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Quais os sistemas de cultivo da macaúba?

Créditos Eli Regina Barboza

Luciene Machado da Silva Neri
lucieneriagro@gmail.com
Jeniffer Raniely Batista Sousa
jrbsoussa@gmail.com
Engenheiras agrônomas
Eli Regina Barboza de Souza
Professora de Fruticultura – Universidade Federal de Goiás (UFG)
eliregina@ufg.br

A macaúba (Acrocomia aculeata) é uma palmeira pertencente à família Arecaceae, originária de florestas tropicais. No Brasil, ela se distribui praticamente por todo o território nacional e é considerada a palmeira com maior área de dispersão, sendo encontrada em concentrações maiores nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Tocantins.

A espécie vem ganhando notoriedade no mercado agrícola em virtude da extração de óleos com alto potencial energético, utilizados na produção de biocombustíveis. Além disso, a versatilidade do fruto permite ainda sua aplicação nas indústrias medicinal e alimentícia.

Características

Sua palmeira pode alcançar de 10 a 15 metros de altura, com tronco coberto por espinhos escuros e pontiagudos. Seus frutos são globosos e podem ser divididos em quatro partes: epicarpo (casca), mesocarpo (polpa), endocarpo e amêndoa (semente). É capaz de produzir entre 400 a 500 frutos por cacho e, com o manejo agrícola adequado, pode-se obter mais de uma safra ao ano.

A propagação da espécie normalmente é realizada por sementes, as quais possuem dormência, além de possuir um baixo percentual de germinação, podendo levar até dois anos para germinar quando submetidas a condições naturais.

Entretanto, em 2007 o pesquisador Motoike desenvolveu uma técnica de quebra de dormência que atinge 80 – 90% de germinação em 28 dias, possibilitando assim a produção de mudas em centros de pesquisa e viveiros especializados.

Produção de mudas

O processo de produção de mudas normalmente é dividido em duas etapas, sendo pré-viveiro, geralmente durando entre 60 a 90 dias. Essa etapa se inicia com sementes pré-germinadas em laboratório e continua em tubetes de polietileno até o surgimento do primeiro par de folhas lanceoladas (folhas bipartidas).

Na segunda etapa, conhecida como viveiro, as mudas de macaúba permanecem em sacos de polietileno até desenvolverem o segundo par de folhas pinadas (folhas definitivas). É recomendado o transplante para o campo 180 dias após o plantio dessa fase.

No total, as duas etapas juntas podem durar aproximadamente 240 dias ou mais. O processo altamente tecnificado otimiza a produção de mudas em larga escala.

Pesquisas otimizam sistema de produção

Créditos Eli Regina Barboza

Atualmente existem inúmeras iniciativas que buscam incentivar a cadeia produtiva de macaúba no Brasil, mas reconhecendo o alto custo na produção e aquisição dessas mudas, comercializadas por apenas duas empresas registradas, se torna um desafio.

Diante disso, recentes pesquisas buscam simplificar o sistema de produção, facilitando assim o acesso de produtores menores para atender demandas específicas.

Uma das formas de produção de mudas que vem sendo trabalhada é o transplantio de plântulas, esse método consiste em extrair as mudas germinadas nos maciços naturais de macaúbas da região, durante a época chuvosa.

Evita, assim, os danos que podem ocorrer, tanto no sistema radicular quanto no arranquio da semente que fica aderida à muda, já que possuem nutrientes que contribuem para o seu desenvolvimento inicial.

Após essa etapa, as mudas são transportadas para um viveiro com 50% de sombreamento e passam por tratos culturais como irrigação, adubação e manutenção por oito meses. Depois disso, são colocadas em pleno sol durante quatro meses para realização da adaptação das mudas e, posteriormente, após o surgimento do primeiro par de folha definitiva, são plantadas em campo.

Produção de mudas simplificado

Outro sistema de produção de mudas é o simplificado, que difere da metodologia padrão, pois elimina a etapa de pré-viveiro. Isto resulta em uma redução de aproximadamente 90 dias na produção e cerca de 50% no valor final do produto.

