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Orgânicos: Respeito à natureza e diversificação de culturas

Autores

Vitor Muller Anunciato  vitor.muller@gmail.com

Roque de Carvalho Diasroquediasagro@gmail.com

Leandro Bianchi leandro_bianchii@hotmail.com

Samara Moreira Perissatosamaraperissato@gmail.com

Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia – UNESP/FCA

Café – Crédito: Shutterstock

O Brasil cultiva cinco mil hectares com café orgânico e a produção tem oscilado entre 80 mil e 100 mil sacas por safra

A agricultura orgânica é um modelo que propõe o cultivo das mais variadas culturas, entre elas o café orgânico, sem o uso de produtos químicos. O enfoque sistêmico dessa produção privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade e os ciclos biogeoquímicos.

A lavoura orgânica é manejada com o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, promovendo a manutenção da biodiversidade e o desenvolvimento econômico. Esse cultivo fundamenta-se, principalmente, em dois princípios: respeito à natureza e diversificação de culturas, que propicia maior abundância e diversidade de inimigos naturais.

No Brasil e no mundo

Devido à crise do café convencional em 2000, muitos produtores migraram para o sistema orgânico, principalmente pela possibilidade de venda a preços superiores. No período de 2005 até 2010 a produção de café orgânico manteve-se numa média anual de 70 a 80 mil sacas.

Nos últimos anos, de acordo com a Associação de Cafés Orgânicos do Brasil (Acob), a produção nacional de café orgânico tem oscilado entre 80 mil e 100 mil sacas por safra, com perspectivas de aumento. Segundo a International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) & Research Institute of Organic Agriculture (FiBL), o Brasil destina quase 5 mil hectares para a produção de café orgânico, representando 0,2% da área de café, enquanto no mundo essa área é de 770 mil hectares.

Os principais países produtores de café orgânico certificados são México, Etiópia, Peru, Guatemala, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Brasil e Colômbia. A produção mexicana foi a primeira a ter a certificação orgânica e, atualmente, é o maior produtor mundial.

No Brasil, as principais regiões produtoras de café orgânico são o Espírito Santo, Sul de Minas e o interior de São Paulo, além dos Estados da Bahia, Ceará e Paraná.

Custo x rentabilidade

A saca do café orgânico geralmente custa o dobro da saca de café tradicional. Sendo assim, mesmo com o mercado pequeno, com custos de produção em torno de 20 a 30% superiores ao convencional, a produção orgânica de café é lucrativa e sustentável. O mercado para o café orgânico tem crescido sensivelmente, principalmente no exterior, oferecendo boa demanda pelo produto, e preços mais altos que os pagos pelo produto convencional.

Pesquisas confirmam que os consumidores dos países desenvolvidos estão dispostos a pagar entre 15 e 20% a mais pela bebida orgânica.

Produtividade

A produtividade dos cafezais orgânicos interfere diretamente na decisão dos produtores em adotar a cafeicultura orgânica. Em geral, a produtividade de café orgânico é 20 a 30% inferior à do café convencional, principalmente nos primeiros anos de produção.

Após a fase inicial de adaptação e recuperação do solo, a produtividade pode voltar ao nível normal, ou até mesmo superá-lo. Isso ocorre porque o potencial produtivo das lavouras orgânicas é determinado pelo grau de equilíbrio do agroecossistema. Isto é, nesses sistemas as plantas devem produzir sem se esgotarem e sem necessidade de altos inputs, mediante o estabelecimento de uma interação equilibrada dos principais elementos do sistema de produção – solo, água, biodiversidade, cafeeiro e manejo fitotécnico.


Não confunda

Na cafeicultura orgânica não se utiliza o termo “produtividade máxima econômica”, sendo mais adequado pensar na “produtividade biológica” que o sistema de produção equilibrado pode suportar, sob influência direta da criatividade e ações do cafeicultor. Isso exige acompanhamento e observação constante da lavoura.

Diversos produtores julgam que não é correto afirmar que o cafezal orgânico não produz, pois verificaram que essa situação ocorre quando o manejo da lavoura não é adequado. Em geral, os melhores preços pagos ao café orgânico permitem que o cafeicultor conviva com menor produtividade.

