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Manejo de pragas em soja Bt – Olhando para as flores

João Paulo Ziotti Narita

Fábio Maximiano de Andrade Silva

Engenheiros agrônomos

 

Foto 01A cultura da soja apresenta várias espécies de insetos-praga que podem danificá-la, alimentando-se de suas raízes e folhas. Danos nestas estruturas podem, indiretamente, diminuir a produtividade da cultura, uma vez que é possível prejudicar o estabelecimento da mesma, principalmente quando a infestação ocorre em plântulas, podendo haver uma redução do estande, além de prejudicar de certa forma o desenvolvimento das plantas.

Entretanto, perdas mais expressivas ocorrem quando os danos causados por aqueles insetos acontecem em estruturas reprodutivas, como flores, vagens e grãos. Considerando que estes últimos são as estruturas comerciais da cultura da soja, os danos nas estruturas reprodutivas provocam perdas diretas à produção. Assim, a fase reprodutiva da cultura também merece grande atenção por parte do produtor.

As flores da soja são as estruturas reprodutivas mais sensíveis ao ataque de insetos, em destaque as lagartas
As flores da soja são as estruturas reprodutivas mais sensíveis ao ataque de insetos, em destaque as lagartas

Tecnologia Bt

A tecnologia da soja Bt (Intacta®) apresenta excelente controle para um grande número de espécies de insetos-praga (Anticarsiagemmatalis ” lagarta-da-soja, Chrysodeixisincludens ” lagarta-falsa-medideira, Helicoverpaarmigera ” lagarta Helicoverpa, entre outras) durante todo o ciclo da cultura, devido à expressão de uma proteína de efeito inseticida (Cry1Ac).

Apesar desta proteção conferida pela tecnologia Bt, cada fase da cultura da soja merece especial atenção devido ao potencial dos danos provocados pelas pragas. A fase de florescimento da soja com esta tecnologia é um momento mais delicado, pois há uma menor expressão da proteína inseticida nas plantas, podendo deixar um espaço de tempo para que as novas oviposições de diferentes espécies de insetos-pragas e larvas eclodidas durante esta fase da cultura possam danificar as estruturas reprodutivas.

Como toda nova tecnologia, estudos devem ser realizados para comprovar a eficiência da mesma, bem como do melhor manejo a ser adotado para cada tecnologia. Neste sentido, estudos vêm mostrando que a proteção das estruturas reprodutivas da soja com tecnologia Bt, bem como da soja convencional, contra insetos-praga, é fundamental para garantir uma produtividade satisfatória.

Os danos durante a fase de florescimento impactam significativamente na produção final da cultura.
Os danos durante a fase de florescimento impactam significativamente na produção final da cultura.

Essencialidade da soja

As flores da soja são as estruturas reprodutivas mais sensíveis ao ataque de insetos, em destaque as lagartas, que são comumente encontradas nas lavouras, como as do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania), que não são controladas pela soja Bt, e a lagarta Helicoverpa (H. armigera), que apesar de ser controlada pela tecnologia, apresenta um alto potencial de dano e hábito de se alimentar vorazmente das estruturas reprodutivas.

É importante ressaltar que danos durante a fase de florescimento (estádio fenológico de R1 e R2), principalmente aqueles danos diretos nas flores, impactam significativamente na produção final da cultura.

Indivíduos de ínstares iniciais se adentram na flor e se alimentam de estruturas internas, como o ovário, inviabilizando a formação da vagem. Ínstares mais avançados costumam consumir a flor por completo. Na soja com tecnologia Bt, a H. armigera é suprimida, mas este fato não impede que a lagarta consiga causar alguns danos nas flores, pois as lagartas podem demorar até cinco dias para morrer com a tecnologia Bt.

Já as lagartas Spodopteras, que não são controladas pela tecnologia, são mais passíveis de atacar as flores. A soja atacada durante esta fase teria um período de recuperação menor do que se ela fosse atacada previamente.

A soja atacada durante o florescimento tem um período de recuperação menor
A soja atacada durante o florescimento tem um período de recuperação menor

A perda de flores pela planta pode promover um processo de compensação, fazendo com que a mesma tente se recuperar do ataque com a emissão de novos botões florais, utilizando assim mais de seus recursos energéticos para este fim. Considerando o menor tempo até a maturação e a colheita, a consequência seria a perda de quantidade e qualidade de grãos.

Não obstante, vagens em formação (estádios fenológicos R3 e R4) também são suscetíveis ao ataque das lagartas-praga. Em vagens de soja Bt, a H. armigera, em geral, não tem apresentado potencial de dano; porém, é bastante agressiva em vagens da soja convencional.

As Spodopteras, ao contrário, apresentam maior potencial de prejudicar as estruturas na soja Bt. Lagartas de ínstares iniciais já são capazes de causar dano nestas estruturas, mas, diferentemente das flores, nem todos os indivíduos conseguem causar um dano significativo, indicando que a vagem é uma estrutura mais resistente do que as flores. Já as lagartas de ínstares mais avançados são capazes de consumir vagens em formação e em estádio de granação (estádio fenológico R5), sendo que algumas vezes estas podem penetrar nas vagens e consumir os grãos em formação internamente.

A habilidade de compensação da soja nestes estádios se torna menos eficiente, principalmente quando a soja tem hábito de crescimento determinado. A consequência do ataque nestas estruturas é, novamente, perda direta de produtividade.

Desta forma, é importante que os métodos de manejo de insetos-praga que apresentem hábito de consumo de estruturas reprodutivas sejam direcionados ao início do florescimento, pela menor expressão da proteína da soja Btnesta fase da cultura, bem como pela maior suscetibilidade da cultura ao ataque das lagartas, quando as perdas de estruturas reprodutivas (flores e vagens) afetam diretamente a produtividade. Assim, perdas de maiores proporções são evitadas.

 

Essa matéria completa você encontra na edição de outubro 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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