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Por que as lagartas pardas tiram o sono dos silvicultores?

Autor

Pedro José Ferreira Filho
Doutor e professor da Universidade Federal de São Carlos – DCA/UFSCar, campus de Sorocaba (SP)
pedrojf@ufscar.br
Créditos: Pedro José Ferreira Filho

As lagartas desfolhadoras têm grande importância econômica devido à persistência e incremento de danos em cultivos de eucalipto, com aproximadamente 60.000 ha desfolhados por ano no Brasil. Apesar de existirem 10 espécies consideradas primárias no País, a lagarta parda Thyrinteina arnobia é a principal, com a maioria das ocorrências em campo.

A lagarta parda ocorre desde a América Central até o norte da Argentina. No Brasil, essa praga é verificada o ano todo, no entanto, a época de maior ocorrência é entre fevereiro e agosto, com registro em grande parte do País.

As lagartas atacam plantios de eucalipto com seis meses até sete anos de idade, além de rebrotas. Entretanto, o ataque pode ocorrer desde plantios novos, com um mês de idade, até florestas com mais de 20 anos.

Plantios de eucalipto têm sofrido com o ataque da lagarta parda, pois ao longo dos últimos anos essa praga vem sendo registrada com maior frequência nas áreas cultivadas. Isso pode estar acontecendo devido às mudanças climáticas, à característica e comportamento dos materiais genéticos utilizados em campo e, principalmente, devido à redução do número de parasitoides e predadores que podem estar favorecendo o aumento da população deste inseto-praga nesses cultivos de eucalipto.

Danos

Os danos causados por essas lagartas são expressivos, por exemplo, uma desfolha de 100% em cultivo de eucalipto com 2,5 a 3,5 anos de idade, pode reduzir o volume médio de madeira em aproximadamente 40% no ano seguinte ao ataque, e apresentar mortalidade de árvores em torno de 6%. Ataques sucessivos podem causar paralisia no crescimento das plantas no campo.

Monitoramento e controle

A determinação da população de mariposas é realizada com a instalação de armadilhas luminosas, com o nível de controle quando as coletas ultrapassam 100 indivíduos, em média, por armadilha. Nesse caso, aguarda-se de 15 a 20 dias para o início da oviposição dos adultos e eclosão das lagartas, para a aplicação do inseticida.

O controle deve ser coordenado nas áreas de ocorrência, com o objetivo de quebrar o ciclo de desenvolvimento da praga no campo. Para o controle é recomendado o uso de inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis var. kurstaki. Trata-se de um produto biológico (bactéria), de ocorrência natural, que controla de maneira eficaz as lagartas desfolhadoras. O produto é específico para lagartas, ou seja, não oferece risco à saúde do homem e animais, como os pássaros que se alimentam das lagartas mortas.

O mecanismo de ação do B. thuringiensis se dá pela liberação de toxina no sistema digestivo alcalino das lagartas e, por isso, é inofensivo a todos os demais organismos, inclusive aos parasitoides e predadores da lagarta parda, permitindo o restabelecimento do equilíbrio natural, assim que rompido o ciclo do surto atual. A aplicação do B. thuringiensis pode ser realizada por meio da pulverização aérea e/ou terrestre, e deve ser realizada sob rigoroso monitoramento de técnicos.

Custo

O custo da pulverização aérea está em torno de R$ 55,00/ha, com rendimento próximo a 400 ha por dia, dependendo das condições da área e distância da pista de pouso. Rapidez na execução e rendimento operacional são as grandes vantagens dessa operação, pois permite tratar grandes áreas no momento correto.

Já o custo da pulverização terrestre é maior, em torno de R$ 70,00/ha, além dessa tecnologia apresentar menor rendimento operacional, aproximadamente 50 ha/dia. Outro fator que deve ser considerado é a limitação desses equipamentos com relação à fase de desenvolvimento das florestas, pois a grande desvantagem dessa tecnologia ainda é conseguir distribuir verticalmente a pulverização na copa das árvores.

A preservação dos fragmentos florestais nativos ligados com faixas de vegetação nativa, próximos as áreas de cultivo de eucalipto é uma estratégia de manejo que deve ser adotada, pois assim é possível fornecer alimento, proteção e manutenção aos inimigos naturais dessa praga.

Outra estratégia de manejo seria a adoção do controle biológico aplicado, com a liberação de inimigos naturais nas áreas de ocorrência da praga, como os percevejos predadores Podisus nigrispinus, Alcaeorrynchus grandis e Montina confusa, ou o parasitoide de pupas Palmistichus elaeisis.

Programas de melhoramento genético de eucalipto com objetivo de proporcionarem resistência das plantas às lagartas, também devem ser considerados, pois a utilização de espécies resistentes, além de aumentar a capacidade das plantas de suportar danos, aumenta à duração do ciclo ovo-adulto e consequentemente a possibilidade de morte das lagartas.

Considerações finais

A periodicidade indefinida de ocorrência, indefinição de local, associação com outras espécies de plantas e sobreposição de gerações faz com que não existam pacotes prontos para o controle dessas pragas, ficando a conservação de faixas de vegetação nativa, realização do monitoramento para tomada de decisão, preservação, criação e liberação de inimigos naturais, utilização de inseticida biológico, amostragens periódicas e registro do histórico de ocorrência como condutas e técnicas que devem ser consideradas e utilizadas para tentar responder quando, onde e quantos serão os próximos surtos?

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