A maior vantagem do sistema orgânico de produção é a autossuficiência do cafeicultor, que se torna independente da indústria, por não utilizar defensivos e fertilizantes químicos. Ele fica em posição mais confortável para enfrentar eventuais crises no abastecimento desses insumos, principalmente daqueles derivados do petróleo ou dependentes dessa fonte energética para sua fabricação.


Fatores de sucesso

Segundo a Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (ACOB), para que se obtenha sucesso na produção de café orgânico deve-se estar atento a diversos fatores, como: condições climáticas favoráveis ao cultivo e à qualidade do café – a escolha correta da espécie para determinada localidade; solos, relevo, matéria orgânica e mão de obra – relevo, tipo, fertilidade e disponibilidade de matéria orgânica; equilíbrio ambiental – evitar a pressão de pragas e doenças; aptidão do cafeicultor orgânico – visão ecológica e sistêmica, conhecimento técnico e mercadológico e gestão responsável (familiar ou profissional); acesso a técnicas agroecológicas e inovadoras – manejo nutricional e integrado de pragas, doenças e plantas daninhas; condicionamento climático – quebra-ventos e arborização de cafezais e, por último, o acesso a técnicas de manejo pós-colheita – pré-processamento via seca ou via úmida, secagem, beneficiamento e armazenagem.

Para se tornar um cafeicultor orgânico

A Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (ACOB) destaca os principais passos para se tornar um cafeicultor orgânico, dentre eles:

Ü Conhecer os diferentes regulamentos: dependendo do mercado de destino do café, é necessário seguir um determinado regulamento de agricultura orgânica. Os principais mercados consumidores de café orgânico e seus respectivos regulamentos são: União Europeia: CE 834/07 e CE 889/08, Estados Unidos: National Organic Program (NOP), Japão: Japanese Agricultural Standard (JAS) e Brasil: Lei 10.831/03, Decreto 6.323/07 e INs. Atualmente, a agricultura orgânica está regulamentada em mais de 80 países.

Ü Iniciar o período de conversão cumprindo os requisitos dos regulamentos: período de conversão é o tempo mínimo entre a última aplicação de substâncias proibidas e a primeira colheita do café como orgânico, em que os requisitos dos regulamentos devem ser cumpridos. No Brasil, tanto no café quanto em outras culturas perenes, deve-se respeitar o prazo de 18 meses e culturas anuais ou pastagens, 24 meses.

Ü Guardar comprovantes desde o início do período de conversão: para que seja possível o reconhecimento retroativo do período de conversão, o produtor deve guardar: comprovantes da data de início do período de conversão; registros (anotações) de todas as operações envolvidas na produção, p. ex.: data, serviço realizado, tipo e quantidade de insumos aplicados, nome do talhão, quem realizou as operações e comprovantes de treinamento de produtores e trabalhadores sobre os princípios, práticas e regulamentos da agricultura orgânica.

Ü Buscar a certificação orgânica: a certificação orgânica é o ato pelo qual um organismo credenciado de avaliação da conformidade dá garantia por escrito de que uma produção ou um processo claramente identificado foi metodicamente avaliado e está em conformidade com as normas de produção orgânica vigentes. As opções de certificação são: individual ou grupo de pequenos produtores (com sistema de controle interno). Já a primeira inspeção deve ocorrer no início ou final do período de conversão (com reconhecimento retroativo).

Para comercializar no Brasil há dois mecanismos de controle para a garantia da qualidade orgânica: certificação por auditoria (Certificadoras) (individual ou em grupo) ou sistemas participativos de garantia. O produtor deve entrar em contato com uma das certificadoras ou sistemas participativos credenciados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Para comercializar no exterior o produtor deverá entrar em contato com uma das certificadoras acreditadas de acordo com os regulamentos internacionais que atuam no Brasil, por exemplo: Ecocert, IBD Certificações, Kiwa BCS Öko-Garantie, Organización Internacional Agropecuaria (OIA), entre outras.

No processo de certificação por auditoria o produtor (ou grupo de produtores) entra em contato com uma certificadora que apresentará as diretrizes para o Plano de Manejo Orgânico (PMO), e assim fará inspeções para verificar o cumprimento do regulamento.

– O Brasil produz 80 a 100 mil sacas por safra

– Área Brasil – 5 mil hectares

– Área mundial – 770 mil hectares

– Os principais países produtores de café orgânico certificados são México, Etiópia, Peru, Guatemala, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Brasil e Colômbia.

– A produção mexicana é o maior produtor mundial.

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