Insetos voadores, como as abelhas, se responsabilizam pela transferência de pólen do androceu para o pistilo do gineceu do mesmo capítulo ou dos capítulos das plantas vizinhas.

Se o solo estiver com umidade suficiente para o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, já é suficiente. A época de plantio, você decide.

Manejo de plantas indicadoras

A planta de girassol vai bem quando semeada no sistema de plantio direto na palha. A técnica de cultivo de plantas de cobertura com rolagem da matéria verde, no tempo correto e do jeito certo, reduz significativamente a germinação de plantas indicadoras que podem competir com as plantas de girassol.

Algumas plantas indicadoras no meio da plantação não prejudicam, pelo contrário, só melhoram. Importante ressaltar que o tempo correto e o jeito certo você precisa adequar na sua propriedade. Há vários agricultores que você pode visitar também para buscar experiências.

Para quem vender girassol “orgânico”?

Em Castro (PR), há uma esmagadora de grãos especialmente construída e direcionada para produtos cultivados com tecnologias ‘inovadoras e desafiadoras’, a Castro Óleos. E, posso garantir, não tem girassol “orgânico” suficiente para quem quer. Nem precisa dizer nada sobre a viabilidade econômica.

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