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Porta-enxertos adequados com adensamento fazem citricultura poupar terra

Estudos visam à sustentabilidade da citricultura e ao aumento da competitividade em longo prazo.

Estudos conjuntos entre a Embrapa e o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) mostram que a associação de adensamento de pomar, com maior quantidade de planta por hectare, a porta-enxertos – variedades que correspondem à parte radicular da planta de citros – mais produtivos tem grande potencial de promover a economia de terra na citricultura.

Trabalho publicado na Agronomy, revista científica editada pela plataforma Multidisciplinar Digital Publishing Institute (MDPI), aponta que, no maior nível de adensamento utilizado nos experimentos (mil plantas por hectare), um porta-enxerto vigoroso (mais produtivo) e outro semiananicante (que reduz o tamanho da copa em até 40%) aumentaram a eficiência da terra em 64% e 21%, respectivamente, até oito anos de idade do pomar, quando comparados com a produtividade média atual do estado de São Paulo. Mesmo com adensamento intermediário (696 plantas por hectare), o ganho de eficiência pode chegar a 45%. No entanto, a técnica exige uma série de cuidados pelo produtor.O estudo faz parte do objetivo das duas instituições de desenvolver sistemas de produção mais intensivos de laranja, visando à sustentabilidade do setor e ao aumento da competitividade em longo prazo. O experimento em destaque no artigo foi montado em 2012 pelo Fundecitrus e foi idealizado pelo pesquisador Leandro Peña, hoje no Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), Espanha. A partir de 2014, a equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) que atua no campo avançado no interior paulista se associou ao projeto, que segue em curso em área da Terral Agricultura e Pecuária, empresa parceira localizada no município de Matão. 

“Esse artigo traz a história dos primeiros oito anos do pomar, o que equivale a cerca da metade da vida do pomar. Mostra as vantagens e desvantagens e o papel do porta-enxerto nesse processo de adensamento, servindo como um guia para o produtor de como produzir melhor e indicando o que deve ser melhorado pela pesquisa para avançar cada vez mais na eficiência do uso da terra. Estamos contando agora o primeiro capítulo. Precisamos esperar mais oito anos para fechar o segundo capítulo, com resultados de desempenho no longo prazo, após o impacto do uso mais frequente da poda em plantas adultas. Enfim, o trabalho continua”, informa um dos autores, o pesquisador da Embrapa Eduardo Girardi, coordenador da Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologia (UMIPTT) Cinturão Citrícola, da qual fazem parte a Embrapa, o Fundecitrus e a Fundação Coopercitrus-Credicitrus.

Como foram realizadas as pesquisas

A variedade copa (parte aérea da planta de citros) utilizada foi a Valência, uma das mais adotadas pela indústria de suco. Os experimentos abarcaram cerca de 2 mil plantas em três hectares, com plantio em fevereiro de 2012 e irrigação por gotejamento a partir de outubro de 2018. Foram testados três níveis de adensamento. O menor abrangia 513 plantas por hectare (6,5 m entre linhas de plantio x 3 m entre plantas na linha de plantio), número próximo à média atual em São Paulo. O segundo nível ficou em 696 plantas por hectare (5,75 m x 2,5 m), ou seja, quase 50% mais adensado, e o último, mil plantas por hectare (5 m x 2 m), praticamente o dobro da média hoje do estado. Isso foi combinado com quatro variedades de porta-enxerto. 

Foram selecionados o citrumelo Swingle, porta-enxerto mais usado hoje em São Paulo; o citrandarin IAC 1710, porta-enxerto ainda mais vigoroso que o Swingle e que vem sendo utilizado no estado em pequena escala; outro citrandarin, o IAC 1697, planta semiananicante, ou seja, menos vigorosa que o Swingle; e um porta-enxerto ananicante, o citrumelo tetraploide (indivíduo que possui quatro cópias de cada cromossomo; normalmente os citros possuem duas cópias de cada cromossoma), uma variação genética do Swingle. “Queríamos comprovar em condições de campo que a tetraploidia no porta-enxerto de Swingle reduziria o tamanho das plantas mantendo as demais qualidades dessa variedade elite. Trata-se de um genótipo ainda em fase de melhoramento”, conta Peña. 

