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Qual o correto manejo hidropônico da alface frisée?

Autores

Victor Vinícius de Oliveira
Pedro Lucas Lourenço Borges
Davidson Henrique Cordeiro
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Glaucio da Cruz Genuncio
Doutor em Agronomia e professor adjunto – UFMT
glauciogenuncio@gmail.com
Fotos: Shutterstock

A alface é a principal hortaliça folhosa consumida pelos brasileiros, a qual representa uma área total de produção estimada em 96.856 ha plantados no Brasil, cultivada em sistemas convencional, orgânico e hidropônico. Na safra 2018 produziram-se 578.597 toneladas de alface, com a participação de, aproximadamente, 670 mil produtores.

Em específico, o cultivo de alface em sistema hidropônico configura no cenário da produção de hortaliças brasileira, como bem estabelecido e com alto potencial para a obtenção de excelentes produtividades, com alta qualidade, baixa sazonalidade, programação de produção e, principalmente, pela associação destes atributos, com garantia de retorno a médio prazo – este estimado em três anos.

Alface Frisée

Ressalta-se que 10% de toda a alface produzida na região de Mogi das Cruzes (um dos principais cinturões verdes brasileiros) é via sistema hidropônico. Entretanto, algo que fica cada vez mais evidente na produção de alface hidropônica é a necessidade de projetos diferenciados em termos de diversidade de genótipos, de híbridos e variedades, como é a produção de alfaces baby leaf e do tipo Frisée.

Para tal, um dos quesitos importantes para a adoção da diversidade na implantação de um projeto hidropônico para alface Frisée é o atendimento da demanda, principalmente no inverno, quando o consumo de alface, rúcula, agrião dentre outras hortaliças, é reduzido. Assim, propostas como a produção de hortaliças tipo gourmet podem representar um atrativo para a resolução na redução das vendas, que podem chegar a patamares de 50% em algumas regiões do Brasil no período compreendido entre junho a setembro.

Portanto, para se alcançar a estabilidade do setor hidropônico existe a necessidade crescente do investimento em tipos de produtos diferenciados, visando ao estabelecimento de um mercado de consumo diferenciado. Por outro lado, o conhecimento da forma da produção da cultura (neste contexto, alface Frisée) é de fundamental importância para o sucesso nesta empreitada.

Manejo hidropônico

O plantio de alface Frisée, de modo geral, assemelha-se aos demais tipos de alfaces, quando cultivadas em sistema NFT ou HPM. A observação de pontos como o nível de sombreamento (entre 60.000 a 80.000 lumens) é importante, principalmente para as alfaces Frisée roxas, por causa da manutenção da antocianina, além da redução do estiolamento.

Um fato importante é o cuidado na produção de mudas, sempre observando a homogeneidade de germinação e a formação das folhas cotiledonares na parte basal do substrato. A escolha do substrato e de bandejas descartáveis é importante, caso o produtor faça uso de fibra de coco em detrimento à espuma fenólica.

Ressalta-se que em ambos a garantia de germinação está em função da qualidade da semente e do manejo adequado de irrigação. Assim, ao se cultivar alface Frisée em hidroponia (sistema tipo NFT), o produtor tem por obrigação garantir uma boa qualidade no preparo da muda nesta fase denominada germinação, a qual subdivide-se em fases de escuro (em que se induz a germinação) e que necessita entre 24 e 48 horas para que a semente germina.

Logo em seguida a alface Frisée será transferida para a bancada de germinação, onde permanecerá entre sete a 10 dias para o seu transplante (dependendo das condições microclimáticas) ao sistema de crescimento posterior.

A plântula é transferida para a fase intermediária, cuja duração aproxima-se a oito a 10 dias e, ao final destes, a alface Frisée terá a sua fase final de crescimento vegetativo, sendo a estimativa de cultivo de 18 a 20 dias para a colheita.

Estima-se um ciclo total da alface Frissé, quando cultivada em hidroponia, entre 35 a 42 dias, podendo ser reduzido para 32 dias, dependendo do manejo nutricional, ambiental, de irrigação e tratos culturais.

Cuidados que fazem a diferença

Outro fator preponderante para o plantio da alface Frisée em hidroponia é o espaçamento a ser adotado. Por ser uma planta pequena, a recomendação de espaçamento é de 0,20 m x 0,20 m (plantas x linhas), garantindo ao produtor maiores produtividade e qualidade final.

O importante a se destacar é que as fases ocorrem em espaços diferentes, assim, ao se considerar somente a fase final, temos a produção de alface com tempo entre 22 a 25 dias e, consequentemente, têm-se 12 a 14 ciclos por ano.

