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Pós-mecanização em cana-de-açúcar

Crédito Shutterstock

Pesquisadores da Embrapa Cerrados apresentaram informações da pesquisa científica sobre aspectos que envolvem a compactação do solo devido à mecanização da lavoura canavieira.
O produtor rural Luiz Carlos Dalben contextualizou o tema compactação do solo, considerando as quedas de produtividade observadas no setor canavieiro na última década, fato que se deveu a diferentes fatores. “Entre eles, podemos dizer que o uso da mecanização teve uma influência muito grande, até porque não tínhamos algumas tecnologias de satélite, de GPS, que temos hoje”, afirmou, apontando a importância da longevidade e da produtividade do canavial, uma vez que o custo atual do plantio da cana é de aproximadamente R$ 8,5 mil/ha ou US$ 1.600/ha, enquanto o do trato da soqueira é de R$ 2 mil/ha/ano ou US$ 375/ha/ano.
O produtor lembrou que nos últimos anos houve uma grande mudança no sistema de produção do setor. “Passamos da cana queimada e da colheita manual, com uma carregadora de cana que pesava 9 mil kg, para uma cana crua, na qual mudou-se completamente a biologia do solo e da cultura, entrando uma colhedora com peso de 19 toneladas, aproximadamente. Aumentaram os pesos de transbordo, dos tratores”.

Produtividade

A intensificação da mecanização, segundo Dalben, tem grande influência na produtividade, no rendimento e nos custos. “Do plantio até o primeiro corte, passamos de sete a oito vezes na lavoura, com herbicidas, cultivo, corte de soqueira. Em compensação, nos últimos anos, novas tecnologias nos permitiram adequar tráfego, usar piloto automático, GPS. Novas técnicas agronômicas foram sendo utilizadas. Podemos dizer que os operadores de máquinas na lavoura canavieira hoje têm um melhor treinamento. Isso contribuiu para a minimização do pisoteio (pressão exercida pelos pneus e esteiras sobre as plantas) e da compactação do solo”, analisou.

Como avaliar e evitar a compactação do solo

Armene Conde, consultor da Canassist, destacou que a colheita é o processo que mais impacta na compactação do solo do canavial. De acordo com estudos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com o solo seco, o tráfego de máquinas na entrelinha reduz de 3 a 7,5% a produtividade do corte seguinte e, na linha de plantio (pisoteio), a redução é de 6,5 a 13%.
“Com o solo úmido, isso se multiplica por quatro ou cinco vezes, estragando muito o canavial”, comentou, mostrando o exemplo de queda de produtividade entre o primeiro (139 t/ha), segundo (103 t/ha ou menos 25%) e terceiro (37 t/ha ou menos 60%) cortes em uma lavoura comercial. “A vida desse canavial foi encurtada em dois ou três anos e ele provavelmente foi para reforma”, disse, destacando a necessidade do controle de tráfego na colheita mecanizada.
Segundo o consultor, a compactação do solo pode ser avaliada na linha e na entrelinha com penetrômetro hidráulico, penetrógrafo, trincheiras ou sistemas remotos, entre outros. Como ilustração, ele apresentou uma foto mostrando as diferenças entre o sistema radicular da soja plantada em uma área de cana, onde observou-se maior dificuldade de penetração no solo, e o de soja plantada em uma pastagem vizinha, onde o desenvolvimento foi visivelmente maior.
Já para evitar a compactação do solo, Conde apontou uma série de necessidades, como treinar pessoas e formar equipes; ter disciplina; padronizar manobras na colheita mecanizada; descrever todos os procedimentos operacionais; adequar os equipamentos; ter a validação pela equipe de segurança; capricho em todas as atividades; contar com uma equipe de auditoria de qualidade; sistematizar a lavoura antes do plantio; realizar um plantio sem compactação e com bom paralelismo; e utilizar variedades adequadas para cada ambiente.
O consultor destacou, ainda, o tráfego direcionado como medida para fugir da compactação, evitando-se também o pisoteio na soqueira e formando canteiros na linha de plantio, nos quais o solo estará descompactado. Também detalhou sobre a sistematização da lavoura, que envolve a sulcação em nível e terraços em terrenos declivosos para evitar erosões; a simulação de sulcos antes do plantio, já que quanto menos sulcos, menor será o número de manobras com o maquinário.
Para Conde, a palha é um dos melhores sistemas de conservação de solo e água, permitindo atividade microbiana na decomposição da matéria orgânica no solo, maior umidade e menor temperatura no solo. Além da palha da cana, ele apontou como opções de cobertura de solo restos vegetais da soja, do amendoim e das crotalárias em rotação de culturas. Outra opção é o método interrotacional ocorrendo simultaneamente (meiosi).
No preparo de solo, deve ser eliminada a camada compactada de solo, que normalmente em lavouras de cana é encontrada aos 15 cm de profundidade e pode ter até 40 cm de espessura. Um método recomendado para descompactação é a subsolagem a 45 ou 50 cm com trator.
O profissional recomenda a dessecação, a eliminação mecânica da soqueira em caso de rebrota, a subsolagem em faixas ou a canteirização (preparo somente nas faixas) e a operação de nivelamento para acabamento e facilitação do tráfego de máquinas.

Plantio direto

O pesquisador da Embrapa Cerrados, Marcos Carolino de Sá, pontuou que há muitos questionamentos sobre o plantio direto em cana-de-açúcar. Segundo ele, apesar de estudos com a técnica em lavouras de grãos mostrarem produtividades iguais ou superiores às do sistema convencional, em cana os resultados observados têm sido diferentes.
“Há trabalhos que demonstram produtividades menores sob plantio direto. Em nossos experimentos, não temos observado uma diferença significativa. Às vezes, há uma produtividade mais elevada sob plantio convencional, porém, não é significativa. Mas como avaliamos vários experimentos e várias condições, vemos uma tendência de maior produtividade sob sistema convencional. E essa tendência é maior principalmente em solos mais argilosos”, afirmou.
Isso é atribuído, segundo Sá, à qualidade do plantio. “Na hora de sulcar, um solo mais argiloso fica com mais torrões. O contato solo-tolete é um pouco prejudicado, o que não ocorre tanto em solos arenosos. Mas há também condições de solos arenosos e de textura média em que pode haver restrição à penetração de raízes, principalmente naqueles com areia muito fina, que irá se comportar como silte, selando poros e causando um ‘empacotamento’, o que dificulta a penetração de raízes”, explicou o pesquisador.
Já o pesquisador da mesma unidade, Kleberson de Souza, citou um experimento realizado em São Paulo que comparou diferentes sistemas de plantio em latossolo, entre eles os com arado de aiveca, grade niveladora, subsolagem, e o plantio direto, com eliminação química da soqueira e sulcação pela própria plantadeira. A média de produtividade ficou em 150 t/ha de cana-planta no primeiro corte.
“Ficamos abismados, porque no plantio direto não houve sequer destruição de soqueira. (No local do experimento) é um solo de fertilidade mais alta, onde mesmo sistemas radiculares mais reduzidos conseguem absorver a quantidade de nutrientes necessários para uma boa produtividade. Isso acendeu uma luz: o plantio direto na cana não é tão impossível assim. Claro, ele não é possível em todas as áreas”, ponderou, salientando a necessidade de diagnóstico da compactação do solo.
O pesquisador acredita que, com os avanços tecnológicos, os produtores e as usinas vão inovar cada vez mais. “Uma diferença pequena de produtividade, ocasionando economias de combustível, pode gerar ganhos exponenciais. Essa conta tem que ser refeita”, apontou.

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