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quinta-feira, março 28, 2024
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Propagação do pessegueiro

Ivan Marcos Rangel Juniorjuniorrangel2@hotmail.com

Renata Elisa Violrenataviol@live.com

Engenheiros agrônomos e doutorandos em Agronomia/Fitotecnia (Fruticultura Tropical) – Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Pêssego – Foto: freepik

A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar as espécies de forma controlada, com o objetivo de aumentar o número de plantas, garantindo a manutenção das características agronômicas essenciais das cultivares. Os métodos de propagação podem ser agrupados em dois tipos: propagação sexuada, que se baseia no uso de sementes, e propagação assexuada, baseada em estruturas vegetativas.

A diferença entre as duas formas de propagação é a utilização e a ocorrência de mitose e meiose. Enquanto na propagação assexuada a divisão celular implica na multiplicação simples (mitose), mantendo o número de cromossomos inalterado, na propagação sexuada a meiose proporciona redução do número de cromossomos.

A propagação sexuada consiste no processo onde ocorre a fusão dos gametas masculinos e femininos formando uma única célula, chamada de zigoto, no interior do ovário, logo após a polinização da flor, o qual irá se desenvolver e formar uma semente. Consequentemente, esta gerará uma nova planta, com genótipo diferente dos seus progenitores, causada pela troca de informação genética na fecundação.

Via sementes

A propagação por sementes ocorre na maioria das plantas cultivadas, sendo responsável pela variação populacional e pelo surgimento de novas variedades. Esse tipo de propagação é comumente utilizado em programas de melhoramento genético de plantas.

Já na produção comercial de mudas, a propagação assexuada torna-se mais importante que a sexuada, especialmente em frutíferas, por ser mais rápida que a propagação via semente, ter período improdutivo mais curto e por permitir a obtenção de plantas idênticas à planta matriz, e assim preservar as características agronômicas desejáveis.

Na fruticultura, a propagação por sementes tem aplicação relativamente restrita devido às limitações do uso comercial desse método, que incluem juvenilidade, vigor elevado e alta variabilidade genética, mesmo quando observadas plantas originadas da mesma matriz.

Seu uso ocorre em casos específicos, como na produção de porta-enxertos ou quando esse método é o único viável para a produção de mudas (mamoeiro, coqueiro, maracujazeiro) e em espécies em fase inicial de exploração comercial.

Já na propagação assexuada, o processo de multiplicação se dá pelo mecanismo de divisão e diferenciação celular a partir a regeneração de partes vegetativas da planta matriz e se baseia no fato de a célula conter toda a informação genética necessária para a perpetuação da espécie e, também, das células somáticas e os tecidos possuírem capacidade de regeneração.

Esse método de propagação de plantas usa órgãos da planta matriz, como estacas, gemas, meristemas, ápices caulinares, calos, embriões ou outras estruturas especializadas como veículo de regeneração vegetal a partir de células somáticas sem, entretanto, alterar o genótipo, uma vez que essa multiplicação acontece por mitose.

Assim sendo, a técnica permite a formação de indivíduos idênticos à planta matriz, apresentando carga genética uniforme e com necessidades climáticas, edáficas, nutricionais e de manejo similares.

Nos pessegueiros

No Brasil, a propagação dos porta-enxertos de pessegueiro é feita por meio de sementes, e na região sudeste a preferência é pelo porta-enxerto ‘Okinawa’. As sementes de pessegueiro utilizadas para a propagação de porta-enxertos não germinam logo após sua retirada dos frutos, apresentando o mecanismo de dormência.

Com isso, a estratificação é o principal método usado para a superação desse mecanismo fisiológico, o que substitui o frio das regiões tradicionalmente produtoras de pêssegos e torna as sementes metabolicamente ativas e aptas a iniciarem a germinação.

Na estratificação, as sementes de pessegueiro são submetidas a ambiente úmido e frio (5°C a 10°C), podendo ser utilizada geladeira ou câmara fria. As sementes de pessegueiro estão inseridas no caroço, que é como drupa.

A estratificação pode ser feita com o caroço ou somente a semente. Com a utilização dos caroços, o tempo para estratificação é maior, além de ocupar maior espaço e ainda perigo de fermentação.

