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Por quê existem poucos armazéns de grãos?

Armazenamento – Crédito: Shutterstock

O Brasil é o quarto maior produtor de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo) segundo Estudo elaborado pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e da Índia, sendo responsável por 7,8% da produção mundial: “O agro no Brasil e no Mundo: uma síntese do período de 2000 a 2020”.

Para se ter uma ideia, em 2020, o Brasil produziu 239 milhões e exportou 123 milhões de toneladas de grãos. É uma posição de destaque, – o segundo maior exportador do mundo. Muito se deve ao fato da elevação da demanda externa, que aumentou bastante, primeiro pelo crescimento populacional e segundo pela elevação da renda no mundo, diz estudo.

Contudo, nem tudo está para um “céu de brigadeiro”, pois devido às nossas características geográficas continentais, perdemos competitividade quando o assunto envolve a logística. Estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da FAO (Food and Agriculture Organization), indicam que as perdas quantitativas médias brasileiras são, aproximadamente, de 10% do total produzido anualmente, e são atribuídas a diversos fatores, dentre eles inadequada estrutura armazenadora e a indevida distribuição da capacidade estática, ou seja, da propriedade rural até os canais de armazenamento, distribuição, abastecimento interno e exportação. Em resumo, os preços sofrem alterações significativas devido aos custos de logística.

A conta é simples!  Uma vez que existe baixa disponibilidade de armazéns, há limitações de estocagem de produção nas unidades produtoras, forçando os produtores a venderem sua produção na safra, período do ano em que a cotação dos grãos atinge os menores patamares. Consequentemente, as margens ficam reduzidas, além, é claro, do congestionamento do escoamento da produção, que ocorre no mesmo período.

A estratégia de armazenamento em grandes quantidades é fundamental na cadeia logística e de escoamento da produção agrícola, para conferir eficiência na venda do produto em melhores épocas a custos de transportes menores. Segundo estudos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no Brasil, a maioria dos grãos, cerca de 60%, estão depositados em armazéns localizados no meio rural, mas ainda assim representa apenas 14%, em termos de capacidade instalada, quando comparados com países como Argentina, Canadá e Estados Unidos que atinge patamares de 40%, 85% e 65% respectivamente.

Uma solução pode estar no armazenamento dos grãos em silo próprio, segundo análise feita pelo Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar), devido às nossas características de produção, várias safras por ano, que se diferencia dos demais países.

Essa alternativa parecia impossível há alguns anos, com as taxas de juros nas alturas, mas agora, parece que essa alternativa pode ser viável e é o que estamos observando no mercado, com o aumento de players querendo investir em silos de armazenagem.

Contudo, pela nossa experiência com estudos de viabilidade econômica, mesmo com as taxas de juros menores que alguns anos, essa não tem sido uma tarefa fácil porque exige planejamento e controle e uma boa estratégia na gestão do financiamento para instalação e implantação do parque de armazenamento. 

Nesta estratégia de planejamento, é muito importante uma avaliação e estudo de viabilidade econômica, que deve prever uma análise de linhas de créditos envolvendo carência, garantias e taxas de juros (parceiro financeiro) e investimentos necessários.

Quando trabalhamos na revisão de projetos de viabilidade econômica, percebemos que alguns itens, embora fundamentais, às vezes, acabam ficando de fora, pois muitas entidades acabam se esquecendo de considerar questões primordiais como a análise quanto à localização ideal, ou outras questões igualmente importantes como as instalações de infra estrutura, a totalidade das máquinas e equipamentos, a análise da estimativa de capacidade instalada proposta e, principalmente, o controle financeiro necessário para  gestão da operação.

Questões da operação, às vezes são subjugados, como os aspectos qualitativos e quantitativos de volume de entradas, custos operacionais, regime tributário, mão-de-obra e encargos, gastos com manutenções, depreciações e despesas financeiras.

O ideal é trabalhar na construção de um modelo de fluxo de caixa e análise do prazo de recuperação do investimento (payback). Essa análise pode ser, realmente, bastante complexa, mas necessária, para se ter a certeza se o projeto é realmente viável ou não!

Com a redução da taxa de juros e uma maior conscientização dos investidores acerca das análises que são necessárias para se tornar um projeto de construção de armazéns viável, pode ser que em um médio prazo consigamos melhorar essa posição de capacidade de armazenamento de grãos, afinal o maior exportador de grãos do mundo não pode estar numa posição tão defasada em relação a sua capacidade  de armazenagem dos seus próprios grãos.

Enfim, o mais importante nesse processo, é que o Investidor (seja produtor, cerealista ou trading) paute suas decisões sobre um estudo de viabilidade econômica bem detalhado e fundamentado e que ele entenda e avalize se as premissas utilizadas fazem sentido considerando todas as características do seu negócio, da porteira para dentro e da porteira para fora.

Ronaldo Coletto da Silva – Partner da DoAGRO Auditores Independentes / Especialista em análise de viabilidade econômica de projetos.

ronaldo.doagro@gmail.com / 34 98827 9356

DoAGRO AUDITORES INDEPENDENTES

www.doagroauditores.com.br

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