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Novo programa de melhoramento estimula produção de trigo

Fotos: Divulgação Coopadap

Além de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de cultivares com maior resistência à brusone, a Biotrigo também possui uma linha de pesquisa para avaliar o efeito do uso das cultivares na redução da população de algumas espécies de nematoides

Nos últimos anos novas regiões expandiram as áreas de produção e de abastecimento de trigo no Brasil. Do Sul, de onde se concentravam as maiores áreas de trigo, o cultivo agora vem ganhando espaço nas lavouras dos Estados de Goiás, Distrito Federal, Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo e, principalmente, Minas Gerais.

As lavouras mineiras, que na safra 2019 chegaram a 87,9 mil hectares, ficaram atrás somente do Paraná, que possui a maior extensão em lavouras, com 1 milhão de hectares, e do Rio Grande do Sul, que tem a segunda maior área, com 702,2 mil hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Somente em Minas, o volume da área trigo aumentou mais de 280% sobre a safra de 2011 e o futuro se mostra ainda mais promissor. Por gerar farinha de excelente qualidade industrial, colher em uma janela ainda de entressafra e estar próximo da demanda consumidora, o Cerrado certamente contribuirá para o Brasil diminuir sua dependência pela importação de trigo. 

Com a introdução de novas tecnologias previstas para as próximas safras, como cultivares adaptadas para o Cerrado, de características e ciclos distintos, o produtor dessas regiões poderá eleger quais materiais se adaptam melhor à sua região, além de poder escalonar a semeadura de acordo com o fim do período de chuvas.

Na safra 2020, por exemplo, a cultivar TBIO Aton estará disponível para os triticultores em toda a região do Cerrado. A variedade é fruto de uma nova visão da Biotrigo com relação ao Cerrado, que também contempla a implantação do quarto programa de melhoramento, focado exclusivamente para a região.

Segundo o melhorista da Biotrigo, André Schönhofen, que é responsável pelo programa, a cultivar TBIO Aton combina um tipo de planta moderno com rusticidade do sistema radicular e sanidade de planta. “TBIO Aton é filho de TBIO Mestre, que por sua vez é filho de Jagger, uma das cultivares americanas mais bem-sucedidas e que mais gerou descendentes por todo mundo. É um trigo de hábito vegetativo entre ereto e intermediário, porte e ciclo médio, resistente ao crestamento, de moderada resistência à debulha natural e ao acamamento. Além disso, o potencial de rendimento de grãos da TBIO Aton está entre os maiores do germoplasma elite da Biotrigo”, explica.

A expectativa é que assim que houver um volume maior de semente, a cultivar deva ser a mais semeada na região, pois contempla as demandas para um trigo cultivado em sequeiro e se coloca como ferramenta na abertura de semeadura no cultivo irrigado.

Demandas do Cerrado

Boleslau Wesgueber Júnior, engenheiro agrônomo e consultor da BWJ Agrícola com atuação nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, comenta as principais demandas da produção de trigo no Cerrado, como boa qualidade de grãos, produtividade, precocidade, resistência ao acamamento e ainda um baixo fator de reprodução para nematoides.

Segundo ele, além das particularidades da região, a safra de 2019 foi desafiadora devido às condições anormais de precipitação e temperatura durante a safrinha que causaram doenças foliares e brusone na espiga. “O Cerrado tem uma condição expressiva de crescimento para a cultura do trigo, mas para isso acontecer, o produtor precisa ter confiança e segurança no material que ele vai colocar no campo. Ano passado, por exemplo, foi um ano que teve um crescimento muito grande da área de trigo, mas ao mesmo tempo aconteceu uma frustração muito grande porque os materiais utilizados na safra passada pelos produtores não tiveram o comportamento esperado diante da doença. Por isso, a resistência à brusone é primordial para que se tenha segurança de plantar trigo, visto que a eficiência do controle químico é muito baixa”, disse Boleslau, que destacou ainda que a região demanda por cultivares com ciclos menores.

“Como a água é um fator limitante, precisamos de um forte posicionamento para plantar cultivares de ciclo precoce e, principalmente, dentro do mês de março. Com isso, é possível reduzir o risco da chuva no espigamento”, pontua.

Paulo Kuhnem, fitopatologista da Biotrigo, comentou que existe também uma linha de pesquisa na Biotrigo focada para avaliar o efeito do uso das cultivares TBIO na redução da população de algumas espécies de nematoides. “Tanto em ensaios sob condição controlada como a campo, dados preliminares apontaram que as cultivares da Biotrigo apresentam fator de reprodução menor que 1. Isso significa que ela reduz o número de nematoides do gênero Meloidogyne, tanto para as espécies M. javanica como para M. incognita”.

Cultivar colocada a prova

Em seu primeiro ano de multiplicação e testes em grandes áreas na região, a cultivar TBIO Aton surpreendeu os produtores de sementes. Os pontos positivos mais ressaltados foram a resistência à brusone na folha e na espiga, resistência ao acamamento e o maior potencial produtivo.

Celso Hideto Yamanaka, que gerencia a produção de sementes da Coopadap (Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba) acompanhou de perto o primeiro ano de multiplicação da cultivar TBIO Aton, avaliando seu comportamento. Segundo ele, a linha de pesquisa implementada pela Biotrigo trouxe perspectivas promissoras em relação à resistência a doenças, ao acamamento, população de plantas e perfilhamento.

