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Mudas florestais exigem cuidados

Francival Cardoso FelixEngenheiro florestal e mestre em Ciências Florestais – Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná (UFPR)felixfc@outlook.com.br

Letícia Siqueira WalterEngenheira florestal e mestra em Engenharia Florestal – UFPRleticiasiqueira.walter@gmail.com

Dagma KratzProfessora de Viveiros Florestais – UFPRdagmakratz@ufpr.br

Substratos utilizados em mudas florestais – Crédito: Francival Felix

Atualmente, existem diversas opções de substratos disponíveis no mercado. O produtor de mudas deve se perguntar qual delas melhor lhe atende, visando suas demandas operacionais e custos de aquisição.

E a combinação dos diferentes materiais que compõem o substrato irá definir a densidade, aeração, capacidade de retenção de água e disponibilização de nutrientes. Além disso, um bom substrato deve estar livre de patógenos que podem causar doenças ou prejudicar as mudas.

Substrato pode ser qualquer material ou combinação de materiais que forneça suporte, aeração, retenção de umidade e disponibilização de nutrientes às plantas. Os aspectos econômicos e técnicos baseiam a escolha do insumo adequado para o cultivo das plantas.

Características básicas

As características físicas e químicas dos substratos inferem nos aspectos técnicos de irrigação e adubação. A densidade, porosidade total, capacidade de retenção de água, potencial hidrogeniônico (pH), capacidade de troca catiônica e condutividade elétrica compõem os principais itens a serem observados.

A empresa que comercializa substratos precisa apresentar essas informações técnicas no rótulo. Todas as análises devem ser feitas em laboratórios oficiais e credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Em produtos elaborados nos viveiros, recomenda-se a análise de laboratorial.

Os substratos comerciais apresentam elevada porosidade quando comparados com os solos. A porosidade do substrato está relacionada aos espaços ocupados por água, ar e raízes. Contudo, deve-se observar a proporção de macro e microporos, sendo o último sinônimo da retenção do soluto (água e nutrientes).

A densidade indica o peso do substrato e apresenta relação com a porosidade, portanto, está diretamente associada à ergonomia dos operadores.

Opções

Atualmente, o componente com maior oferta e uso é a turfa de Sphagnum, sendo base dos substratos amplamente utilizados em viveiros florestais. Ainda em destaque, a casca de pinus semidecomposta é componente principal de substratos produzidos nos Estados brasileiros sulinos. Ambos os substratos apresentam pH na faixa indicada, baixa densidade e adequada distribuição de macro e microporos, conferindo boa oxigenação e retenção de água.

Deve-se abordar também a potencialidade de uso dos resíduos orgânicos como componentes de substratos. Alguns já estão consolidados, como a casca de arroz carbonizada e a fibra de coco, que são amplamente utilizadas e diferem na capacidade de reter água, e quando combinados em diferentes proporções podem gerar substratos de variadas características.

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Para realizar a mistura do substrato, deve-se analisar a granulometria dos materiais através de peneiras, garantindo a padronização de todos os insumos da mistura. Para garantir a homogeneidade podem ser utilizados misturadores mecânicos (betoneiras e tratores) ou manuais (pá e enxada).

A adição de adubação e água deve ser feita neste momento para garantir homogeneidade. A umidade auxilia na estruturação do material para acomodação nos recipientes ou embalagens no momento do enchimento.

Alternativas

Além dos substratos comerciais, é possível utilizar outros insumos para produção das mudas, como substratos renováveis que têm a premissa de dar uso a materiais normalmente descartados em vários setores da economia.

O uso de biossólido – parte sólida após tratamento e estabilização do esgoto – vem ganhando espaço na silvicultura. A utilização deste insumo foi condicionada às diretrizes do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) através da resolução 375/2006 para sua correta utilização.

Este composto apresenta alto teor de matéria orgânica, elevada capacidade de retenção de água, aeração de média a baixa, pH relativamente alto e elevado teor de sais solúveis.

Porém, deve ser usado com atenção, pois pode tornar-se muito denso, o que dificulta o crescimento das mudas. Indica-se a utilização do lodo de esgoto com a adição de fibra de coco, casca de arroz carbonizada ou outros materiais leves, de modo a deixar o substrato mais aerado.

Outro resíduo florestal com notável potencial de utilização como substrato é a moinha de carvão, subproduto da fabricação de carvão e de fornos que utiliza madeira como combustível de caldeiras.

Devido à alta porosidade e capacidade de retenção de água aliado à estabilidade física, apresenta-se com potencial de utilização como componente de substrato. Assim como a casca de arroz e fibra de coco, a moinha de carvão é incorporada à formulação de substratos para aumentar a porosidade. A moinha de carvão é um subproduto da carvoaria de fácil obtenção e baixo custo.

Cuidados para evitar doenças

Os substratos comerciais passam por processos de desinfestação antes de serem embalados e vendidos. Assim, garante-se a isenção de patógenos, doenças e sementes indesejáveis no material.

Quando o viveirista prepara a sua própria formulação de substrato, alguns cuidados devem ser tomados para evitar a contaminação por patógenos, e com isso, indica-se que seja feita previamente a desinfestação do substrato. A desinfestação consiste na eliminação de patógenos e sementes indesejadas do substrato. Este procedimento pode ser realizado através da solarização, vapor de água ou água quente.

A solarização é uma alternativa para pequenos produtores, a qual pode ser feita com equipamento ou manualmente. A solarização deve durar, em média, de quatro a oito semanas. Claro que este tempo dependerá da região e nível de incidência luminosa.

É possível encontrar solarizadores de baixo custo, como indicados por pesquisadores da Embrapa. Já o método manual consiste em deixar o solo exposto ao sol ou coberto com uma lona plástica preta, de modo que os patógenos morram devido ao calor excessivo gerado naquele ambiente.

Manejo adequado

O excesso de irrigação promove lixiviação de nutrientes e falta de oxigenação, e o uso de água de baixa qualidade pode ser fonte de patógenos e salinização, o que fragiliza a muda e pode causar doenças. Por isso, o correto uso da irrigação associado com substratos de boa qualidade dificilmente trará problemas para o produtor de mudas.

Recomenda-se manter valores de capacidade de retenção de água próximos de 60% para a produção de mudas. A retenção de água indicará a frequência de irrigação: substratos com menor capacidade de retenção de água – indica-se ajustar a irrigação com maior frequência; e substratos com maior capacidade de retenção de água – o número de irrigações diárias pode ser reduzido para que o substrato não encharque e prejudique a muda.

Portanto, o manejo da irrigação está diretamente associado à composição do substrato.

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