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Pragas e doenças do mamoeiro

Créditos Pixabay

Karin F. S. Collier
Mestre e doutora em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
karincollier@gmail.com

O desenvolvimento das pragas e doenças no mamoeiro ocorre em decorrência da interação do ambiente (clima, temperatura e umidade); do hospedeiro (mamoeiro), do patógeno (fungos, vírus, bactérias) e do homem (mudas infestadas e práticas culturais).

O acompanhamento atento pelo monitoramento e a adoção de medidas preventivas reduzem os problemas fitossanitários, contudo, os cuidados devem se iniciar na implantação do pomar, com a escolha do solo, a adubação e a cultivar.

O plantio deve ser realizado em locais de grande insolação, com temperatura mínimas de 21ºC e médias das máximas de 33ºC, com mais de 1.200 mm de chuvas anuais, bem distribuídas durante o ano.

Recomenda-se o plantio em solos férteis e bem drenados. Deve-se evitar que as plantas passem por períodos de estresse hídrico e que apresentem desequilíbrio nutricional, pois ficam predispostas à maior severidade das doenças fúngicas, principalmente a antracnose.

Pragas do mamoeiro

A cultura do mamoeiro tem como principais pragas os ácaros, destacando-se o ácaro-branco, que causa a chamada “queda do ponteiro”, ou “queda do chapéu do mamoeiro. Um pomar de mamoeiros de um ano, com uma produtividade esperada de 38 a 40 toneladas no primeiro ano de produção, quando infestado pelo ácaro-branco, pode chegar a produzir apenas 15% do previsto. Os frutos são de qualidade inferior, sem sabor e com baixo teor de açúcar.

O ataque do ácaro-branco é mais intenso nos períodos mais úmidos e quentes do ano e para o seu controle recomenda-se aplicar enxofre, de modo que atinja o ponteiro da planta.

Os ácaros tetraniquídeos (rajado e vermelho) infestam os pomares nos períodos quentes e secos e causam necrose e perfuração nas folhas, resultando na sua queda prematura. Isto retarda o desenvolvimento do mamoeiro e expõe os frutos à ação direta dos raios solares, prejudicando sua qualidade. Podem ser controlados pulverizando-se os acaricidas recomendados, direcionando-se a calda para a superfície das folhas inferiores.

O termo moscas-das-frutas designa um grupo de pragas com cerca de oito espécies do gênero Anastrepha e Ceratitis capitata, de importância mundial, que causam danos diretos aos frutos. Geralmente essas moscas atacam os frutos do mamoeiro somente após o início da sua maturação e os danos se apresentam quando estes estão maduros.

As larvas se alimentam da polpa do mamão, tornando flácida a região atacada do fruto. Plantas com meleira são mais suscetíveis ao ataque das moscas-das-frutas. O controle inicia-se no plantio, evitando a proximidade de cafezais, realizando-se a colheita dos frutos no início da maturação e eliminando os frutos maduros nas plantas e frutos refugados do pomar.

Deve-se evitar a presença de lavouras abandonadas nas proximidades e realizar o monitoramento periódico com o uso de frascos caça-moscas.

A coleobroca está associada a plantas velhas e malcuidadas, entretanto, tem sido encontrada em plantas mais novas. Os adultos são pequenos besouros “bicudos”, de cor marrom-acinzentada que à noite perfuram a casca do tronco do mamoeiro e fazem a postura.

Suas larvas se alimentam do caule, formando galerias, normalmente próximas à superfície. Os sintomas de seu ataque são uma exsudação escura, e em altas infestações a planta chega a sucumbir.

Tão logo se observe a presença do inseto, devem-se realizar inspeções a cada 15 dias nos mamoeiros, para localizar as larvas e destruí-las mecanicamente. Em seguida, aplicar inseticida que tenha ação de contato ou profundidade, pincelando ou pulverizando o caule.

A cigarrinha-verde torna-se praga para a cultura do mamoeiro quando este é cultivado próximo a plantas hospedeiras desse inseto como o feijoeiro. Possivelmente está associada com a transmissão da meleira. Seus sinais são manchas amareladas semelhantes a sintomas de deficiência de magnésio. Sob ataque intenso as folhas tornam-se encarquilhadas, adquirindo uma coloração amarelada nos bordos, e o seu controle é químico.

Não confunda

Os afídeos ou pulgões não são considerados pragas do mamoeiro pois não chegam a estabelecer colônias e possuem vários hospedeiros. Mas são vetores do vírus da mancha anelar, uma das mais sérias doenças dessa cultura. Como medidas de controle deve-se erradicar os mamoeiros infectados e eliminar as plantas hospedeiras, como as cucurbitáceas.

