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Orgânicos – A evolução do café

Autor

Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Júlio Cesar Ribeiro
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Ciência do Solo – UFRRJ
jcragricola@hotmail.com

A produção de café tem passado por uma série de transformações nos últimos anos, influenciada por mudanças nos hábitos do consumidor moderno. Estas mudanças estão sendo impulsionadas pelo consumo consciente, com valorização das boas práticas agrícolas e pela busca por produtos diferenciados e de alta qualidade. 

A produção de café orgânico visa atender a estas demandas, o que tem gerado oportunidades de mercado em diversas regiões e mostrado, ainda, ser um nicho lucrativo e com grande potencial de crescimento.

No mundo, a área de produção de café orgânico quintuplicou desde o ano de 2004. Estudos feitos pela empresa Technavio preveem que o mercado global de café orgânico crescerá 13% entre o período de 2017-21. Estima-se, ainda, que aproximadamente 934.000 hectares das áreas mundiais cultivadas com café no ano de 2016 foram conduzidos sob manejo orgânico, o que representa 8,5% do total, conforme a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 

O Brasil, apesar de ser o maior produtor mundial do grão, ainda não possui estatísticas oficiais quanto à parcela representada pelos orgânicos. No entanto, segundo a Associação de Café Orgânico Brasileiro (ACOB), a produção nacional tem crescido nos últimos anos, sendo Minas Gerais, Bahia, Paraná e Espírito Santo os maiores Estados produtores do grão orgânico.

A produção

Os produtores que desejarem ingressar nesse segmento produtivo necessitam conhecer os princípios que regem a agricultura orgânica e estarem receptivos a mudanças quanto ao manejo da cultura. É necessário conhecer os regulamentos nacionais e internacionais que visam atestar a origem e a qualidade do produto. Dessa forma, a produção deverá estar certificada.

No Brasil, as regras para se produzir e comercializar produtos orgânicos constam na Lei dos Orgânicos (Lei Federal 10.831/2003) e Instruções Normativas (IN) como a IN 46/2011 e IN 17/2014.  Nestas, é detalhado todo o processo de certificação. No entanto, caso o produtor tenha como objetivo a exportação dos grãos, é necessário ir além, adequando e certificando a sua produção conforme os regulamentos dos países aos quais se pretende comercializar.

Os principais mercados internacionais do café orgânico brasileiro são a União Europeia, Estados Unidos e Japão. Apesar das normas dos orgânicos destes países apresentarem grande parte dos requisitos comuns ao mostrados nas normativas brasileiras, existem alguns pontos distintos, sendo, por isso, necessária uma certificação específica.

A título de exemplo, as normas brasileiras exigem que o período de conversão de uma lavoura convencional para uma lavoura orgânica de café e outras culturas perenes seja de no mínimo 18 meses, enquanto nos regulamentos internacionais é exigido o mínimo de 36 meses.

Manejo

A produção de café orgânico se baseia principalmente na melhoria das condições de qualidade do solo, com incremento de matéria orgânica, diversificação da vegetação, manejo do ambiente, controle biológico e uso de produtos alternativos, como caldas e biofertilizantes.

O primeiro passo a ser seguido é a escolha de cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas da região e que apresentem ainda, características como boa produtividade, qualidade da bebida, época de maturação, resistência ou tolerância a patógenos e pragas, dentre outras. Aliado a isso, recomenda-se a utilização de mudas sadias, bem desenvolvidas, de procedência certificada e aclimatadas.

Antes da implantação da lavoura deve ser feita a análise do solo visando identificar possíveis deficiências que possam comprometer o desenvolvimento inicial das mudas. Diante disso, práticas de correção do solo, como a calagem, podem ser requeridas visando assegurar boas condições de fertilidade para o plantio.

Ainda, é importante a adoção de práticas conservacionistas, assim como o plantio de espécies arbóreas como quebra-ventos. A arborização dos cafezais, por sua vez, tem sido uma prática frequente e com resultados positivos em diversas regiões do País.

Nos sistemas orgânicos, em função da necessidade de diversificação dos cultivos, é recomendado o aumento do espaçamento nas entrelinhas, o que permite o plantio de culturas intercalares como o feijão e milho, e que possibilita rendimentos adicionais ao produtor.

