29.6 C
Uberlândia
sexta-feira, outubro 4, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosGrãosPesticidas e doenças das plantas

Pesticidas e doenças das plantas

Jeisiane AndradeMestranda em Agronomia – ESALQ/USP

Paulo R. C. CastroProfessor Titular ESALQ/USPprcastro@usp.br

Milho – Fotos: Shutterstock

Pesticidas, agroquímicos, defensivos agrícolas ou agrotóxicos, como é atualmente nomeado pela Legislação Brasileira, são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, utilizados nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, pastagens, proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e ambientes urbanos, hídricos e industriais. Eles visam alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação dos danos de seres vivos considerados nocivos. Também são considerados agrotóxicos as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (MAPA, 2019).

Para a agricultura brasileira, além dos métodos de manejo preventivo, em algumas situações se faz necessário o uso de métodos curativos, como agrotóxicos, em virtude do clima tropical que favorece a proliferação de pragas e doenças, as quais podem causar grandes prejuízos às lavouras, podendo até inviabilizar a colheita do produto final.

Visto de perto

O uso dessas moléculas é supervisionado por engenheiros agrônomos de forma a minimizar as perdas na cultura e ao mesmo tempo evitar impactos ao meio ambiente e à saúde humana.

Em contrapartida, muitos produtos de ação sistêmica usados na agricultura para controle de pragas e doenças interferem diretamente no crescimento e no sistema bioquímico das plantas. Por exemplo, há relatos na literatura de que o inseticida diosulfoton já foi detectado em cevada, milho, feijão, aveia, ervilha, arroz, centeio, soja e trigo.

Pesquisas revelaram que o Diosulfoton aumentou a produção de trigo forrageiro em alguns estudos; em outros, aumentou consistentemente a produção de forragem e diminuiu a produção de grãos. Ainda que informações relacionadas às enzimas das plantas e às ligações de alta energia não fossem demonstradas, essa premissa foi declarada.

Nesse sentido, abordando outros componentes em experimentos com maçã e cereja, a aplicação de enxofre com cal suprimiu a fotossíntese líquida (Pn). A aplicação de enxofre flotado reduziu o conteúdo de clorofila foliar, o tamanho do fruto e causou coloração inadequada dos frutos de maçãs. A calda bordalesa suprimiu a parte aérea e diminuiu temporariamente a PN.

O caso dos hormônios

Por muitos anos a discussão sobre o etileno esteve em ascensão, no sentido de conscientizar as pessoas de que ele necessita ser considerado um hormônio vegetal endógeno, que está intimamente ligado à regulação da maturação e do desenvolvimento vegetal.

Considerando para a agricultura, seu uso prático para o crescimento de plantas é restrito, por ser um gás relativamente insolúvel. Todavia, para transpor essa barreira de uso, empresas privadas sintetizaram e disponibilizaram no mercado o ácido 2-cloroetilfosfônico (ethephon), ou uma mistura do ácido e seus ésteres e anidrido, nomeado Ethrel. Comercializado na fração líquida, a pulverização desse produto libera etileno diretamente para a planta quando o pH da solução é elevado, como resultado do contato com o tecido vegetal.

Ao ser utilizado em pesquisas, observou-se que, de acordo com a concentração de Ethrel pulverizada sobre as plantas e o momento de aplicação (pré e pós-tratamentos), a quebra de dormência e a brotação das plantas foram influenciadas. Os resultados mostraram que em condições de armazenamento com altas temperaturas ou por apenas um curto período a 5°C, a germinação do gladíolo acontecia de forma precoce quando usado na concentração de 1.000 ppm, porém, quanto mais fria fosse a condição do armazenamento, menor era o efeito do Ethrel.

Já se a condição fosse a seguinte: tubérculos tratados com concentração de Ethrel mais elevada, comparada à dosagem anterior, ocorria um atraso na germinação. Entretanto, para análises experimentais em pós-colheita os resultados não sofreram interferência com o uso do biorregulador.

Gladíolos tratados com ethephon tiveram sua brotação dos tubérculos aumentada, quando armazenados a 30°C, e também houve um aumento na proporção de tubérculos produzidos. Contudo, observou-se sintomas típicos da podridão de Fusarium, estimulando o crescimento do fungo interno latente.

Resultados

Quando se adicionou ethephon aos fungicidas testados, verificou-se que a eficácia de controle sobre F. oxysporum foi aumentada. Além disso, o uso de ethephon aumentou a permeabilidade dos tubérculos ao benzoato de metiletil mercúrio, levando-se à conclusão de que o biorregulador melhora a eficiência desse fungicida e provavelmente de outros fungicidas, devido à ação de facilitar a penetração da molécula nos tubérculos de gladíolo.

Quando armazenados a 10°C, os tubérculos tratados com ethephon foram mais acometidos pelo Fusarium do que quando armazenados a 30°C. Presumivelmente, isso acontece em função do estado mais profundo de dormência a 30°C, o que resulta em menos nutrientes disponíveis para o fungo.

Em outro experimento, considerando a cultura de milho, quando submetido à aplicação de ethephon, houve aumento na granação do milho, enquanto tratamentos combinados de ethephon e ausência do fungicida aumentaram a podridão dos grãos, o que provavelmente se deve a alterações na permeabilidade do tecido, permitindo um crescimento mais vigoroso dos microrganismos.    

Mais experimentos

Adicionalmente, pesquisas na Estação de Experimentação Agrícola de Delaware (EUA) o uso de óleo em pulverização, ceras ou outros aditivos com uma aplicação de cobre, fizeram com que as plantas aparentassem uma cor verde escura e menor altura. Isso ocorria quando as plantas eram submetidas a repetidas pulverizações de cobre, ou onde certos aditivos eram usados para melhorar o desempenho bactericida das aplicações.

Em síntese, se faz necessário acompanhar os resultados de experimentos conduzidos pela comunidade acadêmica, para agregar resultados benéficos à prática,  de modo a combinar métodos preventivos e ferramentas curativas, como os agroquímicos, de forma segura, por meio de uma análise prévia criteriosa das condições sanitárias da lavoura para um manejo eficiente que atenda às necessidades da cultura e alcance a satisfação do produtor rural.

Para tanto, é essencial que as lavouras sejam monitoradas e as aplicações de fitoquímicos sejam gerenciadas por um engenheiro agrônomo.

ARTIGOS RELACIONADOS

Brasil importa 80% do óleo de girassol

Nos últimos anos, houve um aumento no consumo dos subprodutos de girassol no Brasil, sendo este impulsionado pela comprovação da excelente qualidade nutricional do óleo comestível extraído de seus grãos.

Silício é opção no controle da Phytophthora em pimentão

  Douglas José Marques Professor de Olericultura e Melhoramento Vegetal da Universidade José do Rosário Vellano-UNIFENAS douglas.marques@unifenas.br Hudson Carvalho Bianchini Professor de Fertilidade do Solo da UNIFENAS O pimentão...

Baixas temperaturas e excesso de chuvas: saiba o que pode afetar sua lavoura

A agricultura é uma atividade extremamente dependente de condições climáticas e, mesmo empregando as melhores técnicas de plantio, a cultura pode sofrer estresses no início do seu ciclo, que colocam em risco seu potencial produtivo.

Silício tem atuação direta na produção de alface

Rodrigo Vieira da Silva Professor, doutor em Fitopatologia e diretor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Instituto Federal Goiano - campus Morrinhos rodrigo.silva@ifgoiano.edu.br Bruno Eduardo Cardozo de...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!