Manejo de fertirrigação para alface hidropônica

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Foto: Shutterstock

João Adão de Oliveira Junior

Diretor técnico – Agromais Insumos Agrícolas Tupã-SP

agronomo.joao@hotmail.com

Guilherme José Ceccherini

Engenheiro agrônomo e consultor comercial em HF e ornamentais – Omex Agrifluids

do Brasil

ceccherini93@gmail.com

Fernando César Sala

Doutor e professor – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

fcsala@ufscar.br

O correto manejo da solução nutritiva em hidroponia é fundamental para o sucesso em cultivo hidropônico, pois as plantas ficam com seu sistema radicular em contato direto com a solução nutritiva.

Podemos definir solução nutritiva como um sistema homogêneo, onde os nutrientes necessários à planta estão dispersos, geralmente na forma iônica e em proporções adequadas. Além disso, é necessário a solução nutritiva conter O2, temperatura (o ideal para a planta é a faixa de 20 – 22ºC, independente da época do ano) e pH (ideal 5,5-6,5) adequada para absorção dos nutrientes.

Cuidados

O principal fator que deve ser levado em consideração no momento do preparo da solução nutritiva é a água, pois no cultivo sem solo, a qualidade da água é fundamental, já que nela estão dissolvidos os minerais essenciais, formando a solução nutritiva que será a única forma de alimentação das plantas.

Quanto melhor a qualidade da água, menos problemas terá o cultivo hidropônico. Por isso, deve-se realizar a análise de pH, química (quantidade de nutrientes e salinidade) e microbiológica (coliformes fecais e patógenos) antes de iniciar o cultivo.

Dependendo da região e origem da água, pode ocorrer interferência na solução nutritiva, como causar problemas de fitotoxidez devido ao teor de cloreto de sódio (NaCl) acima de 50 ppm (50 g/1.000 L), ou se a água for dura (elevado teor de íons carbonatos, HCO3), haverá problemas de elevação do pH e indisponibilização de ferro adicionado à solução.

Já se for água subterrânea originada de rochas calcárias e dolomíticas, contém bons teores de Ca e Mg, sendo necessário reduzir o uso de fertilizantes compostos por tais nutrientes 

Nutrição adequada

Para o seu desenvolvimento normal, as plantas necessitam de 16 elementos, dos quais 13 são nutrientes minerais. Esses são classificados em macros (primários e secundários) e micronutrientes.

Os macronutrientes primários são: N, P e K, secundários: o Ca, Mg e S. Os micronutrientes são: B, CL, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn, além também do carbono, hidrogênio e oxigênio, que são providos pelo ar e pela água.

Apesar de todos os fatores serem importantes no manejo da solução nutritiva, devem sofrer controle diário:

1º) Complementação do volume gasto sempre com água;

2º) Ajuste do pH da solução;

3º) Monitoramento do consumo de nutrientes através da condutividade elétrica da solução.

Composição da solução

Sua composição varia com uma série de fatores: espécie de planta, estádio fenológico, a época do ano (duração do período de luz), fatores ambientais (temperatura, umidade e luminosidade) e parte da planta colhida.

O manejo da adubação vai variar com a região de cultivo da hidroponia no Brasil, por exemplo, a região nordeste com seu clima mais quente que a região sudeste e menos fria do que a região sul, pode fazer com que o ciclo fenológico da alface varie entre 30-45 dias, podendo ser mais longo ou mais curto em função da estação do ano também. 

A condutividade elétrica, ou a concentração de sais solúveis em água, deve ficar entre 1,2 – 1,8, podendo chegar a ser trabalhada em concentrações maiores que 2,0 em épocas mais frias na intenção de acelerar o ciclo da cultura. Porém, o excesso ou desbalanço entre a relação N e K da solução nutritiva pode tornar a planta mais suscetível ao ataque de pragas e doenças.

Por isso, ao escolher o material genético utilizado, o produtor deve consultar o fornecedor da semente para indicar qual a curva de absorção da cultivar e melhor manejo da adubação em função do ciclo fenológico.

Outros detalhes devem ser levados em conta, como a opção por repor a solução nutritiva com uma solução estoque, fazendo com que não seja necessário renovar a solução nutritiva por completo ou o produtor pode optar por renovar totalmente sua solução nutritiva a cada 15 dias. Porém, os custos devem ser levados em conta antes da escolha da melhor opção para o modelo da propriedade.

Irrigação

Recomenda-se que a solução nutritiva seja preparada com base no número de plantas que será cultivado, adotando-se como valor mínimo a relação 0,5 L a 1,0 L de solução por planta de alface.

