
Alessandro Guieiro
Engenheiro agrônomo, pós-graduado em Fertilidade do Solo e Nutrição Mineral de Plantas, especialista em Microbiologia do Solo e pesquisador
alessandro.consultoragro@hotmail.com
Fotos usadas nesse artigo: Alessandro Guieiro
As plantas de cobertura desempenham um papel crucial na cultura do café, trazendo uma série de benefícios agronômicos, ambientais e econômicos.
Melhoria da fertilidade do solo
Leguminosas como crotalária, mucuna e feijão-guandu fixam nitrogênio atmosférico no solo, reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados. As plantas de cobertura aumentam o teor de matéria orgânica no solo, melhorando sua estrutura e capacidade de retenção de água.
Controle de erosão e daninhas
A presença de cobertura vegetal protege o solo contra a erosão hídrica e eólica, mantendo a integridade do perfil do solo e prevenindo a perda de nutrientes. A vegetação aumenta a infiltração de água no solo, diminuindo o escoamento superficial e a erosão. As plantas de cobertura competem com daninhas por luz, água e nutrientes, reduzindo sua incidência. Ainda, algumas plantas de cobertura liberam substâncias químicas que inibem o crescimento de daninhas.
Para o solo
A cobertura vegetal regula a temperatura do solo, evitando extremos de calor e frio que podem afetar o crescimento das raízes do cafeeiro. Plantas de cobertura capturam nutrientes das camadas mais profundas do solo e os devolvem à superfície quando se decompõem, tornando-os disponíveis para as plantas de café. Observa-se, ainda, aumento da diversidade e atividade biológica no solo, com efeitos positivos na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem de nutrientes. Plantas de cobertura podem hospedar inimigos naturais de pragas do café, contribuindo para o controle biológico.
Dados de pesquisa
Pesquisas mostram que o uso dessas plantas pode aumentar a produtividade do cafeeiro em até 30% em comparação com áreas sem cobertura vegetal. Há redução significativa no uso de herbicidas e fertilizantes, resultando em economia para o produtor e menor impacto ambiental.
Para a cultura do café, diversos tipos de plantas de cobertura podem ser utilizados, cada um com características específicas que atendem a diferentes necessidades. Alguns exemplos incluem Brachiaria ruziziensis e Brachiaria piatã (Bracharia brizantha cv. Piatã).
Benefícios das braquiárias

As raízes fibrosas e densas das braquiárias ajudam a agregar partículas do solo, melhorando a estrutura. A cobertura densa reduz a compactação e aumenta a infiltração, diminuindo o escoamento superficial.
A cobertura do solo protege contra a erosão hídrica e eólica. Com a matéria orgânica, há alta produção de biomassa, o que contribui para o aumento da matéria orgânica do solo e ciclagem de nutrientes. A matéria orgânica decomposta estimula a atividade microbiana, aumentando a biodiversidade do solo. Já as micorrizas promovem a associação com fungos micorrízicos, melhorando a absorção de nutrientes.
No caso do trigo mourisco (Fagopyrum esculentum), as raízes melhoram a agregação do solo e a infiltração de água, devido à sua cobertura densa e rápida. A espécie tem a capacidade de mobilizar fósforo, tornando-o mais disponível para a cultura subsequente. Além disso, adiciona matéria orgânica ao solo. O trigo mourisco atrai polinizadores e auxilia na promoção da biodiversidade. Também incrementa a atividade microbiana devido à decomposição de sua biomassa.
O níger (Guizotia abyssinica) contribui para a estabilização do solo. A cobertura previne a compactação, melhorando a infiltração de água. A decomposição da biomassa aumenta o teor de matéria orgânica. Atrai polinizadores, promovendo a diversidade biológica, e estimula a atividade microbiana com a adição de matéria orgânica.

O crambe (Crambe abyssinica) tem raízes profundas que ajudam na descompactação do solo, melhoram a infiltração de água e a aeração do perfil. A decomposição de raízes e parte aérea aumenta a matéria orgânica. Contribui para a biodiversidade ao atrair diferentes espécies de insetos e melhora a atividade microbiana devido à adição de matéria orgânica.
Nabo forrageiro
O nabo forrageiro (Raphanus sativus) tem raízes pivotantes que ajudam a descompactar o solo, melhorar a infiltração de água, reciclar nutrientes como fósforo e potássio das camadas mais profundas para a superfície e ainda contribui para a adição de matéria orgânica no solo. Aumenta a atividade microbiana do solo, podendo suprimir o crescimento de plantas daninhas por meio da liberação de compostos alelopáticos.

Guandu anão
O guandu anão (Cajanus cajan) melhora a estrutura do solo por meio do desenvolvimento de raízes profundas, que promovem a aeração e a infiltração de água. Reduz a erosão superficial, fixa nitrogênio atmosférico, aumentando a disponibilidade de nitrogênio no solo e contribui com a adição de matéria orgânica ao solo.

Ainda, promove a biodiversidade microbiana do solo, facilitando a ciclagem de nutrientes e melhorando a disponibilidade para culturas subsequentes.
Milheto
Já o milheto (Pennisetum glaucum) reduz a erosão do solo devido à cobertura densa, melhora a estrutura e a porosidade do perfil. Recicla nutrientes essenciais, como fósforo e potássio, e ainda contribui com a adição de matéria orgânica, além de promover a atividade microbiana do solo. Pode, também, ajudar no controle de nematoides devido à rotação de culturas.

