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Pesquisas com clones de seringueira

Seringueira (Miriam Lins)

Lisandro de Proença Pieroni
Engenheiro florestal e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
lisandro.pieroni@hotmail.com
Lucas Antonio Benso
Engenheiro florestal e doutorando em Ciência Florestal – UNESP
benso.florestal@gmail.com
Cristiane de Pieri
Bióloga, doutora em Ciência Florestal – UNESP e docente do Curso de Engenharia Florestal – FAEF, Garça (SP)
pieri_cris@yahoo.com.br

A seringueira é uma espécie arbórea de grande porte e ciclo perene, que pertence à família Euphorbiaceae e ao gênero Hevea. Essa árvore é originária e amplamente distribuída na região amazônica, que compreende países como Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Brasil.
No Brasil, a seringueira encontra-se naturalmente distribuída nos Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Nordeste do Estado do Maranhão, Norte do Estado do Mato Grosso e Rondônia. Dentre as espécies de seringueira que ocorrem nessas regiões, a espécie Hevea brasiliensis é a mais explorada economicamente devido ao seu potencial produtivo.

Destino

O principal uso comercial da seringueira é para a produção de látex, a borracha natural, que possui propriedades de alto desempenho que não são encontradas na borracha sintética, produzida a partir do petróleo.
Essas propriedades incluem resiliência, elasticidade, resistência à abrasão e impactos, dispersão eficiente de calor e maleabilidade a baixas temperaturas. Por essa razão, a borracha natural é utilizada como matéria-prima na fabricação de mais de 50.000 produtos de diversos setores industriais, desde simples acessórios do dia-a-dia até instrumentos médicos.
Além disso, o cultivo da seringueira também oferece benefícios ambientais, pois contribui com a conservação do solo, sequestro de carbono da atmosfera e as árvores adultas podem ser utilizadas pela indústria madeireira, constituindo um sistema com duplo propósito comercial.

Regiões produtoras

No Brasil, a heveicultura representa uma importante atividade do agronegócio. Os plantios se concentram principalmente no Estado de São Paulo, responsável por mais de 50% da produção nacional.
A safra 2019/20 da produção paulista ficou em 247,7 mil toneladas de coágulo, 1,7% superior à produção da safra anterior, com produtividade média de 2,4 toneladas de coágulo por hectare.
A área total de plantio, com aproximadamente 135,5 mil hectares, está distribuída em 305 municípios paulistas, com destaque para as regiões norte e noroeste do estado. O município de São José do Rio Preto atualmente é a principal região produtora, seguido pelos municípios de General Salgado, Votuporanga e Barretos.

Produtividade

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A principal técnica para aumentar a produtividade dos seringais é a utilização de clones selecionados por programas de melhoramento genético. Essa técnica é utilizada pela sua relação custo-benefício ser vantajosa, principalmente a longo prazo.
Entre as principais vantagens da utilização de clones está a uniformidade do plantio em relação às características da planta e também das propriedades do látex, que possibilita ao produtor elaborar um manejo adequado, econômico e atendendo as expectativas do mercado.
Os clones utilizados nos programas de melhoramento genético, antes de serem utilizados em escala comercial, são testados em diferentes condições edafoclimáticas com o objetivo de verificar as interações clone x ambiente no desempenho de cada material.
Desta forma, é possível selecionar os clones mais produtivos para cultivo em cada região. Além dos aspectos relacionados à produção e produtividade dos clones, também são avaliadas características de crescimento e vigor das plantas, aspectos relacionados à casca (crescimento, espessura e regeneração), resistência a doenças, tolerância a ventos, seca do painel e fatores ambientais como solo, temperatura e déficit hídrico.
Todos esses parâmetros são avaliados para que a recomendação dos clones para plantio alcance o potencial máximo das interações clone x ambiente.

Clones disponíveis

Entre os principais clones comerciais utilizados estão: RRIM 600, GT 1, PB 217, PB 235, PR 255, PB 350, PR 261, IAN 873, IAC 35, IAC 40, IAC 300, IAC 301, IAC 302, IAC 500, IAC 502, IAC 505 e IAC 511.
Nas últimas décadas, diversas pesquisas foram realizadas com o objetivo de selecionar clones produtivos e adaptados a diferentes regiões do Brasil. Um aspecto importante do melhoramento genético é que ele permite a diversificação clonal nas áreas de plantio, o que garante a sustentabilidade nos seringais e minimiza os riscos de surtos de pragas e doenças comuns em monocultivos com baixa variabilidade genética.
Atualmente, as áreas produtivas são baseadas em um pequeno conjunto de clones, constituído principalmente dos clones PB 235, GT 1, PR 255, PB 217 e RRIM 600. O clone RRIM 600 é o mais cultivado, e por essa razão, geralmente é utilizado como parâmetro de comparação em testes de melhoramento genético.
Este clone é originário da Ásia e tem uma produtividade média de 1.250 kg de látex por hectare. Em novos clones selecionados pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), através de programas de melhoramento genético, esse valor de produtividade pode atingir até 38% de superioridade em relação ao clone RRIM 600, como é o caso dos clones da série 500 do IAC.
Além disso, o tempo para início da extração do látex nesses clones é menor, pois possuem casca mais espessa, maior número de anéis de vasos laticíferos e maior incremento do caule pós-sangria, atributos que garantem ao produtor um retorno financeiro maior em menor tempo.

Melhoramento em prol da sanidade

A técnica de melhoramento genético, além do fator produtividade, também auxilia os produtores com uma das principais limitações da expansão da heveicultura no país, os problemas fitossanitários.
A seringueira, assim como outras espécies arbóreas, é suscetível ao ataque de doenças que prejudicam e até limitam o estabelecimento da cultura em determinadas regiões. Entre as principais doenças da cultura, está o mal-das-folhas da seringueira, causado pelo fungo Pseudocercospora ulei.
Essa doença existe apenas na América Latina e foi responsável por epidemias e desastres econômicos principalmente no século passado. A ocorrência desta doença estava restrita à região amazônica, entretanto, já foi constatada sua presença em regiões de escape, como o Estado de São Paulo.
O controle dessa doença é difícil e a baixa variabilidade genética das plantas dificulta a seleção de clones resistentes à doença e com alta produtividade. Entretanto, recentemente, cientistas utilizaram pela primeira vez a técnica de edição genética CRISPR/Cas9 em seringueiras.
O uso desta técnica demonstra o potencial para modificações genéticas da seringueira como alternativa para expandir a variabilidade genética dessa espécie. Em outro recente trabalho desenvolvido pela Embrapa, foi possível identificar os mecanismos moleculares que tornam algumas espécies de seringueira suscetíveis e outras resistentes a essa doença.
Esses trabalhos evidenciam a importância dos estudos e do uso de técnicas de melhoramento genético na cultura da seringueira e como os resultados dessas pesquisas traçam novos caminhos na busca de soluções tecnológicas que ofereçam aos produtores plantas produtivas e resistentes.

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