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quarta-feira, abril 24, 2024
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Qual a necessidade nutricional do eucalipto?

Autor

Lafayete Gonçalves Campelo Martins
Engenheiro florestal, doutor em Solos e Nutrição de Plantas e consultor
lafayetecampelo@gmail.com
Crédito Painel Florestal

Na sua forma orgânica, o fósforo é componente dos fosfolipídeos que fazem parte das membranas celulares, participa de processos metabólicos como transferência de energia, é importante para a respiração, para a síntese de glicose e de ácidos nucléicos, dentre outras funções vitais para as plantas.

Para o eucalipto, considerando uma árvore adulta, a concentração de fósforo nos tecidos, em geral, é de aproximadamente 0,05% (média entre os componentes folhas, galhos, casca e lenha).

É uma concentração relativamente baixa, quando comparada à de outros macronutrientes, como o potássio, o cálcio e o nitrogênio, cujas médias de concentrações nos tecidos variam de 0,5 a 0,8%.

Apesar disso, as doses de fósforo que normalmente são adicionadas ao solo via fertilizantes são bem superiores às quantidades que são efetivamente exigidas e absorvidas pelas plantas. Isso decorre das características dos nossos solos brasileiros, especialmente aqueles mais usados para os plantios florestais.

Tais solos são predominantemente pertencentes à classe dos Latossolos, que são muito antigos, intemperizados e cujas argilas são predominantemente formadas por óxidos de ferro e de alumínio. Além de serem solos de baixa fertilidade, não possuem minerais primários, ou seja, minerais com capacidade de liberação de nutrientes para o solo e, ainda, seus componentes (os óxidos) reagem com as formas solúveis de fósforo e transformam esse fósforo antes disponível para as plantas em formas não mais disponíveis.

Dessa maneira, o solo passa a ser um dreno de fósforo e compete com a planta pelo nutriente que é aplicado via fertilizantes, o que ocorre principalmente quando a aplicação não é feita de maneira adequada. É exatamente para compensar esse tipo de perda que as quantidades adicionadas ao solo são superiores às efetivamente exigidas pelas plantas.

Opções em nutrientes

São várias as fontes de fósforo disponíveis no mercado. Há as fontes naturais, que podem ser aplicadas diretamente sem um processamento industrial mais elaborado, neste caso, as rochas são apenas moídas e aplicadas; há as fontes industrializadas que utilizam as fontes naturais como matéria-prima para a sua fabricação – as rochas são tratadas com ácidos e o resultado são os fertilizantes solúveis; e há também os fertilizantes com tecnologias diversas que aumentam a eficiência no fornecimento do nutriente para as plantas com o uso de componentes orgânicos ou de alguma proteção que impede ou retarda reações indesejáveis no solo que tornam o nutriente indisponível.

Normalmente, estes últimos utilizam como matérias-primas os fertilizantes solúveis, e a tecnologia é adotada para reduzir perdas e aumentar a sua eficiência. Dentre as fontes naturais, há as provenientes de rochas fosfatadas de baixa reatividade (de origem ígnea ou metamórficas), que possuem estrutura cristalina, compacta e de baixa solubilidade.

Esses disponibilizam o nutriente de maneira muito lenta e, muitas vezes, torna-se necessário fornecer outras fontes mais solúveis juntamente com esses tipos de fosfatos durante a fase inicial de crescimento, quando as raízes ainda não estão totalmente estabelecidas e por isso requerem concentrações mais elevadas de fósforo no solo.

Há, também, as fontes naturais de fósforo provenientes de rochas sedimentares e que são denominados fosfatos reativos. Estes possuem estrutura mais porosa e com grande superfície específica, ou seja, permite que a umidade e a solução do solo penetrem nos seus interstícios e, assim, liberam mais rapidamente os nutrientes.

O melhor produto a ser utilizado depende das condições do solo (características químicas, físicas e grau de intemperismo), da fase de crescimento da planta e de fatores climáticos. Às vezes, a melhor opção não é a escolha de um único produto, mas sim a combinação de duas ou mais fontes de fósforo com características diferentes.

Fósforo x produtividade da espécie

Em 1850, o biólogo alemão Justus Von Liebig descreveu a lei do mínimo, segundo a qual a produção ou o rendimento de uma cultura é determinado pelo fator ou nutriente mais limitante ou que esteja em menor grau de disponibilidade.

