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Manejo de brusone no Cerrado

Descubra as melhores práticas de manejo e garanta colheitas saudáveis e produtivas.

Pedro Henrique Ribeiro
Graduando em Engenharia Agronômica – UNESP/Botucatu
pedro.h.ribeiro@unesp.br

Daniele Maria do Nascimento
daniele.nascimento@unesp.br

Marcos Roberto Ribeiro Junior
marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos e doutores em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP/Botucatu

A brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea, é uma doença de grande importância na cultura do trigo e sua ocorrência pode resultar em perdas significativas na produtividade, tornando-se uma preocupação constante para os agricultores e pesquisadores, que buscam estratégias eficazes de manejo e controle para minimizar seus impactos.

Foto: Flávio Martins

A incidência precoce dessa doença durante o estágio inicial de desenvolvimento do trigo na safra de 2019 no Cerrado foi marcante. Fatores como chuvas atípicas durante o período de seca, temperaturas mínimas acima de 15ºC, longa duração do molhamento das plantas (superior a 10 horas), dias nublados e alta umidade relativa do ar proporcionaram as condições ideais para a propagação do fungo.

Além disso, o uso de cultivares mais suscetíveis e a dificuldade de controlar a doença nas lavouras contribuíram para aumentar os danos causados ao trigo, tanto em áreas de sequeiro quanto nas irrigadas.

Alerta

Embora o Brasil não tenha enfrentado uma nova epidemia de brusone desde essa safra, especialistas da Embrapa Trigo alertam que as recentes condições climáticas indicam a possibilidade de ocorrência de precipitações, umidade e temperatura favoráveis à doença nesta safra.

No estado de Goiás, onde a semeadura do trigo em sequeiro foi realizada em março e as plantações encontram-se atualmente em fase de desenvolvimento vegetativo, observam-se casos alarmantes de infecções fúngicas, com destaque para a brusone, devido às condições climáticas excepcionalmente úmidas.

Diante dessa situação, é essencial que os produtores estejam atentos aos métodos de controle, com destaque para o controle químico, como medida preventiva.

Sintomas

É de extrema importância conhecer os sintomas da brusone para realizar o monitoramento adequado das lavouras. O monitoramento regular permite acompanhar a evolução da doença e tomar decisões assertivas quanto à aplicação de fungicidas.

Nas lavouras, é frequentemente observado o fenômeno de espigas verdes com partes esbranquiçadas que se iniciam a partir do ponto de infecção. Esse padrão de coloração é causado pela interrupção do fluxo de nutrientes, resultando na formação de grãos chochos na região afetada.

Em situações de ataques mais intensos, é possível que ocorram múltiplos pontos de infecção nas espigas. Além disso, pode-se observar um escurecimento da espiga a partir do pedúnculo, acompanhado de lesões de tamanho variável, apresentando uma coloração escura e brilhante. Nessas condições, as perdas na produção podem alcançar até 60%.

Condições favoráveis

A doença se desenvolve de forma mais favorável em condições ideais, como umidade elevada, temperaturas entre 24 a 28°C e um período de molhamento das folhas e/ou espigas de aproximadamente 10 a 14 horas. Nessas circunstâncias, a progressão da doença ocorre rapidamente, podendo-se observar as lesões já após cinco dias da infecção.

Destaca-se que o momento mais crítico para a doença ocorre durante o emborrachamento e a formação de espigas, portanto, é necessário planejar a semeadura da lavoura de modo a evitar que esse período coincida com a época em que as condições climáticas são favoráveis ao patógeno.

Medidas de controle

Para prevenir e controlar a brusone, é recomendado adotar diversas medidas. Uma delas é selecionar cultivares de trigo que apresentem níveis de resistência adequados à doença.

Recentemente, foram lançadas no mercado cultivares que demonstraram um bom nível de resistência à brusone na folha. Além disso, é essencial utilizar sementes certificadas, saudáveis e tratadas com fungicida, uma vez que o fungo é transmitido por meio delas.

A eliminação dos resíduos culturais na área cultivada também desempenha um papel fundamental no controle da brusone, pois esses resíduos podem atuar como fonte de inóculo para novas infecções. Essas medidas, em conjunto, contribuem significativamente para reduzir a disseminação da doença.

Outra estratégia importante é o uso de controle químico, por meio da aplicação de fungicidas devidamente registrados para a cultura. Vale ressaltar que a brusone da folha é relativamente mais suscetível ao controle por fungicidas do que a brusone da espiga.

Misturas contendo triazol e estrobilurinas têm demonstrado eficácia no manejo da doença, especialmente durante a fase vegetativa da planta. No caso da brusone da espiga, o uso de mancozebe tem se mostrado mais eficiente.

É importante destacar que o controle químico preventivo deve ser adotado quando houver a presença de sintomas e previsões de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença. Caso contrário, a aplicação indiscriminada de fungicidas pode aumentar os custos de produção da lavoura sem trazer benefícios significativos.

Controle químico preventivo

A Embrapa Trigo e seus parceiros desenvolveram uma inovadora solução tecnológica denominada SisAlert. Trata-se de um aplicativo que utiliza dados climáticos para realizar uma análise precisa do risco de epidemias de brusone nas lavouras de trigo.

Com base nessas avaliações, o programa oferece informações essenciais para determinar se é necessário adotar medidas de controle químico preventivo da doença. Essa ferramenta proporciona aos agricultores uma orientação confiável para a tomada de decisão.

Quando identificada a iminência de condições ambientais propícias para o desenvolvimento da brusone, é altamente recomendável que se inicie as aplicações preventivas.

Essa prática é de extrema importância, pois uma vez que o fungo tenha infectado a espiga, o controle se torna mais desafiador. A formação da espiga limita o acesso do fungicida, dificultando sua eficácia. Além disso, a possibilidade de chuvas consecutivas representa um risco adicional, impedindo a entrada na lavoura para realizar as aplicações necessárias.

Aplicações estratégicas

Recomenda-se realizar a primeira aplicação preventiva das misturas contendo estrobilurina e triazol na fase final do emborrachamento (pré-emissão dos cachos), seguida por uma segunda aplicação, se necessário, durante o florescimento.

Já os produtos à base do fungicida protetor mancozeb podem ser aplicados no início do espigamento, garantindo um bom molhamento da espiga, com possibilidade de repetir a aplicação a cada 10 ou 15 dias, limitando-se a um máximo de três aplicações.

É importante ressaltar que as recomendações podem variar de acordo com o produto, sendo essencial consultar a bula para obter informações específicas.

Integração de medidas

O manejo eficiente da brusone no trigo requer uma abordagem integrada, envolvendo medidas preventivas e de controle. É fundamental adotar práticas agronômicas adequadas, como a utilização de cultivares resistentes, a eliminação de resíduos culturais e a utilização de sementes certificadas.

Além disso, o controle químico por meio da aplicação de fungicidas devidamente registrados para a cultura desempenha um papel crucial na redução do impacto da doença. É recomendado iniciar as aplicações preventivas de fungicida quando as condições climáticas favoráveis à ocorrência da brusone forem previstas, a fim de proteger as plantações de trigo e garantir uma produção saudável e de qualidade.

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