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Principais doenças do algodoeiro

Autora

Letícia Ane Sizuki Nociti Dezem
Doutora em Produção Vegetal e professora da FEB e FAFRAM
leticianociti@gmail.com

Crédito: Shutterstock

As condições climáticas do Cerrado brasileiro são, de modo geral, favoráveis ao desenvolvimento de várias doenças que afetam a cultura do algodoeiro. Além disso, algumas práticas de cultivo podem favorecer, enquanto outras podem reduzir a ocorrência ou o dano de determinadas doenças.

Um dos grandes desafios na cultura do algodoeiro é a correta identificação dos sintomas das principais doenças e pragas que incidem sobre a cultura. Nesse caso, o monitoramento da lavoura deve ser feito por técnicos (monitores de campo) rigorosamente treinados para identificar e quantificar corretamente as doenças e as pragas.

Mancha alvo ou mancha de corinéspora

A mancha alvo ou mancha de corinespora é causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Sua disseminação ocorre por respingos de chuva e restos de cultura. As condições favoráveis para ocorrência são temperatura de 18ºC e 21ºC e alta umidade.

Os sintomas iniciais da mancha alvo no algodoeiro são pequenos pontos circulares de coloração arroxeada nas folhas. Com a evolução da doença, esses pontos tornam-se manchas de formato arredondado ou irregular, com bordas marrom-escuras e centro marrom-claro, variando em tamanho de 2,0 a 20 mm. As lesões, quando completamente desenvolvidas, podem apresentar anéis concêntricos e, quando a infecção é alta, as folhas caem prematuramente.

Pouco se sabe a respeito do controle desta doença na cultura do algodão. Em um primeiro instante é importante que seja realizado o monitoramento para identificar quais talhões e propriedades apresentam a incidência da doença no algodoeiro e ao mesmo tempo identificar seu comportamento de evolução.

Após isto, há necessidade de se utilizar práticas de controle culturais, que visam manipular as condições em que a cultura é cultivada antes, durante e após o seu início, de modo a desfavorecer o desenvolvimento de patógenos e proporcionar o pleno crescimento das plantas.

Como exemplos podemos citar: evitar o uso de espaçamento reduzido e alta densidade de plantas, utilização do regulador de crescimento a fim de promover plantas de menor altura, se lavoura irrigada, reduzir o turno de rega, pois tais fatores impedem a formação de um microclima favorável ao desenvolvimento de patógenos.

Mancha-de-mirotécio

A mancha-de-mirotécio, causada pelo fungo Myrothecium roridum, foi constatada nas principais regiões produtoras de algodão na safra 2003/04. M. roridum é um fungo habitante natural do solo, saprófita, oportunista, que sobrevive em restos culturais e pode ser transmitido via sementes.

Em condições favoráveis, o fungo é capaz de penetrar nos tecidos de plantas submetidas a condições de estresse, causando problemas de desfolha e apodrecimento de maçãs e acarretando perdas na produção. A doença pode também ocasionar o tombamento de pré e pós-emergência das plântulas.

Os primeiros sintomas de infecção aparecem nas folhas, seguidas pelas brácteas, maçãs, pecíolos e caules. Os sintomas são caracterizados por manchas circulares, formando anéis concêntricos circundados por uma coloração vinho a avermelhada, com o centro de coloração marrom.

Nas maçãs, pecíolos e caules as lesões são geralmente de forma irregular e coloração escura, circundadas por uma coloração vinho a avermelhada. Os sintomas da mancha-de-mirotécio podem ser facilmente confundidos com os sintomas da mancha-de-alternária, por causa da formação de anéis concêntricos. Porém, a evolução da mancha-de-alternária é mais lenta e não há formação de esporodóquios.

As condições favoráveis para o desenvolvimento dessa doença são temperaturas entre 25 e 30°C, umidade elevada, alta pluviosidade e plantas submetidas a condições de estresse de qualquer natureza. A disseminação dos esporos do fungo de partes de plantas infectadas para as partes sadias ocorre principalmente por meio de respingos de água das chuvas e irrigação.

A elevada densidade de plantio proporciona um microclima favorável à rápida disseminação e à ocorrência de novos focos de infecção. M. roridum também pode ser transmitido por meio de sementes infectadas.

Dentre as medidas de controle que devem ser adotadas para prevenir a mancha-de-mirotécio, podem ser citadas: a rotação de culturas, a destruição de restos culturais e plantas daninhas, o tratamento químico das sementes, a adoção de população adequada de plantas por hectare, o uso adequado do regulador de crescimento e o controle químico com fungicidas.

Deve-se também preservar o estado fitossanitário das plantas, evitando danos mecânicos provocados por implementos agrícolas ou fitotoxicidade provocados por adubações de cobertura e pulverizações. Esses danos são considerados portas de entrada, pois o patógeno é capaz de penetrar, se instalar e se desenvolver através destas vias quando as condições climáticas se encontram favoráveis.

O controle químico deve ser realizado com base nos produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Mofo branco

O mofo branco do algodoeiro é causado pelo fungo polífago Sclerotinia sclerotiorum, tendo como hospedeiras plantas de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies. É um fungo amplamente distribuído em todas as regiões temperadas, tropicais ou subtropicais produtoras de feijão, soja, girassol, canola, ervilha, pepino, tomate, batata, quiabo, fumo, alface e algodão.