Impactos ambientais
O uso de plantas de cobertura na cultura do café traz diversos impactos ambientais e econômicos, tanto positivos quanto negativos.
- Redução da erosão do solo: as plantas de cobertura ajudam a proteger o solo contra a erosão causada pelo vento e pela água, mantendo a integridade da estrutura do solo.
- Melhoria da fertilidade do solo: algumas plantas de cobertura, como leguminosas, fixam nitrogênio no solo, aumentando a disponibilidade desse nutriente essencial para o café. Além disso, a decomposição da matéria orgânica dessas plantas adiciona nutrientes ao solo.
- Aumento da biodiversidade: a presença de plantas de cobertura pode aumentar a diversidade de espécies vegetais e animais no ecossistema do cafeeiro, promovendo um ambiente mais equilibrado e resiliente.
- Controle de pragas e doenças: algumas plantas de cobertura podem atuar como repelentes naturais ou hospedeiros de inimigos naturais de pragas, reduzindo a necessidade de pesticidas químicos.
- Melhoria na retenção de água: a cobertura vegetal ajuda a manter a umidade do solo, o que é benéfico para a cultura do café, especialmente em períodos de seca.


Impactos econômicos
- Redução de custos com insumos: a melhoria da fertilidade do solo e o controle natural de pragas podem reduzir os gastos com fertilizantes e pesticidas químicos.
- Aumento da produtividade: a melhoria das condições do solo e a redução de estresses abióticos e bióticos podem levar a um aumento na produtividade das plantas de café.
- Custo inicial e manutenção: a implemen tação de plantas de cobertura pode ter custos iniciais associados à compra de sementes e ao manejo das plantas. Além disso, é necessário manejo contínuo para evitar que as plantas de cobertura compitam com o cafeeiro por recursos.
- Valorização do produto: práticas agrícolas sustentáveis, como o uso de plantas de cobertura, podem agregar valor ao produto final, permitindo que os produtores acessem mercados de café orgânico, regenerativo, comércio justo ou tenham preferência por negociações específicas que muitas vezes pagam prêmios por práticas sustentáveis.

Visão holística
A adoção de plantas de cobertura na cultura do café deve ser vista como parte de um sistema agrícola integrado. Isso significa considerar não apenas os benefícios diretos para o cultivo do café, mas também os impactos em longo prazo na saúde do solo, na biodiversidade e na sustentabilidade geral da produção agrícola.
A escolha das espécies de plantas de cobertura deve ser feita com base nas condições locais e nos objetivos específicos do agricultor, como melhoria da fertilidade, controle de pragas ou aumento da retenção de água. Implementar práticas de manejo adaptativo e monitoramento contínuo é essencial para garantir que os benefícios ambientais e econômicos sejam maximizados, enquanto os possíveis desafios, como a competição por recursos e os custos iniciais, são minimizados.
Plantas de cobertura na cultura do café
As combinações entre diferentes espécies de plantas de cobertura são fundamentais para maximizar os benefícios agronômicos e ecológicos no cultivo de café. A seguir estão alguns benefícios das combinações:
Plantas de diferentes famílias botânicas: combinar espécies de diferentes famílias (por exemplo, leguminosas com gramíneas) pode resultar em uma utilização mais eficiente dos recursos do solo. Enquanto as leguminosas fixam nitrogênio, as gramíneas podem ajudar na cobertura do solo e na prevenção da erosão.
Habitats diferentes: espécies com diferentes profundidades de raízes podem explorar várias camadas do solo, aumentando a absorção de nutrientes e água.
Interação positiva: algumas plantas podem liberar substâncias que beneficiam o crescimento de outras (ex: alelopatia positiva), melhorando a saúde geral do solo e das plantas.
Atratividade para insetos: misturas que incluem flores atraem polinizadores e inimigos naturais de pragas, criando um ecossistema mais equilibrado.
Diversificação ao longo do tempo: alterar as combinações de plantas de cobertura de ano para ano pode prevenir o acúmulo de pragas e doenças específicas, além de melhorar a saúde do solo.
Sucessão de espécies: plantas de ciclo curto podem ser cultivadas inicialmente, seguidas por espécies de ciclo mais longo, permitindo um uso mais eficiente do tempo de cultivo.

Espécies específicas para condições locais
Escolher espécies que sejam nativas ou bem adaptadas à região pode aumentar a resistência a pragas e doenças, bem como a tolerância a variações climáticas. Combinações devem ser escolhidas com base nas características do solo, como pH, textura e níveis de nutrientes, para otimizar o crescimento.
Planejar o mix de plantas de cobertura para café é essencial para garantir um solo saudável, controlar ervas daninhas e promover a biodiversidade. Entretanto, fique atento às recomendações. Defina se o foco é melhorar a fertilidade do solo, controlar a erosão, aumentar a biodiversidade ou melhorar a capacidade de retenção de água.
Escolha plantas de cobertura que se adaptem bem às condições do seu solo e clima. Espécies como feijão-de-corda, crotalária e milho são comuns em sistemas de café. Um mix diversificado pode ajudar a melhorar a saúde do solo e aumentar a resistência a pragas e doenças. Inclua leguminosas, que fixam nitrogênio, e gramíneas, que ajudam na estrutura do solo.
Considere a época de plantio e colheita do café. As plantas de cobertura devem ser semeadas em momentos que não interfiram no cultivo principal. Planeje como e quando as plantas de cobertura serão cortadas ou incorporadas ao solo. O momento certo pode maximizar os benefícios, como a adição de matéria orgânica.
Após a implementação, monitore o desempenho das plantas de cobertura e seus efeitos no cultivo do café. Isso ajudará a ajustar as práticas para futuras safras.