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Produção de berinjela orgânica

Autores

Luana Keslley Nascimento Casais
Engenheira agrônoma – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
luana.casais@gmail.com
Luciana da Silva Borges
Doutora e professora – UFRA, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA)
luciana.borges@ufra.edu.br
Fotos: Shutterstock

O mercado consumidor brasileiro tem, a cada dia, se tornado mais exigente quanto à qualidade do produto e preço de hortaliças como a berinjela, afirma Antonini et al. (2002).  Produtores vêm se modernizando e investindo em tecnologias que visem um melhor aproveitamento da cultura, a fim de obter cada vez mais uma produtividade elevada.

Assim, investir no manejo orgânico tem se tornado tendência em meio aos produtores de diversos segmentos, por atrair um nicho de mercado cada dia mais crescente em todo o Brasil.

Os Estados que mais produzem berinjela são Rio de janeiro, São Paulo e Paraná, sendo São Paulo o maior produtor, com uma produção de 46 mil toneladas e produtividade de 30 a 65 t ha-1 em cultivo no campo e 60 a 95 t ha-1 em cultivo protegido, tendo demanda crescente devidos às propriedades medicinais dos frutos, como redução do nível de colesterol e como fonte de sais minerais e vitaminas (Sfalcin, 2009; Bilibio et al., 2010; Zonta et al., 2010).

Minas Gerais chega a uma produtividade de 25 a 70 t ha-1, quando é obedecida a exigência de adubação e manejo adequado na região, seguida do Estado do Rio de Janeiro, com uma produtividade de 20 a 30 t ha-1.

Por onde começar

O plantio deve ser feito em locais com declividade de até 4% no terreno. Devem ser construídos canteiros de 1,0 m de largura com 0,2 m de altura. A distância entre os canteiros deve ficar entre 0,4 a 0,6 m.

A forma mais cultivada é em fileiras simples, obedecendo um espaçamento que pode variar de 1,2 a 1,5 m entrelinhas e 0,6 a 1,0 m entre plantas, porém, deve-se atentar às condições do local de plantio. Pode ser feito o uso de mulching em associação com o cultivo protegido, evitando a proliferação de plantas daninhas, além de obedecer a legislação vigente de produção de produtos orgânicos.

Produção de mudas

É importante que as mudas sejam feitas em bandejas em ambiente protegido, como viveiros ou casa de vegetação. O uso de bandejas de poliestireno expandido com 128 células é adequado.

O substrato deve ser aerado e a nutrição balanceada para um bom desempenho das plantas em campo. Substratos alternativos, como a junção de terra preta (70%) e casca de arroz (30%), são adequados na produção de mudas de boa qualidade (Casais et al, 2019). Plantas de berinjela se adaptam melhor a temperaturas entre 18 e 30ºC e 80% de umidade relativa do ar.

A irrigação deve ser regular e adequada. Não pode haver encharcamento ou seca nas mudas, pois essa fase é de suma importância para que haja plantas vigorosas. Devem ser realizadas duas vezes em dias mais frios até quatro vezes em dias quentes, nos horários amenos do dia, como início da manhã e fim de tarde.

O transplante é feito quando as mudas apresentam quatro folhas definitivas para os canteiros, onde deve ser feito um procedimento de tutoramento dessas plantas, podendo ser com fitilhos, fio de arame ou estacas de bambu. No decorrer do crescimento das plantas é realizada a amarração dos ramos aos tutores.

Nutrição

A adubação deve ser feita preferencialmente com resíduos orgânicos e substratos alternativos, como no caso do uso de coberturas mortas sob toda a área do canteiro. Isso mantém certa umidade na planta e favorece o crescimento das raízes, melhorando o desempenho das plantas.

Entretanto, é importante que o produtor se certifique que tais materiais utilizados são de procedência orgânica, sem que tenham nenhuma exposição a produtos químicos.

Colheita

O monitoramento da temperatura dentro da área de produção ajuda a evitar problemas como o abortamento de flores e frutos. A colheita inicia quando os frutos apresentam o tamanho de 15 a 20 cm de comprimento, no período de 45 a 60 dias após o transplante, conforme as condições ambientais do local de cultivo.

O ponto de colheita é observado pelas características visuais da variedade e depende do tipo de fruto e coloração da cultivar. Os frutos devem estar com a coloração brilhante e polpa macia, e devem ser colhidos antes de completarem o seu ciclo de maturação.

Benefícios do cultivo orgânico

Segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006), o Brasil apresenta cerca de 90.497 produtores orgânicos. A Embrapa (2017) diz que em regiões com condições climáticas adversas, tais como chuvas, frio intenso e ventos, a proteção no cultivo de berinjela permite que se cultive praticamente o ano todo, principalmente quando aliado ao uso do mulching e adubação com resíduos alternativos.

Este tipo de cultivo geralmente reduz o ataque de doenças e pragas, propiciando economia de insumos. Além disso, os frutos apresentaram uma aparência melhor e boa qualidade. O período da colheita é prolongado por mais tempo.

O clima favorável ao desenvolvimento da berinjela é tipicamente tropical, favorecido pelo calor (Filgueira, 2000). A maior limitação para o cultivo é a umidade no solo inadequada durante seu ciclo, como ocorre na maioria das hortaliças (Marouelli et al., 1996).

