Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
O Egito é o maior produtor mundial de tâmaras, chegando a 1,8 milhão de toneladas por ano (18% da colheita mundial). É, também, o primeiro produtor desta fruta no mundo. As tâmaras produzidas lá foram exportadas para mais de 63 mercados no exterior.
A Arábia Saudita (1.302.852 toneladas) e o Irã (1.204.158 toneladas) estão em segundo e terceiro lugares na produção. Em relação à área cultivada com tamareira, em 2018 o Irã se destacou com 171.647 hectares, seguido da Argélia (168.855 hectares) e Iraque (147.900 hectares).
Os principais países exportadores de tâmaras são a Tunísia, Israel, Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito, Argélia, Iraque, Paquistão, Sudão e Omã. Os principais mercados consumidores das tâmaras são Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Turquia, Emirados Árabes, Nepal, Índia, Marrocos, Bangladesh, Cingapura, Omã, Tailândia, Brasil, França, Uruguai e Argentina.
Produção brasileira
No Brasil, os principais produtores de tâmara estão concentrados no nordeste, devido às condições climáticas favoráveis, principalmente às altas temperaturas durante o dia e a noite. Os maiores estados brasileiros produtores de tâmaras estão na região nordeste: Paraíba, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará. O governo da Bahia está investindo um alto valor comercial no cultivo da tamareira. Isso porque o clima quente e seco do semiárido baiano se mostra ideal para o desenvolvimento da tamareira, uma árvore que tem várias utilidades.
As tâmaras são frutos ricos em nutrientes e têm alto valor agregado, oferecendo novas oportunidades econômicas para crescimento da região. O governo da Bahia fez parceria com representantes dos Emirados Árabes. Inicialmente, as cidades contempladas com os projetos de implantação das tamareiras são Juazeiro e Barreiras. As mudas são da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e serão plantadas nas regiões do território do São Francisco e a Bacia do Rio Grande.
Os biomas do Cerrado e da Caatinga estão sendo avaliados para estudos com mudas de variedades de tâmaras, onde se observou semelhanças climáticas e de solo com os Emirados Árabes. A expectativa é que ocorra a primeira colheita entre dois e três anos. O Estado da Bahia tem potencial para ser um grande produtor de tâmaras no país.
Potencial nacional
O mercado brasileiro aumentou as compras de tâmaras do exterior nos últimos anos. A importação média anual foi de mil toneladas nos três últimos anos, especialmente dos países árabes. As tamareiras são encontradas principalmente em lugares desérticos e não há plantações em larga escala no território brasileiro. Uma palmeira adulta ou madura totalmente produtiva pode produzir de 60 a 100 kg de frutos por ano, com algumas cultivares chegando a até 180 kg.
Versatilidade do cultivo
O cultivo de tamareira tem por objetivo ocupar regiões degradadas e solos do semiárido brasileiro, pois se trata de uma planta do Oriente Médio, produzida em todos os países árabes, que se desenvolve no deserto. Além da questão econômica, que é o que mais interessa hoje, há também a questão ambiental, que está na ordem do dia. As palmeiras de tâmara fertilizam o solo, suavizando a temperatura e interrompendo a progressão das zonas em processo de desertificação.
Além da região do nordeste, a centro-oeste e sudeste têm condições climáticas e tecnologias para produzir tâmaras com qualidade. Os biomas do Cerrado e Caatinga possuem solos e condições climáticas que se assemelham muito aos encontrados na Arábia Saudita.
Mercado em Franco Crescimento
O Brasil importa toda a tâmara consumida, estimando-se que em 2024 o total tenha sido da ordem de 600 toneladas. O mercado internacional dessas frutas está em amplo crescimento. As table fruit são as tâmaras frescas (sem caroço) de grau selecionado que vão para a mesa. Nos países árabes, elas podem ser maceradas com outras frutas, como amêndoas, nozes e pistache. As dried form, ou tâmaras secas, são usadas para uso doméstico e industrial. O pó da tâmara é usado na confeitaria, padarias e em outros produtos alimentícios, enquanto as industriais são destinadas à produção de pasta de tâmaras, xarope, pó, suco, mel, vinagre, compota e picles.
