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Opções de folhosas para cultivo hidropônico

Autor

Jorge Barcelos
Professor – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e diretor do Labhidro
j.barcelos@ufsc.br

A escolha das folhosas pode exigir experiência. Na hidroponia, antes de definir qual folhosa se pretende plantar, é bom levar em consideração o grau de experiência nesse tipo de cultivo. Há os experientes no ramo, os que já deram os primeiros passos ou fizeram algum curso e os amadores.

O produtor experiente tem a vantagem de conhecer o sistema e a terminologia utilizada, além de ter uma rede estabelecida de fontes de informações. Ao decidir por ampliar seu portfólio, tudo que ele precisa é se adaptar à nova cultura. Não estará imune às dificuldades, mas terá mais facilidade ao enfrentá-las.

Por outro lado, produtores menos experientes e os iniciantes costumam optar por verduras mais populares, de manejo mais simplificado, tal como a alface crespa, que é mais rústica. Com essa estratégia, o produtor consegue reduzir a quantidade de problemas, de modo que ganha tempo para conhecer o sistema de produção hidropônico e para acumular experiência.

Portanto, considerando que existem plantas com manejo “mais complicado e menos complicado”, ter ou não ter experiência no ramo da hidroponia torna-se um fator muito importante na escolha da folhosa.

Seria um engano fatal acreditar que não há muita diferença entre uma hortaliça e outra (alface, almeirão, agrião, rúcula, couve, chicória…). Geralmente são apenas detalhes, mas que fazem toda a diferença quando a planta atinge o ponto de colheita. As diferenças podem ir muito além dos detalhes, como é o caso de folhosas extremamente complicadas, a exemplo das alfaces americanas, que deixam o produtor de cabelo em pé.

É recomendável que o produtor iniciante evite a americana, pois mesmo os mais experientes passam por extremas dificuldades. Geralmente nem conseguem produzi-la.

Diferenças nutricionais entre folhosas

Muitos se perguntam: A necessidade nutricional do agrião é igual à da alface? A resposta é “sim” e “não”. Em termos técnicos, dificilmente uma cultura (agrião, alface, couve…) teria as mesmas necessidades em relação a outra cultura. Mas, na prática, é possível sim cultivar ambas na mesma solução nutritiva hidropônica. Ou seja, ter alface e agrião sendo atendidos pelo mesmo reservatório de solução.

Naturalmente, é mais recomendável separar tipos de plantas em sistemas independentes um do outro. Afinal, uma cultura como o agrião vai exigir uma pitada a mais de ferro, por exemplo.

Mas as diferenças podem ir mais longe ainda. Embora os produtores costumem colocar diferentes tipos de alface (crespa, lisa, mimosa, americana…) sob o mesmo reservatório, sabe-se que um tipo de alface é muito diferente do outro. Isto, claro, sob um ponto de vista mais criterioso.

E se você pensa que acabou por aí… ledo engano! Assim como o técnico, o produtor experiente sabe que há diferenças, muitas vezes gritantes, mesmo entre cultivares. Uma alface crespa X pode ser muito diferente da crespa Y. Traçando um paralelo, é como se fosse uma grande família de gêmeos: olhando de longe parecem iguais, mas olhando de perto, percebe-se que não há semelhanças. Isso sugere que no futuro cada cultivar terá uma formulação específica.

Diferenças de manejo

Da mesma forma, quem tem mais intimidade com as cultivares de alface (por exemplo), sabe que até a aparência das mesmas diferem entre si. Coloração, arquitetura, número de folhas, sabor, necessidade nutricional, necessidade de espaçamento, velocidade de crescimento, resistências… e outros tantos parâmetros típicos de cada cultivar.

Atualmente, na prática, o produtor não consegue satisfazer as reais necessidades de cada cultivar, pois há poucas informações. O número de pesquisadores na área da hidroponia é insignificante, por enquanto. A tendência, para um futuro próximo, é ter um aumento significativo de pesquisadores se dedicando ao cultivo hidropônico.