“Esse material foi muito interessante no campo. Mesmo sem regulador de crescimento, em uma área de cultivo pós-milho o trigo não ficou mais fraco, não acamou, perfilhou bem e mesmo com uma população mais baixa, compensou em produtividade, tanto no sistema sequeiro como no irrigado. Em relação às doenças, a planta é muito boa para oídio (doença bem comum no irrigado) e se destacou em relação à giberela e à brusone, especialmente na última safra, em que tivemos condições bem adversas”, disse.

Segundo André, do ponto de vista do melhoramento, a pressão de doenças da safra 2019 foi uma excelente oportunidade de seleção. “Escolhemos o ano certo para a instalação do programa do Cerrado, e sem dúvida fizemos progresso para maior resistência à brusone na folha e na espiga. Apesar dos prejuízos comerciais, ironicamente esta safra tende a saldar suas próprias contas no futuro por ter ajudado a produzir trigos de maior segurança para o produtor. TBIO Aton se mostrou valente frente às adversidades em relação aos demais trigos semeados na região. Certamente agrega em sanidade e rendimento para o sequeiro”, avaliou.

Programa focado em três pilares

O engenheiro agrônomo e supervisor comercial para a região do Cerrado da Biotrigo, Deodato Matias Junior, explica que para que o produtor ganhe confiança na cultura do trigo, sem dúvida é importante a atenção do melhoramento em três pilares: rendimento, qualidade e segurança. “Alto rendimento de grãos para que o produtor seja remunerado pelo investimento; qualidade para gerar liquidez à produção, satisfazendo a indústria e possibilitando o uso de trigo 100% nacional nos moinhos da região; e segurança no sentido de maior resistência à doenças e tolerância a fatores abióticos como a seca”, citando como exemplo a cultivar TBIO Aton.

“Esse trigo foi líder em rendimento na maioria dos ensaios realizados pela Biotrigo no Brasil em 2018 e 2019, da Bahia ao Rio Grande do Sul. TBIO Aton significa um avanço nestes três aspectos e contribui para estabelecer de forma definitiva a cultura do trigo no Cerrado. Mais do que potencial produtivo, a estabilidade de rendimento é o diferencial deste material”, complementou.

Como acontece o melhoramento

Em 2019, com a implementação do programa de melhoramento da Biotrigo focado no Cerrado, o processo completo de desenvolvimento de uma cultivar passou a ser realizado sob as condições ambientais da região. André explica como acontece: “O melhoramento inicia no planejamento dos cruzamentos, quando o melhorista analisa as características de cada genótipo existente e antevê um novo trigo com base na combinação dos atributos positivos. Após, as populações segregantes oriundas de cada cruzamento são dispostas a campo para avaliações visuais, como tolerância à seca, resistência à brusone, número de espigas, entre outros. Somente cerca de 5% das melhores parcelas em uma determinada geração avançam para a seguinte, sendo as demais descartadas. Este processo se repete por até seis gerações, quando se obtém linhagens fixas que passam a compor os ensaios de rendimento com o objetivo de estimar o desempenho em lavoura comercial”, detalha.

Posteriormente, as linhagens que contemplam as características desejadas continuam a ser testadas em ensaios ainda por vários anos, bem como em parcelas demonstrativas e em parceria com multiplicadores. Por fim, antes que se defina o lançamento de uma nova cultivar, são realizadas avaliações de qualidade industrial dos candidatos, tanto dentro do laboratório de qualidade da Biotrigo como em moinhos do Cerrado.

Safra 2020

Para a safra 2020, o objetivo da Biotrigo é duplicar os esforços e o número de materiais sob avaliação. Mais de 9,5 mil parcelas de segregantes e 2 mil parcelas de ensaio de rendimento serão conduzidas em até 20 localidades do Cerrado, principalmente nos Estados de Minas Gerais e Goiás.

Segundo o melhorista da Biotrigo, estas populações já são fruto de cruzamentos pensados para o Cerrado. “Estamos combinando na progênie as características desejadas no campo e na indústria da região, como tolerância à seca e ao calor, alto potencial produtivo, resistência à Brusone nas folhas e espigas, cor clara de farinha, força de glúten e performance de panificação”, disse André.

O maior foco do programa da Biotrigo no Cerrado é direcionado para o cultivo em sequeiro, já que representa a maior parte da área. “O objetivo é gerar cultivares de características e ciclos distintos, permitindo ao produtor eleger quais melhor se adaptam à sua região, além de poder escalonar a semeadura de acordo com o fim do período de chuvas. Esta pluralidade de opções é essencial em uma triticultura bem desenvolvida e traz consigo maior segurança para toda cadeia. Para isso é necessário, no entanto, buscar que estes materiais tenham um padrão elevado e similar de qualidade. Dessa forma, produtores podem mesclar grãos de diferentes cultivares na propriedade sem gerar inconvenientes à indústria moageira”, complementou.

Trigo no irrigado

No programa do Cerrado também se pretende gerar cultivares específicas para o cultivo irrigado. Neste sistema, a época de semeadura, disponibilidade de água e os maiores investimentos em fertilizantes permitem alcançar maiores tetos produtivos. Assim, o potencial de rendimento deve ser combinado com ótima tolerância ao acamamento, além de resistência a oídio, mancha amarela, brusone e uma excelente cor de farinha e qualidade industrial.

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