Esta listagem não contempla todos os insetos e ácaros que podem estar associados ao mamoeiro, portanto outros organismos podem, em condições específicas, adquirir “status” de praga.

Doenças do mamoeiro

O mamoeiro é afetado por um grande número de doenças, entre as quais as viroses são o maior entrave à implantação e podem levar à migração da cultura. As viroses mais importantes são: vírus da mancha-anelar-do-mamoeiro, também conhecido como mosaico-do-mamoeiro; vírus-amarelo-letal e vírus-da-meleira.

Não há métodos curativos efetivos para eliminar uma virose de uma planta e é difícil evitar que ela infecte uma plantação.

A virose do mosaico-do-mamoeiro ou mancha-anelar ocorre em todos os locais nos quais o mamoeiro é cultivado, e é causada pelo vírus da mancha anelar (Papaya ringspot virus, PRSV).

No Brasil o PRSV é disseminado de uma planta de mamoeiro para outra pelos pulgões. As plantas infectadas apresentam amarelecimento das folhas superiores, há produção de mosaico e nos frutos são produzidos anéis esverdeados que, com o passar do tempo, tornam-se necróticos.

As folhas podem ficar deformadas e apresentar a lâmina foliar reduzida (fio de sapato), as plantas infectadas apresentam porte reduzido e os frutos têm o seu teor de açúcar reduzido. Quando a infeção ocorre em plantas novas, estas não produzem.

O controle é realizado pela adoção de um conjunto de medidas: resistência varietal; práticas culturais (mudas sadias, plantios novos distantes de plantios velhos, erradicação precoce das plantas que apresentarem sintomas, controle das invasoras e plantio consorciado de mamoeiro com milho) e o uso de plantas transgênicas.

A meleira se caracteriza pela exsudação de látex mais fluido dos frutos, que escurece em contato com o ar, conferindo um aspecto “melado” ao fruto. Os frutos afetados também podem apresentar manchas claras na casca e na polpa. Em folhas de plantas jovens, antes da frutificação, as margens das folhas tornam-se necróticas, após a exsudação de látex.

A transmissão pode ser pelas sementes de plantas infectadas e aventa-se a possibilidade de um inseto vetor, provavelmente cigarrinhas e/ou mosca branca. O controle é feito pelo monitoramento e adoção de práticas culturais, como uso de sementes obtidas de plantas sadias para formação de mudas, manter o pomar livre de plantas daninhas e limpar os instrumentos de corte utilizados nos tratos culturais e colheita.

O amarelo letal tem dispersão pouco eficiente, e parece ser restrito ao mamoeiro. Provoca o amarelecimento das folhas do terço superior da planta e retorcimento do ponteiro. Com o passar do tempo as folhas murcham e morrem, causando a morte da planta.

Os frutos apresentam manchas circulares verde-claras que amarelecem com o passar do tempo, sendo que a polpa fica empedrada e com maturação retardada. Até o momento não foi encontrado nenhum vetor para essa virose. O controle é a adoção das medidas já mencionadas para a meleira.

Os fungos

As doenças fúngicas também são relevantes e dentre elas ressalta-se a antracnose, uma doença de distribuição mundial que afeta diretamente os frutos, tornando-os imprestáveis para a comercialização e para o consumo.

O fungo Colletrotrichum gloeosporioides coloniza os tecidos e os frutos jovens param de se desenvolver, se mumificam e caem. A doença tem condições de desenvolvimento favorecidas pelo aumento da precipitação e da umidade relativa, quando aparecem na casca dos frutos pequenos pontos pretos que vão aumentando de tamanho, formando manchas com um halo de tecido aquoso.

Em infecções intensas as manchas podem se juntar e espalhar pelo fruto, penetrando e aprofundando, causando a podridão mole. As folhas apresentam lesões circulares, com as bordas irregulares e o centro acinzentado com pontuações pretas. Muitas vezes os sintomas aparecem após a colheita.

O controle é complexo, pois o fungo sobrevive de um ano para o outro nas lesões velhas, principalmente nas folhas. O meio recomendado para o controle da antracnose é a pulverização pré-colheita, seguida de cuidados preventivos, na pós-colheita.

Algumas medidas preventivas para regiões com umidade relativa superior a 80% são a utilização de espaçamento maior, a retirada e queima de folhas velhas e a pulverização com fungicida cúprico. No florescimento e frutificação, quando houver umidade superior a 90%, torna-se necessário um tratamento fitossanitário para assegurar a produção de frutos sadios.

Varíola

A varíola é uma doença comum em pomares comerciais e domésticos. Suas manchas se limitam à superfície dos frutos, contudo, o aspecto do fruto atacado causa desvalorização comercial.

