Onde plantar mogno africano? Uma abordagem diferente

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Mogno Africano/Divulgação

Eduardo de Castro Stehling

Biólogo e consultor – Fuste Consultoria Florestal

fusteconsultoria@gmail.com

O plantio de mogno africano está ficando cada vez mais popular no Brasil. Atualmente existem plantios presentes em todas as regiões, em diferentes tipos de climas, solos, topografias; associados a outras culturas e dentro de diferentes modelos de gestão.

No entanto, nem todos os locais e situações são adequados para realizar investimentos na cultura do mogno africano. Neste texto eu trarei informações que ajudarão você a selecionar áreas adequadas, mas também mostrarão como evitar áreas e situações impróprias para o plantio.

Condições brasileiras

No Brasil, possuímos excelentes condições para a produção florestal, tornando muito vantajoso o cultivo das espécies de mogno africano. Abundância de áreas, temperatura e precipitação adequadas, disponibilidade de sementes e mudas, apoio técnico, acesso à informação são apenas alguns exemplos do que o agronegócio brasileiro pode proporcionar.

São essas vantagens que nos permitem produzir maiores volumes de madeira em menores períodos, com ciclo mínimo de 15 anos.

As duas espécies cultivadas de maneira extensiva no Brasil são a Khaya grandifoliola e a Khaya senegalensis. Ambas possuem madeira valorizada e de qualidade, desde que madura e com o manejo adequado.

Apesar de estarem no mesmo gênero, elas apresentam desenvolvimentos distintos, sendo a primeira de crescimento mais rápido e maior porte e a segunda mais resistente em áreas de menor fertilidade e precipitação.

Premissas

Existem premissas básicas que estão presentes em textos e recomendações de diversas espécies florestais e que representam um checklist a ser seguido. Deve-se evitar plantio em áreas que possuam uma ou mais condições inadequadas, como estarem muito compactadas, com alagamentos sazonais, com baixa fertilidade, impedimentos físicos, propensas a geadas, granizo, com topografia muito ruim, etc. Isso vale também para as Khayas e faz diferença no sucesso do plantio.

Ambas as espécies são rústicas, com destaque para a K. senegalensis. E aqui existe um ponto importante que precisa ser considerado na escolha da espécie e da área de plantio. A rusticidade do gênero Khaya não pode ser comparada com a rusticidade das espécies de Eucalyptus sp. e Corymbia sp.

Áreas de baixa fertilidade, grande declividade, com impedimentos físicos no solo, que em último caso receberiam plantios de eucaliptos por serem mais rústicos (não que isso seja adequado), não representam áreas próprias para o cultivo das Khayas.

O fato é que até a produtividade do eucalipto é baixa nessas áreas. Então, é importante perceber que, se uma área é muito ruim, possui baixa fertilidade, entre outras limitações, pode até receber um plantio de K. senegalensis, mas não significa que a área produzirá madeira dentro dos números divulgados por empresas fomentadoras da cultura.

Nesses casos, o desenvolvimento é medíocre, com aumento significativo do tempo de cultivo e possíveis fracassos.

Do outro lado

Quando invertemos a situação e colocamos plantios em áreas adequadas, com boa fertilidade e boa precipitação, o crescimento obtido normalmente surpreende. É o caso da K. senegalensis na região norte do Brasil, onde a grande precipitação e a maior temperatura média proporcionam boas taxas de crescimento para a cultura.

Boas condições de estabelecimento na fase inicial são fundamentais para determinar a taxa de crescimento que as árvores terão. 

As duas espécies também apresentam arquitetura diferente, sendo a Khaya grandifoliola uma planta que produz poucos galhos e a Khaya senegalensis uma espécie que produz mais brotações, necessitando de um maior número de operações de manejo de desrama e desbastes.

Independente da espécie, pode ocorrer de a falta de mão de obra de uma região comprometer a realização da atividade florestal. Isso pode limitar a escala do empreendimento e/ou trazer transtornos operacionais para os produtores. Certifique-se antes de plantar em um determinado local, que conseguirá mão de obra passível de qualificação para evitar falhas.

Geadas

O ano de 2021 trouxe geadas até na região centro-oeste do Brasil. Enquanto redijo este texto (31/05/2022), o inverno já se mostrou rigoroso, com uma onda de frio mais forte e precoce, com geadas em diversas regiões.

Este é um momento muito importante para que os produtores visitem suas propriedades e identifiquem onde a geada ocorre, para evitar futuros plantios nesses locais. Ambas as espécies são sensíveis à geada. A Khaya grandifoliola é a mais sensível, podendo apresentar mortalidade total em áreas com até três anos, mas nas duas espécies o prejuízo será significativo.

Pensando em aumentar a margem de lucro por meio da redução dos custos de produção, é muito importante que a madeira produzida seja beneficiada e, se possível, distribuída com o menor deslocamento.

Por isso, é bom estar próximo de polos consumidores de madeira. Ter que deslocar a madeira por grandes distâncias aumenta muito o custo, especialmente em condições de baixo processamento, como o transporte de toras, por exemplo.

Insumos

Quando a questão é acesso aos insumos, o local de plantio faz muita diferença. É recorrente o caso do gesso agrícola. Quando ele não está disponível por perto, acaba sendo negligenciado, gerando impacto negativo no desenvolvimento do plantio, seja pela falta de controle do alumínio, falta de cálcio em perfis de solo mais profundos ou pela deficiência de enxofre, especialmente no caso da K. grandifoliola.

Grandes distâncias e falta de logística podem afetar também a aquisição dos calcários, fontes de matéria orgânica, macro e micronutrientes. Outra situação é a realização de plantios em áreas cuja topografia íngreme e estradas ruins obrigam o proprietário a baldear os insumos, tendo que finalizar a entrega por conta própria, de maneira lenta e fracionada.

Custos

A análise de solo e o diagnóstico nutricional são as ferramentas corretas para estimar os custos de um projeto florestal, possibilitando prever a quantidade e quais insumos deverão ser adquiridos.

Poder comparar e escolher áreas melhores utilizando critérios de fertilidade e logística ajuda a entender previamente aspectos de viabilidade, custos de produção e definir estratégias para minimizar as despesas. Usar recomendações genéricas na estimativa dos custos de preparo, plantio e manutenção pode gerar problemas.

Do ponto de vista nutricional, se a área for adequada, as despesas serão inferiores, gerando economia não apenas de insumos, mas também de serviços. Porém, se a área for inadequada, muitas vezes o proposto na recomendação genérica não é suficiente, prejudicando o crescimento.

É fundamental atentar, também, para a influência da escala do empreendimento nos custos de preparo e plantio por hectare. É possível obter, a partir do estudo da fertilidade de solo, qual a área mínima de plantio em uma propriedade para que o custo por hectare seja mais baixo.

Compreender que o local adequado de plantio não diz respeito apenas a questões edafoclimáticas representa um salto significativo na curva de aprendizado do silvicultor iniciante e um pré-requisito para os mais experientes.

Com essa visão, é possível produzir mais barato o m³ de madeira serrada, reduzindo despesas e aumentando a margem de lucro do produtor. Aliar estes conhecimentos com o clima, topografia, solo e limitações da cultura representa a maneira para o fazer um cultivo de qualidade, produtivo e rentável.

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