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Mudas de banana propagadas, vale a pena?

Autor

Harllen Sandro Alves Silva
Doutor em Fitopatologia e pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura
harllen.alves@embrapa.br

A produção de mudas micropropagadas é uma técnica bem estabelecida e empregada nas chamadas biofábricas, empresas que produzem e comercializam mudas de várias culturas, dentre elas a bananeira, que estão espalhadas nas diferentes regiões do Brasil.

Apesar de algumas diferenças entre os protocolos, o processo em geral consiste de três etapas: 1) Enraizamento dos explantes; 2) Pré-aclimatização, quando ocorre o alongamento dos brotos; 3) Aclimatização das mudas em telado.

Nas duas primeiras etapas o material vegetal é cultivado in vitro, ou seja, em um meio de cultivo sintético, composto de reguladores de crescimento (muitas vezes referidos como “fitormônios”) e outros nutrientes necessários ao desenvolvimento da gema, sob condições assépticas.

Na terceira etapa, a aclimatização, as mudas são conduzidas em uma situação ex vitro, em recipientes contendo substrato, necessário para simular as condições do campo. Decorrido todo o processo, que pode despender de 60 a 90 dias, as mudas estão prontas para a comercialização.

Vantagens

Frente aos outros métodos de obtenção de mudas de bananeira, as principais vantagens da produção de mudas in vitro, ou micropropagadas, são o espaço físico necessário reduzido para a produção de grande quantidade de mudas, a alta qualidade fitossanitária e genética, assim como a facilidade de transporte e a uniformidade no desenvolvimento das plântulas.

Representam uma excelente alternativa para minimizar a disseminação de doenças via mudas contaminadas. Contudo, esta técnica, além de produzir mudas livres de patógenos, por serem cultivadas em condições axênicas, priva a plântula de sua microbiota natural e benéfica, que em associação simbiótica com a muda atua na redução de estresses causados por mudanças climáticas, disponibilizando nutrientes e protegendo a planta contra fitopatógenos.

Inovações

Objetivando a diminuição dos custos das mudas, as biofábricas almejam a redução do tempo de produção, bem como dos níveis dos constituintes químicos empregados nos meios de crescimento. Ao encontro disso, a Embrapa Mandioca e Fruticultura buscou por bactérias que tivessem a propriedade de estimular o crescimento das plântulas de bananeira e inseri-las no protocolo de produção de mudas micropropagadas.

Bactérias benéficas podem crescer próximas às raízes ou mesmo se estabelecerem no interior das plantas, numa estreita relação de simbiose. Podem atuar diretamente pela produção de reguladores de crescimento vegetal ou substâncias análogas a estes, a capacidade de solubilização de fosfatos, a fixação biológica de nitrogênio, mineralização da matéria orgânica do solo, a síntese de sideróforos, entre outros mecanismos.

De forma indireta, aspectos que versam sobre o biocontrole de fitopatógenos estão envolvidos. Sobre todos esses aspectos há profundos estudos disponíveis na literatura científica.

Manejo

A aplicação das bactérias poderia ser feita em qualquer etapa do processo de produção das mudas, desde que estabelecido um protocolo quanto à concentração da suspensão microbiana. Respostas imediatas poderiam ser obtidas se fossem empregados isolados produtores de reguladores de crescimento vegetal, como ácido indolacético, nas duas primeiras etapas do processo.

Já na aclimatização, caberiam também bactérias que disponibilizassem nutrientes à planta. Em todos os casos seria utilizada uma suspensão aquosa microbiana, de preferência com mais de um isolado, cada um deles apresentando diferentes mecanismos de promoção do crescimento vegetal.

Figurando as biofábricas como público-alvo da tecnologia, estas poderiam recorrer ao mercado de insumos biológicos para aquisição de produtos comerciais que atendessem a esse propósito. Uma alternativa seria estabelecer parcerias com instituições de pesquisa públicas para a busca de isolados bacterianos com características de induzirem o crescimento vegetal e desenvolvimento do protocolo.

Ainda, estabelecer um setor de pesquisa na própria empresa, ação que pode despender algum custo com infraestrutura física e de pessoal, mas que, em se tratando de uma empresa, pode ser absorvida e logo gerar retorno financeiro.

Custo-benefício

Há que se fazer um estudo de custo-benefício para todos os casos. Deve-se levar em conta que a aplicação das bactérias nas etapas de enraizamento e pré-aclimatização pode reduzir o tempo de enraizamento e, ainda, a quantidade de regulador de crescimento vegetal sintético aplicado ao meio de crescimento. Por outro lado, o tratamento dos explantes com a suspensão de microrganismos acrescentaria um passo a mais no processo.

Já se o tratamento das mudas se desse apenas na aclimatização, se faria apenas a substituição da aplicação de estimulantes sintéticos de crescimento ao substrato, prática comum nas biofábricas, pelas bactérias. Porém, a redução do tempo de enraizamento seria menor que quando houvesse o tratamento das plantas em todas as etapas.

Outro ponto a ser levado em consideração é o preço do insumo biológico. Mas, em geral, é mais baixo do que o valor de produtos sintéticos. A multiplicação dos microrganismos nas próprias biofábricas, ‘on farm’, por meio de biofermentadores, é uma saída interessante e viável, desde que um sistema de qualidade com relação ao produto final seja implantado. Tal medida evitaria a multiplicação de microrganismos indesejáveis, ou mesmo patogênicos a humanos e animais.

A escolha de bactérias com alta capacidade de sobrevivência, multiplicação e produção de compostos indutores do crescimento vegetal, aliado a um protocolo de aplicação e tratamento das plantas otimizado, é o caminho certo para o sucesso do processo. Pelo contrário, erros na pesquisa e o descumprimento das instruções do fabricante para uso dos produtos (em caso de insumo biológico comercial) certamente culminariam em um revés na produção das mudas, refletindo diretamente na quantidade e qualidade daquelas.

Inicialmente o maior benefício para as biofábricas seria a redução do tempo de produção das mudas micropropagadas e/ou dos constituintes sintéticos empregados nos meios de enraizamento. Essa redução impactaria diretamente no número de ciclos de produção das biofábricas em um ano.

Dependendo do número de ciclos, a redução de 10 a 20 dias no processo faria com que ao menos mais um ciclo de produção fosse possível. Ressalta-se que em cada ciclo dezenas de milhares de mudas são produzidas, o que resultaria em aumento significativo no faturamento, caso todas as mudas fossem comercializadas.

Agregação de valor

Outro ponto que poderia ser explorado pelas biofábricas seria agregar valor ao seu produto, comercializando como mudas microbiolizadas, com a inclusão de bactérias antagonistas a fitopatógenos, além das promotoras do crescimento vegetal, as que disponibilizassem nutrientes, como um verdadeiro pacote tecnológico, garantindo vigor e crescimento das plantas, proteção contra doenças, com uma microbiota benéfica reestabelecida, exatamente como uma muda natural. Fechando tudo, o destaque fica por conta de a tecnologia ser ambientalmente amigável, fator altamente considerado pelo mercado consumidor atual.

O emprego de bactérias promotoras do crescimento de plantas em campo já é realidade em alguns países, mesmo no Brasil. Porém, em se tratando de biofábricas, geralmente os processos de produção de mudas micropropagadas envolvem sigilo, por questões óbvias de proteção industrial. Assim, não é possível afirmar quantas ou quais delas já se utilizam da aplicação de microrganismos em sua rotina.

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