O fungo Asperisporium caricae geralmente infecta a parte inferior das folhas mais velhas, desenvolvendo frutificações pulverulentas que formam manchas pequenas e nas áreas secas da folha a lesão circular torna-se branca.

As folhas infectadas têm redução da área de fotossíntese e o ataque intenso pode levar à queda prematura das folhas. O controle é feito com fungicidas e o monitoramento é indispensável.

Podridão preta

Outra doença fúngica relevante para o mamoeiro é a podridão preta, pois o fungo Phoma caricae-papayae coloniza folhas velhas e pecíolos, e nos frutos a podridão aparece em forma de manchas pequenas, circulares e aquosas que se juntam, formando áreas escuras com pontos pretos.

Com o desenvolvimento da doença, a lesão torna-se deprimida e dura, podendo ser extraída facilmente. Os frutos devem ser colhidos antes de amadurecer e submetidos, cinco dias antes da colheita, a uma aplicação de fungicida. Antes do armazenamento os frutos devem ser mergulhados novamente em uma solução de fungicida e mantidos a uma temperatura de 25ºC.

Phytophthora

A podridão de phytophthora (Phytophthora sp.) causa grandes perdas durante períodos de chuvas intensas e altas temperaturas. O fungo penetra nos frutos, nas cicatrizes das folhas ou em ferimentos do caule causados por ferramentas durante as operações culturais.

O fruto infectado fica enrugado e cai no solo, liberando novas estruturas para infecção. Nos frutos maduros forma-se a podridão, cujos tecidos ficam recobertos por um micélio branco com aspecto de algodão.

No caule, os tecidos mais macios e superficiais são destruídos. A infecção do tronco compromete o fluxo de seiva e a planta começa a murchar, as folhas ficam amareladas e caem.

No colo do mamoeiro formam-se lesões escuras circundadas por uma área aquosa e as raízes apresentam uma podridão mole que destrói inteiramente os seus tecidos, podendo levar à morte da planta em solos pesados e pouco drenados.

A podridão dos frutos pode ser controlada com pulverizações preventivas e em regiões com histórico da doença recomenda-se a substituição na cova de plantio do solo retirado por solo virgem onde nunca foi plantada a cultura do mamão.

Outras práticas culturais recomendadas são: evitar o uso de solos argilosos em regiões com alta pluviosidade; drenagem em solos encharcados, evitar ferimentos no caule e nos frutos; erradicar e queimar no local plantas em adiantado estado de infecção. No início da formação da lesão no colo e no tronco pode-se raspar a área afetada e aplicar uma pasta cúprica.

Oídio

O oídio é um fungo que causa pequenos prejuízos, exceto em plantas no viveiro, ou em temperaturas amenas e clima seco. O fungo Oidium caricae desenvolve massas brancas na face inferior das folhas e, ocasionalmente, na face superior. O fungo apresenta aspecto de pó branco na área das lesões. Em caso de alta incidência, recomenda-se a aplicação de produtos químicos, principalmente à base de enxofre.

Estiolamento

O estiolamento ou tombamento de mudas é uma doença que ocorre geralmente em viveiros e é causada por diversos fungos de solo (Phytophthora, Pythium, Fusarium e Rhizoctonia solani), variáveis de região para região, mas com os mesmos sintomas.

O ataque dos fungos é facilitado quando a umidade está elevada e há um adensamento das plantas. A doença também pode ocorrer na fase inicial de crescimento dos mamoeiros em terrenos encharcados ou de difícil drenagem, e em terrenos rochosos o problema se agrava ainda mais.

Apesar da sintomatologia ser a mesma, o controle é variável em função do fungo. Os viveiros devem ser implantados em locais ensolarados, longe de plantações e com menor densidade de plantas. Para o preparo das mudas, utilizar solos tratados por fumigação ou esterilização via calor nos quais não se tenha cultivado mamoeiro por cinco anos e as sementes devem ser tratadas.

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Alerta

Ressalta-se que o uso de defensivos agrícolas para o controle das pragas e doenças deve seguir o receituário agronômico emitido pelo engenheiro agrônomo mediante visita à área, investigação do histórico do local e dos produtos já usados, conhecimento dos equipamentos disponíveis, dentre outras informações.

As recomendações devem considerar o rodízio de mecanismo de ação, o período de carência e o perfil do produtor. O manejo integrado de pragas e doenças deve ser priorizado, pois os países importadores têm valorizado a adoção dessas práticas objetivando reduzir o uso de defensivos agrícolas e de resíduos nos frutos, bem como os perigos e riscos de contaminações do ambiente causadas por esses produtos.

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