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Pós-colheita em frutíferas de clima temperado

Francisco Bino Lacerda Especialista em Viticultura e representante técnico comercial da BioAtlantis Brasil

Broto de uva – Créditos: shurtterstock

 Os açúcares das reservas nutricionais da planta desempenham um papel importante no crescimento e desenvolvimento das primeiras brotações de frutíferas de clima temperado. Eles ficam armazenados nas raízes, troncos e ramos do ano anterior, e até pouco tempo eram vistos apenas como fontes de energia durante a formação das estruturas reprodutivas, mas estes açúcares são extremamente importantes no desenvolvimento de gemas, brotos e flores na saída do inverno.

O acúmulo de reservas insuficiente durante o ano anterior, ou mesmo no ciclo em que a planta se encontra, causa falhas drásticas no desenvolvimento de flores e inflorescências. Em particular, a falta de disponibilidade de açúcares nas flores em fases reprodutivas, causada por fatores ambientais associados a estresses oxidativos, ocasiona aborto floral severo.

Uma das hipóteses também para a ocorrência do abortamento floral é que os períodos com temperaturas relativamente altas durante o repouso das plantas (sem atividade fotossintética) poderiam provocar o aumento da taxa respiratória e exaurir as reservas de carboidratos em níveis insatisfatórios para suprir as necessidades das gemas florais para a retomada do crescimento e subsequente floração, frutificação e emissão dos novos brotos da estação de crescimento (Gardin, 2002).

Atuação

Além da energia, os açúcares também desempenham papéis como reguladores da expressão gênica e como moléculas de sinal que podem estar envolvidas nas respostas ao estresse. O mesmo ocorre com o nitrogênio, que está associado a aminoácidos, que também são mobilizados das reservas para constituir os primeiros brotos do ciclo da planta.

Para termos uma noção, 75% do nitrogênio e 80% dos amidos da planta ficam armazenados nas raízes no repouso invernal. Estrategicamente, a razão de intercedermos no acúmulo de reservas em pós-colheita é fisiologicamente simples. Em plantas frutíferas de clima temperado, existem dois momentos em que ocorre um aumento extremo do sistema radicular e uma maior absorção de nutrientes do solo.

O primeiro ocorre no início da safra, impulsionado pela atividade da auxina nos brotos e o segundo durante os meses em que se desenvolverá a fase de fim de maturação ou após a colheita. A figura a seguir ilustra muito bem como o sistema radicular se comporta nestas duas fases.

Figura 01 – Acta Horticulture

Sabe-se, então, que fatores ligados ao abortamento floral, por exemplo, podem estar relacionados com; má nutrição, baixo acúmulo de reservas, estresses climáticos e deficiência hormonal. Os hormônios agem decisivamente em gemas e botões, evitando falhas reprodutivas.

Pensando nisso, é no momento da pós-colheita que podemos fazer uso de alguns bioestimulantes, como os reguladores vegetais, para auxiliar em uma reposição hormonal equilibrada. Em relação a este tema, o produtor deve estar atento, pois demandas comerciais com produtos que não vão ter nenhuma contribuição na planta podem surgir como alternativa errada.

Segurança

Devemos sempre levar em conta que estas tecnologias tenham pesquisa comprovada e ensaios que avaliem sua eficácia. No caso dos hormônios, citocinina, auxinas e giberelinas, é bom lembrar que a reposição não acarreta desperdício, ou seja, eles produzem um efeito oposto aos hormônios da senescência etileno e ABA, por serem seus antagonistas: evitando que as folhas caiam antes do tempo e não auxiliem no acúmulo de reservas.

Além disso, baixas concentrações de açúcares de reserva em anos de alta carga de frutos estão associadas a baixos níveis de citocininas livres nas gemas, condicionando muitas vezes a alternância ou queda produtiva.

Na hora certa

Sabendo agora em que fase intervir na planta, devemos levar em conta que as frutíferas não respondem sempre aos mesmos fatores de produtividade, cada ano é um, como diz a máxima da agricultura.

O programa de nutrição que funcionou para você no ano anterior pode não funcionar no próximo. A análise de solo ou foliar, antes realizada a cada três ou cinco anos, ou mesmo do ano passado, passa longe de ser precisa.

Hoje, sabemos que somente aportar nutrientes via solo em pós-colheita não é suficiente. Esta ação deveria ser básica, mas como vemos a campo, isso não acontece. Muitos fruticultores literalmente abandonam suas plantas após colher a fruta, não realizando nenhuma intervenção para acúmulo de reservas, exatamente onde deveria ser feito o contrário.

Esta fase define em 60 a 70% as reservas nutricionais e hormonais do ciclo seguinte, ou melhor, sua próxima safra depende dela. Não podemos esquecer que precisamos garantir que em nosso pós-colheita, além das reposições nutricionais e hormonais, possamos ter também uma folha sadia e assim permitir um melhor acúmulo de carboidratos.

Hora de mudar

Cuidar do seu pomar e solo após a colheita é primordial para a planta acumular reservas e sintetizar os hormônios necessários para a diferenciação no novo ciclo. Continuar com os tratamentos fitossanitários porque as folhas podem ser atacadas por doenças e perder a sua capacidade fotossintética e, portanto, interromper o armazenamento de fotoassimilados é de suma importância.

Se você costuma não realizar este manejo, talvez seja a hora de mudar. Talvez você não concorde comigo, e diga que sua produtividade está no patamar ideal. Lembramos o seguinte, todas as plantas têm um potencial genético de produzir mais e melhor, e ele é afetado quanti e qualitativamente se ao longo do ano tivermos déficits climáticos em algumas fases da planta.

Segundo a FAO, 70% do potencial produtivo em todas as principais culturas do mundo é perdido devido a estresses por clima, e apenas 10% por pragas e doenças. Será que não estamos atacando com força o alvo errado também neste ponto?

Sobre a não realização do pós-colheita, ainda não temos um dado preciso de quanto o agricultor perde em produtividade. Mas, fisiologicamente sabemos o que a sua não realização representa para a planta. E se pudermos, com uma simples ação, minimizar boa parte destas perdas e ainda produzir mais ou melhor?

Como agrônomos, técnicos, pesquisadores ou tecnólogos, podemos até orientar e informar, mas não forçar. Meu conselho é: faça sempre e todo ano o pós-colheita, pois a decisão de uma melhor safra é sua, produtor.

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