Girardi esclarece ainda que, ao longo desses oito anos, avaliaram-se o crescimento da planta, a produção de frutos por hectare e por planta, a qualidade da fruta, os indicadores de eficiência do uso da terra, a eficiência da colheita, aspectos de manejo fitossanitário e, por fim, a incidência acumulada do huanglongbing (HLB) ou greening, a mais destrutiva doença hoje da citricultura no mundo. 

Densidade maior funciona melhor com porta-enxertos mais produtivos

Os resultados até o momento indicaram que o adensamento reduziu o tamanho das plantas (foi usada a mesma adubação por metro linear para todos os tratamentos). Isso acontece porque elas competem mais entre si na área por adubo, água e sol. “Quando comparado o adensamento de mil plantas por hectare com o de 513 plantas por hectare, aprodução por planta foi 35% menor. Porém, como há 54% mais volume total de plantas ocupando a mesma área, acaba-se produzindo mais no conjunto das plantas. Então, nas sete safras iniciais [2014 a 2020], a produção acumulada por hectare foi, em média, 27% maior em função do maior adensamento adotado”, informa Girardi.

O pesquisador ressalta que o desempenho do sistema adensado muda em função do porta-enxerto. Por exemplo, o IAC 1710, que é o mais vigoroso, teve uma produção acumulada por planta 23% maior do que o comercial (Swingle) e duas vezes e meia maior do que o Swingle tetraploide (nanico), na média dos adensamentos estudados. Então, apesar de ser uma planta grande, que precisa de poda e dificulta as pulverizações fitossanitárias no adensamento, como ele é muito produtivo, foi muito superior ao ananicante. “Observamos que a planta nanica resultou em menor produtividade do que os demais porta-enxertos em qualquer adensamento até oito anos. Comparado ao Swingle comercial, a seleção tetraploide reduziu tanto o tamanho da copa como a produção por planta em cerca de 50%: o Swingle comum produziu 70 kg por planta no espaçamento tradicional, enquanto o tetraploide 31 kg”, explica.

Como salienta Girardi, a produtividade geralmente é o primeiro fator que o produtor vai levar em consideração para decidir o que fazer. O trabalho mostra que o porta-enxerto é um fator mais importante do que o adensamento para esse indicador. Embora o adensamento a mil plantas por hectare tenha elevado ao potencial de 27% de ganho em relação ao pomar de 513 plantas por hectare até oito anos, o porta-enxerto conseguiu ser mais determinante para a produtividade em igual período, mesmo sem alterar outros aspectos do manejo da cultura. “Os porta-enxertos mais vigorosos tiveram produtividade muito maior do que o ananicante; então, em curto prazo, é mais vantajoso para o produtor trabalhar com as variedades vigorosas hoje já disponíveis, mesmo que decida por não adensar muito o seu pomar”, ressalta.

– Foto: Luis Felipe Rinaldi

Combinação adensamento x porta-enxerto aumenta de 21% a 64% a eficiência do uso da terra

Quanto ao indicador relacionado à eficiência do uso da terra, a pesquisa mostrou que o adensamento de mil plantas por hectare melhorou em 22% o uso da terra, produzindo mais frutos por área comparado à produtividade média no estado de São Paulo entre 2014 e 2020 (cerca de 32 toneladas por hectare), até o oitavo ano de vida do pomar, independentemente do porta-enxerto usado. Mas, como já salientado pelo pesquisador, o porta-enxerto se revela mais importante do que o adensamento: o IAC 1710, muito produtivo, aumentou a eficiência da terra em 46% nesse mesmo período, independentemente do adensamento, comparado com a média do estado. Se usado no maior adensamento, esse ganho potencial chegou a 64%. Já o citrandarin IAC 1697, semiananicante, resultou em 21% de ganho, enquanto o nanico só se equiparou à média do estado se usado no maior adensamento. 

O gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, um dos autores do trabalho, afirma que essa pesquisa é importante para o setor. Como ressalta, após alguns anos aumentando a densidade de plantio, mais recentemente os produtores têm resistido a adotar o adensamento, por dificuldades de manejo. “O adensamento na fase 1 do pomar [até 7-8 anos] realmente aumenta a produtividade, mas, na fase 2 [após 8-10 anos], o desempenho no pomar deve reduzir a produtividade, porque tem mais competição entre as laranjeiras adultas. Se há muita redução na entrelinha, o pomar fecha rapidamente e precisa podar precocemente, o que gera dificuldades. 

Os resultados de campo indicam que o produtor pode manter uma boa densidade de plantio com mais espaço entre linhas e reduzindo o espaçamento entre plantas, por exemplo, adotando uma densidade equilibrada de 7,0 m x 2,5 m, facilitando muito as operações no pomar e com ótima produtividade. Já com os porta-enxertos ananicantes e variedades copa de menor porte, como a Folha Murcha, pode-se pensar em reduzir mais o espaçamento”, enfatiza Ayres. Mas, segundo ele, o manejo correto da poda e o uso da irrigação são fundamentais para quem optar por utilizar o adensamento maior.

Uma estimativa feita pela equipe indica que, se fosse usado esse modelo de pomar, de mil plantas por hectare com o porta-enxerto mais produtivo do que os atualmente utilizados, poderia se reduzir a área do estado de São Paulo com citros praticamente pela metade, em um mundo ideal. “Isso sinaliza para nós o desafio de viabilizar uma maior densidade de plantio associada a porta-enxertos que sejam muito produtivos, mas menos vigorosos, por ter a questão de poda, pulverização etc. Um modelo assim teria um potencial de aumento de eficiência de uso da terra muito grande”, complementa Girardi.

Agora é preciso comprovar se o benefício de aumento de produtividade nos primeiros anos desses pomares adensados será o mesmo em longo prazo. Logo após a primeira poda, aos oito anos de idade, o volume da copa da laranja Valência sobre o IAC 1710 reduziu em 20% no pomar mais adensado, demonstrando o impacto dessa prática sobre os porta-enxertos mais vigorosos. Nos nanicos, praticamente não houve perda pela poda.

Outro ponto em favor do adensamento é o menor tempo de vida do pomar atualmente. Até alguns anos atrás, um pomar de laranja vivia 25, 30 anos. Hoje, com o HLB, os produtores planejam seus pomares para produzir por menos de 20 anos. “Então o adensamento se tornou interessante porque é uma forma de se conseguir produzir mais em menos tempo”, indica Girardi. No entanto, diversos aspectos devem ser considerados antes da sua adoção, como clima, tipo de solo, época de maturação dos frutos da variedade copa, irrigação e, claro, o porta-enxerto. Em outros experimentos em andamento, a relação de parte desses fatores com a época de poda vem sendo estudada para munir o citricultor de informações úteis para sua tomada de decisão. O adensamento, por exemplo, pode ser priorizado nos talhões de borda das propriedades visando mitigar o impacto da disseminação do HLB.

 

O índice de uso da terra foi estimado pela razão entre a produtividade média do experimento no período 2014-2020 e a produtividade média de laranja doce no estado de São Paulo no mesmo período (IBGE). Essas medições comparam a produtividade real do experimento com um nível de produtividade de referência na região. Swingle 4x = tetraploide. Linha azul marca 1, ou seja, a referência (produtividade média de SP);  (a) Densidade de 1000 plantas/hectare resultou em uso 22% mais eficiente da terra em média, de 2014 a 2020, comparada à produtividade média de SP; (b) Porta-enxerto de citrandarin IAC 1710 resultou em uso 46% mais eficiente da terra em média, de 2014 a 2020, comparada à produtividade média de SP