As bombas de irrigação são conectadas a um timer e a partir dele se dá início à programação do intervalo de tempo de injeção da solução nutritiva para o perfil das bancadas hidropônicas.

Normalmente recomenda-se no Sudeste a programação de 15 minutos ligado e 15 minutos desligado, com início às 6 h da manhã e desligamento as 19 h, sendo necessário ocorrer pequenos pulsos durante o período noturno para manter as raízes úmidas e para que as alfaces não venham a murchar.

Porém, isso pode depender da região que a hidroponia se encontra, sendo necessário maior ou menor intervalo de tempo entre a bomba ligada e desligada injetando a solução nutritiva.

Tecnologias

Atualmente, principalmente após a pandemia, muitas startups de tecnologia para cultivo hidropônico vêm surgindo no mercado com suas opções tecnológicas de controladores de hidroponia, onde alguns dizem permitir controlar o ajuste do tempo de irrigação, reposição de nutrientes e monitoramento em tempo real da condutividade elétrica e pH, além de avisar em caso de algum problema com a hidroponia, como falta de energia.

Plantio

O cultivo de alface hidropônica começa no viveiro de mudas, onde é possível produzir as mudas, que depois serão transplantadas para o perfil de berçário, ficando entre 10-14 dias e depois na bancada definitiva por mais 10-15 dias, antes de serem colhidas.

Porém, atualmente existem no mercado bandejas de produção de mudas de diferentes volumes para substrato, o que permite transplantar as mudas diretamente aos perfis de bancadas definitivas, eliminando assim a etapa de berçário e aumentando a área de produção, pois normalmente a bancada de berçário costuma ocupar até 10% da área de cultivo.

Mas, é necessário verificar que melhor modelo de bandeja será viável ao produtor de alface, pois muitas variam seu volume maior que as convencionais de 200 células com 10 cm³ para substrato, podendo chegar até bandejas com 50 cm³ de substrato e número de células variando entre 64, 72, 128 células.

Por isso, é necessário calcular o consumo de substrato para produzir uma bandeja em prol do número de células.

Recomendações

Após a produção das mudas, antes de serem transplantadas, o produtor deve, sempre que possível, higienizar suas bancadas após a colheita, na intenção de eliminar qualquer resíduo da cultura anterior para evitar contaminação do novo ciclo por alguma moléstia.

E antes de tudo, também deve preparar a solução nutritiva que será designada para a alface. Se optar por continuar com o berçário, o produtor deve usar uma solução diferente da utilizada nas bancadas de perfil definitivo ou, se optar pelo uso do mudão, pode utilizar sua solução padrão das bancadas definitivas.

Na montagem da hidroponia, o produtor deve se atentar ao local que ficarão as caixas de solução nutritiva, pois elas não podem ficar em locais muito expostos ao sol, porque isso pode causar aquecimento da solução e ocasionar depreciação na produção.

O ideal seria enterrar as caixas no solo ou deixar elas dentro de uma casa de bombas junto ao timer e tambores de solução estoque, no caso de uso contínuo da solução ao invés de renovar a cada 15 dias.

Um detalhe muito especial deve ser levado em conta, que é o monitoramento diário e correção do pH e condutividade elétrica, pois esses fatores irão significar o sucesso ou não do cultivo, além da temperatura da água (por isso, enterrar ou proteger as caixas de solução nutritiva) e a oxigenação da água, que para isso deve manter o cano de retorno da solução a uma altura razoável e, assim, com a queda na caixa, ocasionar a oxigenação.

Pulverização

Para aplicações de defensivos agrícolas via foliar ou na solução nutritiva, o produtor deve sempre consultar um agrônomo, pois hoje, com o conceito de rastreabilidade ganhando cada vez mais força dentro do ramo de cultivo de alimento in natura, o produtor corre risco de ser multado se for constatado o uso irregular de alguma molécula não registrada para a cultura.

Mas, como a alface é considerada um minor crop por muitas empresas, não lhe é dada a devida atenção no desenvolvimento de novas moléculas para prevenção de pragas e doenças e muitas vezes o produtor acaba ficando sem opção e usando um defensivo não registrado, mesmo sabendo do risco de multa pela rastreabilidade.

Por isso, algumas empresas vêm desenvolvendo ou trazendo tecnologia de fora do País, na intenção de suprir essa carência do setor com produtos mais naturais e que tenham a mesma eficiência, porém, devido ao efeito não ser químico, muitas vezes o produtor acaba não dando sequência, pois acha que não faz efeito.

Assim, vale a insistência do agrônomo ou técnico responsável no uso de defensivos mais naturais, tornando assim o cultivo hidropônico mais sustentável, limpo e seguro para os colaboradores diretos no cultivo e claro o consumidor.

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