Após a quebra do endocarpo, as sementes devem ser desinfestadas com solução fungicida e colocadas em papel germiteste úmido, por 25 a 40 dias em frio artificial para que germinem. Depois, são plantadas em substrato ideal e conduzidas em haste única até que atinjam diâmetro ideal (0,5cm) para enxertia.

Semeadura

A semeadura pode ser feita em recipientes, tais como bandeja de isopor, tubetes, sacolas de polietileno; caixas de plástico ou em canteiros. Os recipientes devem ser preenchidos com substratos.

A semeadura é feita colocando a semente no substrato e cobrindo-a com 1,0 a 2,0 cm do mesmo. Entretanto, existem sementes que podem ser colocadas mais profundamente, outras que podem ficar ao nível do solo, dependendo do tamanho das mesmas.

A germinação se dá dentro de dois a 40 dias, dependendo da espécie. O tempo necessário para a formação da muda varia, dependendo do crescimento da espécie e época de plantio.

A propagação assexuada ou vegetativa é mais apropriada na produção de mudas frutíferas, pois permite a manutenção de características desejadas de uma planta matriz, produzindo clones e homogeneizando os pomares. Nesse processo, a divisão celular ocorre por mitose, com duplicação do sistema cromossômico, gerando duas células com a mesma carga genética, ou seja, idênticas à célula progenitora.

A mitose é essencial para o crescimento das plantas e para a propagação vegetativa. Esse processo também ocorre na cicatrização de feridas, onde acontece uma produção de massa de células (calo). O processo também está associado ao enraizamento adventício de estaca, pois inicia novos pontos de crescimento vegetativo. O ferimento induz a divisão e multiplicação celular, que também está envolvido na união da enxertia.

Casos específicos

Propagação assexuada por estruturas vegetativas naturais é típica de plantas perenes herbáceas. Essas estruturas são órgãos de reserva que podem ou não servir de alimento, oriundos de partes modificadas das plantas, para as quais funcionam principalmente como agentes da propagação vegetativa natural e ocorrem na parte aérea e na subterrânea.

Estruturas naturais de propagação vegetativa da parte aérea: estolhos: morangueiro, gerânio, clorófito; rebentos: abacaxizeiro (no caule), bananeira; filhote: abacaxizeiro (no pedúnculo do fruto); caule-bulbo: em plantas epífetas (orquídeas); filocádio: em plantas xerófitas (cactos), estruturas naturais de propagação vegetativa da parte subterrânea; bulbo tunicado: cebola, alho, narciso, tulipa, amarílis, jacinto, etc.; bulbos sólidos ou cormo: gladíolo, açafrão; rizomas: íris, inhame, espada-de-são-jorge, bambu, helicônea, samambaia de metro, etc.; tubérculos: batatinha.

Técnicas

A propagação assexuada por mergulhia consiste no enraizamento de um ramo ainda ligado à planta mãe, sendo posteriormente desligado, dando origem a uma nova planta. É uma técnica utilizada para espécies de difícil enraizamento por estaquia, já que a planta-mãe estará produzindo e enviando para o ramo mergulho as substâncias responsáveis pelo enraizamento que ainda não foram elucidadas pelo homem.

É uma técnica eficiente, mas de maior custo e de baixo rendimento em mudas. Os diferentes tipos de mergulhia são: simples normal, simples invertida, contínua chinesa, contínua serpentina, de cepa e alporquia.

Em pessegueiro pesquisas mostram que é uma técnica eficiente para a produção de mudas, principalmente para trabalhos de pesquisa que necessitem de um pequeno número de plantas idênticas geneticamente (clones).

Tem como resultados o alto percentual de enraizamento, a facilidade de propagação, independência de infraestrutura (casa de vegetação com sistema de nebulização) e em relação à aclimatação (as mudas já estão adaptadas às condições ambientais).

A propagação assexuada por estaquia consiste em propiciar ou estimular o enraizamento de porções (estacas) de caules e ramos ou de folhas (espécies de folhas suculentas). É muito utilizada na produção de mudas, principalmente nas ornamentais e frutíferas, por ser um método de menor custo, eficiente e de bom rendimento em número de mudas.

A estaca pode ser proveniente de um pedaço de caule (ramo), pedaço de folha ou de folha inteira. A estaquia de caule divide-se em estaquia lenhosa, estaquia semi-lenhosa e estaquia herbácea, de acordo com o tecido que compõe o ramo do qual é preparada a estaca.