Propagação
São muitas as variedades de tâmaras no mundo, mas poucas as que têm valor comercial. A produção de mudas para a propagação da tamareira pode se dar de forma sexuada, por meio de sementes, ou assexuada, com a propagação vegetativa por meio de rebentos. Por se tratar de uma planta dioica, sua propagação por semente pode resultar em descendentes que não reproduzem as características genéticas da planta-matriz, o que não é conveniente quando se deseja manter uma planta com qualidade de frutos ou arquitetura de copa.
Além disso, quando se obtêm plantas a partir de sementes, a proporção de plantas femininas e masculinas é de 1:1, e só se consegue determinar o sexo após o florescimento, o que pode levar vários anos, não sendo economicamente viável. A propagação por sementes é realizada pela retirada destas a partir de frutos maduros. As sementes podem germinar em canteiros ou saquinhos, e após atingirem o tamanho de 20 a 30 cm, faz-se o transplantio para o local definitivo. É recomendável a propagação vegetativa por meio de rebentos para formação de um pomar comercial. Os rebentos têm a vantagem de originar plantas com características idênticas à planta que lhe deu origem e do mesmo sexo.
Próximos passos
São utilizados muitos rebentos para serem enraizados em viveiros e, posteriormente, ter melhor desenvolvimento no campo, com uma produção mais precoce. Já no preparo do solo, escolher, de preferência, áreas que apresentam boa profundidade de perfil, sem compactação, fácil drenagem e boa aeração para o desenvolvimento ideal das raízes.
Assim, logo após realizar a análise de solo da área pretendida, fazer a calagem com calcário, aração e gradagem para correção da acidez do solo, e realizar a marcação e abertura das covas. As covas deverão ser preenchidas com solo, esterco bovino e adubos (sulfato de amônio, super simples e cloreto de potássio) e irrigadas. O manejo correto exige as atividades de controle de plantas daninhas, poda de limpeza, adubação e irrigação.
Os tratos fitossanitários deverão ser aplicados conforme surjam problemas com pragas e doenças. No início de formação do pomar das tamareiras, pode ser feito consórcio com outras culturas, como: milho, banana, mandioca, inhame, abacaxi, amendoim, melancia, melão, abóbora ou as leguminosas para adubação verde.
O controle de plantas daninhas pode ser feito através de capinas (manuais, roçadas, escarificações, mecânicas, gradagem), mulching e com uso de herbicidas. Em qualquer método utilizado para combater as plantas daninhas, devem ser evitados danos às plantas durante a operação de limpeza.
Plantio
A tâmara (Phoenix dactylifera) é uma planta de origem tropical, conhecida por seus frutos doces e suculentos. É uma palmeira imponente, de tronco único e alto, que pode atingir alturas de até 20 metros. Suas folhas são grandes e em forma de leque. É cultivada em regiões de clima quente, principalmente no Oriente Médio, norte da África e algumas áreas da América do Norte e do Sul.
A tamareira é exigente em luminosidade e precisa ser plantada em área ensolarada e com solo bem drenado. As sementes devem ser plantadas em covas rasas, com cerca de 2,0 cm de profundidade, e mantidas úmidas até a germinação, que geralmente ocorre em algumas semanas. É recomendado o plantio de várias sementes juntas para aumentar as chances de germinação. Uma vez que as mudas atingem um tamanho adequado, podem ser transplantadas para o local definitivo, deixando uma distância adequada entre as plantas.
Dicas importantes
Durante o período de crescimento ativo, é necessário manter o solo úmido, mas não encharcado. Regas regulares são necessárias, especialmente em climas mais quentes e secos. A aplicação de adubo orgânico ou fertilizante granulado balanceado, rico em nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, pode ser feita a cada dois ou três meses durante a estação de crescimento.
Além disso, é recomendado o uso de matéria orgânica, como composto, para melhorar a qualidade do solo e fornecer nutrientes adicionais. A temperatura ideal para a planta está na faixa de 20 a 30ºC. Essas plantas requerem espaço para se desenvolverem completamente, devido ao seu tamanho considerável quando maduras. Além disso, o solo deve ser bem drenado e rico em matéria orgânica para fornecer os nutrientes necessários. A tamareira também se beneficia da proteção contra ventos fortes, que podem danificar suas folhas e tronco. O espaçamento recomendado é de 10 x 10 m, totalizando 100 plantas por hectare.
