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Murcha bacteriana limita produção de batata

Daniele Maria do Nascimento daniele.nascimento@unesp.br

Marcos Roberto Ribeiro Junior marcos.ribeiro@unesp.br

Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu

Adriana Zanin Kronka Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e docente da UNESP – Botucatuadriana.kronka@unesp.br

Batata – Crédito: Shutterstock

Conhecida também por “água-quente”, “dormideira” e “murchadeira”, a murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, é uma das principais doenças da cultura da batata, ocorrendo em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais e subtropicais.

No Brasil, já se encontra disseminada por todas as regiões produtoras, com perdas mais acentuadas durante os plantios de verão, quando a cultura fica exposta a umidades e temperaturas elevadas, condições que favorecem o desenvolvimento da bactéria.

Os sintomas ocorrem em qualquer estádio de desenvolvimento e as plantas doentes morrem rapidamente, podendo as perdas chegar a 50%. A bactéria tem uma ampla gama de hospedeiros (mais de 450 espécies) e é capaz de se estabelecer em quase todos os tipos de solo, principalmente naqueles mal drenados.

Não se descuide

Ralstonia solanacearum é um habitante nativo dos solos e pode ser introduzido em novas áreas por meio da batata-semente infectada. Uma única planta infectada em campos de produção de batata-semente já condena toda a certificação.

Outro grande problema é que, quando em condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento, a ocorrência da bactéria na batata não gera sintomas aparentes, caracterizando uma infecção latente. Tubérculos aparentemente saudáveis podem ser responsáveis pela disseminação da bactéria a longas distâncias.

Como reconhecer a doença no campo

Os principais sintomas dessa bacteriose são a murcha e escurecimento dos vasos condutores. O patógeno entra na planta pelo sistema radicular, sendo a penetração facilitada pelas aberturas naturais e ferimentos devido ao ataque de pragas, nematoides e tratos culturais.

Uma vez presente nos vasos condutores (xilema) e em condições favoráveis ao seu desenvolvimento (clima quente e úmido), a bactéria se multiplica rapidamente, produzindo polissacarídeos extracelulares viscosos que obstruem o xilema, impedindo assim o fluxo de água.

Desse modo, as plantas começam a murchar, de cima para baixo, principalmente nas horas mais quentes, podendo recuperar a turgescência nas horas mais frescas, durante a noite. Com o tempo, a murcha torna-se irreversível e a planta morre. Essas células bacterianas, presentes no xilema, também produzem enzimas que causam o escurecimento vascular.

Raças e biovares – o que são

A bactéria apresenta uma alta variabilidade fenotípica e genética dentro da própria espécie, sendo classificada em biovares e raças. Enquanto que a classificação em raças leva em consideração o hospedeiro, biovares são baseados em testes químicos, reproduzíveis em qualquer laboratório e com base na capacidade de utilização de açúcares e álcoois como fontes de carbono pela bactéria. Do ponto de vista agronômico, a classificação em raças tem mais praticidade.

Atualmente, são descritas cinco raças: raça 1 (biovares 1, 3 e 4), presente no maior número de plantas, como a batata, tomate, fumo e solanáceas em geral; raça 2 (biovares 1, 3 e 4), associada a banana e similares; raça 3 (biovar 2), específica da batata, mas também ataca algumas solanáceas; raça 4 (biovar 4), encontrada no gengibre, e raça 5, na amoreira.

Em relação à batateira, a biovar 1 (raça 1) é predominante em regiões mais quentes e persiste por maior tempo no solo, enquanto que a biovar 2 (raça 3) é adaptada a regiões de clima temperado e está mais associada a infecções latentes.

Em lavouras onde a biovar 2 está presente, o produtor, por desconhecimento, pode produzir batata-semente e estabelecer novas lavouras em áreas livres da bactéria. Como os sintomas serão imperceptíveis, a bactéria será disseminada para essa nova área.

Diagnose

Além de R. solanacearum, vários outros patógenos, como Verticillium spp. (murcha de verticílio), podem causar a murcha em batateira, por isso, é essencial a realização de uma diagnose precisa e rápida. Nesse sentido, o teste do copo é o primeiro a ser feito, ainda no campo.

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Se a planta já apresentar sintomas de murcha, pedaços da haste da região do colo são cortados e suspensos, com auxílio de um clipe, em um copo ou frasco transparente com água, por até quatro minutos. Se a origem da infecção for bacteriana, será possível observar a exsudação de um filete leitoso saindo do tecido em direção ao fundo do copo.

O corte transversal do tubérculo também pode indicar a presença do patógeno se, ao ser pressionado, ocorrer a exsudação de um pus branco. O inconveniente destes testes, apesar de serem práticos e fáceis, é que eles se limitam a plantas com altas populações bacterianas.

