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Potássio – Manejo é aliado na redução de pragas em eucalipto

Autores

Talita de Santana Matos
Pós-doutoranda PPG – Ciência do Solos – Universidade Rural do Rio de Janeiro
Elisamara Caldeira do Nascimento
Pós Doutoranda PPG – Agricultura Tropical – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
elisamara.caldeira@gmail.com
Glaucio da Cruz Genuncio
Professor adjunto – Fitotecnia – UFMT

O gênero Eucalyptus é originário da Austrália, e também foi identificado por alguns pesquisadores na Tasmânia e outras ilhas da Oceania. Até hoje foram reconhecidas mais de 700 espécies. O grande número de características e propriedades diferentes entre as espécies proporcionam uma infinidade de usos, como lenha, estacas, moirões, dormentes, carvão vegetal, celulose e papel, chapas de fibras e de partículas, até movelaria, geração de energia, medicamentos, entre outros.

O eucalipto chegou ao Brasil em torno da década de 40, adaptando-se às condições edáficas nas diferentes regiões do País. Sua importância econômica está fundamentada na necessidade do uso de madeira pela sociedade. Inicialmente a demanda de madeira era suprida quase que exclusivamente por meio das florestas nativas, cuja destruição tem provocado, muitas vezes, danos irreversíveis a alguns ecossistemas.

Florestas plantadas com espécies nativas levam em média 30 anos para que as árvores atingiam o ponto para o corte. Já o eucalipto, em geral, apresenta rápido crescimento, estando apto para o corte em torno de sete anos, capacidade de adaptação às diversas regiões ecológicas, além da alta produtividade de madeira (média nacional de 41 m³ por hectare, em ciclos de corte de aproximadamente sete anos), com menores custos e maiores taxas de retorno do investimento, conferindo grande atratividade ao cultivo, garantindo alta competitividade de seus produtos nos mercados interno e externo.

Pragas e doenças

Infelizmente a proximidade taxonômica com várias espécies brasileiras proporcionou a adaptação de uma infinidade de insetos logo após o início dos plantios. Plantios extensos, homogêneos e contínuos, além da baixa diversidade nos cultivos favoreceram o aumento demasiado de alguns insetos, tornando-os pragas.

Dentre as principais pragas estão as formigas cortadeiras (Atta spp.; Acromyrmex spp.), que causam desfolhamento total de mudas e plantas adultas, podendo levar à morte da planta. Os dois primeiros anos de implantação são onde ocorrem os maiores prejuízos, limitando a produção e onerando o empreendimento florestal. 

Em seguida temos: cupins das mudas (Syntermes spp.; Cornitermes spp.) responsáveis pelo descortiçamento de raízes e anelamento do caule de mudas; cupim do cerne (Coptotermes sp.; Nasutitermes sp.) que causam broqueamento do cerne de árvores; lagartas desfolhadoras (Thyrinteina arnobia, Eupseudosoma involuta, Euselasia apisaon, Sarsina violascens, entre outras espécies) responsáveis também por desfolhamento; besouro amarelo (Costalimaita ferrugínea) – rendilhamento e/ou perfuração de folhas, desfolhamento; gorgulho do eucalipto (Gonipterus gibberus; Gonipterus scutelatus) – alimentam-se de folhas tenras e brotos vegetativos, desfolhamento; psilídeo de concha (Glycaspis brimblecombei) –  desfolhamento; psilídeos de ponteiro Ctenarytaina spatulata; Ctenarytaina eucalypti; Blastopsylla accidentalis) – deformação de folhas e brotações novas, morte de ponteiros e perda de dominância apical; percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus) –  desfolhamento; vespa de galha – (Leptocybe invasa) –  deformação de folhas e brotações novas pela presença de galhas; microvespa do citriodora (Epichrysocharis burwelli) – necrosamento e queda prematura de folhas.

Potássio contra pragas

A fertilidade do solo influencia diretamente o desenvolvimento das culturas, podendo afetar indiretamente a densidade populacional de insetos-praga. Isso se deve ao fato de plantas bem supridas em nutrientes aumentarem sua resistência e tolerância a pragas, doenças e outros tipos de estresses.

O potássio, por atuar na síntese de proteínas, carboidratos e da adenosina trifosfato (ATP) e na regulação osmótica favorece a resistência e a permeabilidade das membranas plasmáticas e a espessura da parede celular e da cutícula das plantas. Sendo assim, há maior deposição de celulose e compostos relativos, promovendo maior estabilidade e formação de tecidos esclerenquimatosos, maior lignificação e suberização (Ellet, 1973; Perrenoud, 1990), o que propicia a tenacidade ao ataque de pragas e a diminuição da severidade e incidência dos danos causados por insetos.

O suprimento adequado de potássio nos tecidos vegetais favorece a síntese e o acúmulo de compostos fenólicos, que funcionam como inibidores de insetos (Huber & Arny, 1985, Perrenoud, 1990).

Além disso, plantas deficientes em potássio sintetizam menores quantidades de proteína, amido e celulose (compostos de alto peso molecular), favorecendo o acúmulo de açúcares solúveis, aminoácidos e N solúvel (compostos de baixo peso molecular) como resultado do aumento da atividade das enzimas decompositoras (amilase, sacarase, glucosidase e protease).