O Simpósio Brasileiro de Hidroponia, organizado pela UFSC, em Florianópolis, de forma bianual, tem estimulado a realização e apresentação de trabalhos científicos. Percebe-se, a cada evento (2014, 2015, 2016 e 2018), que está se formando uma nova geração de pesquisadores, sedentos por novas tecnologias. Espera-se que alguns desses trabalhos sugiram manejos diferenciados para cada cultura e para cada cultivar.

Plantas “problema”

Tem sido comum o produtor se preocupar apenas com a fórmula de adubos. Se ele pretende plantar chicória, então vai atrás de formulação para chicória e pronto. Vimos anteriormente que a formulação diz respeito apenas às necessidades nutricionais, e que na verdade existem um conjunto de fatores que devem ser considerados.

A complexidade desses fatores pode, no conjunto, caracterizar a planta como de fácil manejo ou bem pelo contrário, conforme as exigências e sensibilidades da cultura que as tornam verdadeiramente um problema. Conseguir cultivá-las de forma adequada pode se tornar uma façanha e resultado de muita atenção e dedicação.

Vejamos o caso da cultura da alface tipo americana. Ela está na lista das hortaliças extremamente difíceis de manejar. Mesmo os produtores mais experientes sofrem para produzi-la. A maioria desiste, principalmente nas estações quentes.

Então, os iniciantes podem, se assim preferirem, passar longe dessa cultura. Esses podem dar seus primeiros passos com a alface tipo crespa, que é naturalmente mais rústica.

Folhosas indicadas para o sistema hidropônico

Ü Alface: sempre será uma ótima opção, pois, por alguma razão, é uma folhosa que o consumidor não se importa de consumir diariamente, sem enjoar. Então, sempre terá mercado. O produtor pode explorar a questão das cultivares com suas características peculiares: folhas graúdas ou pequenas, macias ou crocantes, verde escuro ou clara, vermelha ou roxa, doce ou amarga, lisa, crespa ou retalhada, soltas ou na forma de cabeça… Pode, inclusive, comercializar na forma adulta, baby, “microgreen” ou higienizada (folhas soltas e embaladas).

Ü Rúcula: a rúcula hidropônica é tão diferenciada que a população voltou a consumi-la quando ela já estava no esquecimento, exceto em alguns países, como Itália. O produtor que vende alface pode facilmente vender a rúcula. Um casamento perfeito e já consagrado.

Ü Agrião da água e agrião da terra: o agrião da água, cultivado na hidroponia, não fica com o caule tão grosso e, portanto, é mais apreciado por permitir que seja totalmente aproveitado. No sistema NFT o produtor costuma colocar uma tela sob os canais de cultivo para evitar que os ramos caiam. Ficando pendurados para baixo, a tendência seria engrossar o caule. Já o agrião da terra (ou do seco) é melhor se consumido mais novinho, quando é menos fibroso. Historicamente, vem sendo utilizado para fazer o xarope “Melagrião”.

Ü Chicória ou escarola: tem demanda limitada, mas é muito apreciada, principalmente quando refogada. Quando vendida para cozinhas industriais, pode ter um grande volume de saída.

Ü Couves de folha: conforme a região, o mercado é enorme. Em Minas Gerais, os hidroponistas costumam incluir a couve nas suas hortas. Na região sul, o consumo é muito limitado, mas se o produtor optar por vender minimamente processado (picado e embalado) e para cozinhas industriais, não há restrições de venda, mesmo na região sul. Há, também, as couves kale, muito procuradas, mas por um público muito seleto e restrito.

Ü Espinafre: existe o espinafre japonês (Spinacia oleracea) e o espinafre nova zelândia (Tetragonia tetragonioides). O mais popular no Brasil é o nova zelândia, que se desenvolve em ramos e é mais adequado se consumido refogado. Quase desconhecido dos brasileiros é o espinafre verdadeiro ou japonês, que é mais consumido na forma de salada. É o mesmo espinafre do ‘Popeye’. Este, por ser novidade e por não precisar refogar, tem um bom potencial, mas precisa ser apresentado aos poucos ao consumidor.

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