Gabriel C. R de Oliveira
Mestrando em Produção Vegetal (UNESP/FCAV – Jaboticabal/SP) e pesquisador em Ciências Agronômicas – Herbae
gabrielribeiro230600@gmail.com
Maibi A. de M. Panichelli
Tecnóloga em Biocombustíveis e pesquisadora em Ciências Agronômicas – Herbae
maibi.panichelli@hotmail.com
Saulo S. Cardoso
Desenvolvimento Técnico de Mercado – Spraytec
saulo.cardoso@spraytec.com
A introdução de espécies invasoras é uma preocupação crescente no manejo florestal, e as vespas-da-madeira Sirex noctilio e Sirex obesus representam um exemplo claro dessa ameaça.
Enquanto a S. noctilio já é bem estudada e controlada no Brasil, a S. obesus é uma espécie relativamente nova no país, exigindo mais pesquisas para um controle eficaz. Essas duas espécies têm características distintas e impactos significativos nos ecossistemas de pinus, o que torna essencial um estudo comparativo para compreender melhor seus comportamentos e desenvolver estratégias de manejo adequadas.
Origem
A Sirex noctilio é originária da Eurásia e foi detectada pela primeira vez no Brasil na década de 1980. Seus principais hospedeiros são espécies de pinus, como Pinus taeda e Pinus elliottii.
O método de ataque dessa vespa envolve a perfuração da madeira pelas fêmeas para depositar ovos e a inoculação do fungo Amylostereum areolatum, que degrada a madeira e facilita o desenvolvimento das larvas.
Este processo resulta em alta mortalidade de árvores, comprometendo a produção de madeira e causando perdas econômicas significativas.
A nova vespa-da-madeira Sirex obesus é originária da América do Norte e foi oficialmente identificada no Brasil no ano de 2023. Com relatos de ataque ao pinus, especialmente de resinagem, sua presença tem sido objeto de monitoramento meticuloso por parte da Embrapa Florestas, em colaboração com outros pesquisadores e instituições.
Hospedeiros
Seus hospedeiros incluem pinus resinados, como Pinus leiophylla e Pinus teocote. O método de ataque é similar ao de S. noctilio, com as fêmeas perfurando a madeira para oviposição e introduzindo um fungo simbionte, que degrada a madeira e facilita o desenvolvimento larval.
Embora o impacto econômico potencial de S. obesus seja semelhante ao de S. noctilio, ainda são necessários estudos para quantificar precisamente os danos causados por essa nova espécie.
Até o momento, os registros da presença da nova vespa-da-madeira foram documentados nos estados de São Paulo e Minas Gerais, levantando preocupações e desencadeando esforços para entender seu impacto nas áreas atacadas.
O Grupo de Trabalho de Defesa Florestal (GT-Deflo), composto por instituições governamentais, institutos de pesquisa, universidades e associações do setor florestal, tem se dedicado a realizar reuniões com o objetivo de desenvolver planos e estratégias de monitoramento e controle da nova vespa-da-madeira.
Controle biológico
O inseticida microbiológico Nematec se destaca por ser atualmente uma importante alternativa no controle da outra espécie de vespa-da-madeira, Sirex noctilio, já conhecida e estudada no Brasil como uma importante praga do Pinus.
Composto pelo nematoide Deladenus siricidicola, o Nematec atua induzindo a esterilização das fêmeas da vespa-da-madeira por meio de parasitismo, contribuindo assim para o controle efetivo desta praga.
A aplicação do Nematec, integrada ao manejo florestal, busca reduzir as perdas causadas pelo ataque deste inseto. Estudos realizados demonstraram uma média de 70% de parasitismo de D. siricidicola sobre a S. noctilio, sendo que em alguns locais essa porcentagem chegou a 100%, dependendo das condições de armazenamento, preparo do inóculo, transporte e aplicação.
Eficácia
Para preparar o inóculo, os nematoides são misturados com gelatina ou hidrogel, sendo depois armazenados entre 5°C e 8°C para garantir sua viabilidade por até 10 dias. A aplicação deve ocorrer entre março e agosto, logo após a detecção da praga, fazendo orifícios no tronco das árvores atacadas e inserindo o inóculo com um aplicador específico
De acordo com a pesquisadora e entomologista da Embrapa, Susete do Rocio Chiarello Penteado, estudos para avaliar se a nova espécie S. obesus também pode ser controlada com D. siricidicola estão sendo desenvolvidos.
O conhecimento do potencial do uso do nematoide D. siricidicola para o controle de uma outra espécie de vespa-da-madeira contribui com o desenvolvimento de estratégias de controle biológico, se destacando assim como uma importante estratégia de controle.
Pesquisas indicam que D. siricidicola pode ser uma ferramenta eficaz também contra a S. obesus, mas são necessários mais estudos para confirmar a eficácia e ajustar os protocolos de aplicação. A biologia e o comportamento de S. obesus podem diferir de S. noctilio, exigindo adaptações específicas no manejo e controle.
Desafios persistem
A ausência de produtos químicos e outros produtos biológicos registrados no Agrofit para o controle de ambas as pragas, Sirex noctilio e Sirex obesus, representa um grande desafio para o manejo dessas pragas.
Atualmente, o controle depende principalmente do uso de nematoides parasitas, limitando as opções de manejo disponíveis para os produtores florestais. A falta de diversidade de produtos de controle pode dificultar a implementação de estratégias de manejo integrado de pragas (MIP), que se beneficiariam de uma variedade de ferramentas para garantir um controle mais robusto e adaptável.
Além disso, a dependência de um único método biológico aumenta o risco de resistência da praga, ressaltando a necessidade urgente de pesquisa e desenvolvimento de novos agentes biológicos e, possivelmente, químicos que possam ser utilizados de forma segura e sustentável para ampliar as opções de controle.
O sucesso do controle biológico com o Nematec contra a S. noctilio é um indicativo promissor de que estratégias semelhantes podem ser eficazes contra a S. obesus, mas a aplicação precisa ser adaptada às características específicas dessa nova praga.
A necessidade de um monitoramento contínuo e de um manejo integrado de pragas (MIP), que inclua práticas culturais, biológicas e, quando necessário, químicas, é essencial para garantir a sustentabilidade e a produtividade dos plantios de pinus no Brasil.
Os esforços conjuntos de instituições de pesquisa, produtores e autoridades são fundamentais para desenvolver e implementar estratégias eficazes de controle junto com novos métodos de controle, minimizando os impactos econômicos e ecológicos das infestações por essas vespas-da-madeira invasoras. A continuidade das pesquisas e a adaptação das técnicas de controle são cruciais para proteger os recursos florestais do Brasil e assegurar a viabilidade econômica da atividade florestal no país.