Dessa maneira, a relação entre a disponibilidade de fósforo e a produtividade florestal será mais ou menos estreita, dependendo do grau de limitação de todos os outros fatores dos quais também depende o crescimento da floresta.

Vale lembrar que, no caso dos solos brasileiros, onde predominantemente se planta florestas, os solos são extremamente pobres em fósforo. Isso exige, quase que como uma regra geral, a aplicação de doses elevadas de fertilizantes fosfatados. De modo geral, é praticamente impossível alcançar produtividades minimamente satisfatórias sem o uso de fertilizantes fontes de fósforo.

Manejo

O conceito de equilíbrio é o que mais se adequa a uma condição que leva às maiores produtividades. Sobre isso, há uma outra lei que pode ser aplicada à relação entre a produção vegetal e os fatores dos quais essa produção é dependente.

Trata-se da lei da tolerância ou Lei de Shelford. De acordo com a lei da tolerância, para todos os fatores de crescimento, não apenas a disponibilidade dos nutrientes, há uma faixa de valores dentro da qual a produtividade é máxima.

Abaixo ou acima dos limites dessa faixa ótima, a planta sobrevive e produz, porém, sob determinado grau de estresse por carência ou por excesso desse fator considerado. Há, também, limites abaixo ou acima dos quais a produção é nula, dada a total intolerância pela falta ou pelo excesso do mesmo fator.

Interferência direta

No contexto da produtividade florestal, os fatores que influenciam são diversos. Além dos nutricionais, há os relacionados ao manejo, os fatores climáticos, há os que estão ligados à física do solo, como compactação, impedimentos físicos, encharcamento, e a competição por plantas invasoras, etc.

Portanto, para se dobrar a produtividade florestal, é necessário ter a noção do equilíbrio entre todos eles. É necessário um trabalho conjunto entre o preparo do solo, controle das plantas invasoras, da adequação do material genético ao ambiente local, da qualidade das mudas utilizadas e até do espaçamento.

Não se dobra a produtividade florestal apenas com boa qualidade da nutrição, mas é bem possível reduzi-la pela metade com a carência ou desequilíbrio de um único nutriente. É necessário que o manejador tenha a sensibilidade de perceber se o ajuste necessário para dobrar a produtividade está na nutrição ou em outro componente que a limita.

Cuidados específicos

Um cuidado para o qual sempre chamo a atenção dos meus clientes é quanto à qualidade dos fertilizantes. É necessário ter certeza da idoneidade dos fabricantes e dos fornecedores, e saber se a composição dos insumos adquiridos está dentro dos limites das garantias mínimas estampadas nos rótulos.

Para isso, é necessário, pelo menos com certa frequência, colher amostras e analisá-las. Já pude testemunhar casos de intoxicação de plantas por fertilizantes que continham concentrações excessivas de elementos micronutrientes, por causa de má qualidade de homogeneização da mistura.

É possível, por exemplo, que haja segregação da mistura durante o transporte ou a aplicação, fazendo com que haja má distribuição dos nutrientes e trazendo fortes consequências para o crescimento das plantas.

Novidades em pesquisas

Diferentemente de pouco tempo atrás, temos hoje disponível no mercado vários produtos novos com tecnologias diversas e que otimizam o aproveitamento dos nutrientes aplicados. O surgimento dessas tecnologias está permitindo, por exemplo, a redução do número de parcelamentos das doses aplicadas. O benefício principal disso é a redução dos custos de aplicação, do trânsito de máquinas e, consequentemente, da compactação do solo.

Há, também, produtos biológicos, como o que foi lançado recentemente por meio de uma parceria público-privada com a participação da Embrapa. Trata-se de um inoculante à base de bactérias que, de acordo com os fabricantes, promete tornar disponível para as plantas formas de fósforo fixadas e indisponibilizadas por reações naturalmente irreversíveis.

Apesar desse inoculante ainda não ter sido testado para as espécies florestais, há uma grande expectativa que seja uma alternativa para otimizar o uso de um recurso natural como as fontes de fósforo, cujas reservas são finitas e cuja importância é fundamental não só para o cultivo de árvores, mas também para a produção de alimentos para as futuras gerações.

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