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Manejo de ramulária e mancha-alvo

Daniele Maria do Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
marcos.ribeiro@unesp.br

O Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de algodão, ficando atrás da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Para não comprometer a produtividade desta cultura, o cotonicultor precisa se atentar para a ocorrência de algumas doenças, como a mancha-alvo e a ramulária. Nos últimos anos essas doenças têm ganhado importância, principalmente na região do Cerrado, onde se concentram os maiores produtores nacionais de algodão e ocorrem condições climáticas favoráveis à incidência destes fungos.

Mancha de ramulária (Ramularia areola)

Uma doença com muitos nomes: falso-míldio, mancha-branca, míldio arrolado e ramulariose e que afeta diretamente o bolso do cotonicultor. Presente no Brasil desde 1890, e em todas as regiões produtoras, é uma das principais doenças do algodoeiro. Ao lado do bicudo-do-algodoeiro e das lagartas, é responsável pelo aumento considerável dos custos de produção, devido à maior necessidade de aplicação de fungicidas.
Já foram relatadas perdas de até 75% da produção em variedades altamente suscetíveis cultivadas no Mato Grosso. As condições climáticas dessa região também contribuem para o desenvolvimento da doença, que é favorecida por temperaturas em torno de 25 a 30ºC e umidade relativa superior a 80%. Ou seja, noites úmidas e dias secos, sem a ocorrência de chuvas, levam ao agravamento da doença.
Os principais sintomas observados são a ocorrência de manchas esbranquiçadas e com aspecto pulverulento, em ambas as faces da folha e, em casos mais severos, pode ocorrer a queda precoce das folhas, durante a fase de formação das maçãs, comprometendo toda a produção do terço superior. Além do mais, pode incitar a abertura precoce dos capulhos, afetando a qualidade da fibra.
O patógeno é capaz de se disseminar rapidamente dentro da lavoura, através da chuva, água de irrigação e vento. A não destruição das soqueiras do algodão (raízes e talos) contribui para a manutenção do inóculo na área, possibilitando a sobrevivência do patógeno no período da entressafra.
Essa prática, inclusive, é regularizada e obrigatória por lei (Portaria Ministerial nº 77 de 1993). Em lavouras em que as soqueiras não são adequadamente eliminadas, os sintomas da doença têm início em torno de 20 dias após a emergência da cultura, já sendo necessário então iniciar as aplicações de fungicidas.

Mancha-alvo

Causada pelo fungo Corynespora cassiicola, a mancha-alvo pode causar desfolha severa na cultura do algodoeiro, caso ocorram condições favoráveis ao desenvolvimento do patógeno: períodos chuvosos, alta umidade relativa e temperaturas amenas, em torno de 22ºC.
As folhas apresentam lesões de coloração parda circundadas por um halo amarelo e os primeiros sintomas são observados logo após o início do fechamento das entrelinhas, que é quando o microclima se torna mais propenso à doença.

Não confunda!

O monitoramento constante da lavoura para detecção da doença é primordial, mas cuidados devem ser tomados para não confundir os sintomas. Muitas vezes, pode haver confusão entre os sintomas decorrentes da infecção por C. cassicola com os de outras doenças fúngicas e até mesmo sintomas de fitotoxicidez, embora estes últimos sejam mais comuns no terço superior, onde, por não proporcionar microclima favorável às doenças, podem não ocorrer sintomas das mesmas.
A mancha de mirotécio (Myrothecium roridum) é caracterizada pela presença de anéis concêntricos circundados por um halo violeta e, com a evolução da doença, também ocorrerá desfolha. No entanto, essas lesões apresentam estruturas do patógeno, os esporodóquios, que possuem hifas esbranquiçadas, diferenciando-se assim da mancha-alvo.
A mancha de alternaria (Alternaria sp.) também produz lesões semelhantes à mancha-alvo e posterior queda das folhas.
Há, ainda, a sensação de “falso controle”, quando, após a desfolha, ocorre maior incidência de luz e ventilação, reduzido a umidade. Com isso, os sintomas diminuem, mas o patógeno continua presente na lavoura.

E agora, como controlar?

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Para evitar dores de cabeça no futuro, e, principalmente, gastos, o melhor é começar pelo manejo preventivo. Esse cenário pode ser obtido pelo manejo da altura (uso de reguladores de crescimento) e densidade das plantas. As plantas de algodoeiro possuem hábito de crescimento indeterminado e contínuo, atingindo grande porte e produzindo uma enorme quantidade de folhas, impedindo assim a entrada dos raios solares no interior do dossel e proporcionando condições favoráveis ao desenvolvimento de patógenos.
Portanto, recomenda-se um menor número de plantas por hectare e maior espaçamento entre linhas, evitando assim altas densidades.
Variedades que possam ser resistentes ou tolerantes a essas doenças também devem ser empregadas. A Embrapa Algodão, através de seu programa de melhoramento do algodoeiro, vem selecionando algumas linhagens resistentes a doenças e com boa porcentagem de fibra e produtividade na região do Cerrado.
Para o manejo da ramulária, já existem variedades tolerantes desenvolvidas pela TMG. Em experimentos a campo, essas variedades apresentaram, no máximo, 7% de severidade da doença, se comparado a outras cultivares nas quais os índices de severidade atingiram 70%. Essa tecnologia reduz ainda os custos da lavoura, que requerem em torno de 20 a 50% menos aplicações de fungicidas.

Rotação de culturas

A rotação com espécies não hospedeiras é outro método de controle que pode apresentar resultados satisfatórios, reduzindo a quantidade de inóculo na área. No caso da mancha-alvo, ressalta-se que o patógeno também infecta a cultura da soja.
Sendo assim, a safra de soja seguida pelo algodão, o que vem ocorrendo nas principais regiões produtoras, não é recomendada, já que o inóculo permanece nos resíduos da cultura anterior. Culturas como o milho e milheto podem ser utilizadas, já que não são hospedeiras do patógeno.

Controle químico

Para combater a mancha-alvo, seis produtos estão regularizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pertencendo aos grupos dos carboxamidas, ditiocarbamatos, estrobilurinas triazóis e triazolintiones.
É tamanha a importância da ramulária na cultura do algodão que, em 2019, o MAPA divulgou uma portaria com 40 pragas prioritárias no registro de agrotóxicos, dentre elas, R. areola. Talvez por isso, essa doença dispõe de uma maior quantidade de produtos registrados perante o MAPA.
São 154 produtos listados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT), dos grupos químicos dos benzotiadiazole, benzimidazol, carboxamidas, ditiocarbamatos, estrobilurinas, fenilpiridinilaminas, isoftalonitrilas, morfolinas, pirazol, triazóis e triazolintiones.
Destaque para os produtos à base de clorotalonil, fungicida de amplo espectro que vem apresentando resultados promissores no controle desse fungo, contribuindo também para o manejo de resistência aos principais ingredientes ativos.
No Mato Grosso são necessários em torno de sete a oito aplicações de fungicidas durante o ciclo do algodoeiro, e já foram registradas até 14 aplicações para o controle de ambas as doenças. É sempre bom ressaltar que se deve alternar os grupos químicos, evitando que os patógenos adquiram resistência e os produtos percam sua eficácia.

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