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Mix de plantas de cobertura para cereais: quais as opções?

Foto: Alessandro Guiero

Elisamara Caldeira do Nascimento
Pós-doutora em Agricultura Tropica – UFMT e coordenadora de Geração de Demanda Agro Amazônia
elisamara.nascimento@agroamazonia.com

A cobertura traz inúmeros benefícios para o solo e planta, principalmente proteção das intempéries climáticas. Uma técnica que vem sendo muito utilizada pelos agricultores é o uso de mix de plantas de cobertura, em que a diversidade promove excelentes resultados na melhoria biológica, química e física do solo.

Resultados

A utilização de plantas de cobertura no cultivo de cereais traz uma série de benefícios, incluindo:

  • Controle de erosão: as raízes das plantas de cobertura ajudam a manter o solo no lugar, reduzindo a erosão causada pela água e pelo vento.

– Melhoria da estrutura do solo: as raízes das plantas de cobertura ajudam a soltar o solo, aumentando sua porosidade e facilitando a penetração de água e ar. Isso melhora a estrutura do solo, tornando-o mais propício ao crescimento das culturas de cereais.

– Aumento da matéria orgânica: as plantas de cobertura adicionam matéria orgânica ao solo quando se decompõem, aumentando sua fertilidade e promovendo a atividade microbiana benéfica.

– Supressão de plantas daninhas: algumas plantas de cobertura têm a capacidade de suprimir o crescimento de plantas daninhas, competindo por recursos como luz, água e nutrientes.

– Ciclagem de nutrientes: as plantas de cobertura absorvem nutrientes do solo, reduzindo a lixiviação e tornando esses nutrientes disponíveis para as culturas subsequentes, como milheto (Pennisetum glaucum), sorgo (Sorghum bicolor) e centeio (Secale cereale).

– Regulação da temperatura do solo: a palhada formada pelas plantas de cobertura atua como isolante térmico, ajudando a regular a temperatura do solo e protegendo as raízes das culturas de cereais contra variações extremas de temperatura.

Versatilidade

A cobertura, quando associada a uma diversidade de plantas no mix de cobertura, contribui para a melhoria do solo de várias maneiras. Plantas de cobertura com diferentes sistemas radiculares exploram diferentes nichos do solo, ajudando a soltar o solo em diferentes profundidades e melhorando sua estrutura em toda a sua extensão.

As plantas têm diferentes composições químicas e taxas de decomposição. Ao introduzir uma variedade de materiais orgânicos no solo, a diversidade de plantas de cobertura aumenta a quantidade e a qualidade da matéria orgânica, o que beneficia a saúde do solo.

Além disso, diferentes plantas de cobertura têm diferentes necessidades de nutrientes. Isso significa que elas absorvem e liberam diferentes tipos e quantidades de nutrientes no solo, promovendo uma ciclagem mais completa e equilibrada dos nutrientes.

Algumas plantas de cobertura, como as leguminosas, têm a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico no solo, enriquecendo-o com esse nutriente essencial para o crescimento das culturas.

O uso destas plantas melhora a relação C:N, aumentando a disponibilidade de N no sistema, que pode afetar a ciclagem de nutrientes. Por exemplo, um aumento nos níveis de nitrogênio pode levar a uma maior liberação de nutrientes como fósforo e enxofre, por meio da mineralização da matéria orgânica.

Diversas plantas de cobertura também podem atrair polinizadores e outros organismos benéficos, aumentando a biodiversidade no sistema agrícola e promovendo serviços ecossistêmicos que beneficiam a saúde do solo.

Algumas delas produzem flores atrativas para polinizadores e oferecem habitat para insetos benéficos, como trevo vermelho (Trifolium pratense), phacelia (Phacelia tanacetifolia) e girassol (Helianthus annuus).

Como escolher

Ao escolher plantas de cobertura para rotação com culturas de grãos, algumas características devem ser avaliadas. Plantas com sistemas radiculares profundos podem melhorar a estrutura do solo em camadas mais profundas, aumentando a capacidade de retenção de água e aeração do solo.

As coberturas que produzem uma quantidade significativa de biomassa contribuem para a adição de matéria orgânica ao solo, melhorando sua fertilidade e estrutura. Plantas como trevo, ervilha-de-cheiro e feijão-de-porco, que são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico em simbiose com bactérias do solo, podem fornecer uma fonte adicional de nitrogênio para as culturas de grãos.

Questão climática

Estamos passando por veranicos cada vez mais frequentes e plantas resistentes à seca e a outros estresses ambientais podem ajudar a proteger o solo e manter a cobertura vegetal, mesmo em condições adversas.

A presença destas culturas no período entressafra garante proteção do solo e armazenamento de água. Neste mesmo sentido, manter o solo protegido tem a capacidade de suprimir o crescimento de plantas daninhas, competindo por recursos como luz, água e nutrientes.