Manejo de doenças
As doenças mais comuns da tamareira são: Botryodiplodia theobromae (fungo); doença de Bayoud (fungo microscópico que pertence à micoflora do solo e é denominado Fusarium oxysporum); doença da queimadura negra (Thielaviopsis paradoxa); mancha de folha marrom (Mycosphaerella tassiana); doença de diplodia (causada por Diplodia phoenicum (Sacc)); mancha de Graphiola (Graphiola phoenicis (Moug) Poit); doença de Khamedj (Mauginiella scattae Cav); doença de Belaat (Phytophtora sp); omphalina; podridão da raiz (O. tralucida Bliss e O. pigmentata Bliss).
As pragas mais comuns da tamareira são: traça de amêndoa [Ephestia cautella (Walker)], traça de passa [Cadra figulilella (Gregson)], besouros de seiva (Nitidulídeos); traça da farinha indiana [Plodia interpunctella (Hubn)]; traça de alfarroba [Ectomelois ceratoniae (Zeller)]; besouro-de-dente-de-serra [Oryzaephilus surinamensis (L.)]; cochonilha vermelha da palma (Phoenicococcus marlatti); escama branca Parlatoria blanchardii Targ.; bicudo da palma (Diocalandra frumenti); curculionídeo ferruginoso (Rhynchophorus ferrugineus); Apate monachus (besouro); infestação de insetos nos frutos armazenados: as brocas (Ectomyeloïs ceratoniae Zeller; Plodia interpunctella Hbn., Cadra cautella Walk e Cadra figulilella Greg.) e os gorgulhos (Oryzaephilus surinamensis, Tribolium confusum e Carpophilus spp.).
Frutificação e desenvolvimento das frutas
A tamareira começa a frutificar com uma idade média de cinco anos, com produção média de 400 a 600 kg/árvore/ano, e continua a produzir por até 60 anos.
As tamareiras podem atingir 25 a 30 metros de altura, crescendo sozinhas ou formando uma touceira com vários caules de um único sistema radicular.
O sistema radicular é bem desenvolvido e alcança grandes profundidades, sendo fibroso, fasciculado e originado de um bulbo na base do tronco.
As raízes primárias têm comprimento médio de 4,0 metros e podem se estender até 10 metros. A polinização natural é feita pelo vento; portanto, abelhas e insetos são fundamentais para uma boa frutificação.
Mas, para a produção comercial de tâmaras, é necessário polinização artificial, que garante uma boa fertilização e aumento de produtividade.
Em geral, plantios comerciais de tâmaras utilizam o espaçamento entre plantas de 10 x 10 m, o que resulta em 100 palmeiras por hectare.
No entanto, há plantios com espaçamento mais reduzido entre plantas, de 9,0 x 9,0 m, resultando em 121 palmeiras por hectare, ou 10 x 8,0 m, com 125 palmeiras por hectare.
Benefícios das tâmaras para a saúde:
- As tâmaras são ricas em nutrientes: vitaminas e minerais;
- O potássio presente nas tâmaras é crucial para a saúde cardiovascular, auxiliando na redução da pressão arterial e no equilíbrio dos fluidos corporais;
- Possui propriedades anti-inflamatórias;
- Fortalecem os ossos;
- Melhoram a saúde da pele;
- As tâmaras contêm aminoácidos que ajudam na produção de serotonina, o neurotransmissor do “bem-estar” ou seja, a redução do estresse e da ansiedade;
- As tâmaras contêm enzimas que facilitam a digestão;
- É um adoçante natural, por ser rica em açúcares naturais;
- As tâmaras possuem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes que previnem doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.
- A alta quantidade de fibras da tâmara, além de regular o fluxo intestinal, colabora para evitar picos na glicemia, uma vez que desacelera a digestão. Assim, as tâmaras podem ser utilizadas na prevenção e tratamento da diabetes.
Com tantos benefícios, fica para você a decisão: que tal começar a plantar?