Na ausência de sintomas, ou no início da infecção, a identificação por estes métodos é rara e, novamente, entramos na importância da ocorrência da infecção latente, para a disseminação da murcha bacteriana.

 Em laboratório, obtém-se a complementação do diagnóstico, por meio do cultivo da suspensão bacteriana em meios de cultura específicos. Os isolados obtidos têm, ainda, sua identidade confirmada por meio da reação em cadeia de polimerase (PCR) com primers específicos.

Desse modo, o produtor que deseja certificar sua lavoura quanto à ausência de R. solanacearum deve coletar amostras de tubérculos aleatórios e encaminhar a laboratórios especializados, que podem detectar a bactéria mesmo na ausência de sintomas, por meio de técnicas moleculares (PCR) e sorológicas (ELISA e imunofluorescência).

Manejo da murcha bacteriana

Não existem, até o momento, variedades resistentes e o controle químico é ineficiente. Além do custo elevado, a fumigação do solo com produtos químicos não atinge níveis satisfatórios de controle. Para áreas onde as plantas infectadas já foram erradicadas, pode-se optar pelo tratamento do solo com 5,0 L/m2 de solução de cobre a 5%.

A capacidade da bactéria de sobreviver no solo e na rizosfera de plantas não hospedeiras, como as plantas daninhas, dificulta as medidas de manejo. Logo, medidas preventivas, como o uso de batata-semente certificada e a escolha da área de plantio devem ser adotadas antes da implementação da cultura.

Alerta para a água e as daninhas

O solo deve ser bem drenado e a irrigação realizada com água de boa qualidade, oriunda de locais livres da bactéria. Ou seja, o produtor deve descartar de imediato a possibilidade de utilizar águas captadas em áreas em comum com plantios infectados, que recebam enxurradas dessas lavouras, por exemplo.

Na Europa, a bactéria foi associada a uma planta aquática, dulcamara (Solanum dulcama), contaminando lavouras irrigadas com água dos rios em que vinha persistindo.

Optar por uma área sem histórico de ocorrência da bactéria é fundamental, porém, não garante a ausência do patógeno. Ralstonia solanacearum já foi relatada em áreas recém-desbravadas e plantas daninhas como beldroega (Portulaca oleracea), joá bravo (Solanum sisymbriifolium), maria pretinha (S. nigrum) e picão-preto (Bidens pilosa) podem manter o inóculo na área mesmo na ausência de plantas cultivadas. Por isso, o produtor deve se atentar ao controle de plantas daninhas, visando a redução de possíveis fontes de inóculo.

Em áreas com ocorrência da murcha bacteriana, a rotação de culturas é recomendada por pelo menos três ciclos, empregando-se gramíneas como arroz, cana-de-açúcar, milho, pastagens e sorgo. Solanáceas como tomate e pimentão também são hospedeiros e não podem ser usados em cultivos sucessivos.

Tratos culturais

Alguns cuidados devem ser tomados durante os tratos culturais, a fim de evitar a disseminação da bactéria para o restante da lavoura, como: evitar danos mecânicos, principalmente durante a amontoa; eliminação de plantas infectadas e daninhas; desinfestação de maquinários agrícolas, entre outros.

Pesquisas vêm sendo desenvolvidas com uso de Trichoderma no controle de R. solanacearum, mas, apesar dos resultados promissores, ainda não existem produtos registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), para este patógeno.

Variedades resistentes

A busca por resistência é um verdadeiro desafio, devido à alta variabilidade genética do patógeno, mas pesquisadores da Embrapa vêm trabalhando nesse sentido. Após anos de melhoramento, dois clones resistentes foram identificados e vêm sendo utilizados em cruzamentos.

Em 2017, pesquisadores da Embrapa avaliaram o desempenho de cultivares de batata em solos infestados por R. solanacearum, e as cultivares BRSIPR Bel e Agata apresentaram bons resultados. Em torno de 20 a 30% das plantas correspondentes a estas cultivares apresentaram sintomas de murcha. A termo de comparação, outra cultivar também avaliada apresentou mais de 80% das plantas com sintomas.

Mesmo que não sejam totalmente resistentes à murcha bacteriana, o uso de materiais com níveis moderados de resistência pode auxiliar no controle da bacteriose.

Todas as medidas anteriormente citadas devem ser adotadas em conjunto, dentro de um contexto de manejo integrado. É de suma importância que todas as medidas para evitar a entrada do patógeno em novas áreas sejam tomadas, incluindo a adoção das análises em laboratórios. O Brasil ainda tem inúmeras áreas livres, que podem serem comprometidas pelo plantio de batata-semente infectada e sem sintomas aparentes.

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