Autores
Marcelo de Souza Silva – Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Horticultura e professor – FAEF – Garça – SP – mrcsouza18@gmail.com
Aline Mendes de Sousa Gouveia – Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Horticultura e professora – Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO) – aline_mendes@fio.edu.br
O Brasil é responsável por 10,9% da produção mundial de mamão, o que equivale a 1,4 milhão de toneladas da fruta. Nos últimos anos, o Brasil arrecadou, só com exportações de frutos, um valor correspondente a US$ 42 milhões, mas a maior parte de sua produção é consumida no mercado interno.
Vale destacar que as principais regiões exportadoras brasileiras estão localizadas nos Estados do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte, que juntos enviaram cerca de 60% do volume destinado à União Europeia na média dos últimos cinco anos.
O Espírito Santo está no primeiro lugar no ranking dos exportadores brasileiros. Apesar do mamão ter grandes problemas fitossanitários, o clima é propício ao cultivo na região norte do Estado, assegurando, assim, o padrão exigido para comercialização internacional.
Mudança de paradigmas
O cultivo de mamoeiro no sistema orgânico pode assustar alguns produtores rurais devido à necessidade de implementar o manejo nutricional, pragas e doenças de forma sustentável e natural, além da aplicação de outras práticas de manejo que garantam bons índices produtivos.
Para o plantio do mamoeiro em sistema orgânico, primeiramente o produtor necessita consultar serviços de assistência técnica para correto manejo da cultura, escolher a área que será destinada ao plantio e, se necessário, aplicar práticas que visem a recomposição da microbiota do solo, implantar áreas de quebra-vento e contornos, além de recompor os elementos da paisagem florestal.
Todo esse procedimento antes da implantação da lavoura, no caso do papaya, pode levar até quatro anos. É importante mencionar que o principal trabalho é a recuperação do solo por meio de adubação verde, com amplo leque no plantio de leguminosas e de compostos orgânicos. Isso serve para recuperar a atividade microbiológica do solo.
Do plantio à colheita
Nas diferentes regiões produtoras brasileiras, a produção de mudas é realizada principalmente via sementes. Em geral, um grama de sementes contém, aproximadamente, 60 sementes. Para o plantio de um hectare, com densidade de 1.666 plantas, são requeridos 130 g de sementes, se forem utilizadas duas sementes por saquinho e duas mudas por cova. Caso sejam utilizadas três sementes por saquinho e três mudas por cova – o que é mais recomendado –, serão necessários, aproximadamente, 300 g de sementes.
As mudas podem ser produzidas com substrato na proporção de três partes de terra, uma de areia e uma de composto orgânico. Recomenda-se colocar de duas a três sementes em cada saco de polietileno, e cobri-las depois com uma camada de 1,0 a 2,0 cm de terra fina e peneirada.
Sempre que possível, deve-se compensar falhas na germinação e perdas no viveiro e no replantio em campo. Recomenda-se produzir um excedente de 15% de mudas, em relação à quantidade prevista para o plantio.
Entre 10 e 20 dias após a semeadura ocorre a germinação. Deve-se desbastar as mudinhas ainda no saco de polietileno, quando as plântulas tiverem a altura de 3,0 a 5,0 cm, e deve-se deixar apenas a muda mais vigorosa em cada saquinho. De 20 a 30 dias após a germinação, inicia-se a seleção das mudas para o plantio. Elas devem estar livres de pragas e de doenças, e com altura de 15 a 20 cm.
Não dispondo de sistema de irrigação, as mudas devem ser levadas para o campo no início das chuvas. Existem três sistemas de plantio comercial: em cova (covas com 30 cm x 30 cm x 30 cm de dimensões), no sulco (empregado em grandes lavouras), e em camalhões (recomendado em áreas sujeitas a encharcamento).
Próximo passo
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Para o plantio, deve-se retirar três mudas dos sacos de polietileno, colocá-las no berço de plantio, com o cuidado de posicionar o colo ou a base das plantas no nível do solo, no espaçamento recomendado, e a uma distância aproximada de 20 cm umas das outras. O espaçamento para plantio pode ser de 3,0 a 4,0 m entre as linhas, e de 1,80 a 2,50 m entre plantas.
Como o mamoeiro apresenta diferentes tipos de flores (masculinas, femininas e hermafroditas) e estas determinam o formato e as características dos frutos, deve-se aplicar o desbaste de plantas (sexagem) com o surgimento das primeiras flores (três a quatro meses do plantio), deixando apenas uma planta (hermafrodita) por cova.
Essa prática facilita os tratos culturais e diminui a competição entre as plantas. A preferência dos mercados, interno e externo, por frutas de forma alongada determina a seleção de plantas hermafroditas.
Durante a condução da lavoura, deve-se realizar o controle de plantas daninhas com uso de capinas manuais e/ou mecânica, evitando-se a danificação do colo das plantas e o sistema radicular. Em seguida deve-se fazer a remoção das brotações laterais que surgem nos caules das plantas; e com o início da frutificação deve-se realizar o desbaste de frutos defeituosos e aqueles muito pequenos.
O mamoeiro apresenta um ciclo de vida relativamente curto, com maturação dos frutos de quatro a seis meses após a abertura da flor.
