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Pistache em alta: da mesa à saúde

Fellipe Kennedy Alves Cantareli
Doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Goiás (UFG)
cantareli@discente.ufg.br
Gessiele Pinheiro
Mestranda em Agronomia – UFG
gessielpca@gmail.com
Eli Regina Barboza de Souza
Doutora e professora – UFG
eliregina@ufg.br

O pistache (Pistacia vera) é uma árvore de médio porte, pertencente à família Anacardiaceae, amplamente cultivada por suas sementes comestíveis e muito apreciadas no mercado internacional. Tendo como centros de origem a Ásia Central e o Oriente Médio, o pistache é conhecido por ter adaptabilidade a climas semiáridos, tolerando altas temperaturas e solos pobres em nutrientes. Seu fruto, uma drupa contendo uma semente oleaginosa, é muito valorizado por seu sabor intenso, alto valor nutricional e aplicações diversas na indústria de alimentos e produção de cosméticos.

Além disso, o pistache possui propriedades antioxidantes e é uma boa fonte de proteínas, fibras e gorduras, o que contribui para sua popularidade tanto no consumo direto quanto no processamento na indústria alimentícia.

Vantagens econômicas
O cultivo de pistache, principalmente em regiões semiáridas, pode oferecer vantagens econômicas significativas aos produtores devido à sua resistência à seca, por ter uma eficiência considerável no uso da água e por apresentar potencial de mercado tanto para o consumo interno quanto para exportação. Essas características fazem do pistache uma cultura viável e lucrativa, mesmo em ambientes onde a maioria das culturas enfrenta dificuldade no seu desenvolvimento. A principal vantagem econômica do cultivo de pistache é sua adaptabilidade a condições climáticas de seca, e por ter a capacidade em gerar renda significativa em um prazo mais longo. Se comparado a outras culturas, o pistache pode oferecer benefícios econômicos mais interessantes, sendo uma escolha atraente para regiões onde o fruto melhor se adapta.

Além dos limites
Por ser um fruto altamente tolerante à seca, o pistache pode se tornar a cultura ideal para regiões semiáridas, onde a escassez de água é um problema crítico. Isso permite que haja uma economia de água e, consequentemente, redução nos custos com irrigação, especialmente quando técnicas de irrigação deficitária são aplicadas. O uso de técnicas de irrigação deficitária controlada pode aumentar a eficiência do uso da água, mantendo a produtividade.

Solo e clima
Para que o cultivo do pistache seja eficiente, é importante garantir que as áreas onde a cultura será implantada tenham um clima com verões quentes e secos e invernos frios o suficiente para atender aos requisitos de horas de frio da planta. Também é importante que os solos destas regiões sejam bem drenados, com textura leve e baixa salinidade. Essas condições ajudam a mitigar os efeitos de condições climáticas extremas e otimizam o uso dos recursos hídricos.

Quanto ao clima, o pistache requer verões quentes e secos, com temperaturas ideais variando entre 25 e 35°C. A planta pode tolerar temperaturas extremas de até -20°C no inverno e 45°C no verão; porém, se houver a presença de geadas na primavera, que é o período em que a árvore do pistache emite suas brotações, a produção futura pode ser prejudicada. Quanto às horas de frio, as árvores de pistache necessitam de um período que varia entre 500 a 1.000 horas abaixo de 7,2°C, para que haja a quebra de dormência das gemas florais e, consequentemente, uma boa formação e desenvolvimento de frutos.

Solo ideal
Quanto às características ideais de solo, a árvore de pistache se desenvolve melhor em perfis com textura leve, como o franco-arenoso, sendo estes ideais para a produção de pistache com alta qualidade. É importante observar a profundidade dos solos da região, sendo que os rasos podem limitar o crescimento devido à menor capacidade de desenvolvimento radicular. Embora o pistache tolere solos salinos, altos níveis de salinidade podem reduzir a fotossíntese e o crescimento.

Desafios na maturação dos frutos
Inúmeros desafios são enfrentados pelos produtores de pistache, principalmente durante o período de maturação dos frutos, pois os problemas frequentes incluem a presença de pragas, doenças, cuidado com a nutrição, falta de frio no inverno e estresse ambiental. Algumas estratégias, como controle biológico, manejo nutricional e uso de reguladores de crescimento, podem ajudar a mitigar esses problemas e melhorar a produtividade das árvores.

