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Manejo integrado como estratégia

Diego Mateus Desbesell Graduando em Engenharia Agronômica – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)diegomateus_desbesell@hotmail.com

Gustavo Castilho Beruski Doutor e professor do curso de Engenharia Agronômica – FAESBprof.gustavo@faesb.edu.br

Mofo-branco – Crédito: Daniel Cassetari

O fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary é o agente causador da doença conhecida por mofo-branco. O patógeno é necrotrófico e polífago, apresenta mais de 400 plantas hospedeiras, das quais muitas são de interesse agrícola e de grande importância econômica no Brasil. Dentre as espécies que podem ser afetadas destacam-se a soja, o feijão, o algodão e o girassol.

Prejuízos

O mofo-branco tem provocado danos e perdas consideráveis em campos de produção agrícola. Ressalta-se que os danos provocados pela doença podem ser diretos ou indiretos. Os danos diretos são aqueles que resultam em reduções de produtividade da cultura, por exemplo, na cultura do feijão reduções de até 70% na produtividade podem ocorrer em áreas irrigadas por pivô central.

Na cultura da soja, elevações de 10% nos níveis de incidência da doença podem resultar em perdas de aproximadamente 200 kg ha-1, enquanto que na cultura do girassol perdas de produtividade podem chegar a 75%.

Danos indiretos provocados pelo mofo-branco estão associados à sua característica polífaga, condição que dificulta a prática de rotação de culturas, e devido à formação de uma estrutura de resistência denominada escleródio.

Os escleródios são agregados de hifas que podem permanecer viáveis no solo por até oito anos. Por isso, a presença dessa estrutura tem potencial de depreciar economicamente propriedades rurais, pois estas, muitas vezes, serão fadadas ao cultivo reduzido de espécies de interesse agrícola.

Incidência

No Brasil, o mofo-branco está distribuído em todas as regiões produtores de soja, feijão, algodão e girassol. Todavia, sua ocorrência destaca-se em áreas produtoras nos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde a temperatura é amena e há elevados índices pluviométricos.

Considerando a cultura da soja, na safra 2014/15, estima-se que dos 33 milhões de hectares cultivados, cerca de 21,06% apresentaram evidências da presença de S. sclerotiorum (Jaccoud Filho et al., 2017). Todavia, ressalta-se que a ocorrência do fungo relaciona-se ao regime das condições meteorológicas locais, portanto, esse número pode ser variável a cada safra (Figura 1).

Fatores ambientais

Como destacado, a ocorrência do mofo-branco está intimamente relacionada às condições ambientais, sendo estas que definirão se a doença ocorrerá de forma explosiva na lavoura.

Dentre as variáveis que afetam o progresso da doença no campo, temperaturas inferiores a 30°C e umidade na superfície da planta recorrente entre 12 e 16 horas, numa base diária ou molhamento foliar contínuo por 42 – 72 horas, ocorrência de precipitações durante o período de florescimento da cultura são pré-requisitos para seu desenvolvimento.

É importante expor que epidemias de mofo-branco também são influenciadas pelo potencial de inóculo no solo.

Sintomas

Em condições de ambiente favorável, a doença se estabelece e os sintomas observados iniciam-se com lesões com aspecto encharcado, em decorrência da produção de enzimas e ácido oxálico pelas hifas do fungo. Com seu progresso, sintomas de murcha e branqueamento dos tecidos podem ser observados na parte aérea da planta.

Posteriormente, há formação de um micélio de cor branca, o qual aglomera-se originando uma estrutura rígida de cor negra, denominada escleródio.

Os sintomas normalmente surgem na floração e progridem de forma similar nos hospedeiros, ressalta-se que na cultura do girassol a doença apresenta uma gravidade maior, caso afete receptáculo floral há grandes chances de ocorrer a queda do capítulo, reduzindo a zero o índice de colheita da planta infectada.

Manejo integrado

Considerando o potencial destrutivo do mofo-branco, práticas de manejo integrado devem ser adotadas por produtores visando maximizar seu controle. Atualmente, diversas técnicas são realizadas de forma conjunta para controlar o mofo-branco, das quais destacam-se o controle biológico e químico, o uso de cobertura de solo, o uso de sementes sadias, a escolha de cultivares e épocas de semeadura, a rotação de culturas e a limpeza de máquinas e implementos.