Ao adquirir somente as sementes pré-germinadas, se reduz os custos associados à produção, transporte e à logística das mudas. Além disso, o uso do processo simplificado permite que os produtores cultivem suas próprias mudas no local/região onde serão implantadas.

Essa nova metodologia passa a não depender de intermediários e da infraestrutura complexa dos laboratórios ou viveiros, devido a disponibilizar as sementes pré-germinadas e prontas para serem alocadas nos recipientes próprios dos agricultores. Isso favorece a inserção de produtores rurais de base familiar e comunidades tradicionais que ganham autonomia em seus negócios.

O que muda

O produtor, ao optar pelo sistema de produção simplificado, que utiliza sementes pré-germinadas, consegue estabelecer uma plantação de macaúba com maior eficiência, visto que a grande dificuldade encontrada no processo de germinação já foi superada pelos laboratórios e/ou viveiros que oferecem o material.

A utilização das sementes pré-germinadas facilita o manejo inicial da cultura, evitando o principal problema com a germinação dessa palmeira: a dormência. Além disso, o uso dessa técnica de produção reduz os custos de mão de obra, visto que um dos processos mais trabalhosos, se for realizado manualmente na produção de mudas, é a obtenção de sementes intactas após a quebra do endocarpo.

Créditos Eli Regina Barboza

A produção de mudas próximo ao local de plantio oferece a vantagem de reduzir os custos de transporte, já que o preço das mudas, somado à distância percorrida, influencia diretamente no cálculo do frete.

Logística

Outro fator a ser levado em consideração é a disponibilidade de venda de mudas prontas, já que apenas duas empresas são responsáveis, atualmente: Soléa/Acrotech, localizada em João Pinheiro (MG), e Inocas, em Patos de Minas (MG). Ambas conseguem atender exclusivamente às demandas de seus próprios projetos.

A produção no local ou região onde serão plantadas favorece a logística de processamento e armazenamento dos insumos que serão utilizados, além de aumentar a demanda na escala de produção de mudas quando são produzidas na própria região onde será realizado o plantio.

E, se esse tipo de sistema se tornar uma realidade, outros setores produtivos que são envolvidos na cadeia da macaúba podem se beneficiar e expandir, e assim envolver mais produtores para essa cultura.

Benefícios

A formação da muda de macaúba, no geral, demanda um período longo de tempo, mas com o surgimento de novas metodologias que aceleram esse processo, espera-se uma série de benefícios.

Entre eles, está a redução no consumo de água, utilização de insumos, redução da quantidade de substrato, eliminação do uso de tubetes no processo pré-viveiro, diminuição dos custos da mão de obra para manutenção das mudas, e, consequentemente, um aumento no capital de giro.

Estudos desenvolvidos pela Embrapa Agroenergia na região do Cariri Cearense demonstram que a adoção do processo simplificado reduz o custo em 27,2% na produção de mudas em 1,0 ha plantado, quando comparado ao método padrão.

Com esses resultados, pode-se dizer que a adoção dessa tecnologia é bastante promissora e pode contribuir de forma bastante significativa para a expansão da cultura, já que demonstra potencial para ampliar as áreas de cultivo.

Créditos Eli Regina Barboza

Valor agregado

Devido ao grande potencial de exploração, coprodutos de alto valor agregado e as características individuais da palmeira, que incluem ampla adaptabilidade e capacidade de fixação de carbono, o tornam uma opção atrativa.

Sua ocorrência natural em regiões com restrições hídricas e a possibilidade de ser implantada em sistemas integrados, com outras culturas de subsídio familiar, demostram que a técnica adequada para obtenção das mudas possibilita a redução de custos, influenciando assim a relação de crescimento e interesse em futuros plantios comerciais da espécie, estruturando, deste modo, a cadeia de produção dessa atividade para mais produtores agrícolas.

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