29.6 C
Uberlândia
sexta-feira, outubro 4, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGirassol resiste ao déficit hídrico

Girassol resiste ao déficit hídrico

Isaías Antonio de Paiva
Consultor e doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
paiva.isaiasantonio@gmail.com

O sistema radicular profundo do girassol (Helianthus annuus) desempenha um papel crucial na sua capacidade de resistir ao déficit hídrico. Ele possui um sistema radicular pivotante que pode se estender até profundidades significativas, frequentemente atingindo 2,0 metros ou mais, dependendo das condições do solo.

Essa capacidade permite que a planta explore reservas de água e nutrientes em camadas mais profundas do solo, inacessíveis a muitas outras culturas com sistemas radiculares mais superficiais.

Durante períodos de seca, plantas com raízes profundas, como o girassol, podem sobreviver e continuar seu desenvolvimento, enquanto plantas com sistemas radiculares superficiais podem sofrer estresse hídrico severo.

Isso torna o girassol uma cultura mais resiliente em regiões onde a disponibilidade de água pode ser variável ou limitada.

Além da água, o girassol consegue acessar nutrientes que podem estar localizados em profundidades maiores. Isso é particularmente benéfico em solos onde os nutrientes essenciais podem ter sido lixiviados para camadas inferiores, principalmente o potássio e nitrogênio.

Eficiência na absorção de água

O girassol utiliza a água de forma eficiente, devido a várias adaptações fisiológicas e morfológicas. O sistema radicular profundo permite com que o girassol acesse um volume maior de solo e de água, além de que em situações de seca, devido a sua profundidade, consegue encontrar água disponível no subsolo com maior facilidade.

Além das raízes, as folhas de girassol possuem mudanças estomáticas que diminuem a transpiração e, consequentemente, a perda de água em condições de déficit hídrico. Aliado aos estômatos, temos uma camada mais espeça de cera nas folhas, o que reduz a evapotranspiração e minimiza a pera de água.

Déficit hídrico

As regiões mais indicadas para o cultivo do girassol são áreas com déficit hídrico. Basicamente, essas áreas estão dentro do bioma Cerrado ou Caatinga, envolvendo os estados das regiões sudeste, centro-oeste e parte da região norte (leste) e nordeste.

Como mencionado, o girassol possui grande resiliência ao déficit hídrico, portanto, a utilização do girassol possibilita que o agricultor tenha segurança quanto a sua colheita futura, em função das condições de pluviosidade (chuva) na região – caso ocorra um veranico severo, a colheita não será prejudicada de forma significativa.

Além disso, o girassol é um excelente material para ser utilizado na rotação de culturas, pois melhora a estrutura do solo, deixando-o mais permeável e oxigenado, além de realizar uma ciclagem de nutrientes lixiviados no perfil do solo, beneficiando outras culturas sucessoras, como a soja ou o milho.

Segurança alimentar

O girassol permite maior segurança na produção quando analisamos sua grande tolerância ao déficit hídrico. Após o grão ser colhido, ele pode ser utilizado na fabricação e composição de diversos produtos dentro do processamento industrial.

Por exemplo, o óleo de girassol é um importante componente alimentar, rico em ácidos graxos essenciais. A torta de girassol, um subproduto da extração de óleo, é rica em proteínas e pode ser usada na alimentação animal, aumentando a produção de carne e leite.

Um detalhe importante é que, para ser viável, o girassol precisa de indústria beneficiadora próxima à região de cultivo, caso contrário, o cultivo do ponto de vista comercial é inviável, mas ainda sobra espaço para uso como planta de cobertura.

Produtividade

Como mencionado, o girassol possui grande tolerância à falta de água, entretanto, a cultura é mais suscetível nos primeiros dias do seu desenvolvimento. Portanto, a implantação deve ser realizada no final do período chuvoso, a fim de garantir um bom estabelecimento e crescimento inicial.

Além disso, o uso de sementes de boa qualidade é fundamental para um bom desempenho. Um dos itens que mais impacta no estabelecimento inicial é o vigor da semente, que precisa ser elevado. Caso contrário, a cultura poderá ter problemas em expressar toda sua rusticidade.

Embora seja uma cultura rústica, ela precisa de nutrientes. Nas plantações comerciais, deve ser realizada a adubação de acordo com a estratégia da fazenda, e a depender das condições do solo essa adubação pode variar muito.

Portanto, análises de solo no final do ciclo da cultura anterior podem auxiliar na tomada de decisão de quanto de adubo utilizar.

Desafios enfrentados pelos produtores

O principal desafio enfrentando pelos produtores é a aquisição de sementes certificadas com preço acessível e em grande quantidade. Outro problema é a comercialização. Existem poucos pontos beneficiadores de semente de girassol em grande escala, fator que limita o avanço da cultura para regiões mais distantes de grandes centros tradicionalmente beneficiadores.

Com o aumento das instabilidades climáticas vistas nos últimos anos, aliado à volatilidade dos preços de insumos e das próprias commodities no cenário nacional e mundial, o cultivo do girassol tende a se tornar cada vez mais uma alternativa para áreas com possibilidade de déficit hídrico similar ao que já ocorre com o sorgo granífero em maior intensidade.

Mas, o girassol, pelas suas características peculiares e maior valor agregado, tende a ganhar cada vez mais espaço na segunda safra brasileira, ou popular “safrinha”.

ARTIGOS RELACIONADOS

Soja tolerante à seca

As condições climáticas desfavoráveis desta safra de soja, com longo período de estiagem e temperaturas altas, causaram expressiva redução de produtividade, principalmente no Paraná, segundo maior produtor da oleaginosa no País.

Produção de girassol: Cuidado com as demandas nutricionais

Apesar da descendência europeia, a cultura do girassol apresenta boa adaptação ao clima tropical brasileiro e em função de sua rusticidade e boa tolerância a seca, sua produção avança como uma opção de manejo de segunda safra ou “safrinha” e, por apresentar uma demanda hídrica menor que o milho, permitiu o aumento de seu cultivo nos Estados de MT, GO e MG neste período, tornando estes os principais produtores da cultura no Brasil.

Produtores rurais testam novos híbridos de milho no Paraná

Forseed, marca da Longping High-Tech - subsidiária do Citic Group, maior conglomerado econômico da China, chega à região com forte investimento em sementes de...

Valagro – Mais produção com menos recursos

Desde 2004 a Valagro participa da Hortitec. “Para nós, este é principal evento, pois a empresa possui seu DNA em HF e a Hortitec,...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!