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Percevejo barriga-verde

Rafael Rosa RochaEngenheiro agrônomo, mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – UNEMAT rafaelrochaagro@outlook.com

Elizangela Carniel eliz_carniel@hotmail.com

Kátila de Freitas Bento katilafreitas915@gmail.com

Engenheiras agrônomas e pós-graduandas em Solos e Nutrição de Plantas – USP/ESALQ

Percevejo- Fotos: Shutterstock

Quando se trata das principais pragas em diferentes cultivos no Brasil, percevejos estão entre elas, e quando refere-se ao cultivo de milho safrinha, podem causar perdas de 60% até mais na produtividade, quando o ataque intenso se dá em plântulas.

Pensando principalmente em milho safrinha, que sofre ataque de populações mais altas, pois se trata de um cultivo sucessivo à soja, é importante falarmos sobre o manejo do percevejo barriga-verde de forma a proteger as plantas para que elas tenham condições de expressar todo seu potencial produtivo.

Para iniciar os cuidados e para que esses tenham maior eficiência, é necessário conhecer essa praga-chave na cultura do milho safrinha. O percevejo barriga-verde tem cerca de 10 milímetros de comprimento, possuindo coloração marrom, porém, seu abdômen possui coloração verde, além de “espinhos” laterais no protórax.

Uma maneira para diferenciação morfológica entre os dois percevejos barriga-verde (D. Furcatus e D. melacanthus) baseia-se no pronoto (os “espinhos”), localizado próximo à cabeça do inseto. No início, as ninfas têm coloração do preto ao avermelhado, esverdeado aos poucos, o ciclo biológico é em torno de 28 dias dos ovos à fase adulta e em relação à reprodução as fêmeas depositam os seus ovos escuros nos dois lados das folhas, nas vagens, no caule e nos ramos, em fileiras pares com 10 a 20 ovos por postura.

Em relação aos locais e abrigos, o principal para este inseto é a palhada “cobertura morta” do solo e até mesmo plantas daninhas, como por exemplo trapoeraba (Commelina spp.) e capim amargoso (Digitaria insularis). Nesses locais os percevejos podem encontrar alimento e um microambiente favorável para o seu desenvolvimento em épocas onde não é encontrado alimento.

Sintomas e prejuízos

Geralmente o percevejo ataca o colo da plântula de milho, causando injúrias características, circulares e sequenciais, ficando mais evidente à medida que as folhas se desenvolvem.

Esses danos causam deformações nas plântulas, amarelecimento das mesmas e podem resultar em perfilhamento do caule. Além disso, para sucção da seiva e alimentação, os percevejos injetam uma toxina no meristema de crescimento da planta, o que leva ao perfilhamento do milho e ao retardo no desenvolvimento e dominância, podendo até mesmo levar a planta à morte. 

Alguns danos, como o multiespigamento, formação de plantas sem espiga e problemas de polinização só poderão ser percebidos no momento pré-colheita. Dessa maneira, em geral, os ataques interferem diretamente na produtividade do milho, causando perdas significativas, inclusive no estande final de plantas, além de danos diretos quando o ataque se localiza nos grãos.

Regiões mais afetadas

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O percevejo-verde pode ser encontrado em todas as regiões produtoras de soja no Brasil e países vizinhos. Mas, particularmente na região centro-oeste, onde o milho safrinha é cultivado após a colheita da soja, D. melacanthus encontra condições de clima de diversidade alimentar que favorece a sobrevivência e a multiplicação do inseto a ponto de atingir populações que podem causar danos significativos à cultura, especialmente nos seus estádios iniciais de desenvolvimento.

Formas de controle

No milho safrinha existe uma preocupação maior, porque esses insetos vêm das culturas anteriores e a atenção deve começar antes mesmo de implementar a cultura no campo. E é nesse e em outros pontos que você deve ficar de olho.

O manejo correto dessa praga é muito complicado, já que o produtor está colhendo a soja, plantando o milho safrinha e muitas vezes não tem mão de obra suficiente para o manejo do percevejo. Todavia, em caso de erro no controle desta praga, o produtor corre o risco de ter que replantar toda a sua lavoura.

A tecnologia do milho geneticamente modificado (Bt), apesar de ser uma importante ferramenta para o controle de lagartas e de ser amplamente cultivada no Brasil atualmente, não apresenta efeito sobre os insetos da ordem Hemiptera, à qual pertencem os percevejos.

Para estes insetos, é imprescindível a intervenção por um outro método de controle quando a sua população atinge níveis elevados no campo, mas, também, medidas preventivas que garantem mais sucesso no controle e prevenção.

Visando minimizar os danos causados por esta praga no milho, alguns cuidados devem ser tomados, desde o manejo adequado e controle da praga na cultura da soja até a colheita do milho. E vamos rankear os mesmos.

1. Levantamento do histórico da área: o levantamento do histórico da área, levando em consideração as culturas antecessoras, pragas, doenças, defensivos agrícolas utilizados, cultivos realizados nas propriedades vizinhas, dentre outros aspectos, pode fornecer dados importantes. Com essas informações no levantamento é possível prever com mais precisão possíveis surtos populacionais desta praga na área de cultivo. 