Pesquisas visam melhorar o desempenho dos ananicantes 

Com esse resultado, que mostra os porta-enxertos vigorosos mais produtivos do que os ananicantes no sistema adensado, mas limitados devido ao manejo do tamanho da planta, a pesquisa aponta caminhos para melhorar a produtividade dos porta-enxertos de pequeno porte. Em curto prazo, ou se tenta trabalhar com populações maiores, de mil a 1,5 mil plantas por hectare, ou seja, adensar ainda mais o ananicante em busca de aumento da produtividade por área, ou se investe em estudos para otimizar os tratos culturais para fazer com que essas plantas nanicas produzam mais, por exemplo, via irrigação ou adubação diferenciadas. Outra linha de trabalho nesse sentido se refere ao uso de mudas maiores no plantio, que podem aumentar em até 30% a produção nas primeiras safras. Girardi explica que, apesar de ser uma muda mais cara, é mais precoce, o que antecipa o ciclo da planta. “Essa pesquisa ainda está em estágio de validação, mas os resultados até agora apontam que essa seria uma das formas de melhorar o manejo dos ananicantes”, avalia. 

Em médio e longo prazo, o objetivo é obter nanicos geneticamente melhorados. “Temos nos esforçado muito nisso. Contamos hoje, comercialmente, apenas com o trifoliata Flying Dragon como ananicante, recomendado anteriormente pela Embrapa para pomar irrigado. Os Programas de Melhoramento Genético da Embrapa e do IAC [Instituto Agronômico] vêm gerando novos híbridos que, em breve, serão lançados com ótimo potencial produtivo. O citrumelo tetraploide e outros similares continuam em seleção também junto ao Fundecitrus. Ter uma planta bem pequena, muito mais adequada ao manejo adensado, porém com maior capacidade de produção, seria o ‘pulo do gato'”, salienta Girardi. Segundo ele, nesse meio tempo, porta-enxertos semiananicantes são uma opção mais viável para quem quiser praticar maior densidade de plantio, com ganhos importantes de uso de terra e mais facilidade de manejo das plantas. “O porta-enxerto ananicante vai ser fundamental para abordar a colheita mecanizada da fruta”, também opina Peña.

Porta-enxertos são determinantes para a qualidade do fruto

No acompanhamento de quatro safras, verificou-se que, no geral, houve pouca influência do adensamento sobre a qualidade do fruto. Apesar de se observar pequena redução no tamanho do fruto, a maior preocupação é a quantidade de açúcar. “Essa quantidade não foi prejudicada pelo adensamento; vimos até uma tendência de aumento. Então a qualidade não mudou muito. Só que, logicamente, quando você produz mais frutos no adensado, você produz mais açúcar por hectare também, o que é importante para as indústrias. Em suma, o açúcar por fruto não alterou muito, mas, por hectare, o adensado produziu mais açúcar”, explica o pesquisador.

Girardi destaca que, mais uma vez, o porta-enxerto se mostrou como o aspecto mais importante, influenciando todas as variáveis de qualidade de fruto analisadas (tamanho de frutos, açúcar, acidez, momento da colheita, teor de suco etc.). Cada um dos porta-enxertos dos experimentos alcançou algo diferente. Portanto, quando o produtor for escolher o porta-enxerto e estiver preocupado com a qualidade, deve se atentar muito mais ao porta-enxerto do que à densidade. “Por exemplo, o IAC 1710, apesar de ser muito mais produtivo, teve um teor de açúcar pouco menor. Isso é normal, porque geralmente os porta-enxertos muito vigorosos translocam muita água, diluindo o açúcar.

