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Qual a principal doença da cenoura?

Autores

Tadeu Antônio Fernandes da Silva Júnior
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
tadeusilvajr@gmail.com
João César da Silva
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
joaocesar.dsilva@gmail.com
José Marcelo Soman
Biólogo e doutor em Agronomia/Proteção de Plantas – FCA/UNESP
marcelo.soman@unesp.br
Antonio Carlos Maringoni
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Fitopatologia e docente – FCA/UNESP
antonio.maringoni@unesp.br 

A cenoura é uma hortaliça muito sensível às condições ambientais, devendo o produtor se atentar à escolha da cultivar, que deve ser apropriada para o local e época de cultivo. No mercado é possível encontrar variedades específicas para o inverno, primavera e verão, além de maior resistência e tolerância a doenças.

 Entre as doenças que acometem a cultura da cenoura, a queima das folhas possui significativa importância, ocorrendo principalmente no período do verão e sendo favorecida por temperatura e umidade elevada, e pelo plantio de cultivares e híbridos suscetíveis. A doença causa danos à parte aérea da planta, comprometendo a produção e qualidade das raízes.

 A queima das folhas da cenoura tem como principais agentes causais os fungos Alternaria dauci (Ad), Cercospora carotae (Cc), além da bactéria Xanthomonas campestris pv. carotae (Xcc), sendo difícil determinar no campo qual patógeno está causando a doença, principalmente porque os sintomas são muito similares, especialmente nas folhas. Muitas vezes a doença pode ser incitada por mais de um agente causal.

Alternaria dauci

A queima das folhas por Alternaria dauci é a principal doença foliar da cenoura e teve seu primeiro relato na Alemanha, em 1855. Atualmente, a doença ocorre em todos os países produtores, sendo responsável pelos maiores prejuízos à cultura.

No Brasil, a doença ocorre em todas as regiões produtoras, sendo especialmente destrutiva nas épocas mais quentes e úmidas do ano. Não há informações sobre as perdas causadas pela doença no Brasil, mas em Israel foi relatada redução da produção de até 60%. Os danos causados pela queima das folhas dependem da cultivar utilizada, das condições climáticas locais e das medidas de controle empregadas pelo produtor.

Os sintomas nas folhas aparecem entre oito a 10 dias após a infecção do fungo, se iniciando nas folhas e nos pecíolos como pequenas lesões necróticas de aspecto encharcado, podendo estar circundadas por halos amarelos.

O fungo persiste no solo por períodos menores que um ano, morrendo assim que os restos culturais são decompostos. Outras fontes de inóculo são as plantas voluntárias de cenoura, além de outras espécies da família Apiaceae, como salsa, salsão, aipo e coentro.

Manejo

O manejo da queima das folhas é bastante difícil, especialmente em condições favoráveis ao seu desenvolvimento, sendo o uso de sementes certificadas e rotação de culturas fundamentais. Além destes, o tratamento térmico e o uso de fungicidas auxiliam na redução do inóculo do fungo nas sementes.

O plantio de cultivares de cenoura adaptadas à estação do ano e com níveis de resistência à doença, como Brasília, Kuroda, Kuronam, Alvorada, Carandaí, Esplanada e Planalto é recomendado. O controle químico por meio da pulverização de fungicidas com os princípios ativos mancozebe, azoxistrobina, clorotalonil, iprodiona, bromuconazole, procimidona, tebuconazole, tetraconazole, hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre e óxido cuproso é uma alternativa para o controle da doença, mas é oneroso e nem sempre eficaz.

Com o desenvolvimento da planta ocorre o adensamento foliar, tornando a adequada cobertura nas aplicações cada vez mais difícil. Além disso, aplicações sucessivas com iprodiona podem levar ao aparecimento de isolados resistentes do fungo, diminuindo a eficiência do controle químico.

Desta forma, deve-se utilizar produtos de contato em alternância com iprodiona. Outras práticas, como eliminação de restos culturais, plantio em solos bem drenados e espaçamentos adequados também desfavorecem a ocorrência da doença.

Cercospora carotae

A queima das folhas por Cercospora catotae também pode causar danos elevados à cultura da cenoura, principalmente em cultivares suscetíveis sob condições ambientais favoráveis, sem a adoção de medidas de manejo.

Os sintomas se iniciam com pequenos pontos necróticos nas folhas, que aumentam de tamanho e adquirem coloração castanha, podendo ou não ser circundados por um halo amarelo, com centro claro e acinzentado.

Os sintomas muitas vezes são similares aos causados por Ad e Xcc. A doença tem sido descrita como mais severa em folhas novas, geralmente precedendo a queima causada por Ad, que ocorre principalmente no final do ciclo da cultura.

A disseminação de Cc ocorre principalmente pelo vento, porém, os respingos de chuva ou de água de irrigação por aspersão também são importantes meios de disseminação. Em geral, as condições ambientais ótimas para o desenvolvimento da doença são as mesmas de Ad, sendo que temperaturas médias de 28°C favorecem a germinação dos esporos do fungo.

Como Ad, o fungo também pode sobreviver em restos culturais e ser transmitido por sementes, e tem como hospedeiros alternativos outras espécies do mesmo gênero da cenoura.

As medidas de manejo preconizadas para a queima das folhas causada por A. dauci também são recomendadas para Cc. Fungicidas à base de mancozeb, clorotalonil, fluazinam, tiofanato metílico, hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre e óxido cuproso são recomendados no controle químico da doença.

As cultivares de cenoura Brasília, Alvorada, Esplanada, Juliana e Planalto apresentam tolerância à queima das folhas.

Xanthomonas campestris pv. carotae

A doença, também conhecida como crestamento bacteriano, é de elevada importância em regiões de cultivo com altos índices pluviométricos ou onde se pratica a irrigação por aspersão.

Xcc pode infectar raízes, folhas, hastes, inflorescências e sementes. Os sintomas iniciais nas folhas são pequenas manchas amarelas com contornos angulares, que coalescem, se tornam escurecidas e com aspecto encharcado, em condições ambientais favoráveis.

Nas extremidades dos folíolos, os sintomas geralmente apresentam o formato de “V”, conferindo um aspecto de queima das folhas, muito semelhantes aos sintomas das queimas causados por Ad e Cc. Quebra de hastes florais e reduções de até 80% na altura destas são observados em plantas muito atacadas pela bactéria. Essas lesões podem atingir as inflorescências, causando o abortamento de flores.

A bactéria é encontrada em sementes, sendo uma importante fonte de inóculo primário, e para disseminação a longas distâncias. As sementes infectadas ou contaminadas por Xcc podem ter sua germinação comprometida. Além disso, a bactéria pode sobreviver no solo, associada a restos culturais.

As condições favoráveis para desenvolvimento da doença são temperaturas entre 25 e 30°C e chuvas frequentes ou água de irrigação por aspersão. Além da cenoura, a bactéria infecta naturalmente o coentro.

O manejo da doença está baseado na utilização de sementes de elevada qualidade fitossanitária. O tratamento térmico (52ºC/25 minutos) pode reduzir o percentual de contaminação das sementes por Xcc.

A rotação com espécies não-hospedeiras da bactéria por dois a três anos, remoção ou incorporação dos restos culturais ao solo também reduzem o inóculo bacteriano nas áreas de cultivo. Não há registro de produtos químicos ou biológicos para o manejo da doença.

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