2. Monitoramento da área: o monitoramento da área em pré-plantio e durante a condução da lavoura é de suma importância. Desta forma, o monitoramento deve sempre ser realizado em períodos pré-estabelecidos e intensificado nos períodos mais críticos do desenvolvimento da cultura.  O monitoramento dará uma maior capacidade de tomada de decisão, proporcionando uma decisão mais assertiva. Lembrando que o período crítico da cultura do milho é a fase inicial de desenvolvimento das plantas (V1-V4), e em se tratando de lavouras de milho safrinha, o monitoramento deve ser iniciado ainda na cultura anterior (soja), utilizando de pano-de-batida para possíveis ações de redução da população ainda na cultura da soja. E em relação ao monitoramento pré-plantio, é mais difícil, uma vez que os insetos tendem a se esconder sob a palha ou em plantas hospedeiras, em diapausa.

3. Dessecação antecipada: essa medida faz com que o inseto não tenha alimento e abrigo disponível durante o período de pousio da área, o que pode levar à quebra de seu ciclo biológico, diminuindo assim a população do inseto. Além do manejo de plantas daninhas, o uso de inseticida na dessecação ajuda a baixar o nível da população inicial dos insetos, realizando um controle inseticida complementar em áreas nas quais o controle de pragas não foi realizado adequadamente na cultura antecessora.

4. Controle cultural: o preparo convencional do solo diminui a população da praga, pois além de não disponibilizar abrigo (palhada) para o inseto, com a utilização da aração ocorre a morte do inseto devido ao dano mecânico causado pela ação do implemento e revolvimento do solo.

Outra medida de extrema importância é o controle de plantas daninhas, pois além de servir de abrigo, as plantas daninhas podem servir de alimento para os percevejos. Existem relatos de D. melacanthus e D. furcatus ocorrendo em áreas com plantas daninhas como a trapoeraba, crotalária, braquiária e capim-carrapicho, como também em outras plantas.

5. Tratamento de sementes: atualmente, o tratamento industrial ou “On Farm” de sementes é um dos métodos mais eficazes no controle do percevejo barriga-verde. Sua utilização é sempre aconselhável para minimizar os danos causados por este inseto e reduzir a população da praga no momento de implantação. E, no mercado, existem diversos produtos de excelência e com alto residual de controle na área, o que auxilia ainda mais o controle dessa praga.

Alerta

Outro ponto positivo e de alerta que muitas das vezes se passa sem ser citado é:

Equilíbrio na nutrição de plantas: nos estágios iniciais de desenvolvimento as plantas são mais susceptíveis e merecem maiores cuidados. Assim, a adubação adequada e equilibrada proporcionará à planta melhor desenvolvimento e rápido estabelecimento.

Controle químico para percevejo barriga-verde: em áreas com a presença dessa praga é fundamental a aplicação de combate. Geralmente, em área com alta incidência a aplicação de inseticida após a germinação, mesmo com a utilização do tratamento de sementes, se faz necessária. Muitas vezes, dependendo da percentagem de percevejo na área, é necessário utilizar inseticidas de contato na dessecação. No mercado existem produtos que vêm demonstrando boa eficiência no controle desta praga.

Para o manejo do D. melacanthus existem diversos produtos à base de neonicotinoide, piretroide, metilcarbamato e organofosforado para a cultura do milho. Para o D. furcatus esse número é um pouco menor, mas ainda assim existem opções.

Sempre levar em consideração a rotação e atenção para realizar o uso alternado de princípios ativos dos inseticidas, já que isso é fundamental para diminuir a probabilidade do surgimento de populações resistentes e também é importante evitar as aplicações em períodos em que a praga está abrigada, como durante a noite, em dias chuvosos ou com temperaturas amenas.

Nível de controle

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) visa a integração de diversos métodos e estratégias de controle, compreendendo a dinâmica populacional e o ambiente, objetivando manter o nível populacional abaixo do Nível de Dano Econômico (NDE). 

O Nível de Controle (NC) é o limiar que justifica a adoção de alguma metodologia de controle. Abaixo deste valor a praga, mesmo que presente na área, não causará um dano econômico significativo, e a princípio não é necessária a aplicação de nenhum método de controle. 

Para o percevejo barriga-verde o NDE é de 0,8 percevejo por metro quadrado, ou seja, uma população de percevejo maior que 0,8 percevejo por metro quadrado é potencialmente causadora de dano econômico. 

Como nas fases iniciais o milho é mais suscetível ao ataque desta praga, o NC recomendado é de 1,0 percevejo a cada 10 plantas amostradas. Com isso, é recomendado a utilização de algum método de controle sempre que a população for maior que 1,0 percevejo/10 plantas.

Erros

Os erros mais frequentes no combate estão inteiramente ligados à falta de monitoramento e segmentos de cuidados na área, antes da instalação do milho, durante e continuamente no ciclo da lavoura.

Esses erros devem ser evitados com o levantamento, monitoramento e utilização dos melhores produtos e ações, conforme a realidade do local, sempre levando em consideração a recomendação e instrução de um profissional.

O manejo de controle sem que sejam seguidas as instruções de especialistas e dos produtos, gera resultados desastrosos. Além de aumentar o custo de produção e favorecer a evolução da resistência dos percevejos, tais medidas provocam riscos à saúde e ao ambiente, aumentando os problemas com pragas secundárias de mais difícil controle.

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