Júlio César Ribeiro – Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). – jcragronomo@gmail.com
Andreia Laurindo de Almeida Gomes – Discente de Engenheira Agronômica pela UFRRJ. – andreialaur12@gmail.com
Uma das formas de impulsionar o desenvolvimento das plantas foi a criação de inoculantes com a presença de microrganismos vivos capazes de auxiliar na fixação biológica de nutrientes.
O inoculante Rhizobium é um produto desenvolvido à base de bactérias do gênero Rhizobium (denominadas rizóbios) que em simbiose com as plantas formam nódulos em suas raízes capazes de absorver o nitrogênio presente na atmosfera, podendo ele ser utilizado pelo vegetal, processo esse conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN). No entanto, nem todas as plantas fixam nitrogênio biologicamente em simbiose com os rizóbios, sendo a simbiose restrita às plantas leguminosas. Contudo, não só as plantas leguminosas são beneficiadas pela FBN. Outras espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico também são capazes de associar-se às plantas gramíneas, porém não ocorre a formação de nódulos em suas raízes, sendo menor a quantidade de nitrogênio fixada.
Benefícios
Em sistemas florestais o inoculante Rhizobium é comumente utilizado em plantios de leguminosas arbóreas, ou na adubação verde antes do plantio das espécies florestais de interesse econômico.
A adubação verde é uma técnica agrícola que tem como principal objetivo melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo por meio de determinadas plantas, como por exemplo, a crotalária, o feijão de porco, o feijão guandu e o sorgo volumoso. Dentre esses, o sorgo volumo e a crotalária são os mais utilizados pelos silvicultores por apresentarem alto desempenho na fixação de nitrogênio no solo, o que pode ser potencializado com a utilização do inoculante Rhizobium. O sorgo volumoso apresenta ainda, como vantagem raízes longas capazes de fixar nutrientes em profundidade, onde as raízes das árvores estarão quando adultas, além de levada produção de biomassa, que pode corresponder entre 50 a 100 toneladas de massa vegetal por ano.
O fornecimento de nitrogênio por meio da simbiose dos rizóbios com as plantas leguminosas proporciona diversos benefícios, não só no desenvolvimento das mesmas, como também na redução dos impactos ambientais, pela diminuição do uso de fertilizantes nitrogenados, resultando ainda em economia para o produtor.
Além de assimilar nitrogênio, os rizóbios promovem aumento da resistência a estiagens, maior eficiência na absorção de água e outros nutrientes essenciais; efeito positivo na produção de fitohormônios capazes de modificar a taxa de crescimento das raízes, melhorando o desenvolvimento das plantas; além do incremento da associação com outras bactérias encontradas naturalmente nos solos que promovem o crescimento das plantas.
Como implantar a técnica
Geralmente, os inoculantes são comercializados na forma líquida ou sólida (turfosa), tendo como principais técnicas de uso o tratamento de sementes ou pulverização via sulco de semeadura. Inoculantes na forma líquida, habitualmente são aplicados via sementes ou via sulco, enquanto o inoculante turfoso comumente é aplicado via sementes. No caso do inoculante Rhizobium, a técnica mais utilizada é a aplicação diretamente na semente, antes de realizar o plantio.
Para potencializar o efeito do inoculante, as recomendações de dosagem e de aplicação fornecidas pelo fabricante do produto devem ser sempre seguidas, levando em conta algumas orientações gerais:
• Efetuar a inoculação em horários mais frescos do dia ou da noite, para que ocorra uma maior ação do produto.
• Inocular as sementes em ambientes sombreados e realizar a semeadura preferencialmente logo após a inoculação, ou máximo no tempo de 24 horas, exceto para produtos direcionados para a pré-inoculação (“vida longa”) de sementes.
• Não misturar o inoculante com fungicidas ou micronutrientes para ser aplicado nas sementes, evitando redução de ação dos microrganismos.
E a produtividade?
[rml_read_more]
O aumento na produtividade é notório com a utilização de inoculantes. Estudos indicam que a utilização de inoculantes Rhizobium em algumas espécies florestais, como por exemplo no Eucalipto e em Sesbânia, proporciona maior colonização radicular, eficiência na utilização de nutrientes, aumento da massa seca, altura e diâmetro quando comparado à plantas sem aplicação do produto.
Estima-se que a utilização de inoculantes em determinados plantios brasileiros e o conhecimento do processo de nodulação poderá contribuir na redução de custos com fertilizantes nitrogenados em até US$ 13 milhões, possibilitando ainda um aumento significativo da produtividade em até 50% em algumas culturas.
Sem errar
Dentre os erros mais comuns, que são fatores para o insucesso da inoculação, estão os relacionados à utilização de produtos de qualidade duvidosa. O produtor sempre deve optar por produtos certificados, com qualidade garantida, produzidos por empresas idôneas.
Os inoculantes adquiridos devem ser esterilizados em seu processo de produção a fim de não serem fontes de pragas e doenças, devendo possuir em sua composição concentração específica de microrganismos de acordo com o produto, mantendo ainda a garantia registrada até a data de vencimento.
Erros como a utilização de doses fora do indicado pelo fabricante, desuniformidade na aplicação, realização da inoculação juntamente com defensivos agrícolas e em temperaturas elevadas também devem ser evitados, de modo garantir a eficiência do produto.
Investimento x retorno
Uma das questões mais importantes para que determinada tecnologia seja adotada pelos produtores é o custo. Neste sentido, o inoculante Rhizobium ganha destaque, pois trata-se de uma tecnologia acessível que representa uma pequena percentagem do custo de produção. Geralmente, o custo do inoculante necessário para o plantio de um hectare é de R$ 8,00, no entanto, pode variar de acordo com a região. A esse valor, ainda devem ser somados os custos com a mão de obra e equipamentos para a aplicação.
Contudo, os custos com a aquisição e aplicação de inoculantes não devem ser percebidos como despesas, e sim como investimento, visto que, além de proporcionarem melhor desenvolvimento das plantas, possibilitam a redução no uso de fertilizantes nitrogenados, e consequentemente maior retorno financeiro ao produtor.