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Qual a ação dos biorreguladores em citros?

Autores

Paulo Roberto Camargo Castro
Doutor e professor – Universidade de São Paulo
prcastro@usp.br
Camilo Lázaro Medina
Doutor e pesquisador – Instituto Agronômico de Campinas
Crédito: Henrique Santos

As plantas cítricas sob condições tropicais têm sido atacadas por uma série de doenças limitantes para a manutenção econômica da sanidade e produção dos plantios. Vamos tratar de três delas que se sucederam no tempo e ainda mantêm seus efeitos negativos na produtividade das lavouras: o declínio, a clorose variegada dos citros (CVC) e o greening (HLB).

Declínio dos citros

Em 1983 iniciamos nossos experimentos com o declínio dos citros na região de Mogi Guaçu (SP). Para analisar a causa desse mal publicamos um trabalho na Revista Laranja, em que a caracterizamos como uma anomalia fisiológica.

Análises epidemiológicas demonstraram que essa anomalia não apresenta modelos de evolução monocíclica ou policíclica, característica da ação de agentes patogênicos (fungos, vírus, bactérias, nematoides ou outros).

Nos pomares atingidos ocorre incidência de árvores declinantes (senescentes) ou mortas, numa progressão linear com o tempo, sendo que árvores previamente atacadas não participam da futura incidência, indicando que a anomalia não é contagiosa. Ocorre severo murchamento das folhas, abscisão foliar e morte dos ponteiros.

Os frutos ficam com tamanho reduzido. Ocorrem brotações de gemas dormentes devido à quebra da dominância apical. Há, ainda, diminuição da área foliar e a restrição do fluxo de água e sais minerais nos vasos de xilema, levando ao desequilíbrio dos nutrientes minerais.

Resultados

Com relação ao uso de biorreguladores numa tentativa de restringir os efeitos do Declínio, publicamos na Summa Phytopatologica (1983) resultados de experimento que demonstraram que plantas de laranja ‘Pera’ tratadas com ácido giberélico (GA) a 100 ou 50 mg L-1 + ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) 10 mg L-1 tiveram recuperação ao declínio até 229 dias após a pulverização (DAP) em Mogi Guaçu (SP).

Aos 351 e 546 DAP observou-se que os citros voltaram a mostrar sintomas iniciais do declínio, o que sugeriu a necessidade da continuidade das aplicações dos biorreguladores. Considerou-se que o declínio envolve a deficiência endógena de promotores de crescimento e de nutrientes, como o Zn; sendo que aplicações continuadas desses biorreguladores e de nutrientes minerais podem ser eficientes na recuperação das plantas parcialmente afetadas por essa anomalia fisiológica.

Nos Anais da ESALQ (1988) verificou-se que a pulverização com GA 50 mg L-1 + ácido naftalenacético (NAA) 20 mg L-1 em plantas de citros com declínio unilateral acentuado, em Mogi Guaçu (SP), mostrou-se eficiente na recuperação das plantas de laranja ‘Pera’ sobre limão ‘Cravo’. Tratamentos com GA 100 mg L-1 + 2,4 D 10 mg L-1 com GA 50 mg L-1 + NAA 15 mg L-1 + Adubo foliar apresentaram-se promissores.

Clorose variegada dos citros (CVC)

Para remissão dos sintomas da CVC verificamos nos Proc. Interam. Soc. Trop. Hort. (2001) os seguintes procedimentos: árvores de laranja ‘Pera’ de cinco anos com CVC, em Novo Horizonte (SP), foram pulverizadas com biorreguladores, bioestimulante e nutrientes em 25/02 e comparados ao controle.

Folhas verdes e fortemente cloróticas apresentaram baixa concentração de bactérias de floema, enquanto folhas cloróticas mostraram alta concentração de Xylella. Árvores de citros com CVC revelaram baixos teores de potássio.

Observou-se 116 dias após a aplicação (DAA) que as plantas tratadas com ácido giberélico 20 mg L-1 + ácido naftalenacético 20 mg L-1 ou chlormequat 1500 mg L-1 (altera a coloração foliar, o que pode afetar a preferência das cigarrinhas vetores), apresentaram redução parcial dos sintomas, comparativamente ao controle de acordo com o teste de Duncan (5%).

Nesta importante doença causada pela bactéria fitopatogênica Xylella fastidiosa, tendo como vetores diversas espécies de cigarrinhas, como Dilobopterus costalimai, notamos que após a segunda pulverização com GA 50 mg L-1 + 2,4 D 8 mg L-1 foi observado um aumento na fixação dos frutos das plantas afetadas com a clorose variegada dos citros.

Árvores de laranja ‘Pera’ com CVC, tratadas em 12/98 e 03/99 com GA 50 mg L-1 + 2,4 D 8 mg L-1 apresentaram aumento no número de frutos. Aplicações de GA + 2,4 D melhoraram o vigor das árvores afetadas com CVC. Pulverizações com nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre aumentaram a concentração desses nutrientes nas folhas 101 dias após a aplicação dos respectivos fertilizantes foliares.

Greening (HLB)

Na atualidade, o HLB constitui a mais relevante doença dos citros no Brasil. Tem como vetor a Diaphorina citri, um psilídeo muito eficiente que transmite a bactéria parasita Candidatus Liberibacter asiaticus.

Pesquisas têm demonstrado que a utilização de condicionadores de solos, biorreguladores e nutrientes minerais tem restringido os sintomas nas plantas cítricas. Uma série de fatores negativos colaboram para o aumento da incidência de HLB, como: deficiências nutricionais, baixa translocação orgânica, contaminação com glifosato (aplicar fosfito para reparar o efeito herbicida), incidência de Phytophthora citrophthora (gomose) e redução de fitoalexinas (como escoparone), estresses (baixas temperaturas e outros) e senescência (morte celular programada) de raízes e parte aérea.

Fatores positivos também podem ser enumerados: melhor nutrição mineral com adubação foliar complementar, maior translocação orgânica, parcimônia com herbicidas, controle de pragas e doenças, irrigação e evitar estresses, aplicações de auxinas, giberelinas, citocininas e brassinosteroides.

Efeito eficiente

O efeito favorável desses biorreguladores contra essas doenças não deve causar estranheza por não serem bactericidas, mas possuem propriedades muito eficientes sobre as plantas.

ð Auxinas: iniciação da atividade cambial em árvores; desenvolvimento apical e foliar. Em sementes, levam ao crescimento do fruto; evitam queda de folhas e frutos; promovem iniciação de raízes e transporte pelo parênquima do ápice à base da planta.

ð Giberelinas: alongamento e divisão celular; ativação enzimática; atraso da senescência de folhas e frutos; inibição da degradação da clorofila; transporte pelo xilema e floema; mantêm a juvenilidade e aumentam a fixação de frutos.

ð Citocininas: divisão e expansão celular; mantêm o metabolismo nos tecidos; aumentam a síntese de enzimas e proteínas; controlam mitose e replicação do DNA; causam diferenciação celular; transporte pelo xilema e floema; atrasam a senescência e promovem desenvolvimento de gemas laterais.

ð Brassinosteroides: atuam no crescimento do caule e da raiz, promovem o desenvolvimento do sistema vascular e da iniciação floral, além da formação de flores e frutos.

Esses diversos aspectos ligados à fisiologia das plantas doentes nos remetem à ideia dos manejos fisiológicos que podem estar associados a práticas agronômicas tradicionais de prevenção ou combate de pragas, garantindo maior eficiência e sustentabilidade à produção.

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