A sua produção em estufa permite o controle mais eficaz, principalmente quanto à deriva de produtos químicos pulverizados em lavouras que por ventura possam estar próximas ao plantio das berinjelas. Quando há a utilização de fertirrigação, que pode ser feita com a utilização de esterco bovino ou cama de aviário, a produtividade é elevada.

Orgânico + plantio direto

Associado à produção orgânica de alimentos, o uso do plantio direto tem recebido especial atenção em função do seu alto potencial de recuperação das propriedades físicas do solo relacionadas à sua capacidade de armazenamento de água (Obalum & Obi, 2010).

Também as berinjelas híbridas vêm sendo amplamente utilizadas, principalmente por possuírem capacidade de resistência genética tanto na proliferação de doenças fúngicas quanto pelo seu maior vigor (Ribeiro et al., 1998).

Produtividade + rentabilidade

Rocha et al. (2018) verificaram uma produtividade média de 55 ton/ha-1 durante os três primeiros meses produtivos. Tal produtividade se mostrou acima da média, quando comparada com dados da Emater.

Calculando-se uma lucratividade de 49% no primeiro ciclo de cultivo e de 89% no segundo ciclo, em que a menor lucratividade observada no primeiro ciclo se deu devido ao alto custo de implantação da cultura irrigada, mas que pode ser recuperada rapidamente ao longo dos próximos ciclos, sendo a condução da berinjela orgânica em plantio direto grandemente rentável, podendo vir a ser fonte de renda para pequenos agricultores.

Rentabilidade

Como nesta prática a utilização de agrotóxicos e adubação química sintética não é permitida, a produção orgânica apresenta grandes desafios em relação ao cultivo convencional. Raigón et al. (2010) afirmam que a cultura da berinjela se adapta bem a esse tipo de manejo, por apresentar tolerância e resistência a muitas pragas e doenças que afetam outras hortaliças da mesma família (Solanaceae).

Não admitidos pela legislação federal Lei nº 10.831 de 2003, o uso de aditivos químicos como adubos nitrogenados sintéticos e agrotóxicos podem revelar uma grande dor de cabeça ao produtor iniciante na prática da agricultura orgânica, porém, que podem ser remediadas com a sua adequação a algumas medidas preventivas.

Outro erro bem frequente cometido por alguns produtores é não se atentarem quanto à legislação, pois a mesma dá aos produtores todas as diretrizes de cultivo para uma produção correta e aceitável, a fim de serem considerados produtos orgânicos.

Deve-se considerar uma boa margem de distância entre o local de produção ao produto aspirante a orgânico de outras plantações que fazem uso de insumos agroquímicos, pois a partir da deriva desses produtos pelo vento pode haver contaminação ao cultivo das berinjelas, o que põe em risco a veracidade do produto orgânico.

Além disso, todos os produtores orgânicos devem elaborar um Plano de Manejo Orgânico, que deve ser aprovado pela Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), ou Organização de Controle Social (OCS) ao qual esteja vinculado, onde devem constar de forma detalhada os insumos e práticas adotados em sua (s) unidade (s) de produção.

Custo

Como se trata de uma técnica simples, não há gastos, e o produtor pode fazer uso de insumos alternativos encontrados na própria propriedade. O produtor também pode fazer uso de compostagens na adubação do plantio, utilizando todos os restos vegetais de culturas produzidas na área em união a outros elementos, como palha de arroz, caroço de açaí, terra preta e resíduos alimentícios. Isso pode gerar bons frutos, que mais tarde podem ser revendidos em mercados, supermercados e feiras, atraindo boa rentabilidade.

No município de Tocantins, no ano de 2013 uma caixa com 12 quilos de berinjela chegou a ser vendida por R$ 3,00, mas hoje chega a valer R$ 18,00, visto que em cultivo protegido podemos obter produtividade de até 55 ton/ha-1, gerando uma grande rentabilidade para o produtor que gastará muito pouco com insumos.

O cultivo de berinjela gera uma rentabilidade positiva aos produtores, sendo ela uma das maiores receitas com vendas registradas nas Ceasas no território nacional entre os anos de 2016 e 2018.

Os custos de produção não são elevados, sendo alto apenas o investimento inicial quando há a utilização de estufas, no entanto, o cultivo em solo sob esta técnica de cultivo é relativamente baixa. Quanto ao uso da técnica, aliado ao cultivo em estufa, grande parte dos problemas ocasionados pelo manejo são resolvidos elevando a produtividade e resultado em mais qualidade ao produto final.

Vantagens

Existem várias vantagens relacionadas à utilização da agricultura orgânica, como maior redução de custos com defensivos e fertilizantes, além da obtenção de grande produtividade, quando bem manejado, além de apresentar boa proteção do solo contra lixiviação.

É uma técnica que apresenta um baixo custo inicial de implantação, e o produtor consegue obter um retorno rápido na intensificação da produção. O cultivo torna o produto com melhor aparência segundo os consumidores, e de boa qualidade, além de reduzir drasticamente o gasto com produtos agroquímicos, resultando em um policiamento da economia nos insumos utilizados.

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