Fitossanidade
Dentre as pragas que afetam a cultura, a traça-do-algarrobo (Ectomyelois ceratoniae) causa danos significativos, por atingir diretamente as nozes durante a maturação e armazenamento. No entanto, o controle biológico pode ser uma ferramenta eficaz, mas depende de respostas funcionais dos parasitoides utilizados no manejo. Além do problema com pragas, algumas doenças, como a podridão da coroa e das raízes, causadas por fungos do gênero Phytophthora, são uma ameaça emergente, especialmente em pomares recentemente plantados.

Nutrição ainda enfrenta desafios

Já no aspecto nutricional, a absorção de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio também é crucial, principalmente no período de enchimento das nozes. Em anos onde a produção é alta, a absorção de nutrientes aumenta significativamente, podendo, em caso de déficit nutricional, afetar diretamente a qualidade das sementes, o que pode comprometer a produção.

A falta de frio suficiente no inverno pode causar problemas, como a quebra errática da dormência dos botões florais, fazendo com que haja menor pegamento dos frutos e, consequentemente, menor rendimento.

O estresse ambiental severo e a privação de nutrientes podem causar desordens reprodutivas, sendo que o uso de reguladores de crescimento de plantas, quando necessário, e a nutrição foliar suplementar podem reduzir a abscisão de frutos e melhorar o rendimento.

Mercado global

O mercado global do pistache está em constante expansão, sendo previsto que haja um aumento na produção nos principais países produtores do fruto, como Irã, EUA, Turquia, China e Síria.

No entanto, a participação do Irã e da Síria na produção mundial deve diminuir, enquanto a dos EUA, Turquia e China deve aumentar. A competição entre os EUA e o Irã é intensa, pois os EUA vêm ganhando algumas vantagens devido aos padrões mais rigorosos de segurança alimentar e por possuírem tecnologia mais avançada.

O Irã e os EUA são os principais produtores e exportadores de pistache, contribuindo juntos para cerca de 75% do mercado global. A produção mundial de pistache está concentrada em poucos países, sendo que os cinco principais produtores representam quase 98% da produção.

É esperado que haja um aumento na produção global de pistache em 2025, com os EUA, Turquia e China aumentando suas participações de mercado. O Irã vem enfrentando alguns desafios significativos, principalmente no que se refere ao marketing e exportação da produção, sendo necessários investimentos em processamento e conformidade com padrões internacionais para melhorar sua posição no mercado.

Influência do manejo na qualidade dos frutos

Para otimizar a produtividade e a qualidade dos frutos de pistache, várias práticas podem ser recomendadas com foco em irrigação, escolha de porta-enxertos, fertilização e manejo pós-colheita.

A aplicação de irrigação deficitária regulada pode ser utilizada com sucesso, pois não afeta significativamente o rendimento, mas melhora a qualidade geral do produto, tanto do ponto de vista sensorial quanto nutricional. Isso faz com que aumente a satisfação do consumidor pela intensificação dos atributos sensoriais característicos do fruto.

Outra técnica importante para otimizar a produção de pistache é a utilização de mudas propagadas pelo método de enxertia, que resulta em mudas padronizadas de uma mesma variedade, permitindo uma estabilidade na produção do pomar. Para isso, também é importante observar o material utilizado como porta-enxerto, pois o mesmo irá influenciar na qualidade da planta, resistência a patógenos de solo e, consequentemente, a produtividade final.

Assistência técnica e financeira

No Brasil, ainda não há pomares comerciais de pistache estabelecidos. No ano de 2022, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) levou a demanda até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para que fosse possível importar material genético de pistache, com o intuito de transformar o Estado no primeiro produtor de pistache do país.

Os estudos para a definição do material genético que poderá ser utilizado no Ceará devem avançar ainda em 2025. Para que se tenha linhas de crédito que fomentem a produção de pistache no Brasil, é necessário o zoneamento agroclimático para a cultura, sendo necessárias pesquisas no que se refere à adaptabilidade da espécie no país, definição de cultivares e um mapeamento das regiões que permitam o cultivo.

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