O acúmulo desses compostos altera o equilíbrio osmótico das células e sua concentração é aumentada nos exsudados liberados pelas plantas, favorecendo o desenvolvimento de pragas e doenças.

Mais benefícios

O potássio é o elemento mais abundante nas plantas. Apesar de não fazer parte de nenhuma estrutura ou molécula orgânica na planta, atua em diversos processos fisiológicos, tendo importante função no estado energético, na translocação (transporte e armazenamento de nutrientes e incremento na absorção de nitrogênio), no armazenamento de assimilados, na manutenção de água nos tecidos vegetais, por meio da abertura e fechamento dos estômatos, mantendo o turgor celular, além de ativar vários sistemas enzimáticos, principalmente ligados aos processos de respiração e fotossíntese.

Participa, também, da síntese de proteínas e amidos das folhas. Portanto, a adubação adequada resulta em inúmeros resultados benéficos, que vão desde o incremento no crescimento até o aumento da resistência à seca e às baixas temperaturas, resistência a pragas e moléstias, ao acamamento e incremento na nodulação das leguminosas.

Produtividade

O potássio é o terceiro macronutriente mais extraído pelas plantas de eucalipto. De acordo com os trabalhos desenvolvidos ao longo dos anos a resposta a adubação potássica pode atingir aumentos de produtividade em torno de 200%.

Geralmente os solos utilizados para os reflorestamentos são sem aptidão para as lavouras e, portanto, normalmente com baixos teores de nutrientes e matéria orgânica, acidez elevada, altos teores de Al e baixo fornecimento de água. É importante ressaltar que a análise de solo é imprescindível para atingir a máxima produtividade das culturas em geral.

 A recomendação de potássio é feita com base na curva de resposta e ajustada de acordo com o teor disponível, a textura e teor de cálcio no solo, determinadas a partir da análise de solo. Além disso, a necessidade da cultura também é fator determinante para o estabelecimento das doses (que podem variar de acordo com a espécie) a serem aplicadas tanto na implantação, quanto nas adubações de cobertura e manutenção, que devem ser realizadas no decorrer do ciclo da cultura.

Também é relevante ressaltar que para o maior incremento em produção e/ou maior resistência a pragas e doenças, todos os nutrientes essenciais devem ser fornecidos às plantas em quantidades adequadas. Sendo assim, o manejo aplicado deve consistir no conjunto de decisões e práticas que envolvam a determinação de doses e épocas de aplicação, visando a máxima eficiência técnica e econômica com base no tipo de solo e no material genético.

Além disso, a seleção de genótipos que sejam mais eficientes na absorção e utilização do potássio proporcionam melhores respostas ao manejo aplicado.

Após a determinação da quantidade necessária de cada nutriente a ser aplicado nas adubações (plantio, cobertura e manutenção), deve-se buscar os adubos formulados que melhor atendam as proporções desses nutrientes.

Recomendações

As adubações de plantio visam fundamentalmente o fornecimento de fósforo, entretanto, em solos com baixos teores de potássio disponível recomenda-se a aplicação de pequenas doses de potássio (em torno de 20 kg de K2O ha-1).

As adubações de cobertura são realizadas geralmente em dois momentos. A primeira cobertura é realizada entre 75 e 90 dias após o plantio e a segunda entre seis e nove meses após o plantio. A adubação de cobertura visa fornecer os nutrientes de alta mobilidade no solo, nitrogênio, potássio e boro.

Os adubos devem ser localizados em coroa, no caso de aplicação manual, ou em filete contínuo, quando mecanizada, a 30 cm do colo da muda. A adubação de manutenção é realizada entre 18 e 24 meses após o plantio. A recomendação de adubação deve ser baseada no monitoramento nutricional, que tem como objetivo identificar qual(is) o(s) nutrientes(s) limitantes (s) ao desenvolvimento do eucalipto.

A avaliação dos efeitos das relações do potássio com outros nutrientes na produtividade, especialmente Ca e Mg e verificação da relação entre a adubação potássica e a qualidade do produto florestal, também são importantes medidas a serem adotadas para a manutenção da qualidade da floresta plantada.

Pesquisas

Vários trabalhos vêm sendo realizados com o intuito de avaliar a eficiência de utilização do potássio pelas plantas, como o trabalho pioneiro de Gava (1997) na região de Angatuba (SP), onde a aplicação de 256 kg de K2O ha-1 proporcionou aumentos de 118% em volume de madeira em relação à testemunha.

Entretanto, o que se tem observado é que cada material genético apresenta habilidades diferenciadas de uso de um ou de outro nutriente absorvido, devido principalmente à vasta diversidade ambiental encontrada na região de origem das espécies.


Eucalipto à frente

Entre as espécies florestais plantadas com fins produtivos, o cultivo do eucalipto é um dos que tem maior disponibilidade de indicações e orientações técnicas. O eucalipto tem grande importância comercial na economia brasileira. Segundo a Indústria Brasileira de Árvores, são 5,5 milhões de hectares plantados com este gênero, com uma produtividade média de 39 m³/ha/ano. A produtividade, contudo, depende de diversos fatores, como o local de plantio, os tratos culturais e os insumos disponibilizados.

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