Já os porta-enxertos de menor tamanho apresentaram mais açúcar em geral. Apesar de o nanico induzir mais açúcar na laranja, ainda foi mais vantajoso para o produtor usar o vigoroso, pois produz muito mais laranja. Agora, para as fábricas que fazem suco, a história é um pouco diferente. Nesse caso, a prioridade é um suco de melhor qualidade; provavelmente vão preferir diversificar, usando porta-enxertos que resultem em mais açúcar, como é o caso do IAC 1697. A decisão pelo porta-enxerto vai depender, então, da prioridade do produtor: se é qualidade ou produtividade.”

Colheita e pulverizações podem ser beneficiadas por pomares adensados que usam porta-enxertos nanicos

Dois aspectos apontados no estudo indicam por que é importante a pesquisa insistir no porta-enxerto ananicante: a questão da colheita e a de pulverização. 

– Foto: Luis Felipe Rinaldi

O trabalho mostrou que a colheita manual do nanico, por ser uma planta menor, foi três vezes mais rápida por árvore do que a de uma planta grande. Já a colheita por quilograma de fruto se mostrou 17% mais eficiente na planta nanica, independentemente da densidade. “Tem menos uso da escada, é mais fácil de se caminhar entre as fileiras, a planta é pequena, os frutos estão mais próximos da mão… Isso tudo fez com que fosse mais rápido o processo e, por isso, mais eficiente por quilo recolhido. Ou seja, é mais barato colher a planta nanica. Essa operação é um dos maiores custos de produção de laranja, além de que a mão de obra é cada vez menos disponível no campo. Além disso, o porta-enxerto precisará ser de pequeno porte para viabilizar a colheita totalmente mecanizada no futuro.”, diz Girardi . Para ele, o trabalho evidencia, então, mais uma vez, que melhorar os nanicos via uma variedade ananicante mais produtiva ou por manejo cultural é estratégico para a citricultura, pois a colheita será cada vez mais uma atividade crítica.

A meta é, de acordo com o pesquisador, que o porta-enxerto nanico tenha o tamanho máximo de 2,5 m a 3 m de altura e produza, em média, de 40 kg a 60 kg por planta. “Alguns dos novos híbridos mostraram potencial para isso nos trabalhos de seleção. A expectativa é que essas novas variedades permitam que esse cenário de pomares ultra-adensados, de mil a 1,5 mil plantas por hectare, com plantas compactas e mais produtivas, realmente aconteça, resultando em produtividade similar ou acima do atual sistema de produção.”

Em relação às pulverizações, o aspecto mais importante é a questão do HLB. Em 2021, depois de nove anos de plantio e controlando o vetor com inseticidas, a incidência acumulada do HLB nas plantas mais vigorosas do experimento (sobre o porta-enxerto IAC 1710) foi de 27%, o dobro praticamente da incidência em plantas nanicas (14%). Essa diferença se explica por três fatores: o porta-enxerto mais vigoroso induz mais brotos e com maior tamanho à copa, sendo o órgão onde o psilídeo se alimenta e reproduz; o vetor encontra mais facilmente as plantas grandes do que as de pequeno porte quando esse inseto migra das áreas externas para o pomar; o psilídeo é mais presente no terço superior das laranjeiras adultas; assim, nas laranjeiras mais altas, é mais difícil de se pulverizar o topo das plantas. Como fica muito adensado na entrelinha, a máquina tem dificuldade de fazer o trajeto e cobrir a planta toda. Segundo Girardi, isso indica a necessidade de se fazer podas frequentes para controlar o tamanho da planta ou ajustes nos equipamentos de pulverização, ou mesmo não adensar demais variedades vigorosas.