Plantas com crescimento rápido e vigoroso, que formam uma cobertura densa e competem eficientemente com as plantas daninhas por luz, água e nutrientes são as mais indicadas: crotalária (Crotalaria juncea), aveia-preta (Avena strigosa) e nabo forrageiro (Raphanus sativus).

É importante destacar que as plantas de cobertura devem ser compatíveis com o sistema de cultivo adotado pelo agricultor, incluindo o tipo de culturas de grãos cultivadas e as práticas de manejo utilizadas.

Condições específicas

A escolha do mix de plantas de cobertura pode variar significativamente de acordo com as condições específicas de solo e clima de uma determinada região. Solos com diferentes texturas e composições têm necessidades diferentes.

Por exemplo, em solos arenosos, que tendem a ter baixa capacidade de retenção de água, pode ser preferível escolher plantas de cobertura com sistemas radiculares profundos que ajudem a melhorar a estrutura do solo e aumentar a retenção de água.

Em solos argilosos, a escolha pode se concentrar em plantas que ajudam a aumentar a aeração e a drenagem. Em áreas com alta precipitação pluviométrica, pode ser benéfico escolher plantas de cobertura com sistemas radiculares profundos que ajudem a evitar a erosão do solo e a lixiviação de nutrientes.

Em regiões com baixa precipitação, podem ser preferíveis plantas de cobertura que sejam mais resistentes à seca. A escolha do mix de plantas de cobertura também pode variar de acordo com a temporada de cultivo das culturas de grãos.

Por exemplo, em regiões onde os grãos são cultivados no verão, pode ser preferível escolher plantas de cobertura que prosperam nessa estação e que possam competir eficientemente com as plantas daninhas durante esse período.

Foto: Alessandro Guiero

Cuidados

Ao se realizar a seleção de plantas temos que ter em mente qual o objetivo específico para o uso deste vegetal, que pode ser aumentar a biodiversidade, fornecer habitat para polinizadores, melhorar a qualidade do solo ou alimentar o gado.

Para garantir o sucesso no cultivo e manejo das plantas de cobertura, é importante seguir alguns cuidados:

; Escolha das espécies adequadas: como citado, selecionar as espécies de plantas de cobertura mais adequadas às condições específicas do solo, clima e objetivos de manejo é fundamental para o sucesso do cultivo. Considere características como taxa de crescimento, profundidade do sistema radicular e exigências de luz e água.

; Época de semeadura: semear as plantas de cobertura na época correta é crucial para garantir um estabelecimento adequado e um crescimento vigoroso. Geralmente, isso envolve semear as plantas de cobertura algumas semanas antes da semeadura das culturas principais.

; Manejo da cobertura vegetal: uma vez estabelecidas, monitore regularmente as plantas de cobertura para garantir que elas estejam cumprindo seus objetivos, como supressão de plantas daninhas, fixação de nitrogênio ou adição de matéria orgânica. Se necessário, realize práticas de manejo, como roçada ou dessecação, para controlar o crescimento das plantas de cobertura antes da semeadura das culturas principais.

Impactos positivos

Além dos benefícios para o solo, o uso de mix de plantas de cobertura pode trazer uma série de impactos positivos para o sistema agrícola, incluindo:

l Redução do uso de insumos químicos: plantas de cobertura podem ajudar a reduzir a necessidade de fertilizantes químicos, herbicidas e pesticidas, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e econômicas.

l Melhoria da qualidade da água: a cobertura vegetal fornecida pelas plantas de cobertura ajuda a filtrar e reter poluentes, como sedimentos e nutrientes, reduzindo a contaminação da água superficial e dos corpos d’água.

l Aumento da biodiversidade: o uso de mix de plantas de cobertura pode proporcionar habitat e alimento para uma variedade de organismos, incluindo insetos benéficos, pássaros e pequenos mamíferos, promovendo a biodiversidade nos agroecossistemas.

l Redução da emissão de gases de efeito estufa: as práticas de manejo relacionadas ao uso de plantas de cobertura, como a redução do revolvimento do solo, podem ajudar a reduzir a emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2) e o óxido nitroso (N2O).

l Resiliência às mudanças climáticas: a melhoria da estrutura do solo, a maior capacidade de retenção de água e a redução da erosão proporcionadas pelo uso de plantas de cobertura podem aumentar a resiliência dos sistemas agrícolas às mudanças climáticas, ajudando a mitigar os efeitos adversos, como secas e inundações.

l Aumento da produtividade: os benefícios para o solo e o ambiente proporcionados pelo uso de mix de plantas de cobertura podem resultar em um aumento da produtividade das culturas agrícolas a longo prazo, devido à melhoria da saúde do solo e ao fornecimento de nutrientes essenciais.

Esses impactos positivos demonstram como o uso de mix de plantas de cobertura pode contribuir para sistemas agrícolas mais sustentáveis, resilientes e produtivos, beneficiando tanto os agricultores quanto o meio ambiente.

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