Atualmente essa doença encontra-se disseminada pelas principais regiões produtoras de algodão, tanto em áreas irrigadas como de sequeiro, nas regiões de Unaí (MG), Patos de Minas (MG), Montividíu (GO), Jussara (GO), Campo Verde (MT), Primavera do Leste (MT), Jaciara (MT), Pedra Preta (MT), Campo Novo do Parecis (MT) e São Desidério (BA), principal região produtora de algodão do oeste baiano.

Os sintomas característicos da doença são murcha, necrose e podridão úmida da haste, do pecíolo, da folha e da maçã. No interior do capulho é possível encontrar micélio do fungo de coloração branca e os escleródios, estruturas de resistência do patógeno de formato irregular e coloração escura.

Os escleródios, por serem estruturas de resistência, podem sobreviver no solo por até 11 anos, preservando sua patogenicidade e, em condições climáticas favoráveis, germinam no solo desenvolvendo estruturas denominadas apotécios, onde são produzidos os esporos do patógeno, os quais são facilmente transportados pelo vento e por respingos de chuva.

Estes esporos, na época da floração e em condições favoráveis, germinam em flores senescentes e em seguida invadem outros órgãos da planta causando o apodrecimento das partes afetadas. Os escleródios podem germinar produzindo micélio, infectando diretamente as plantas, causando tombamento de pré e pós-emergência ou produzindo apotécios que liberam os ascósporos, responsáveis pelo desenvolvimento do mofo branco na parte aérea.

Os fatores que favorecem o desenvolvimento do mofo branco são períodos prolongados de precipitação, alta umidade relativa, acima de 70%, alta umidade do solo, temperaturas amenas entre 15 e 22ºC e a alta densidade de plantio.

Embora a doença ocorra em diferentes culturas para as quais existem fungicidas registrados para o seu controle no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não existem produtos registrados para o controle do mofo branco na cultura do algodoeiro.

Nesse caso, sugere-se adotar um programa integrado de medidas para o controle efetivo do patógeno: utilizar sementes sadias; rotação de culturas, devendo-se evitar, nesta prática, plantas hospedeiras como soja, feijão e girassol, graças à suscetibilidade a Sclerotinia sclerotiorum, optando-se pelas gramíneas, como braquiárias, milheto, milho-doce, aveia, arroz e trigo.

Sugere-se, também, utilizar cobertura morta no solo, especialmente gramíneas, em camadas com aproximadamente 5,0 cm de espessura, que podem formar uma barreira física que dificulta a germinação dos escleródios e a liberação dos ascósporos. Aconselha-se menores densidades de semeadura, espaçamento entre linhas maiores e o plantio sob palhada, permitindo, desse modo, uma maior aeração das plantas, reduzindo-se o possível contato de plantas atacadas com as adjacentes.

É importante evitar o trânsito de implementos agrícolas das áreas afetadas para aquelas livres do patógeno. Por não existirem cultivares resistentes ao mofo branco do algodoeiro, verifica-se a necessidade de registro de produtos químicos direcionados para o controle da doença, que pode causar sérios prejuízos ou até mesmo inviabilizar o cultivo nas áreas onde ocorre.

Mancha de ramulária

A mancha-de-ramulária, também conhecida como falso míldio, falso oídio ou mancha-branca, é causada pelo fungo Ramularia areola. Esta doença foi descrita pela primeira vez em 1890 e desde então tem sido relatada em todas as regiões produtoras de algodão do mundo.

No Brasil, ocorre de forma generalizada em todas as regiões produtoras de algodão. Historicamente, nas regiões onde se cultivava tradicionalmente o algodão, como o Semiárido nordestino e os Estados do Sul e Sudeste, a doença tinha pouca importância econômica porque ocorria predominantemente no final do ciclo da cultura.

Atualmente, é considerada a principal doença foliar que incide sobre a cultura do algodoeiro no Cerrado em virtude das condições climáticas altamente favoráveis ao desenvolvimento do patógeno.

Os sintomas da doença manifestam-se em ambas as faces da folha, consistindo inicialmente em lesões angulosas ou de formato irregular, delimitadas pelas nervuras. Apresentam coloração branca e de aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do fungo, sobretudo na face inferior da folha, causando necrose abaixo da camada de esporos.

O padrão da doença é normalmente ascendente, e em períodos chuvosos podem ocorrer manifestações precoces, provocando o amarelecimento, queda de folhas e apodrecimento das maçãs do terço inferior das plantas. O desfolhamento extensivo em infecções severas resulta em perdas qualitativas e quantitativas.

As condições climáticas favoráveis à ocorrência são umidade relativa do ar elevada, geralmente acima de 85%, alta pluviosidade e temperaturas entre 25 e 30ºC.

A dispersão do patógeno é bastante rápida, e perdas significativas podem ocorrer se intervenções de controle não forem adotadas em tempo hábil. O controle químico desponta como uma das táticas de manejo que reduzem a taxa de progresso da doença no campo.

Outras medidas de controle que devem ser adotadas são: a utilização de cultivares mais resistentes; o uso adequado do regulador de crescimento; menor densidade de plantio e maior espaçamento entre linhas, permitindo, desse modo, maior aeração no terço inferior das plantas.

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