O uso de agentes biológicos tem-se mostrado uma alternativa efetiva no controle de mofo-branco, dentre os microrganismos empregados no manejo destacam-se o Trichoderma harzianum, Trichoderma asperellum, Bacillus subtilis e Bacillus pumilus.

A eficiência desses agentes foi relatada por Meyer et al. (2020), considerando os experimentos cooperativos de controle biológico de S. sclerotiorum na soja, o autor descreve que a inibição carpogênica pelos microrganismos citados anteriormente foi de até 24%, 63%, 89% e 100% nas safras 2012/13, 2013/14, 2014/15 e 2015/16, respectivamente.

Embora eficiente, o uso de microrganismos requer cuidados na aplicação e procedimentos específicos. Além disso, a eficiência está relacionada às condições edafoclimáticas, como temperatura média do ar próxima de 25°C, alta umidade do solo (acima de 60% da capacidade de campo) e condicionamento do solo com o uso de palhada (Meyer et al., 2020).

O uso da palhada sobre a superfície do solo, especialmente gramíneas, atua como uma barreira física, impedindo que os ascósporos liberados pelos apotécios atinjam o hospedeiro, evitando e/ou reduzindo o processo de infecção. Ademais, a palhada presente sobre o solo restringe a incidência de luminosidade, fator crucial que determinará se a germinação dos escleródios seguirá a via miceliogênica ou a carpogênica de germinação.

Segundo, Sun e Yang (2000) maiores níveis de germinação carpogênica estão diretamente relacionados a elevada intensidade luminosa (120 – 130 mol m-1 s-1).

Embora muitas vezes questionado, o controle químico com fungicidas para o manejo de mofo-branco é a prática mais utilizada pelos produtores. Dos fungicidas recomendados para o manejo destacam-se os produtos à base de fluazinam, tiofanato metílico, procimidona, boscalida e dimoxistrobina.

Com relação a eficácia desse manejo, Meyer et al. (2020) apontaram que, na safra 2019/20, os produtos avaliados demonstram resultados de controle variando de 65 a 78%.

Eficiência

Para que o manejo químico seja eficiente, recomenda-se que as aplicações ocorram de forma preventiva, evitando as infecções primárias, iniciando no início da fase reprodutiva de desenvolvimento. Para a cultura da soja, sugere-se que a primeira aplicação ocorra no estádio R1, com reaplicações a cerca de 10 dias após a primeira, objetivando manter as estruturas reprodutivas protegidas com fungicidas.

Não menos importante, a escolha de cultivares e seu arranjo espacial no campo também é determinante para o manejo do mofo-branco. O emprego de cultivares com arquitetura ereta, com menor engalhamento, o uso de populações baixas e maior espaçamento entre linhas de cultivo, pode promover a circulação de ar no interior do dossel, elevando a temperatura do ambiente, reduzindo a umidade neste ambiente, desfavorecendo o processo de germinação do escleródio e infecção do fungo na planta, além de favorecer a penetração do fungicida no dossel da planta.

Em talhões com histórico de mofo-branco, uma estratégia que pode ser adotada para mitigar os danos dessa doença é a escolha da época correta de semeadura da cultura, a fim de evitar que o florescimento coincida com épocas de clima favorável patógeno.

Sementes certificadas

Uma prática simples, mas fundamental para o manejo integrado do mofo-branco é evitar que estruturas do patógeno sejam inseridas em áreas sem histórico da doença. Tal condição pode ser obtida pelo uso de sementes sadias e isentas de contaminação.

Neste sentido, o uso de sementes certificadas e a utilização do tratamento de sementes torna-se imprescindível para o controle deste patógeno na semente. Além de sementes contaminadas, a falta de limpeza de máquinas e equipamentos também são responsáveis pela contaminação de áreas isentas de mofo-branco.

Pensando nisso, é sempre importante realizar a limpeza das semeadoras, grades, colhedoras, pulverizadores, entre outros, antes de fazer a troca de talhão ou propriedade, evitando assim disseminação de estruturas do fungo, principalmente escleródios, de uma área contaminada para uma isenta.

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