Adubação
Os solos tropicais, presentes nas principais regiões produtoras de mamão do Brasil, apresentam baixo teor de nutrientes e de matéria orgânica. Para realização do manejo da adubação faz-se necessário a realização prévia da análise química do solo.
Vale destacar que a calagem deve ser realizada visando elevar o valor do V% do solo para 70%. Não é recomendado aplicar mais de 4,0 t ha-1 de calcário no solo, mesmo se incorporado. Se a aplicação for realizada sem incorporação, não ultrapassar 2,0 t ha-1, com intervalo de novas aplicações de cinco a seis meses.
Embora dependa da análise do solo, para a adubação de plantio, em geral, recomenda-se a aplicação de 60 kg de nitrogênio (N) e 40 kg de fósforo (P2O5) ha-1. A adubação verde é outra prática que pode ser adotada para manter a cobertura, proteger e melhorar a estrutura física do solo.
Além disso, as leguminosas utilizadas como adubo verde auxiliam na fixação biológica de N. São, portanto, materiais orgânicos ricos nesse elemento, e devem ser cultivadas em pré-plantio e/ou nas entrelinhas de cultivo do mamoeiro.
Como o mamoeiro responde bem à adubação orgânica, aconselha-se como fontes destes adubos as tortas de mamonas, estercos de gado e de galinha curtidos, compostos orgânicos diversos, entre outros.
Não é conveniente, porém, utilizar restos de mamoeiro como adubo orgânico, pois esse material inibe o crescimento da planta. A adubação de cobertura deve ser aplicada de forma parcelada, sendo recomendado o fornecimento de fontes orgânicas de adubação potássica (K) a partir do florescimento.
O parcelamento da adubação orgânica, fonte de N e K, pode ser mensal, enquanto o fornecimento das fontes de P2O5 a cada dois meses.
Fitossanidade
A cultura do mamoeiro é afetada por muitas pragas e doenças de importância econômica para o agricultor. Deste modo, o manejo fitossanitário deve ser rigoroso ao longo do ciclo desta frutífera, com a utilização eficaz de diversas medidas preventivas ou curativas, visando impedir a introdução ou erradicar essas pragas e doenças da lavoura.
Para a colheita, deve-se utilizar a coloração da casca como critério, operação que deve acontecer antes da maturação completa dos frutos. Quando pretende-se atender o mercado interno, a colheita é realizada quando os mamões apresentarem até 50% de coloração amarela nas estrias.
Frutos destinados à exportação ou à armazenagem por períodos longos devem ser colhidos mais cedo, ou seja, no estádio verde-maduro, que corresponde à mudança de cor da casca de verde-escuro para verde-claro.
Investimento x rentabilidade
No primeiro momento, o custo de produção do cultivo orgânico chega a ser 25% mais caro, em média. No entanto, esse valor diminui ao longo dos plantios. Atualmente, com a tecnologia e experiência existentes, é possível conseguir entre 70 e 80% da produtividade do mamão convencional no cultivo orgânico e a valorização da fruta orgânica aumenta o poder de atração deste negócio.
De maneira geral, o conhecimento dos custos de produção, dos rendimentos e das receitas esperadas é muito importante para o agricultor, pois a produção econômica de qualquer cultura depende de uma série de fatores que afetam seu desempenho e retorno financeiro.
No caso do mamoeiro, no primeiro ano de cultivo, que compreende a implantação e o estabelecimento da cultura, a colheita se inicia entre o nono e o décimo mês após o plantio, sendo possível explorar normalmente dois anos de produção comercial elevada.
No final do terceiro ano, devido à queda na produção e na qualidade dos frutos e à dificuldade de colheita ocasionada pelo porte elevado das plantas, tornam-se recomendáveis, economicamente, a erradicação e a formação de um novo pomar.
O custo de implementação e manutenção de um plantio de mamão é variável, pois depende de diversos fatores, como local de instalação, uso ou não de irrigação, disponibilidade de mão de obra, entre outros. A receita está ligada a fatores como oferta/demanda, tipo de mercado (interno ou externo), qualidade do produto e localização do mercado, entre outros, ficando a estimativa do resultado financeiro na dependência da quantificação desses fatores.
Para uma lavoura com densidade de 1.666 plantas ha-1, com uso de irrigação, estima-se um preço médio no 1º, 2º e 3º ano de US$ 4.348,93, US$ 3.389,85 e US$ 2.027,80, respectivamente.
Neste sistema de produção, considerando o fluxo de custos de produção e receitas para um período de três anos, projeta-se uma margem bruta negativa no primeiro ano, enquanto nos anos seguintes ela se torna positiva, com rentabilidade líquida, considerando o fluxo total de US$ 14.203,55, ou seja, o investimento mostra-se satisfatório, configurando uma excelente oportunidade de investimento.
Valorização dos orgânicos
A valorização do mamão no mercado interno, sobretudo do fruto orgânico, também deve segurar maior volume da fruta no País. Uma particularidade do mamão é que a variedade “Formosa” ou “Havaí” também pode influenciar na renda do produtor.
O consumidor parece dar preferência aos frutos menores, certamente pela sua maior adequação aos novos hábitos de consumo de famílias pequenas, hotéis e de pessoas que moram sozinhas.