Ele ressalta que outros estudos já demonstraram que a incidência acumulada do HLB é menor em porta-enxertos ananicantes sob controle rigoroso do inseto-vetor. Apesar de não resistir à bactéria associada ao HLB, esse tipo de porta-enxerto induz menor brotação nas copas e, possivelmente, menor exposição ao psilídeo. O volume de calda de pulverização é menor e é mais fácil de se cobrir as plantas completamente, porque são menores. “A obtenção de porta-enxertos nanicos e mais produtivos tem potencial de mudar significativamente o modo como se cultivam os citros, porque pode se juntar diversos benefícios. Vamos lançar, claro, variedades vigorosas, porque são produtivas e, principalmente, porque em geral são mais tolerantes à seca, mas o futuro aponta para outra direção. As plantas compactas são o caminho. Temos que melhorar a parte de instrumentação, operacionalidade, tanto para o pomar adensado que já existe com a planta vigorosa quanto para o futuro também.” E Girardi destaca uma mensagem importante para o citricultor: “esses sistemas mais intensivos que antecipamos aqui são interessantes e podem poupar ainda mais terra, mas o produtor não pode descuidar do manejo do HLB; caso contrário, não vai conseguir viabilizar seu pomar”.

O pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi, um dos autores do trabalho, lembra que, independentemente da combinação copa/porta-enxerto ou da densidade de plantio, como todas as variedades copa e porta-enxerto são suscetíveis ao HLB e sofrerão seus danos na produção e qualidade de fruta, é essencial que o citricultor continue com o rigor no controle do HLB por meio da aplicação preventiva de inseticidas e da eliminação das plantas doentes, tanto dentro como ao redor das propriedades comerciais. “Quanto mais cedo uma planta é infectada, mais rápido a bactéria toma conta da planta e menor será o seu potencial produtivo, e, quanto mais rápido uma maior quantidade de plantas é infectada no pomar, menor será a longevidade produtiva desse pomar”, complementa Bassanezi.

Histórico de diminuição da área com citros e aumento de produtividade

Nas últimas décadas, a produtividade de laranja no Brasil aumentou muito em comparação com outros países. Girardi explica que, em 20 anos, a área plantada no País diminuiu 33%, enquanto a produtividade brasileira aumentou 17% (dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO). “E se a gente considerar um histórico mais antigo, a área do Brasil praticamente voltou ao patamar de 40 anos atrás, mas a produtividade aumentou 54%.” 

Ele acrescenta que, nos Estados Unidos, a área também reduziu em patamar semelhante em 20 anos, em torno de 38%, mas a produção total caiu 60% por causa do HLB, principalmente. Assim, no Brasil, apesar do HLB, a área diminuiu e a produtividade aumentou; por isso a produção brasileira continua alta, sendo o País o maior produtor de laranja do mundo.

Vários fatores levaram a esse resultado impressionante, como sinaliza Girardi. O cinturão citrícola no País (planalto paulista e triângulo e sudoeste mineiro) usa mudas sadias produzidas em viveiros telados há quase 20 anos e melhorou as variedades de porta-enxertos, sendo mais resistentes a diversas doenças. A pesquisa melhorou também o programa nutricional e as práticas de preparo e conservação do solo. “O Brasil avançou muito no manejo integrado de suas pragas e doenças, mesmo algumas tão terríveis como o HLB e o cancro cítrico; houve plantios em regiões mais favoráveis, com clima mais ameno, e grande expansão da área irrigada; e tem ainda a questão do perfil dos produtores, que são tecnificados e com escala cada vez maior. Tudo isso refletiu nesse ganho de produtividade”, informa.

Além disso, as densidades de plantio também aumentaram. De 2000 a 2021, a densidade média subiu de 385 para 581 plantas por hectare no cinturão de São Paulo e Minas Gerais. Isso tem muita sintonia com as expectativas do mundo de se conseguir produzir mais com menos terra e liberar a área para outros fins. Como observa Girardi, o aumento de produtividade de 2000 a 2020 permitiu poupar quase 284 mil hectares de citros, sem redução expressiva da produção total. Outro ponto: para cada 2,89 hectares de laranja nas fazendas, há um hectare de vegetação nativa preservada, ou seja, quase 160 mil hectares, segundo a Pesquisa de Estimativa de Safra (PES/Fundecitrus), realizada em parceria com a Embrapa Territorial.

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