
Heitor A. Pagnan
Engenheiro agrônomo da Maxxi Mudas
heitor@moranguinhos.com.br
Falar em futuro de qualquer coisa é muito arriscado. Mas, observando o que se passa em outros países, podemos arriscar alguns comentários.
O primeiro deles é que no Brasil se verifica uma crescente falta de mão de obra, com custos de produção crescentes. Então, o que resta ao produtor fazer? Para ficar num mercado tão competitivo, o uso de tecnologias chamadas ‘de ponta’ é obrigatório.
No Brasil, o produtor de morango dispõe de variedades modernas, ou seja, estamos usando o que o resto do mundo usa. Temos climas variados para produzir morango o ano inteiro e produtores que estão se qualificando à medida do possível. Existe um mercado consumidor crescente que busca alimentos mais saudáveis permanentemente. Dessa forma, o que falta incrementar ou melhorar na cultura do morango?
A resposta
Acreditamos que algumas linhas de atuação poderiam aprimorar em muito o aumento do consumo do morango e, por consequência, o valor que o produtor recebe ao final.
Comecemos pela qualidade do fruto do morango colhido – ainda está muito a desejar! Uma parte por culpa do próprio produtor, que pouco tem se organizado no sentido de buscar treinamentos técnicos para melhorar os vários aspectos envolvidos, como preparo de terra, nutrição, insumos usados, pós-colheita e comercialização.
Outra parte, e apesar dos esforços empreendidos, o setor de pesquisa e assistência rural pouco tem feito, seja pela falta de recursos ou de pessoal qualificado na área.
Por pouco tempo
O produtor insiste em colocar os maiores frutos por cima e os piores por baixo, mas até quando poderá enganar o consumidor? Esta, na verdade, está sendo uma mola propulsora no sentido de exigir produtos melhores a cada dia que passa.
Na Europa, há muito tempo existe um movimento que reclama a volta de produtos com sabor. E aqui nos arriscamos a perguntar: que sabor têm os produtos denominados longa vida ou com meia vida? Quase nenhum!
O morango, nos mercados organizados, só admite duas classificações: o que vai para o mercado e o que será congelado. E aqui, podemos comentar um dos gargalos, ou seja, uma das principais limitações do morango no Brasil: o pós-colheita.
Os gargalos
O que se observa é o produtor colhendo o morango e o deixando horas e horas sem qualquer refrigeração, quando o correto seria colocá-lo imediatamente no frio para que o mesmo aguente mais tempo na prateleira do mercado.
No sul do Brasil isso há tempos está sendo bem utilizado. No sudeste, onde se encontra a maior produção brasileira, pouco tem sido feito no sentido de que o produtor ou grupo de produtores usem câmaras frias. Quem sofre com isso é o morango, que chega ao mercado com sua vida útil já prejudicada. Quem compra um morango estragado não terá vontade de comprar novamente. Portanto, o pós-colheita é, sem dúvida, um dos maiores problemas a serem enfrentados.

Sem necessidade
Outro fator de muita importância é o uso indiscriminado de adubos ou nutrientes. O produtor, muitas vezes com pouca qualificação, sofre uma avalanche de visitas de vendedores de adubos que dizem ter a resposta milagrosa para produzir o melhor morango do mundo. Todos têm o melhor e mais barato adubo. Isso tem conduzido os produtores a fazerem uma verdadeira “salada de frutas” no manejo nutricional.
Muitas vezes observamos, com o uso errado de adubos na fertirrigação, o fruto ficar mole e apodrecer mais rapidamente, o aparecimento de insetos e o desequilíbrio da planta, que poderá produzir bem menos do que sua capacidade. Cada vez mais o produtor deverá ter seu consultor técnico. No sul do Brasil já é assim, mas em Minas Gerais ainda não.
Organização é tudo!
Observando outros países produtores de morango, um outro problema sério se dá na comercialização. Lá eles resolveram isso de forma adequada. Não existe o fato de cada produtor vender individualmente sua produção. Mas, aqui no Brasil, com raras exceções, cada produtor vende sua produção individualmente. Quem perde com isso? O próprio produtor, porque seu “poder de fogo” em conseguir um preço melhor diminui. Qual a saída? Organização em grupos, com morango de qualidade, para que a venda seja feita coletivamente. Os mercados cada vez mais querem quantidades e de forma permanente.
Outra coisa que observo, principalmente em Minas Gerais, é o comprador de morango pagando com cheques em datas cada vez mais longas. Um produtor faz e os outros seguem atrás. Falta organização!

Mudas de qualidade não podem faltar
Não poderíamos deixar de comentar que um dos fatores que impulsionaram o Brasil no sentido de melhorar, e muito, a qualidade do morango produzido está sendo o uso de mudas de alta qualidade. Nesse ponto, a Maxxi Mudas, localizada na cidade de Feliz (RS), tem contribuído muito nos últimos 30 anos. A muda trazida da Patagônia Argentina e Segóvia-Espanha é produzida com tecnologia de ponta, com o que há de melhor atualmente no mundo.
As plantas matrizes são trazidas da Califórnia, originadas de um dos melhores programas de melhoramento genético atualmente existentes. Como consequência, quem planta mudas da Maxxi Mudas já sabe que colherá frutos de excepcional qualidade e que, pela qualidade da muda, usará muito menos produtos químicos para manter a lavoura produzindo bem, e mais.
Estamos agora trazendo novas cultivares de morango que, certamente, num futuro bem próximo substituirão a famosa San Andréas. Estamos na fase de testes e acredito que já temos alguns materiais muito bons.
Dica de ouro!
Para aqueles produtores de morango que quiserem ficar no mercado de forma competitiva, resta o caminho da sua organização em grupos, qualificação técnica permanente deles e dos técnicos que atuam na área, bem como a exigência de que o setor público invista mais numa cultura que tem como característica principal a agregação da família que, ao contrário de outras, fornece frutos e renda de forma constante durante toda a safra.