Por outro lado, existe a preocupação do ajuste na adubação de Fe, Mn e Mo para este tipo de alface, com acréscimos variando entre 10 a 20% destes elementos na formulação da solução nutritiva.

Vale ressaltar, ainda, que a alface Frisée é uma planta muito suscetível a oídio (um fungo) e ao tripes (uma praga), sendo necessário um manejo integrado tanto para doenças quanto para pragas (MID e MIP).

A adoção de bancadas cujas declividades aproximem-se de 8% é recomendável para o cultivo deste tipo de alface. Ainda, atualmente faz-se necessária para a manutenção da temperatura da solução nutritiva abaixo dos 29ºC, principalmente em regiões quentes do Brasil.

Pós-colheita

Um fator importante para o estabelecimento deste tipo de alface no mercado hidropônico é o fortalecimento da marca, com o uso de embalagens diferenciadas associadas à rotulagem atrativa.

Vale ressaltar que poucas pessoas podem reconhecer a alface Frisée como propriamente uma alface, dificultando, inclusive, sua aplicação na culinária. Uma recomendação útil é a promoção deste tipo de produto no ponto de venda, com degustadores gerando informações de aplicação da mesma em diversos tipos de pratos da gastronomia.


Novidades

Muito se fala, atualmente, do uso do sistema HPM, o qual prima pela maior eficiência de produção em função da otimização de área produtiva. Um grupo significativo de produtores vem adotando este sistema visando a produção de hortaliças diferenciadas, como a alface Frisée.

Quanto ao manejo agronômico propriamente dito, a adoção de adubações com aminoácidos, indutores de enraizamento e demais produtos de acabamento são as possibilidades de incremento em qualidade de produto e aumento de tempo de prateleira hoje onipresentes no mercado de FLV brasileiro.

O uso destes produtos de acabamento é de caráter quinzenal, e para alguns produtos a aplicação é foliar, para outros que possuem a função de enraizadores a aplicação é via solução nutritiva.

Atualmente, faz-se muito o uso de peróxido de hidrogênio 200 volumes na hidroponia, que consiste na aplicação de 30 ml/1.000 L na solução nutritiva sem a disponibilização para as plantas, semanalmente, e 3,0 ml/1.000 L desta mesma concentração de peróxido, diariamente, visando, em ambos os casos, a oxidação de microrganismos e matéria orgânica presentes no sistema. Este manejo faz-se necessário devido à constatação de doenças que possam afetar as raízes da alface Frisée.


Alerta

Um alerta importante é que a presença de uma doença nem sempre quer dizer que haja dano à produção, uma vez que a evolução desta está intimamente ligada à predisposição da planta em aceitá-la como organismo invasor (por exemplo, em uma situação de desequilíbrio nutricional) e um ambiente favorável (temperatura da solução acima de 29ºC e, consequente, morte do sistema radicular direta, ou indiretamente por falta de oxigenação no sistema, por exemplo).

A partir da constatação de morte radicular da alface Frisée, não cabe ao produtor, e até mesmo ao agrônomo, suporem que o sistema hidropônico esteja com uma doença em específico antes da obtenção de laudo fitopatológico constatando qual é o tipo de agente biótico. Este fato é crucial para a tomada de decisão quanto aos procedimentos a serem adotados.

Além disto, alguns pontos são importantes a serem verificados: ausência de algas e Fungus gnats, monitoramento efetivo da temperatura do ambiente e UR%, além da temperatura da solução nutritiva, do pH e da EC; limpeza do sistema com uso de dióxido de cloro, assim como o uso de perfis e sistemas projetados para uma hidroponia mais tecnológica, os quais não sejam translúcidos (caso do PVC),  por esses favorecem ao aquecimento e surgimento de algas; resfriamento da solução e uso de ozônio e aplicação de nano bolhas.

Enfim, a avaliação criteriosa do sistema tem como o principal objetivo a tomada de decisão para os ajustes e as correções dos manejos nutricional, fitopatológico e ambiental, antes da tomada de decisão para um controle químico. Uma vez tomada a decisão errada, pode gerar uma dependência de defensivos químicos que pode não ser condizente com a melhor forma de resolução do problema.

  • A recomendação de espaçamento é de 0,20 m x 0,20 m (plantas x linhas), garantindo ao produtor maiores produtividade e qualidade final.
  •  O ciclo de produção de alface frisée gira entre 22 a 25 dias e, consequentemente, têm-se 12 a 14 ciclos por ano.
  • Deve-se fazer ajuste na adubação de Fe, Mn e Mo para este tipo de alface, com acréscimos variando entre 10 a 20% destes elementos na formulação da solução nutritiva.
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