Fernando Simoni Bacilieri
Engenheiro agrônomo, doutor e diretor de pesquisa – Fisioplant Pesquisa e Desenvolvimento
fernando.bacilieri@fisioplant.com.br
Amanda Machado Pena
Engenheira agrônoma e gerente de pesquisa – Fisioplant Pesquisa e Desenvolvimento
amandamachadofisioplant@gmail.com
O Brasil ocupa a terceira posição entre os países produtores de feijão (Phaseolus vulgaris) na atualidade, fato que o coloca entre os principais produtores mundiais. A produção nacional de feijão na safra de 2021/22 foi de, aproximadamente, 3.046 mil toneladas, com destaque para o feijão-carioca, que representa aproximadamente 60% da produção, sendo também o mais consumido no País (Conab, 2022).
Produtividade

Apesar dos avanços na agricultura, a produtividade do feijão no Brasil é considerada muito abaixo do potencial das cultivares recomendadas, que apresentam produções maiores que 3.000 kg ha-1, enquanto a média nacional encontra-se pouco acima de 1.067 kg ha-1.
A baixa produtividade do feijão pode estar associada à falta de tecnologias básicas, utilização de sementes de baixa qualidade, ao cultivo em solos de pouca fertilidade, como a correção e adubação do solo, alta suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças e a má distribuição das chuvas.
Bioestimulantes
Diferente dos fertilizantes convencionais à base de NPK, adubos foliares com nutrientes para suplementação, prevenção ou correção de carências nutricionais, novos compostos têm sido identificados, sintetizados e aplicados às culturas, visando solucionar problemas fisiológicos – tratam-se dos bioestimulantes.
O conceito de bioestimulantes tem mudado ao longo dos anos em função da diversidade de compostos novos que apresentam efeitos sobre o crescimento, desenvolvimento, metabolismo e a produtividade das culturas.
Uma definição mais recente considera os bioestimulantes como produtos que contenham substâncias e/ou microrganismos cuja ação, quando aplicados às plantas ou à rizosfera, consiga estimular os processos fisiológicos naturais para aumentar a absorção e eficiência, e no uso de nutrientes, proporcionar tolerância a estresses abióticos, com maior qualidade das colheitas.
Manejo
Com relação aos métodos de aplicação, os bioestimulantes podem ser aplicados no solo, na parte aérea das plantas, via foliar ou diretamente nas sementes.
O tratamento de sementes é uma opção que tem se tornado viável, com vantagens tais como melhorar a uniformidade de emergência, bom aproveitamento pela planta das reservas das sementes expresso em vigor inicial, estímulo ao desenvolvimento radicular, com melhor aproveitamento de água e nutrientes, refletindo diretamente na capacidade das plantas de resistir a estresses abióticos.
Respostas do feijoeiro
A produtividade do feijoeiro é obtida da relação entre o número de plantas por área, de vagens por planta, de grãos por vagens e também do peso dos grãos.
Um dos principais problemas enfrentados na produção de feijão, como em qualquer outra cultura, refere-se à necessidade de estabelecimento adequado de plantas em campo. Quando o número mínimo de plantas por área não é alcançado, há necessidade de ressemear, com impactos diretos na produtividade e comprometimento do rendimento satisfatório.
O baixo estande pode ser causado por fatores atribuídos à qualidade fisiológica das sementes, com atributos como germinação e vigor, ou a fatores ambientais, com destaque para seca e altas temperaturas. Cada fator pode atuar por si, ou em interação com os demais.
A disponibilidade insuficiente de água no solo é considerada uma das causas mais comuns da baixa germinação e emergência das plântulas no Brasil, uma vez que condições de estiagem são frequentes na época de semeadura.
Transformações metabólicas
A germinação representa o crescimento do embrião, iniciando com a absorção de água pelos tecidos da semente em crescimento (embebição). Após as transformações metabólicas promovidas pela embebição, há o crescimento da radícula através das estruturas envoltórias da semente, que marca o fim da germinação e o início do crescimento da planta, que resulta na emergência.
Esse processo pode ser favorecido pelos bioestimulantes, que apresentem efeito de hormônios vegetais, como as giberelinas, que ativam as enzimas para melhor consumo das reservas das sementes, enquanto as citocininas vão atuar na divisão celular e crescimento do embrião e as auxinas irão modular o desenvolvimento radicular.
Quanto mais rapidamente as plantas emergirem, mais rápido o aparato fotossintético começa a produzir açúcar e energia para o crescimento e desenvolvimento dos outros órgãos que formam o feijoeiro, com destaque para as raízes.
Com o bom desenvolvimento do sistema radicular, as plantas terão melhor capacidade de aproveitar água, nutrientes e resistirem a estresses.
Tratamento de sementes
Outra influência positiva dos bioetimulantes no tratamento de sementes de feijão é sobre a arquitetura das plantas, uma vez que plantas que enraízam mais, produzem mais citocininas e estas atuam na quebra da dominância apical e dormência de gemas.
Com isso, espera-se uma maior quantidade de nós produtivos, influenciando na quantidade de vagens e na produtividade da cultura.
Custo-benefício
Normalmente, a dosagem dos bioestimulantes no tratamento de sementes de feijão é baixa, o que viabiliza a tecnologia frente ao investimento total que as lavouras de feijão exigem dos agricultores, particularmente daqueles que buscam altos patamares produtivos.
Para avaliação do custo x benefício, é necessário considerar os resultados obtidos. Em experimento que realizamos na safra 2021/22 (dados não publicados) com a cultivar Pérola, na região de Uberlândia (MG), para testar doses e tipos de bioestimulantes aplicados no tratamento de sementes de feijão, houve um aumento de 4,46 sacas por hectare, demonstrando viabilidade econômica dos bioestimulantes para estabelecimento inicial do feijoeiro.
Cuidados
O volume de calda excessivo dos produtos nas sementes, incompatibilidade físico-química entre misturas e o efeito negativo sobre microrganismos utilizados nos inoculantes devem ser conhecidos, para evitar problemas com os bioestimulantes no tratamento de sementes.
Também é importante os agricultores seguirem as recomendações de uso dos fabricantes para melhor performance dos produtos.