Outra possibilidade é o uso de adubos verdes, como as leguminosas crotalária, guandu e lab-lab, por exemplo. A manutenção da cobertura viva e uso da adubação verde apresentam diversos benefícios, como a proteção do solo, aumento do teor de matéria orgânica e nutrientes, da atividade biológica no solo, e população de polinizadores e de inimigos naturais de pragas, além de redução da ocorrência de plantas espontâneas.

Adubação

O manejo da fertilidade deve ser feito sempre com base nos valores encontrados na análise do solo ou dos tecidos foliares. Além da adubação verde, o uso de compostos orgânicos, estercos compostados e de biofertilizantes também deve ser considerado.

Os biofertilizantes, além de atuarem como fonte de macro e micronutrientes, colaboram para a proteção das plantas contra o ataque de patógenos e pragas. As adubações devem ser feitas de forma equilibrada e considerando sempre os insumos permitidos pela certificadora.

Controle de pragas e doenças

Com relação ao manejo fitossanitário, a ocorrência de doenças como a ferrugem, mancha-de-olho-pardo, mancha-de-ascochyta e mancha-de-phoma; e de pragas como o bicho-mineiro e a broca, podem, a depender da intensidade do ataque, comprometer a produção.

Dessa forma, o produtor deve lançar mão de ações preventivas e integradas de manejo da cultura, do solo e ambiente. Um adequado monitoramento do nível desses ataques também é necessário. No caso da ferrugem e da broca do café, por exemplo, o controle é indicado quando a incidência for superior a 5% dos talhões, percentagem que já causaria dano econômico.

Dentre as estratégias para a redução dos danos causados por patógenos e pragas que podem ser exemplificadas, estão o adequado manejo da fertilidade do solo, uso de mudas de qualidade, manutenção de vegetação sobre o solo (nunca deixar o solo descoberto), aumento do teor de matéria orgânica, adoção de espaçamentos maiores e instalação de quebra-ventos.

A utilização de cultivares resistentes ou tolerantes, quando disponíveis, bem como a diversificação de variedades, é uma forma eficiente e que deve ser considerada. Cultivares com resistência à ferrugem, tolerância aos nematoides de galhas e ao bicho-mineiro têm sido disponibilizadas por instituições de pesquisa privadas e governamentais. 

O uso de caldas alternativas e protetoras também é uma possibilidade no manejo. No entanto, devem ser consideradas as restrições impostas pela certificadora.

Controle de ervas daninhas

O cafeeiro é sensível à competição com plantas espontâneas, especialmente durante o período de crescimento inicial e de florescimento e frutificação, sendo necessário, portanto, manter as entrelinhas sempre roçadas.

A utilização de adubos verdes, consórcios, e a manutenção da cobertura morta são formas de melhorar a qualidade do solo, aumentando o teor de umidade, matéria orgânica e de nutrientes, o que também favorece a redução da ocorrência de plantas espontâneas.

Tratos culturais

A colheita e pós-colheita do café orgânico deve ser feita com planejamento, como forma de garantir melhores resultados. Recomenda-se a colheita seletiva, isto é, coletar somente os grãos maduros ou ‘cerejas’, o que resulta em qualidade superior do produto.

Os procedimentos durante estas fases são, de forma geral, similares aos adotados no café convencional. Como forma de aumentar a eficiência e sustentabilidade, a água utilizada no processo de beneficiamento (que é rica em nutrientes) pode voltar aos cafezais na forma de irrigação ou fertirrigação, e os resíduos sólidos, como a casca, podem ser reaproveitados na adubação da lavoura e produção de mudas.

Agregado de valor

O café orgânico tem se consolidado como um produto de valor agregado e com crescimento no mercado tanto nacional quanto internacional. Os rendimentos obtidos com a sua comercialização são superiores ao do café produzido na forma convencional.

Além da valorização do produto obtido de forma mais sustentável, investir na qualidade da bebida também influencia na fidelização do consumidor e na maior margem de lucro.

O café orgânico comum, de forma geral, proporciona prêmios de 30 a 50%, enquanto o café orgânico especial certificado pode proporcionar prêmios de 75 a 150%. Dessa forma, mostra ser uma atividade vantajosa e que tem recebido investimentos no desenvolvimento de novas cultivares, tecnologias e práticas de manejo, visando um mercado mais seleto e crescente.

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