A multiplicação de porta-enxertos de Prunus por meio de estaquia raramente tem sido empregada em função da baixa capacidade de enraizamento da maioria das cultivares de importância econômica.

Enxertia

A enxertia é outro método utilizado para a propagação de espécies frutíferas. Consideramos enxertia o processo de unir duas plantas ou partes delas de forma que a união origine uma nova planta.

Essa nova planta originada da união de duas outras é composta por basicamente duas partes: o porta-enxerto e o enxerto. A enxertia pode ser definida como a união de partes de plantas pela regeneração de tecidos que, combinadas, formam uma única planta: o porta-enxerto (ou cavalo) formará o sistema radicular; e o enxerto, que pode ser uma gema ou um fragmento de ramo com duas ou mais gemas, formando a copa que produzirá os frutos.

A técnica fundamental da enxertia é a justaposição dos tecidos cambiais do porta-enxerto e do enxerto, de modo que o calo resultante se entrelace, possibilitando a regeneração do novo câmbio com posterior formação de floema e xilema, estabelecendo um sistema vascular unificado.

No caso do pessegueiro, a enxertia pode ser realizada em três épocas do ano – no fim da primavera, conhecida como enxertia de gema ativa, no outono, chamada enxertia de gema dormente e no inverno, conhecida como enxertia de garfagem. Em ambos os métodos, é importante a escolha do porta-enxerto adequado, bem como utilizar material propagativo com sanidade e potencial genético.

Entenda o processo

A enxertia de gema ativa ou enxertia verde recebe esta denominação porque este método de propagação é realizado no período em que a planta se encontra fisiologicamente ativa, normalmente entre os meses de novembro e dezembro. Neste período, provavelmente o porta-enxerto deve ter um diâmetro de 10 mm, o que facilitará a execução da enxertia.

A enxertia de gema dormente é semelhante à de gema ativa, diferindo basicamente da época em que é realizada, o tipo de borbulha, que nesse caso vai com o lenho, e o tipo de operação que é feita no porta-enxerto após a enxertia. Nesse caso, não se deve realizar a dobra ou quebra do porta-enxerto após a enxertia.

No processo de enxertia a muda é obtida após dois ciclos vegetativos, sendo corte em bisel para a remoção da parte aérea do porta-enxerto, efetuando depois do inverno seguinte a enxertia. Esse método tem a vantagem de aproveitamento dos porta-enxertos, nos quais não houve pegamento da enxertia realizada em gema ativa.

Na fase de inverno

A enxertia de garfagem, ou enxertia de inverno, é realizada durante o período de repouso vegetativo do pessegueiro, geralmente nos meses de julho e agosto, mas podendo ocorrer variações, de acordo com a região.

Quando comparada à enxertia por borbulhia, a enxertia de garfagem é menos utilizada, porém, é de rápida execução e com bons índices de pegamento. O método consiste na retirada de uma porção do ramo contendo uma ou duas gemas para ser introduzido no porta-enxerto.

O processo de garfagem mais utilizado no pessegueiro é a do tipo inglês, simples ou com entalhe (inglês complicado).

Vantagens da micropropagação

A micropropagação pode ser definida como a propagação em larga escala de um genótipo selecionado por técnicas de cultura in vitro e apresenta as vantagens de possibilitar a produção massal de mudas livres de patógenos e com uniformidade genética em pequeno espaço físico e curto período de tempo.

A micropropagação de espécies de Prunus tem apresentado problemas de oxidação, contaminação por bactérias provavelmente endofíticas, dificuldade de enraizamento e, principalmente, baixa taxa de multiplicação dos explantes, havendo a necessidade de mais estudos. Além disso, existe uma resposta diferencial em relação aos genótipos.

Um ponto importante sobre a propagação do pessegueiro se refere à sanidade das mudas. As Normas Técnicas Gerais para a Produção Integrada de Frutas (NTGPIF), com relação à legislação vigente sobre mudas, indica como obrigatório: “utilizar material sadio, adaptado à região, com registro de procedência credenciada e com certificado fitossanitário”. A Embrapa Clima Temperado tem atuado nesse processo de obtenção de plantas de pessegueiro com alta sanidade.

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